1. APOLOGIA
EU TE engendrei, ó meu filho, e isso estranhamente, como tu sabes, da Mulher
Escarlate chamada Hilarion, qual me foi misteriosamente vaticinado no Livro da
Lei. Agora, pois, que chegaste à Idade da Compreensão, dá ouvido à minha
Sabedoria, pois nela há um simples e direto caminho para todo homem chegar ao
Fim.
Primeiramente quero que tu saibas que experiência e perfeição espiritual não
dependem necessariamente de progresso em nossa Santa Ordem. Mas para cada homem
existe um caminho; há uma Constante, e há uma Variável. Busca sempre portanto
em tua Obra da Promulgação da Lei descobrir em cada homem sua verdadeira
Natureza.
Pois em cada homem sua Luz Íntima é o coração de sua Estrela, isto é, Hadit; e
o trabalho dele consiste em identificar-se com aquela Luz.
Não é todo homem que é chamado à sublime Tarefa da A.'.A.'., em que ele deve assenhorar-se por completo de todo Detalhe
da Grande Obra, para que ele possa, na devida Estação, realizá-la não só para
si mesmo, mas para todos que lhe estão ligados. Existem muitos para quem em sua
presente Encarnação esta Grande Obra pode ser impossível; pois a tarefa que
lhes é destinada no momento pode ser a liquidação de alguma Dívida Mágica, ou o
Ajustamento de algum Equilíbrio, ou a Resolução de algum Defeito. Como está
escrito: Suum Cuique.
Mas, porque tu és a Criança de minhas entranhas, Eu te quero muito, ó meu
filho, e Eu me esforço em meu Espírito para que por minha Sabedoria Eu possa
esclarecer tua Senda diante de Ti; e por isto em muitos capítulos Eu te
escreverei aquelas coisas que te podem ser úteis. Sis benedictus.
2. DE ARTE KABBALISTICA
ESTUDA com muita constância, meu filho, a Arte da Santa Qabalah. Aprende que aí
as relações entre Números, se bem que elas são de grande poder e outorgam muito
Conhecimento, são de valor secundário. Pois a Tarefa consiste em reduzir todas outras concepções a esta de Número, pois assim tu
desnudarás a Estrutura mesma da tua Mente, cuja regra não é preconceito, mas a
Necessidade. Enquanto o Universo não estiver assim despido diante de ti, tu não
podes estudar-lhe bem a anatomia. As Tendências da tua Mente jazem mais fundo
que qualquer pensamento, pois elas são as Condições e as Leis do Pensamento; e
são estas que tu tens de reduzir a Nada.
Este Caminho é mui seguro; mui sagrado; e seus Inimigos são mui terríveis, mui
sublimes. É para as Grandes Almas o entrar neste Rigor e Austeridade; a Elas
mesmo os Deuses rendem Homenagem, pois é o Caminho da Máxima Pureza.
3. DE VITA CORRIGENDA
APRENDE, filho, que o verdadeiro Princípio de Auto-Domínio é a Liberdade. Pois
nós nascemos em um Mundo que está escravizado a Ideais; a estes somos obrigados
a nos sujeitar, quer nos sirvam quer não, tal como os inimigos de Procrustes
eram adaptados à cama de Procrustes. Cada um de nós, à medida que cresce,
aprende Repressão de si mesmo e de sua verdadeira Vontade. "É uma mentira,
esta tolice contra si mesmo": estas Palavras estão escritas no Livro da
Lei. Portanto, essas Paixões em nós mesmos que nós percebemos serem Empecilhos
não são nem Arte nem Parte de nossa Verdadeira Vontade; mas são Apetites
doentios, condicionados em nós por falso Treino em nossa meninice. Assim, os
Tabus de Tribos selvagens contra o Amor reprimem aquele Verdadeiro Amor que
nasce em nós; e através desta Repressão vem Doenças do Corpo e da Mente. Ou a
Força da Repressão nos vence, e cria Neuroses e Insanidades; ou a Revolta
contra aquela Tirania, irrompendo com violência, causa Extravagâncias e
Excessos. Tudo isso são Desordens, e contra a Natureza. Agora então aprende de
mim o Testemunho da História e da Literatura, como um grande Pergaminho de
Conhecimento. Mas o Pergaminho é de Pele Humana, e a Tinta com que está escrito
é o nosso próprio Sangue.
4. LEGENDA DE AMORE
O DEFEITO, que é Fatalidade, no Amor, como toda outra Forma de Vontade, é a
Impureza. Não é a Espontaneidade do Amor que provoca Desgraça, mas alguma
Repressão no Ambiente.
Na Fábula de Adão e Eva é esta grande Lição ensinada pelos Mestres da Santa
Qabalah. Pois o Amor que era para eles o eterno Éden, exceto pela Repressão
simbolizada pela Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Assim, a Natureza
Amorosa deles era perfeita; foi sua Queda daquela Inocência que os expeliu do
Jardim.
No Amor de Romeu e Julieta não havia Defeito; mas Feudo entre famílias, que
nada tinha a ver com aquele Amor, foi sua Maldição; e a Imprudência e Violência
da Revolta deles contra aquela Repressão os matou.
Na pura Espontaneidade do Amor de Desdemona por Otelo não havia Defeito; mas o
Amor dele estava minado pela Consciência que ele tinha de sua Idade e de sua
Raça, dos Preconceitos de seus Semelhantes e sua Experiência pessoal da
Infidelidade feminina.
5. GESTA DE AMORE
AGORA, tal como a Literatura está cheia dos Assassinatos de Amor, assim também
a História, e a Lição é sempre a mesma.
Assim, os Amores de Abelardo e Heloísa foram destruídos pelo Sistema de
Repressão no qual por acaso eles viviam.
Assim, Beatriz foi roubada de Dante por Artificialismo da convenção social, e
Paolo foi morto por causa de coisas que nada tinham a ver com seu Amor por
Francesca.
Por outro lado, Martin Luther, sendo um Gigante de Vontade, e também o Oitavo
Henrique da Inglaterra, como um grande Rei, se lançaram a revolucionar o Mundo
inteiro para satisfazerem seus Amores.
E quem os seguirá? Pois mesmo agora nós vemos grandes Eclesiásticos,
Estadistas, Príncipes, Dramaturgos, e muitos Homens menores, completamente
vencidos e arruinados pelo Conflito entre as suas Paixões e a Sociedade que os
cerca. Nisto, quem erra não tem Importância para nosso Pensamento; mas a
Existência do Conflito é Evidência de Atentado contra a Natureza.
6. ULTIMA THESIS DE AMORE
PORTANTO, ó meu Filho, sê prevenido, não te curvando diante dos falsos Ídolos e
Ideais, entretanto não flamejando em Fúria contra eles a não ser que tal seja
tua Vontade.
Mas neste assunto sê prudente e sê silente, discernindo sutilmente e com
Agudeza a natureza da Vontade dentro de ti; para que não tomes Medo por
Castidade, ou Cólera por Coragem. E como os Grilhões são pesados e antigos, e
teus Membros estão torcidos e engelhados pela Compulsão deles, caminha,
tendo-os quebrado, gentilmente por algum tempo, até que a antiga Elasticidade
retorne, e tu possas andar, correr e pular naturalmente e com Regozijo.
Também, como esses Grilhões são uma Prisão quase universal, declara
instantemente a Lei de Liberdade, e toda Verdade que concerne a este Assunto;
pois se nisto apenas tu venceres, a Terra inteira será livre, tomando seu
Prazer à Luz do Sol sem Medo nem Delírio. Amem.
7. DE NATURA SUA PERCIPIENDA
COMPREENDE, ó meu Filho, em tua Juventude, estas Palavras que algum Sábio, hoje
anônimo, disse no passado: a não ser que vos torneis como Criancinhas, de forma
alguma entrareis no Reino dos Céus. Isto quer dizer que tu deves primeiro
compreender por completo tua Natureza original, tal qual esta era antes de te
forçarem a te curvares diante dos Deuses de Madeira e Pedra que os Homens
fizeram na sua incompreensão da Lei de Mudança, da Evolução através de
Variação, e do Valor independente de toda Alma Vivente.
Aprende também isto: que mesmo a Vontade para a Grande Obra pode ser mal
compreendida pelos Homens, pois esta Obra deve proceder naturalmente e sem
Esforço, como todos os Trabalhos verdadeiros. Também é certa aquela Palavra que
o Reino dos Céus sofre Violência, e que os violentos o tomam pela Força. Mas a
não ser que sejas violento em Virtude de tua verdadeira Natureza, como o
tomarás tu? Não sejas como o Asno na Pele de Leão; mas se tu nasceste Asno,
carrega pacientemente tuas Cargas, e saboreia teus Espinheiros; pois também um
Asno, como nas Fábulas de Apuleius e de Matthias, pode chegar à glória pelo
Caminho de sua própria Virtude.
8. ALTERA DE VIA NATURAE
DIZES tu (creio Eu) que eis aqui um grande Enigma, desde que por causa de muita
Repressão tu perdeste o Conhecimento de tua Natureza original?
Meu Filho, não é assim; pois por uma particular Ordem do Céu, e uma Disposição
oculta dentro da Mente, está todo homem protegido contra esta Perda de sua
própria Alma, contanto que ele não seja por Choronzon desintegrado e dispersado
além do poder da Vontade de reparar os danos, como quando o Conflito dentro
dele, rasgando e queimando, tornou-lhe a Mente completamente deserta, e sua
Alma Loucura.
Escuta, ouve atentamente; a Vontade não foi perdida, se bem que esteja
enterrada sob o Monturo das Repressões de uma vida inteira; ela persiste vital
dentro de ti (não é ela o verdadeiro Movimento do teu Ente mais íntimo?), e
apesar de toda repressão consciente vem à Noite de mansinho em Sonhos e
Fantasias. Ora ei-la nua e brilhante, ora ei-la vestida em ricos Trajes de
Símbolo e Hieróglifo; mas sempre viaja contigo em teu Caminho, pronta a te
familiarizar com tua verdadeira Natureza, se tu escutares sua Palavra, seu
Gesto, ou seu Espetáculo de Imagens.
9. QUO MODO NATURA SUA EST LEGENDA
NÃO julgues portanto que tua mais pequena Fantasia é insignificante; ela é uma
Palavra que te é dirigida, uma Profecia, um Signo ou Sinal que te vem de teu
Senhor. Teus atos mais espontâneos são Chaves da Tesouraria do teu Palácio, que
é a Casa do Espírito Santo. Considera bem teus Pensamentos e Atos conscientes,
pois eles estão sob o Domínio da tua Vontade consciente, e são movidos de
Acordo com a Operação da tua Razão; em verdade isto é um Trabalho necessário,
habilitando-te a compreender de que maneira tu podes te ajustar ao teu
Ambiente. Mas esta Adaptação em sua maior Parte é apenas Defesa, ou quando
muito Subterfúgio e Estratagema na Luta pela Vida, tendo apenas uma Relação
acidental e acessória com tua verdadeira Vontade, da qual em teu Consciente e
tua Razão tu podes ser ignorante, a não ser que por Sorte grande e rara tu
estejas já harmonizado em ti mesmo, o Externo com o Interno; uma Graça que não
é comum entre os Homens, e é a Recompensa de Consecução prévia.
Não negligencies portanto a simples Introspecção; mas dá maior atenção ainda
àqueles Sonhos e Fantasias, àqueles Gestos e Maneiras inconscientes e de Causa
indescoberta, os quais são indícios de Ti.
10. DE SOMNIS a) Causa per Accidens
ASSIM como todas as Doenças tem duas Causas Conjugadas, uma imediata, externa e
excitante, a outra constitucional, interna e predisponente, assim também é com
os Sonhos, que são Distúrbios, ou Estados de desequilíbrio, do Consciente;
Perturbadores do Sono como os Pensamentos são da Vigília.
A Causa externa e excitante dos Sonhos é comumente de dois tipos: videlicet, em
primeiro lugar, a Condição física do Adormecido; como um Sonho de Água é
causado por uma Chuvarada lá fora, ou um Sonho de Estrangulamento é causado por
uma Dispnéia, ou um Sonho de Volúpia é causado pelas Congestões seminais de uma
Vida impura, ou um Sonho de queda ou de vôo é causado por algum Equilíbrio
instável do Corpo.
Segundo, o Estado psíquico do Adormecido; o Sonho sendo determinado por
recentes Acontecimentos da Vida dele, em geral aqueles do Dia prévio, e
especialmente Acontecimentos que tenham causado Excitação ou Ansiedade, tanto
mais quanto tais Acontecimentos estejam inacabados ou irrealizados.
Mas esta Causa excitante é de Natureza superficial, qual um Manto ou uma
Máscara; e assim apenas empresta Aspecto àquela outra Causa constitucional, que
jaz na Natureza mesma do Adormecido.
11. DE SOMNIIS b) Causa per Naturam
A ÍNTIMA, constitucional, ou predisponente Causa de Sonhos está sob a
jurisdição da Vontade mesma. Pois aquela Vontade, estando sempre presente, se
bem que (talvez) latente, desvela-se quando não mais inibida pelo Controle
consciente, que é determinado apenas pelo Ambiente, e portanto muitas vezes é
contrário a ela. A Vontade se declara, como que num Espetáculo, e se mostra
assim disfarçada ao Adormecido, como um Aviso ou uma Admoestação. Todo sonho,
ou Espetáculo de Fantasia, é portanto uma Mostra da Vontade; e a Vontade, não
mais sendo impedida pelo Ambiente ou pela mente consciente, vem como um
Conquistador. Mesmo assim, geralmente ela tem que vir sentada na Carruagem da
Causa excitante do Sonho, e portanto sua Aparição é simbólica, como uma Escrita
em Cifra, ou como uma Fábula, ou como um Enigma em Desenhos. Mas sempre ela
triunfa e se cumpre nisso pois o Sonho é uma Compensação natural no Mundo
interno por qualquer Fracasso de Consecução no externo.
12.DE SOMNIIS c) Vestimenta Horroris
MAS ENTÃO, se num Sonho a Vontade triunfa sempre, como é que um Homem pode ser
vítima do Pesadelo? Disto a verdadeira Explicação é que num tal caso a Vontade
está em Perigo, tendo sido atacada e ferida, ou corrompida pela Violência de
alguma Repressão. Portanto a Consciência da Vontade é dirigida ao Ferimento,
como na Dor, e busca Conforto em uma Externalização, ou Representação, daquele
Antagonismo. E como a Vontade é sagrada, tais Sonhos excitam um Êxtase ou
Frenesi de Horror, Medo ou Desgosto. Assim, a verdadeira Vontade de Oedipus era
para a cama de Jocasta; mas o Tabu, forte tanto por Hereditariedade quanto por
Ambiente, estava tão grudado àquela Vontade que seu Sonho concernente ao seu
Destino foi um Sonho de Medo e Repugnância, o Cumprimento desse Sonho (mesmo em
Ignorância) foi um Encantamento capaz de agitar todas as Forças subconscientes
do Povo em volta dele, e sua Realização Consciente do Ato foi uma Loucura capaz
de impedi-lo à Cegueira auto-infligida e ao furioso Exílio.
13. DE SOMNIIS d) Sequentia
APRENDE firmemente, ó meu Filho, que a verdadeira Vontade não pode errar; pois
é o teu Curso decretado no Céu, em cuja Ordem há Perfeição.
UM Sonho de Horror é portanto o mais sério de todos os Avisos; pois significa
que tua Vontade, que é teu Ente em seu Aspecto Dinâmico, está em Aflição e
Perigo. Assim, tu deves instantaneamente procurar a Causa daquele Conflito
subconsciente, e destruir teu Inimigo por completo, usando tua Mente Consciente
como um Aliado daquela verdadeira Vontade. Se, então, existe um Traidor em tua
Mente Consciente, quanto mais necessário será para ti o erguer-te e extirpá-lo
antes que ele te infeccione completamente com a Divisão de Propósito que é a
primeira Brecha naquela Fortaleza da Alma cuja Queda a levaria à Ruína informe
cujo Nome é Choronzon!
14. DE SOMNIIS e) Clavicula
O SONHO agradável é portanto um Espetáculo representando a Satisfação da
Verdadeira Vontade, e o Pesadelo é uma Batalha simbólica entre a Vontade e seus
Assaltantes em ti mesmo. Mas pode haver somente uma verdadeira Vontade, tal
como pode haver apenas um Movimento correto a qualquer momento em qualquer
Corpo, não importa de quantas Forças aquele Movimento seja a Resultante. Busca
portanto esta Vontade, e conjuga com ela teu Ente consciente; pois isto é o que
está escrito no Livro da Lei: "tu não tens direito a não ser fazer a tua
vontade. Faze aquilo, e nenhum outro dirá não." Tu vês, ó meu Filho, que
toda Oposição consciente à tua Vontade, quer por Ignorância, quer por
Obstinação, quer por Medo de outros, pode no Fim ameaçar mesmo teu verdadeiro
Ente, e conduzir tua Estrela à Desastre.
E esta é a verdadeira Chave dos Sonhos; sê diligente em seu Uso, e abre com ela
as Câmaras secretas do teu Coração.
15. DE VIA PER EMPYRAEUM
QUANTO às tuas Viagens no Corpo de Luz, ou Jornadas e Visões Astrais
assim-chamadas, grava esta Sabedoria em teu Coração, ó meu Filho: que nesta
Prática, quer as coisas vistas e ouvidas sejam Verdade e Realidade, quer sejam
Fantasmas na Mente, existe este supremo Valor Mágico, a saber: Desde que a
Direção de tais Jornadas é conscientemente comandada, pelo verdadeiro Ente, uma
vez que sem Aquele nenhuma Invocação seria possível, nós temos aí uma
Cooperação ou Aliança entre o Ente Interno e o Ente Externo, e assim uma Consecução,
pelo menos parcial, da Grande Obra.
E por isto é Confusão ou Terror em qualquer tal Prática um Erro realmente
temível, causando Obsessão (que é uma Divisão temporária, e às vezes até
permanente, na Personalidade) ou Insanidade, e portanto uma Derrota mui fatal e
perniciosa, uma Entrega da Alma a Choronzon.
16. DE CULTU
AGORA, ó meu Filho, para que tu estejas bem guardado contra teus Inimigos
fantasmais, trabalha constantemente pelos Meios prescritos em nossos Santos
Livros.
Não neglicencies jamais as quádruplas Adorações do Sol em suas quatro Estações,
pois desta forma tu afirmas teu Lugar na natureza e suas Harmonias.
Não negligencies a Execução do Ritual do Pentagrama, e a Assunção da Forma de
Hoor-pa-Kraat.
Não negligencies o Milagre diário da Missa, quer pelo rito da Igreja Católica
Gnóstica, quer por aquele da Fênix.
Não neglicencies a execução da Missa do Espírito Santo, como a Natureza Mesma
te incita.
Viaja também no Empíreo em teu Corpo de Luz, buscando sempre Habitações mais
ígneas e mais lúcidas.
Por último, exercita constantemente os Oito Membros de Yoga. E assim tu
chegarás ao Fim.
17. DE CLAVICULA SOMNIORUM
E AGORA concernente à Meditação, deixa-me desvelar-te mais completamente ainda
o Mistério da Chave de Sonhos e Fantasias.
Aprende primeiro que tal como o Pensamento da Mente se interpõe à Alma, e
impede a Manifestação desta no Consciente, assim também a grosseira Vontade
física é a Criadora dos Sonhos dos Homens comuns. E tal como na Meditação tu
destrois todo Pensamento acasalando-o com o seu Oposto, assim também tu deves
limpar-te por uma completa e perfeita Satisfação daquela Vontade corporal no
Caminho de Castidade e Santidade que te foi revelado em tua Iniciação.
Este Silêncio corporal interno sendo conseguido, pode ser que a Verdadeira
Vontade fale em Verdadeiros Sonhos; pois está escrito que Ele dá ao Seu amado
durante o Sono.
Prepara-te portanto neste Caminho, como um bom Cavaleiro deve fazer.
18. DE SOMNO LUCIDO
AGORA aprende também isto, que no Fim daquele Caminho secreto há um Jardim onde
está uma Casa de Repouso preparada para ti.
Pois àquele cujas Necessidades físicas (de qualquer tipo) não estão
verdadeiramente satisfeitas vem um Sono físico ou lunar destinado a refrescar e
recreiar por Limpeza e Repouso; mas àquele que está fisicamente puro o Senhor
outorga um Sono Solar ou lúcido, em que se movem Imagens de pura Luz formadas
pela Verdadeira Vontade. E isto é chamado pelos Qabalistas o Sono de Shiloam, e
disto também Porfírio faz menção, e Cícero, com muitos outros Sábios de
Antanho.
Compara, ó meu Filho, com esta Doutrina aquela que te foi ensinada no Santuário
da Gnose quanto à Morte do Justo; e aprende mais que estes são apenas Casos
particulares de uma Fórmula Universal.
19. DE VENENIS
MEU Filho, se tu jejuares por algum tempo virá a ti um segundo Estado
Fisiológico em que existe um Deleite passivo e equânime, sem Vontade; um
Contentamento de Fraqueza, com uma Sensação de Pureza e de Leveza. E isto é
porque o Sangue absorveu, em sua Necessidade de Nutrição, todos os Elementos
estranhos. Assim também é o Caso da Mente que não se alimentou de Pensamento.
Considera a Existência ruminante e plácida de Pessoas que lêem pouco, que estão
removidas da Luta mundana por alguma modesta Propriedade de pouco Valor,
solidamente empatada, e que por Idade e Ambiente estão livres de Paixão. Tais
Pessoas vivem, de acordo com sua própria Natureza, sem Desejo, e elas não opõem
qualquer Resistência às Operações do Tempo. Tais são chamadas felizes; e em seu
Caminho de Vida Vegetativa assim é; pois elas estão livres de qualquer Veneno.
20. DE MOTU VITAE
APRENDE portanto, ó meu Filho, que todos os Fenômenos são o resultado de
Conflito, tal qual o Universo mesmo é um Nada expressado como a Diferença entre
duas Igualdades; ou, se quiseres, como o Divórcio de Nuit e Hadit. Assim, pois,
todo Casamento dissolve um Complexo mais material, e cria outro menos material;
e este é o nosso Caminho de Amor, levantando-se sempre de Êxtase a Êxtase.
Portanto, toda Grande Violência, quer dizer, toda Consciência, é o Orgasmo
Espiritual de uma Paixão entre dois Opostos mais baixos e mais grosseiros.
Assim, Luz e Calor resultam do Casamento de Hidrogênio e Oxigênio, Amor daquele
de Homem e Mulher, Dhyana ou Êxtase daquele do Ego e do não-Ego.
Mas sê tu cônscio desta Tese corolária: que um ou dois tais Casamentos apenas
destroem durante algum Tempo a Exacerbação de qualquer Complexo; desenraizar um
tal é a Obra de longo Hábito e profunda Busca em Escuridão pelo Germe dele. Mas
uma vez feito isto, aquele Complexo particular está destruído, ou sublimado,
para sempre.
21. DE MORBIS SANGUINIS
AGORA então compreende que toda Oposição ao Caminho da Natureza cria Violência.
Se teu Sistema excretório não executa plenamente sua Função, entram Venenos no
Sangue, e a Consciência é modificada pelos Conflitos ou Casamentos entre os
Elementos heterogêneos. Assim, se o Fígado não for eficiente, temos Melancolia;
se os Rins, Coma; se os Testículos ou Ovários, perda da própria Personalidade.
Também, se envenenamos o sangue diretamente com Beladona, temos delírio
veemente e furioso; com Haxixe, Visões fantásticas e enormes; com Mescalina,
Êxtase de cor e outros mais; com diversos Germes de Doença, Distúrbios de
Consciência variando com a Natureza do Germe. Também, com Éter, ganhamos o
Poder de analisar a Consciência em seus Planos, e mesmo de descobrir a oculta
Vontade e Julgamento sobre qualquer Questão; e assim com muitas outras coisas.
Mas tudo isto são, no nosso Senso místico, Venenos; isto é, nós tomamos duas
Coisas diversas e opostas, juntando-as de forma que elas são compelidas a
unirem-se; e o Orgasmo de cada Casamento é um Êxtase, o mais baixo
dissolvendo-se no mais alto.
22. DE CURSU AMORIS
EU continuo então, ó meu Filho, e reitero que esta Fórmula é geral na Natureza
inteira. E tu notarás que através de repetidos Casamentos vem Tolerância, de
forma que o Êxtase não mais aparece. Assim, seu meio grão de Morfina, que a
princípio lhe abria as Portas do Céu, de nada vale ao auto-envenenador após um
Ano de Prática diária. Também o Amante não encontra mais Alegria em União com
sua Amante, tão cedo a Atração original entre eles é satisfeita por repetidas
Conjunções. Pois esta Atração é um Antagonismo; e quanto maior a Antinomia,
mais forte a Pujança do Magnetismo, e a Quantidade de Energia liberada pelo
Coito. Assim, na União de Semelhantes, como a de Halógenos uns com os outros,
não existe grande Paixão ou Força explosiva; e o Amor entre duas Pessoas de
Semelhante Caráter e Gosto é plácido, e sem Transmutação a Planos mais
elevados.
23. DE NUPTIIS MYSTICIS
Ó MEU Filho, quão maravilhosa é a Sabedoria desta Lei de Amor! Quão vastos os
inavegados oceanos de alegria diante da Proa do teu Barco! Entretanto, aprende
isto: que toda Oposição é em sua Natureza um Sofrimento, e a Alegria consiste
na Destruição da Díada. Portanto, tu deves sempre procurar aquelas Coisas que
te são venenosas, e isto no mais algo Grau, e faze-las tuas pelo Amor. Aquilo
que repele, aquilo que desgosta, tu deves assimilar nesta Senda de Complecção.
Porém, não descanses na Alegria da Destruição de todo Complexo em tua Natureza,
mas avança àquele ultimal Casamento com o Universo cuja consumação te destruirá
por completo, deixando somente aquele Nada que era antes no Princípio.
Portanto, a Vida de Inação não é para ti; abster-se de Atividade não é o
Caminho do Tao, mas sim a Intensificação e Universalização de cada Unidade de
tua Energia em todo e cada Plano.
24. DE VOLUMPTATE POENARUM
AVANÇA, ó meu Filho, ó Filho do Sol, regozijando-te em tua Força, como um
Guerreiro, um Noivo, para tomares teu Prazer sobre a Terra, e em todo Palácio
da Mente, movendo-te sempre do crasso ao sutil, do grosseiro ao fino. Vence
toda Repulsa em teu Ser, subjuga toda Aversão. Assimila todo Veneno, pois
apenas aí há Lucro. Busca pois constantemente conhecer o que é doloroso e
apegar-te a isso, pois através da Dor vem verdadeiro Prazer. Aqueles que evitam
a Dor física ou mental permanecem Homens medíocres, e não há Virtude neles.
Porém, sê prevenido, para que não caias na Heresia que faz de Dor e de
Auto-Sacrifício, por assim dizer, Subornos a um Deus corrupto, para assegurar
algum futuro Prazer em algum Além imaginário. Nem também, por outro lado, temas
destruir teus Complexos, pensando que assim perderás o Poder de criar Alegria
pela Distinção entre eles. Mas em cada Casamento afirma ousadamente o Ardor espiritual
do Orgasmo, fixando-o em algum Talismã, quer de Arte, de Magia, ou Teurgia.
25. DE VOLUNTATE ULTIMA
NÃO digas que esta Senda é contra a Natureza, e que em Simplicidade de
Satisfação das tuas Necessidades há Perfeição do teu Caminho. Pois para ti, que
aspiraste, é tua Natureza executar a Grande Obra, e esta é a Dissolução final
do Cosmo. Se bem que uma Pedra pareça jazer quieta e sem Cuidados no Cume de
uma Montanha, no entanto, tem ela uma Natureza oculta, uma Tarefa Estupenda e
Inefável: a saber, forçar seu Caminho ao Centro de Gravidade do Universo, e
também queimar seus Elementos na Homogeneidade final da Matéria. Portanto, o
Caminho de Quietude é apenas uma Ilusão da Ignorância. Quem quer que tu sejas
neste instante, teu Destino é o que Eu te declarei; e tu vais mais firme no
Verdadeiro Caminho quando, aceitando isto conscientemente como tua Vontade, tu
mobilizas tuas Forças para nele moveres com pujança o teu Ser.
26. DE DIFFERENTIA RERUM
MAS, ó meu Filho, se bem que tua ultimal Natureza seja Universal, tua Natureza
imediata é Particular. Teu Caminho para o Centro não está orientado como aquele
de qualquer outro Ser, e teus Elementos não são semelhantes, mas diversos, dos
dele. Vergonha! não é a mais transcendental de todas as Sabedorias deste Cosmo
que não há dois Seres iguais? Vê! este é o Segredo de toda Beleza, e torna o
Amor não só possível mas necessário entre toda Coisa e qualquer outra Coisa.
Portanto, para que em tua Ignorância tu não tomes algum falso Caminho, e divagues,
tu deves aprender tua Natureza particular e própria em sua Relação com todas as
outras. Pois se bem que seja Ilusão, é pela verdadeira Análise de Falsidades
que nós nos tornamos capazes de destruí-las; tal como o Médico deve compreender
a Doença do seu Paciente se há de escolher o Remédio apropriado. Agora portanto
Eu te tornarei ainda mais claro o Valor de teus Sonhos e Fantasias, e dos
espontâneos movimentos de teu Corpo e Mente, como Sintomas de tua particular
Vontade, e te mostrarei como podes chegar à Interpretação deles.
27. DE VOLUNTATE TACITA
TODOS os Distúrbios, ó meu Filho, são Quebras do Equilíbrio; e tal como teus
Pensamentos, Palavras e Atos conscientes resultam do deslocamento da Vontade
consciente, assim também acontece no Inconsciente. Em sua maior Parte,
portanto, todos os Sonhos, Fantasias e Gestos representam aquela Vontade
Subterrânea e subliminal; e se a Parte física daquela Vontade estiver
insatisfeita, o Pronunciamento da Parte física predominará em todas aquelas
Expressões automáticas. Nota pois que Modificações das Expressões automáticas
resultam das Mudanças que tu fazes na Base consciente daquela Parte de tua
Vontade em teus Experimentos com ela; e assim separa, como diz Trismegistus, o
fino do grosseiro, o Fogo da Terra, ou, em outras palavras, atribui cada Efeito
à sua verdadeira Causa. Busca portanto efetuar conscientemente uma perfeita
Satisfação de toda Parte desta Base consciente, de maneira que os Distúrbios
inconscientes sejam por fim trazidos ao Silêncio. Então o Resíduo será como que
um Elixir clarificado e perfeito, um verdadeiro Símbolo daquela outra Vontade
oculta que é o Vetor do teu Ente Mágico.
28. DE FORMULA SUMMA
APRENDE além disto que teu Ser inclui o Universo inteiro do teu Conhecimento,
de maneira que todo Acréscimo sobre todo e cada Plano é uma Expansão do teu
Ser. Entretanto, a maior parte desse Universo é de Conhecimento geral, de forma
que teu Ente está entretecido com outros Entes, salvo naquela Parte peculiar a
ti Próprio. E à medida que tu cresces, também aquela Parte peculiar a ti se
torna cada vez menor em Relação ao todo, até que, ao te tornares infinito, ela
é uma Quantidade infinitesimal e negligenciável. Vê! quando o Todo é absorvido
dentro do Eu, é como se o Eu fosse absorvido dentro do Todo; se duas coisas se
tornam completa e indissoluvelmente Uma Coisa, não há mais Razão para Nomes,
pois Nomes são dados para marcar uma Coisa como diversa de outra. E isto é
aquilo que está escrito no Livro da Lei: Que não haja nenhuma diferença feita
entre vós entre qualquer uma coisa & qualquer outra coisa; pois daí vem
dor. Mas quem quer que valha nisto, seja ele o chefe de tudo!
29. DE VIA INERTIAE
DO Caminho do Tao Eu já te escrevi, ó meu Filho, mas Eu devo te instruir mais
nesta Doutrina de fazer tudo não fazendo nada. Primeiro Eu quero que
compreendas que o Universo sendo, como Eu disse acima, uma Expressão de Zero
sob a figura da Díada, sua Tendência contínua é aliviar aquela Tensão pelo
Casamento de Contrários quando quer que estes são postos em Contato. Assim, tua
verdadeira Natureza é uma Vontade ao Zero, ou uma Inércia, ou um Fazer Nada; e
a Maneira de Fazer Nada é não opor qualquer Obstáculo ao livre Funcionamento
dessa tua verdadeira Natureza. Considera a Carga Elétrica de uma Nuvem, cuja
Vontade é descarregar-se na Terra, e assim liberar a tensão do seu Potencial.
Faze isto por livre Condução, há Silêncio e Escuridão; opõe um Obstáculo: há
Calor e Luz, e a Dilaceração daquilo que não permite livre Passagem à Corrente.
30. DE VIA LIBERTATIS
NÃO julgues então que por Inação tu segues o Caminho do Tao; pois tua Natureza
é Ação, e impedindo a Descarga do teu Potencial tu perpetuas e agravas a
Tensão. Se tu não desimpedes a Natureza, ela te trará a Impedimento. Livra portanto
toda Função de teu Corpo e de toda outra Parte de ti de acordo com sua
verdadeira Vontade. Também é muito necessário que tu descubras em cada caso
aquela verdadeira Vontade, pois tu nasceste em um Ambiente onde há muitas
Vontades falsas e pervertidas, Tumores monstruosos, Parasitas, Coisas Daninhas
são elas, aderindo a ti por Vício de Hereditariedade, ou do Meio, ou de mau
Treino. E de todas essas Coisas as mais sutis e mais terríveis, Inimigos sem
piedade, destrutivos de tua Vontade, e uma Ameaça e Tirania mesmo para teu
Ente, são os Ideais e Padrões dos Deuses-Escravos: falsa Religião, falsa Ética,
e até falsa Ciência.
31. DE LEGE MOTUS
CONSIDERA, meu Filho, aquela palavra no Chamado ou Chave dos Trinta Aethyrs:
"Contemplai a Face do vosso Deus, o Começo do Conforto, cujos olhos são o
Brilho dos Céus, que vos proveu para o Governo da Terra e sua Variedade
Inominável!" E novamente: "que não haja nenhuma Criatura sobre ela ou
dentro dela a mesma. Todos os seus Membros, difiram eles em suas Qualidades, e
não haja nenhuma Criatura igual a outra." Aqui também está a voz da
verdadeira Ciência, gritando: Variação é a Chave da Evolução. E em terceiro vem
a Arte, percebendo Beleza na Harmonia dos Diversos. Aprende então, ó meu Filho,
que todas as Leis, todos os Sistemas, todos os Costumes, todos os Ideais e
Padrões que tendem a produzir Uniformidade, estando em direta Oposição à
Vontade da Natureza de mudar e de se desenvolver através de Variedade, são
amaldiçoados. Luta com toda Pujança de tua Hombridade contra estas Forças, pois
elas resistem a Mudança, que é Vida; e assim são da Morte.
32. DE LEGIBUS CONTRA MOTUM
NÃO digas, em tua Pressa, que tais Estagnações são Unidade, mesmo como a última
Vitória de tua livre Vontade é Unidade. Pois tua Vontade se move por livre
Função, de acordo com sua Natureza particular, em direção àquele Fim da
Dissolução de todas as Complexidades; e os Ideais e Padrões são Tentativas de
te fazer empacar nesse Caminho. Se bem que para ti algum Ideal particular possa
ser parte do teu Caminho, no entanto para teu Vizinho pode ser que assim não
seja. Coloca todos os Homens a Cavalo; de fato tu aceleras o Soldado de
Infantaria em seu Caminho; mas que fizeste ao Aviador? Tu deves ter Leis e
Costumes simples para expressar a Vontade geral, e assim impedir a Tirania ou
Violência de uns poucos; mas não multipliques essas Leis e esses Costumes!
Agora então Eu te declararei aqui os Limites da Lei Civil sobre a Rocha da Lei
de Télema.
33. DE NECESSITATE COMMUNI
COMPREENDE antes de mais nada que os Perturbadores da Paz da Humanidade agem
assim por Causa de sua Ignorância de suas Verdadeiras Vontades. Portanto, à
Medida que esta minha Sabedoria aumenta entre os Homens, a falsa Vontade ao
Crime se tornará constantemente mais rara. Também, o Exercício de Nossa
Liberdade fará com que os Homens nasçam cada vez menos afligidos por aquele
Distúrbio do Espírito que engendra essas falsas Vontades. Mas, enquanto à
Espera dessa Perfeição, tu deves por Lei assegurar a todo e cada Homem um Meio
de satisfazer suas Necessidades físicas e mentais, deixando-o livre para
desenvolver qualquer superestrutura conforme a Vontade dele, e protegendo-o de
quem quer que busque privá-lo destes Direitos vertebrais. Haverá portanto um
Padrão de Satisfação, se bem que deverá variar em Detalhe com Raça, Clima e
tais outras Condições. E esse Padrão estará baseado sobre uma ampla
Interpretação de Fatos biológicos, fisiológicos, e outros semelhantes.
34. DE LIBERTATE CORPORIS
NÃO haverá Propriedade em Carne humana. Todo Homem e toda Mulher tem Direito Irretorquível de entregar o
Corpo ao Gozo de qualquer outra pessoa. O exercício deste Direito não será
punido quer por Lei ou por Costume; não haverá Penalidade quer por Perda ou
Diminuição de Liberdade, de Direitos, de Riqueza, ou de Posição Social; mas
esta Franquia será respeitada por todos, visto que é o Direito da Vontade
física. Por este mesmo motivo tu causarás completa Restrição e Punição de quem
quer que busque limitar aquela Franquia para seu próprio Lucro pessoal, ou
Desejo, ou Ideal. Tomo Homem e toda Mulher tem pleno direito quer de conceder
quer de negar o Corpo, como a Vontade falar neste. Isto sendo feito Hábito, os
males do Amor, que são muitos, estendendo-se a Distúrbio não só do Corpo como
da Mente (e isto em Caminhos obscuros), pouco a pouco desaparecerão da Face de
Sua Glória inenarrável.
35. DE LIBERTATE MENTIS
NÃO haverá Propriedade em Pensamento Humano. Que cada qual pense como quiser
sobre o Universo; mas que nenhum tente impor aquele Pensamento sobre outrem por
qualquer Ameaça de Punição neste Mundo ou em qualquer outro Mundo. Considera,
se bem que Eu te incito a Esforço em teu Caminho, no entanto é o Caminho de tua
Vontade; e Eu nem sequer digo que é bom que tu te apresses nele, pois o Assunto
inteiro jaz em tua Vontade, e te forçares contra tua Natureza seria um
Obstáculo à tua Passagem. Mas se Eu te urjo a que corras este Curso como um
Atleta, é porque Eu percebi em tua Natureza um grande Ardor e pujante
Concentração naquela Vontade, e Eu te escrevo esta Carta sabendo bem que tu te
alegrarás extremamente nela, desde que ela é uma Expressão de tua própria
Vontade, e talvez uma Revelação desta; algo que tu buscas veementemente. Eu te
comando portanto a que não permitas a nenhum que tiranize a outro em
Pensamento, ou de qualquer outra forma blasfeme contra a grande Liberdade de
Nosso Pai o Sol no Grande Cosmo, ou de seu Vice-rei no Pequeno.
36. DE LIBERTATE JUVENUM
Ó tu que és a Criança de minhas próprias Entranhas, como te escreverei Eu sobre
as Crianças? Pois aí está o Nó Górdio em nossa inteira Corda de Sabedoria, e
não pode ser cortado com Espada; não, nem mesmo a de um maior que
Alexandre-de-Dois-Chifres. E é um Equilíbrio como aquele do Ovo, e a violência
de um Colombo apenas rachará a Casca tenra que devemos antes de mais nada
preservar.
Agora, como Sentinela daquela Fortaleza está um certo Paradoxo de Aplicação
geral, e desta Maneira genérica Eu o declararei, para que seu Sentido
particular possa de agora em diante iluminar-te a Mente. E este é o Paradoxo:
que existem Laços que levam à Escravidão e Laços que levam à Liberdade. Todos
nós somos amarrados com muitos Laços pelo nosso Ambiente, e em grande Parte
somos nós que devemos decidir se tais Laços nos escravizarão ou nos
emanciparão. E Eu te tornarei clara esta Tese por Meio de uma Ilustração.
37. DE VI PER DISCIPLINAM COLENDA
CONSIDERA o Laço de um Clima frio, como isso faz do Homem um Escravo: ele deve
obter Abrigo e Comida com grande Esforço. Entretanto, assim ele se fortalece
contra os Elementos, e sua Força moral aumenta, de maneira que ele é Mestre de
Homens que vivem em Terras de Sol onde as Necessidades físicas são satisfeitas
sem Luta.
Considera também aquele que deseja exceder em Velocidade, ou em Batalha, como
ele se nega a Comida que deseja, e todos os Prazeres que lhe são naturais,
colocando-se sob a Ordem severa de um Treinador. Assim por esta Servidão ele
tem, por fim, sua Vontade.
Portanto, um por natural, e outro por voluntária Restrição, chegaram cada qual
a uma Liberdade maior. Isto é também uma Lei geral da Biologia, pois todo
Desenvolvimento é uma Estruturação; isto é, uma Limitação e Especialização de
um Protoplasma originalmente indeterminado, o qual pode portanto ser chamado
livre, na definição de um Pedante.
38. DE ORDINE VERUM
NO Corpo, toda Célula é subordinada ao Controle fisiológico geral, e nós que
queremos aquele Controle não indagamos se cada Unidade individual daquela
Estrutura é conscientemente feliz. Mas nós cuidamos de que cada uma execute sua
Função, e o Fracasso de mesmo umas poucas Células, ou sua Revolta, pode
envolver a Morte do Organismo inteiro. Entretanto, mesmo aqui a Queixa de uns
poucos, que nós chamamos Dor, é um Aviso de Perigo geral. Muitas células
cumprem seu Destino por Morte Rápida, e tal sendo a sua Função, elas de maneira
alguma ressentem isto. Se a Hemoglobina resistisse ao Ataque do Oxigênio, o
corpo pereceria, e nem por isto a Hemoglobina se salvaria. Agora então, ó meu Filho,
considera a Fundo estas Coisas em tua Organização do Mundo sob a Lei de Télema.
Pois todo indivíduo no Estado deve ser perfeito em sua Função, com
Contentamento, respeitando sua Tarefa particular como santa e necessária, sem
cobiçar a de outro. Pois apenas assim tu podes construir um Estado Livre, cuja
Vontade dirigente estará voltada unicamente ao Bem-Estar de todos.
39. DE FUNDAMENTIS CIVITATIS
NÃO digas, ó meu Filho, que neste Argumento Eu estabeleci limites à Liberdade
individual. Pois cada Homem neste Estado que Eu proponho estará satisfazendo
sua própria verdadeira Vontade por sua pronta Aquiescência na Ordem necessária
ao Bem-Estar de todos, e portanto também dele mesmo. Mas vê bem que estabeleças
um elevado Padrão de Satisfação, e que a cada um sobre após seu Trabalho, Lazer
e Energia, de forma que, sua Vontade de Auto-Preservação estando satisfeita por
sua Execução de sua Função no Estado, ele possa devotar o Restante de seus
Poderes à Satisfação das outras Partes de sua Vontade. E como o Povo é
freqüentemente ignorante, e não compreende o Prazer, faz com que seja instruído
na Arte da Vida: como preparar Comida agradável e sadia, cada qual a seu Gosto;
como fazer Roupas cada qual de acordo com sua Fantasia, com Variedade de
Individualidade; e como praticar as múltiplas técnicas do Amor. Estas Coisas
sendo antes de mais nada asseguradas, depois tu podes guiá-los aos Céus da
Poesia e do Conto, da Música, da Pintura e da Escultura, e ao Estudo da Mente
mesma, com sua insaciável Alegria de todo Conhecimento. Daí deixa que eles
levantem vôo!
40. DE VOLUNTATE JUVENUM
LONGA, ó meu Filho, foi esta Digressão no Caminho simples da minha Palavra
concernente às Crianças; mas era muito necessário que tu compreendesses os
Limites da verdadeira Liberdade. Pois não é a Vontade de nenhum Homem aquilo
que termina na Ruína dele e na de seus Semelhantes; e não é Liberdade aquilo
cujo Exercício o conduz à Escravidão. Tu podes portanto assumir que é sempre
uma Parte essencial da Vontade de qualquer Criança chegar à Idade Adulta com
Saúde; e seus Guardiões podem portanto evitar que ela ignorantemente aja em
Desacordo com isto; sempre tomando o Cuidado de remover a Causa do Erro, a
saber, Ignorância, como já foi dito. Tu podes também assumir que é Parte da
Vontade da Criança treinar todas as Faculdades da sua Mente; e os Guardiões
podem portanto combater a Inércia que impede o Desenvolvimento desta.
Entretanto, aqui é necessário muita Cautela, e é melhor agir excitando e
satisfazendo qualquer Curiosidade natural do que forçar Aplicação a Tarefas
padronizadas, por mais óbvia que pareça a Necessidade disto.
41. DE MODO DISPUTANDI
AGORA, neste Treino da Criança há uma Consideração extremamente importante, que
Eu te explicarei como em Conformidade com nossa santa Experiência no Caminho da
Verdade. E é esta, que desde que tudo que pode ser pensado não é verdadeiro,
qualquer Asserção é, em algum Senso, falsa. Mesmo no Mar da Razão pura, nós
podemos dizer que cada Afirmação é, em algum Senso, disputável. Portanto, em
todo e cada Caso, mesmo os mais simples, não somente a Tese mas também o seu
oposto devem ser ensinados à Criança, e a Decisão deve ser entregue ao
Discernimento e ao Bom Senso dela, fortificados por Experiência. E esta prática
desenvolverá o Poder de Raciocínio da Criança, e sua Confiança em si mesma, e
seu Interesse em toda Ciência. Mas vigia antes de mais nada qualquer Tentativa
de influenciar-lhe a Mente sobre qualquer ponto que não esteja no Âmbito de
Fatos comprovados e indisputados. Lembra-te também, mesmo quando estiveres mais
convencido quanto a isto, de que assim também estavam convencidos aqueles que
deram Instrução ao jovem Copernicus. Reverencia o Desconhecido a quem presumes
de comunicar teu Conhecimento; pois ele pode ser um maior que tu.
42. DE VOLUNTATE JUVENIS COGNOSCENDA
É IMPORTANTE que tu compreendas tão cedo quanto possível qual é a verdadeira
Vontade da Criança no Assunto da sua Carreira. Sê atento quanto a teus Ideais e
Sonhos; pois a Criança é ela mesma, e não teu Joguete. Lembra-te da cômica
Tragédia de Napoleão e do Rei de Roma; não construas uma Casa para um Bode
selvagem, nem plantes uma Floresta para a Moradia de um Tubarão. Mas sê
vigilante quanto a todo Sinal, consciente ou inconsciente, da Vontade da Criança,
proporcionando-lhe então todo Ensejo de seguir o Caminho que ela assim indicar.
Aprende isto: que a Criança, sendo jovem, se cansará rapidamente de todos os
Caminhos falsos, não importa quão aprazíveis estes lhe sejam no Começo; mas do
verdadeiro Caminho ela não se cansará. Este sendo assim revelado, tu podes
prepará-lo perfeitamente para ela; pois nenhum homem pode manter todas as
Estradas abertas para sempre. E a Criança tendo feito sua Escolha, explica-lhe
como não podemos ir longe em qualquer Estrada se não tivermos um Conhecimento
geral de Coisas aparentemente irrelevantes. E com isto a Criança compreenderá,
e se dedicará sabiamente à sua Obra.
43. DE AURO RUBEO
EU desejo que consideres, ó meu Filho, aquela Palavra de Publius Vergilius Maro,
que foi o maior dos Magistas do seu Tempo: in medio tutissimus ibis. Isto
também tem sido dito por muitos Homens sábios de outras Terras; e a santa
Qabalah o confirma, colocando Tiphereth, que é o Homem, e a Beleza e a Harmonia
das coisas, e o Ouro no Reino dos Metais, e o Sol entre os Planetas, no Centro
da Árvore da Vida. Pois O Centro é o Ponto de Equilíbrio de todos os Vetores.
Assim, se tu queres viver sabiamente, aprende que tu deves estabelecer esta
relação de Equilíbrio com todas as Coisas, sem omitir nenhuma. Pois não há nada
tão alheio à tua Natureza que não possa ser colocado em Relação harmoniosa com
ela; e tua Estatura de Hombridade se agiganta à Proporção que tu alcanças a
Perfeição nesta Arte. E não existe nada teu que não possa te prejudicar se este
Equilíbrio não estiver verdadeiramente ajustado. Tu necessitas da Força do
Universo inteiro para trabalhar com tua Vontade; mas esta Força deve ser
distribuída em volta do Eixo dessa Vontade de forma que não haja qualquer
tendência a Impedimento ou Desvio. E em meu Amor a ti Eu adornarei esta Tese
com Exemplos a seguir.
44. DE SAPIENTIA IN RE SEXUALI
CONSIDERA o Amor. Eis aqui uma Força destruidora e corrompedora pela qual
muitos Homens se perderam: testemunha toda a História. No entanto, sem o Amor o
Homem não seria Homem. Portanto teu tio Richard Wagner fez de nossa Doutrina
uma Fábula Musical, em que vemos Amfortas, que se deixou seduzir, ferido além
de qualquer Cura; Klingsor, que fugiu de um Perigo semelhante, expulso para
sempre da Montanha de Salvação; e Parsifal, que não cedeu, capaz de exercer o
verdadeiro Poder do Amor, e assim executar o Milagre da Redenção. Disto também
Eu escrevi em meu Poema chamado Adonis. É a mesma Coisa com Comida e Bebida,
com Exercício, com o Estudo mesmo; o Problema é sempre colocar o Apetite em
reta Relação com a Vontade. Assim, tu podes jejuar ou festejar; não existe
Regra senão aquela do Equilíbrio. E esta Doutrina é de geral Aceitação entre os
melhores Homens; portanto a ti Eu prefiro comunicar mais cuidadosamente o outro
Aspecto de minha Sabedoria, a saber: a Necessidade de estender constantemente
tua Natureza a novos Parceiros sobre todo e cada plano de Existência, de forma
que tu possas te tornar o perfeito Microcosmo, uma Imagem sem Falha de tudo quanto
existe.
45. DE GRADIBUS AEQUIS SCIENTIAE
EU digo em Verdade, ó meu Filho, que esta Extensão de tua Natureza não é
Violação dela; pois é a Natureza de tua Natureza crescer continuamente. Agora,
não existe parte do Conhecimento que te seja alheia; entretanto, mesmo o
Conhecimento não é de valor a não ser que seja assimilado e coordenado em
Compreensão. Cresce portanto fácil e espontaneamente, desenvolvendo todas as
Partes igualmente, a fim de que não te tornes um Monstro. E se uma Coisa te tenta
em demasia, equilibra-a por Devoção ao seu Oposto até que o Equilíbrio seja
restabelecido. Mas não tentes crescer por Determinação súbita em direção às
Coisas que estão longe de ti; se uma tal Coisa atrai teu Pensamento, constrói
uma Ponte entre tu e ela, e toma firmemente o primeiro Passo sobre aquela
Ponte. Eu explicarei isto. Interessas-te por acaso sobre os Motivos das
Estrelas, e sobre seus Elementos, seu Tamanho e Peso? Então deves antes de mais
nada adquirir Conhecimento de Coisas matemáticas, de Leis físicas e químicas.
Assim, pois, para começar, a fim de que possas compreender claramente a
Natureza de teu Trabalho inteiro, faz um Mapa de tua Mente, e estende os
poderes dela do essencial ao externo, do próximo ao longínquo; sempre com
Firmeza e grande Complecção, fazendo com que cada Elo de tua Corrente seja
igual e perfeito.
46. DE VIRTUTE AUDENDI
ENTRETANTO, isto Eu te comando com todo o meu Poder: Vive Perigosamente. Não
foi esta a Palavra de teu Tio Friedrich Nietzsche? Teu pior Inimigo é a Inércia
da Mente. As coisas que os Homens mais odeiam são as que os atingem no íntimo;
e eles temem a Luz, e perseguem os Portadores de Tochas. Analisa pois a fundo
todas as Idéias que os Homens temem; pois a Verdade dissolverá o Medo. Com
justiça dizem os Homens que o Desconhecido é terrível; mas erroneamente temem
eles que o Desconhecido se torne o Conhecido. Além disto, executa todos os Atos
de que Gente Comum se arreceia, salvo onde já tenhas pleno Conhecimento; para
que tu possas aprender Uso e Controle, sem caíres em Abuso e Escravidão. Pois o
Covarde e o Temerário não prolongarão seus Dias. Toda Coisa tem seu reto Uso; e
tu és grande na medida em que tens Uso das Coisas. Este é o Mistério de toda
Arte Mágica, e teu Domínio sobre o Universo. Entretanto, se tu hás de errar,
sendo humano, erra antes por excesso de Coragem que por excesso de Cautela;
pois é a Fundação da Honra do Homem que ele ousa muito. O que diz Quintus
Horatius Flaccus na terceira Ode do seu Primeiro Livro? Morre de pé!
47. DE ARTE MENTIS COLENDI a) Mathematica
AGORA, concernente à primeira Fundação de tua Mente Eu direi algo. Tu estudarás
com Diligência a Matemática, porque assim te serão reveladas as Leis do teu
próprio Raciocínio, e os Limites deste. Esta Ciência te manifesta tua
Verdadeira Natureza com respeito ao Maquinismo pelo qual ela trabalha, e mostra
em plena Nudez, sem Vestimenta de Personalidade ou Desejo, a Anatomia de teu
Ente consciente. Ademais, assim tu podes compreender a Essência das Relações
entre todas as Coisas, e a Natureza da Necessidade, e podes chegar ao
Conhecimento da Forma. Pois a Matemática é como se fosse o derradeiro Véu
diante da Imagem da Verdade, de forma que não há melhor Caminho que nossa Santa
Qabalah, que analisa todas as Coisas, e as reduz a puro Número; e assim as
Naturezas das Coisas não mais sendo coloridas e confundidas, elas podem ser
reguladas e formuladas em Simplicidade pela Operação da Pura Razão, para teu
grande Conforto no Trabalho da nossa Arte Transcendental, através da qual os
Muitos se tornam Um.
48. SEQUITUR b) Classica
MEU filho, não negligencies de forma alguma o estudo dos Escritos da
Antiguidade, e isto na Língua original. Pois desta maneira tu descobrirás a
História da Estrutura da tua Mente; quer dizer, a Natureza desta considerada
como o último Termo em uma Seqüência de Causas e Efeitos. Pois tua Mente foi
construída destes Elementos, de forma que nestes Livros tu podes trazer à Luz
tuas próprias Memórias subconscientes. E tua Memória é como se fosse o Cimento
na Casa da tua Mente, sem o qual não há Coesão ou Individualidade possível,
este estado sendo por isto chamado Demência. E esses livros tem durado e se
tornado famosos porque são os Frutos de antigas Árvores das quais tu és
diretamente o Herdeiro. Razão porque (digo Eu) eles são mais verdadeiramente
germanos à tua própria Natureza que Livros de Rebentos Colaterais teus
contemporâneos, ainda quando estes sejam em si mesmo melhores e mais sábios.
Sim, ó meu Filho, esses Escritos clássicos tu podes estudar para chegares à
verdadeira Compreensão de tua própria Natureza, e daquela do Universo inteiro,
na dimensão do Tempo; tal como a Matemática te declara isto na dimensão do
Espaço: isto é, de Extensão. Além disto, através deste Estudo a Criança compreenderá
a Fundação das Maneiras; as quais, como diz um dos Filhos da Sabedoria, fazem o
Homem.
49. SEQUITUR c) Scientifica
DESDE que Tempo e Espaço são as condições da Mente, estes dois Estudos são
fundamentais. Entretanto, ainda resta a Causalidade, que é a Raiz das Ações e
Reações da Natureza. Isto também tu buscarás ardentemente, para que possas
compreender a Variedade do Universo, sua Harmonia e sua Beleza, com a Ciência
daquilo que o compele. Entretanto, esta não é igual às duas outras no Poder de
te revelar a ti mesmo; e sua principal Utilidade é te instruir no verdadeiro
Método do Progresso em Conhecimento; que é, fundamentalmente, a Observação do
Semelhante e do Dessemelhante. Também, esta despertará em ti o Êxtase de
Maravilha; e te trará a uma reta Compreensão da Arte Mágica. Pois nossa Magia é
apenas um dos Poderes que jazem dentro de nós latentes e ainda não analisados;
e é pelo Método da Ciência que a Magia deve se tornar clara e de Uso ao Homem.
Não é isto uma Dádiva sem Preço, o Fruto de uma Árvore não só de Ciência mas de
Vida? Pois existe aquilo no Homem que é Deus, e Também aquilo que é Pó; e pela
nossa Magia nós faremos destes dois uma só Carne, para a Obtenção do Império do
Universo.
50. DE MODO QUO OPERAT LEX MAGICA
PRESTA Atenção, ó meu Filho, enquanto Eu te exponho a verdadeira Doutrina da
Magia. Toda Força age, na devida Proporção, sobre todas as Coisas com as quais
está relacionada. Assim, uma Floresta incendiada causa Mudança Química por
Combustão, e comunica Calor e Movimento ao Ar em volta dela pela Operação de
Leis físicas, e excita Pensamento e Emoção no Homem que ela impressiona através
dos seus Órgãos de Percepção. Considera (mesmo que seja apenas uma Lenda) a
Queda da Maçã de Isaac Newton, seu Efeito sobre os Destinos Espirituais da
Humanidade. Considera também que nenhuma Força chega jamais ao Fim de seu
Trabalho; o Ar movido por meu Alento é um Distúrbio ou Mudança de Equilíbrio
que não pode ser completamente compensada e reduzida a Nada, se bem que os
Aeons sejam infindáveis. Quem então negará a Possibilidade da Magia? Bem disse
Frazer, o sapientíssimo Doutor do Colégio da Santa Trindade na Universidade de
Cambridge, que Ciência era apenas o Nome da Magia que não falhava em seu Efeito
tencionado.
51. DE MACHINA MAGICA
VÊ! Eu exerço minha Vontade, e minha Pena se move sobre o Papel, porque minha
Vontade misteriosamente tem Poder sobre os Músculos do meu Braço, e estes
trabalham com Vantagem mecânica contra a Inércia da Pena. Eu não posso quebrar
a Parede que me confronta, porque Eu estou longe demais para me colocar em
Relação mecânica com ela; ou a Parede ao meu lado, porque Eu não sou
suficientemente forte para sobrepujar sua Inércia. Para vencer aquela Batalha
Eu devo chamar Tempo e Picareta em meu Auxílio. Mas como poderia Eu retardar o
Movimento da Terra no Espaço? Também Eu sou Parte do seu Momentum. No entanto,
cada movimento de minha Pena afeta aquele Movimento, mudando-lhe o Equilíbrio.
O Problema de todo Ato de Magia é então este: exercer uma Vontade,
suficientemente poderosa para causar o Efeito requerido, através de um Mênstruo
ou Meio de Comunicação. Pela comum Compreensão da palavra Magia, nós excluímos
os Meios que são geralmente conhecidos e compreendidos. Agora então, ó meu
Filho, Eu te declararei primeiro a Natureza do Poder, e depois aquela do Meio.
52. DE HARMONIA ANIMAE CUM CORPORE
TODAS as Coisas estão entrelaçadas. O mais espiritual Pensamento em tua Alma
(Eu falo como um Tolo) é também uma materialíssima Mudança no Sangue ou no Cérebro.
Cólera torna o sangue ácido; Ódio envenena o Leite da Mãe; tal como Eu já
mostrei em reverso, como a Perturbação de uma Função física altera os estados
de Consciência. Agora, ninguém duvida do Poder da Vontade do Homem, quer seja o
Amor dele que engendra Prole ou causa Guerras onde muitos são mortos, quer seja
a Eloqüência dele que move uma Multidão, ou a Vaidade dele que destrói um Povo.
Apenas, em todos tais Casos nós compreendemos como a Natureza trabalha, através
de Leis conhecidas, físicas ou psíquicas. Isto é, existe uma Condição de
Equilíbrio instável, de forma que uma Máquina põe outra em Movimento tão cedo
ocorra o primeiro Distúrbio. Portanto, não é correto considerarmos toda
Conseqüência de uma Vontade como um Efeito desta. Sem a Revolução não poderia
ter havido nenhum grande Efeito da Vontade de Napoleão; além de que, a Vontade
dele foi por fim quebrada, para a Infelicidade presente (como parece a muitos
além de mim) da Humanidade. Esta Magia, portanto, depende bastante da Arte de
colocar muitas outras Vontades em Movimento simpático; e o maior dos Magos pode
não ser o mais bem sucedido — em uma Concepção estreita de um Limite de
Tempo. Ele pode necessitar muitos Golpes para quebrar sua Parede, se aquela é
forte, enquanto uma Criança pode derrubar uma que está prestes a ruir.
53. DE MYSTERIO PRUDENTIAE
CONTEMPLA agora a Natureza, como Ela é pródiga de suas Forças! A evidente
Vontade de toda Bolota é se tornar um Carvalho; no entanto, quase todas
fracassam nessa Vontade. Portanto, um Segredo da Magia é a Economia da tua
Força; não executar Ato algum a não ser que estejas seguro de seu Efeito. E se
todo Ato tem um Efeito em todo e cada Plano, como podes fazer isto se não
estiveres em comunicação com todos os Planos? Por este motivo tu deves conhecer
por completo não só teu Corpo e tua Mente, mas também teu Corpo de Luz e todos
os seus Princípios mais sutis. Mas Eu quero que tu consideres mais
especialmente os Poderes que tens dentro de ti que são certamente capazes de
grandes Efeitos, e que no entanto são constantemente desperdiçados. Considera
pois se esses Poderes, frustrados em seu Fito sobre um Plano, não poderiam ser
voltados a um Propósito elevado e a um Sucesso seguro sobre outro plano. Pois
cem Bolotas, retamente plantadas em Condições apropriadas para seu verdadeiro
Crescimento, tornar-se-ão cem Carvalhos; enquanto de outra forma elas farão
apenas uma Refeição para um Suíno, e sua Natureza sutil será completamente
perdida. Aprende, portanto, ó meu Filho, este mistério da Economia, e aplica-o
fielmente e com Diligência em teu Trabalho.
54. DE ARTE ALCHEMICA
AQUI então Eu devo escrever sobre Talismãs para tua Instrução. Sabe primeiro
que há certos Veículos apropriados para a Encarnação da Vontade. Eu dou como
exemplo o Papel, onde por tua Arte tu escreves uma Representação simbólica de
tua Vontade, de forma que quando tu a vês novamente, tu te lembras daquela
Vontade; ou pode ser que um outro, lendo isso, seja movido a obedecer àquela
Vontade. Aqui pois está um Caso de Encarnação e Assunção, o qual, antes de ser
compreendido, era retamente considerado Grimoria ou Magia. Também, tua Vontade
de viver te faz plantar Trigo, que, em sua devida Estação sendo comido, é
novamente transmutado em Vontade. Assim, tu podes de muitos Modos impressionar
qualquer Vontade particular sobre a Substância apropriada, de forma que por
reto Uso tu chegas por fim à Consecução. Tão geral é esta Fórmula, em verdade,
que todas as Ações conscientes podem ser incluídas em seu Âmbito. Existe também
o reverso, como quando Objetos externos criam Apetite, a Satisfação do qual
novamente reage sobre o Plano físico. Louva portanto a Maravilha do Mistério da
Natureza, que sobe e desce com cada Alento, de forma que não existe Parte
alguma que não seja misticamente Comungante com o Todo.
55. DE ARCANO SUBTILISSIMO
Ó MEU Filho, existe aquilo dentro de ti que tem uma Potência maravilhosa, que é
por sua própria Natureza a Encarnação da tua Vontade, mui pronto a receber o
Selo desta. Ali jazem ocultos todos os Poderes, todas as memórias, mais do que
tu tens dez mil vezes! Aprende então a retirar daquela grande Tesouraria a Jóia
da qual tu tiveres no presente qualquer Necessidade. Pois todas as coisas que
são possíveis à tua Natureza já estão ocultas dentro de ti; e tu necessitas
apenas nomeá-las, e traze-las de volta à Luz da tua Consciência. Não
desperdices portanto este Ouro teu, mas empata-o na Usura mais frutuosa. Agora,
da Arte e Técnica deste santíssimo Mistério Eu não escrevo, por um Motivo que
tu já conheces. Além disto, neste Assunto tu aprenderás melhor por tua própria
Experiência, e tua Observação em verdadeira Ciência te guiará. Pois este
Segredo é ainda da Magia, e oculto; de maneira que Eu não sei com certeza se
tua Vontade jaz na Direção do meu Caminho ou não.
56. DE MENSTRUO ARTIS
MAS quanto ao Meio por cuja sensitiva Natureza nossa Força Mágica é transmitida
ao Objeto do nosso Trabalho, não duvides. Pois já em Outras Galáxias de Física
alguns foram compelidos a postular um Éter completamente hipotético para
explicar os Fenômenos de Luz, Eletricidade, e outros semelhantes; nem exige
nenhum Homem uma Demonstração da Existência daquele Éter, mais que sua
Conformidade com a Lei geral. Tu portanto, Criador e Transmissor de tua própria
Energia, não necessitas perguntar se por este ou se por algum outro Meio tu
executas tua Obra. Entretanto Eu não sei por que esse Éter que os Matemáticos e
os Físicos imaginaram, e no entanto foram incapazes de definir, sua Natureza
estando além da Razão, não possa ser a mesma Luz Astral, ou Mênstruo Plástico,
ou Aub, Aud, Aur (estes três sendo uma Trindade) de que nossos próprios sábios
tem falado. E esta Meditação pode resultar em muito Conhecimento físico, o que
é bom, pois aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo, e o Estudo
de qualquer Lei leva à compreensão de toda Lei. Assim podes aprender no Fim que
não existe Lei além de Faze o que tu queres.
57. DE NECESSITATE VOLUNTATIS
E COMO então (dizes tu?) reconciliarei esta Arte Mágica com aquele Caminho do
Tao que realiza todas as Coisas fazendo Nada? Mas isto Eu já te declarei em
Parte, mostrando que tu não podes praticar a Magia a não ser que seja tua
Natureza praticar a Magia, e assim o verdadeiro Nada para ti. Pois fazer Nada
significa não interferir com Coisa alguma, de forma que, para um Magista, não
praticar a Magia é cometer Violência, contra si mesmo. Entretanto, aprende
ainda que toda Ação é em algum Senso Magia, sendo uma parte essencial daquele
Grande Trabalho Mágico que nós chamamos a Natureza. Então tu não tens Livre
Arbítrio? Em verdade, tu o disseste. No entanto, ainda assim é teu necessário
Destino agir com aquele Livre Arbítrio. Tu não podes fazer nada salvo em acordo
com aquela Natureza tua e de todas as Coisas, e todo Fenômeno é a Resultante da
Totalidade das Forças: Amén. Então tu não necessitas pensar, nem te esforçares?
Dizes bem; porém, não és tu compelido a Pensamento e Esforço no Caminho da
Natureza? Sim, Eu, teu Pai, trabalho para ti com solicitude, e também Eu rio de
tuas Perplexidades; pois assim foi preordenado que Eu fizesse, por Mim, desde o
Princípio.
58. DE COMOEDIA UNIVERSA, QUAE DICITUR PAN
ASSIM, pois, ó meu Filho, considera-te feliz quando compreendes todas estas
Coisas, sendo um daqueles Entes (ou Acontecentes) que nós chamamos Filósofos.
Tudo é um infindável Jogo de Amor em que Nossa Senhora Nuit e Seu Senhor Hadit
se regozijam; e toda Parte do Jogo é Jogo. Toda Dor não é mais que um Molho
picante no Prato do Prazer; pois foi a Natureza do Universo que concebeu este
eterno Banquete de Alegria. E aquele que não compreende isto é necessário como
Ingrediente, tal qual tu mesmo; quererias tu mudar tudo, e estragar o Quitute?
És tu o Mestre-Cozinheiro? Sim, pois teu Paladar tem se desenvolvido com teu grande
Contato com a Comida da Experiência; portanto tu és um daqueles que se
regozijam. Também, é tua Natureza, como é a minha, ó meu Filho, querer que
todos os Homens partilhem do nosso Prazer e Alegria; por isto Eu proclamei a
minha Lei ao Homem, e tu continuas naquela Obra de Regozijo.
59. DE CAECITIA HOMINUM
APRENDE também de minha Sabedoria que esta Visão do Cosmo sobre a qual Eu aqui
te escrevi não está aberta à tua Vista o Tempo todo; pois naquela Visão toda
Vontade está cumprida. Tu vês o Universo como Nenhum, e Como Um, e como Muitos,
e tu vês o Intercâmbio desses; e com isso estás tu (que não és mais tu)
contente. Pois em uma Fase tu também és Nenhum, em outra Um, e na terceira uma
Parte organizada e necessária da grande Estrutura; de modo que não existe mais
Conflito em teu inteiro Vir-a-Ser. Mas agora Eu farei Luz para teus Olhos neste
Assunto enquanto tu tateias, perguntando: mas daqueles que não vêem isto, que
dizes tu, ó meu Pai? Mas naquela Visão tu não falas assim, meu Filho! Aprende pois
de mim o Mistério Secreto da Ilusão, e como ela trabalha, e da Santa Lei que é
a sua Natureza, e da tua Ação ali; pois isto é um Arcano da Sabedoria dos
Magos, e próprio para ti que habitas na Terra da Compreensão.
60. ALLEGORIA DE CAISSA
CONSIDERA como um exemplo o Jogo e Esporte do Xadrez, que é um Passatempo do
Homem, digno de fazê-lo pensar; entretanto, de forma alguma necessário à sua
Vida, de maneira que ele afasta de si tabuleiro e Peças ao mínimo Chamado
daquilo que verdadeiramente o interessa. Assim, para ele este Jogo é como se
fosse uma Ilusão. Mas enquanto ele joga o Jogo, ele obedece às Regras deste, se
bem que estas sejam um Artifício, e de forma alguma necessárias à Natureza do
Jogador; pois nesta Restrição está todo o Prazer dele. Portanto, se bem que ele
é Todo-Poderoso para mover as Peças à sua Vontade, ele não o faz, aturando
Perda, Indignidade, e Derrota, antes que destruir aquele Artifício de Ilusão.
Considera então que tu mesmo criaste este Jogo de Sombras do Universo, e que te
dá prazer contemplar ou movimentar o Jogo de acordo com a Lei que tu fizeste, a
qual no entanto não te compele salvo em Virtude de tua própria Vontade de ali
tomares teu Prazer.
61. DE VERITATE FALSI
ALÉM disto, este Assunto toca a
Natureza da Verdade. Pois se bem que para ti em teu Verdadeiro Ente, absoluto e
sem condições, todo este Universo, que é relativo e condicionado, é uma Ilusão;
entretanto, para aquela Parte de ti pela qual tu o percebes, a Lei do Ser (ou
Vir-a-Ser) dele é uma Lei de Verdade. Aprende então que todas as Relações são
verdadeiras sobre seu próprio Plano, e que seria uma Violação da Natureza
ajustá-las irregularmente. Assim, se bem que tu te descobriste a Ti Mesmo, e
sabes que Tu Mesmo és imortal e imutável, além do Tempo e do Espaço, livre da
Causalidade, tão por completo que até a tua Mente partilha constantemente desta
Percepção, tu de modo algum alteraste as Relações de teu Corpo com suas
Síndromes no Mundo de que ele é uma Parte. Quererias prolongar a Vida do teu Corpo
Então acomoda as Condições do teu Corpo ao seu Ambiente, dando-lhe Luz, Ar,
Alimento, e Exercício como sua Natureza requer. Assim também, mutatis mutandis,
cuida da Saúde da tua Mente.
62. DE RELATIONE ILLUSIONUM
DISTO Eu te falarei ainda, pois vê aqui uma grande Rocha de Ignorância de um
lado, e um grande Redemoinho de Erro do outro; neste Estreito há muitos Cascos
de Naufrágios Mágicos. Não conheces tu aquele velho Enigma, se é legal pagar
tributo a César ou não? Dá portanto ao Corpo as coisas do Corpo, e à Mente as
coisas da Mente. Entretanto, por causa da Harmonia interior de todas as Coisas,
que procede da Natureza Única Original delas, existe Ação e Reação de umas
sobre as outras, como Eu já declarei nesta minha Epístola. Mas a Lei é universal,
e entre estes dois Tipos de Ilusão existe uma Proporção ordenada; e é próprio à
tua Ciência delimitar e descrever esta Lei de Interação; pois negá-la por
completo (ou estendê-la ao Infinito) é Tolice, fruto de Ignorância, Preguiça e
Incapacidade de observar os Fatos.
63. DE PRUDENTIA
CONSIDERA a Embriaguez, como por Variação de Condições Corporais tu podes
alterar seu Efeito sobre a Mente, e o reverso, lembrando a Disciplina de
Teophrastus Paracelsus, como, opondo Vinho à Exerção física, ele obtinha uma
certa Purificação e Exaltação. No entanto, fosse ele sete vezes maior do que
foi, ele não teria conseguido isto com Óleo de Vitríolo. Aprende então que há
certos Canais definidos de Ação e Reação entre Corpo e Mente; sonda estes
Canais, e conforme eles maneja as tuas Velas, não julgando que estás em Mar
aberto. E se por acaso tu, sondando estes, descobrires novos Canais,
regozija-te, e marca-os e descreve-os para Lucro de teus Semelhantes; mas
lembra-te constantemente de que descobrir um novo Percurso para escalar um
Precipício não remove o Precipício. Pois onde tu, ó Anjo e no entanto Homem,
trilhaste delicadamente se bem que sem Medo, os Tolos se precipitarão para
Destruição deles.
64. DE RATIONE MAGI VITAE
ESTUDA a Lógica, que é o Código das Leis do Pensamento. Estuda o Método da
Ciência, que é a Aplicação da Lógica aos Fatos do Universo. Não penses jamais
que podes revogar estas Leis, pois se bem que elas sejam Limitações, elas são
as Regras do teu Jogo que tu jogas. Pois embora em teus Trances tu te tornes
Aquilo que não está sujeito a essas Leis, ainda assim elas são definitivas com
respeito àquelas Coisas que tu as estabeleceste para governar. Não, ó meu
Filho, esta Palavra governar não me agrada; uma Lei é apenas uma Declaração da Natureza
da Coisa à qual ela se aplica. Pois nada é compelido salvo por Virtude de sua
própria verdadeira Vontade. Portanto, a Lei humana ou é uma Declaração da
Vontade e da Natureza do Homem, ou então é uma Falsidade contrária a esta, e se
torna nula e sem Efeito.
65. DE CORDE CANDIDO
PENSA também, ó meu Filho, nesta Imagem: que se dois Países estão em Paz, um
Homem viaja entre eles sem empecilho; mas se existe Guerra, todas as Barreiras
entre eles são imediatamente fechadas, salvo umas poucas, e estas são vigiadas
e guardadas, de forma que os Obstáculos são muitos. Este então é o caso da
Magia; pois se tu puseste em Harmonia todos os Princípios dentro de ti, tu
podes trabalhar facilmente para transmutar uma Força em sua semelhante sobre
outro Plano, o que é a Obra essencial da nossa Arte; mas se tu estás em Guerra
dentro de ti mesmo, como podes trabalhar? Nosso Mestre Hermes Trismegistus
escreveu no Cabeçalho de sua Tábua de Esmeralda esta Palavra: o que está em
cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como que está em cima,
para a Execução dos Milagres da Substância Única. Então, e se o que está
embaixo não for como o que está em cima? E se a Substância de Ti for Duas, e
não Uma? E nisto vês a Necessidade da Confissão de um Coração Puro, como está
escrito no Papiro dos Mortos.
66. DE CONFORMITATE MAGI
CUIDA portanto, ó meu Filho, de que em teu Trabalho não cometas Violência
contra a Vontade do Todo, ou contra a Vontade comum a todos aqueles Entes (ou
Acontecentes) que são de uma mesma Natureza geral contigo, ou à tua própria
Vontade particular. Pois primeiro que tudo tu és necessariamente movido em
direção à Meta Única partindo de tua própria Posição; mas em segundo lugar tu
és movido em direção à Meta própria à tua Raça, e Casta, e Família, por Virtude
de teu Nascimento. E estas são, Eu posso dizer, as Condições ou Limites da tua
Vontade individual. Tu ris? Que então, dizes tu, da Vontade Revolucionária? Não
erres, meu Filho! O Magus, tal como o Poeta, é a Expressão da Verdadeira
Vontade dos seus Semelhantes; e seu Sucesso é sua Prova, como está escrito no
Livro da Lei. Pois seu Trabalho é livrar os Homens dos grilhões de uma Vontade
falsa ou superada, revelando-lhes, na Medida das Necessidades presentes deles,
suas verdadeiras naturezas.
67. DE POETIS
POR este Motivo é o Poeta chamado uma Encarnação do Zeitgeist, isto é, do
Espírito ou Vontade da Sua Época. Assim, todo Poeta é também um Profeta, porque
quando aquilo que ele diz é reconhecido como a Expressão do Pensamento deles
mesmos pelos Homens, eles convertem isso em Ação; de forma que, na Fala de
Gente vulgar e ignorante, "aquilo que ele profetizou se cumpre." Ora,
o Poeta é o Intérprete dos Hieróglifos da Vontade Oculta do Homem em muitos
Assuntos, alguns superficiais, alguns profundos, conforme lhe seja dado fazer.
Além do mais, não é bem na Mensagem de qualquer dos seus Poemas, mas antes no
Sabor quintessencial do Poeta, que tu deves buscar esta Profecia. E isto é uma
Arte mui necessária a todo Estadista. Quem senão Shelley profetizou a queda do
Cristianismo, e a Organização do Trabalho, e a Liberdade da Mulher; quem senão
Nietsche declarou o Princípio que foi a Raiz da Guerra Mundial? Vês então
claramente que nestes Homens estavam as Chaves dos Escuros Portais do Futuro;
não deveriam os Reis e seus Ministros ter prestado atenção a eles,
cumprindo-lhes a Palavra sem Conflito?
68. DE MAGIS ORDINIS A.'.A.'. QUIBUS CARO FIT VERBUM
AGORA, ó meu Filho, a Encarnação de um Poeta é particular e não Universal; ele certamente
diz Coisas verdadeiras, mas são Coisas de Toda-Verdade. E para que estas possam
ser ditas, é necessário que Um tome Carne humana, e se torne um Magus de nossa
Santa Ordem. Ele é então chamado o Logos, ou Logos Aionos quer dizer, a Palavra
do Aeon ou Idade, porque Ele é em Verdade Aquela Palavra. E assim pode Ele ser
conhecido, porque Lhe foi dado preparar a Quintessência da Vontade de Deus,
isto é, do Homem, em sua Fartura e Complecção, incluindo todos os Planos; de
forma que Sua Lei é simples, e radical, radiando no Espaço inteiro a sua Luz
única. Pois se bem que Suas Palavras sejam muitas, entretanto é Sua Palavra
Uma, Uma só; e por esta Palavra Ele recria a Humanidade em uma Forma Essencial
de Vida, de maneira que ela é mudada em seu mais íntimo Conhecimento de si
mesma. E esta Mudança se espalha, pouco a pouco, aos seus Efeitos visíveis.
69. DE MAGIS TEMPORIS ANTIQUI; IMPRIMIS, DE LAO-TZE
PODE ser de Lucro para ti, ó meu Filho, se Eu te relatar a História secreta
daqueles que foram antes de mim neste Grau de Magus, no quanto a Memória deles
permaneceu entre a Humanidade. Pois de que te adiantaria se Eu relatasse os
atos d'Aqueles que em verdade Eu posso conhecer, mas tu não? Tu bem sabes como
Eu me abstenho de toda Tintura de Fábula, ou de qualquer Palavra não-comprovada
ou indemonstrável. Primeiro pois Eu falo de Lao-Tze, cuja Palavra era TAO.
Disto Eu já te escrevi muito, porque Sua Doutrina foi perdida ou mal
interpretada, e é extremamente necessário restaurá-la. Pois este Tao é a verdadeira
Natureza das Coisas, sendo em si um Caminho ou Ir; quer dizer, uma Concepção
dinâmica, e não estática. Também, Ele ensinou este Caminho de Harmonia na
Vontade, que Eu mesmo busquei te mostrar nesta Epístola. Assim, pois, este Tao
é Verdade, e o Caminho da Verdade, e portanto foi Lao-Tze Logos do Seu Aeon, e
Sua verdadeira Palavra ou Nome era TAO.
70. DE GAUTAMA
QUEM os homens chamam Gautama, ou Siddartha, ou O Buddha, foi um Magus de Nossa
Santa Ordem. E Sua Palavra era ANATTA; pois a Raiz de Sua inteira Doutrina era
que não existe um Atman, ou Alma, como os Homens traduzem mal, significando uma
Substância incapaz de Mudança. Assim Ele, como Lao-Tze, baseou tudo sobre um
Movimento, em vez de sobre um Ponto fixo. E Seu Caminho de Verdade era Análise,
tornada possível por grande Intenção da Mente em direção a si mesma, e isso bem
fortificado por uma certa temperada Austeridade de Vida. E Ele explorou e
marcou mui por completo os Recessos da Mente, e pôs as Chaves das Fortalezas
dela nas Mãos do Homem. Mas de tudo isto a Quintessência está nesta única
Palavra ANATTA, pois esta é não apenas a Fundação e o Resultado da inteira
Doutrina d'Ele, mas a Maneira de seu Trabalho.
71. DE SRI KRISHNA, ET DE DIONYSO
KRISHNA tem nomes e formas inumeráveis, e Eu não conheço seu verdadeiro
Nascimento humano. Pois sua Fórmula é da mal alta Antiguidade. Mas Sua Palavra
se espalhou em muitas terras, e nós a conhecemos hoje em dia como INRI, com o
secreto IAO ali velado. E o significado desta Palavra é a Maneira do Trabalho
da Natureza em Suas Mudanças; isto é, ela é a Fórmula de Magia pela qual todas
as Coisas se reproduzem e se recriam a si mesmas. No entanto, esta Extensão e
Especialização foi mais o Trabalho de Dionysus; pois a verdadeira Palavra de Khrishna
era AUM, implicando antes uma declaração da Verdade da Natureza que uma
Instrução prática em Operações detalhadas de Magia. Mas Dionysus, pela Palavra
INRI, estabeleceu as Fundações de toda Ciência, como nós dizemos Ciência hoje
em dia em um Senso particular, isto é, de fazer com que a Natureza externa mude
em Harmonia com nossas Vontades.
72. DE TAHUTI
TAHUTI, ou Thoth, confirmou a Palavra de Dionysus continuando-a; pois Ele
mostrou como é possível dirigir através da Mente as Operações da Vontade. Por
Critério e pelo registro da Memória o Homem evita Erro, e a Repetição de Erro.
Mas a verdadeira Palavra de Tahuti era AMOUN, pela qual Ele fez os Homens
compreenderem a Natureza secreta deles, isto é, a Unidade deles com seus
Verdadeiros Entes; ou, como eles então expressavam isto, com Deus. E ele lhes
desvelou o Caminho desta Consecução, a relação deste Caminho com a Fórmula de
INRI. Também, por seu Mistério de Número ele tornou fácil para seu Sucessor que
declarasse a Natureza do Universo inteiro em sua Forma e sua Estrutura, como se
fosse uma Análise deste, fazendo pela Matéria aquilo que o Buddha estava
designado para fazer pela Mente.
73. DE QUODAM MAGO AEGYPTIORUM, QUEM APELLUNT JUDAEI MOSHEH
O SUCESSOR de Tahuti foi um Egípcio cujo nome está perdido; mas os Judeus
chamaram-no Mosheh, ou Moisés, e seus Fabulistas fizeram d'Ele o Chefe de seu
legendário Êxodo. No entanto eles preservaram Sua Palavra, e esta é IHVH, que
tu deves compreender também como aquela Palavra secreta que tu viste e ouviste
em Trovões e Relâmpagos na tua Iniciação ao Grau que tu sabes. Mas esta Palavra
é em si mesma um Plano da Estrutura do Universo, e sobre ela foi elaborada a
Santa Qabalah, pela qual nos temos Conhecimento das Naturezas de todas as
Coisas sobre todo plano de Vir-a-Ser, e das Forças e Tendências e Operações
delas, com as Chaves dos seus Portais. Nem deixou Ele qualquer Parte do Seu
Trabalho incompleta, a não ser que fosse aquela executada faz trezentos Anos
por Sir Edward Kelly, de quem também Eu venho, como tu sabes.
74. DE MAGO ARABICO MOHAMMED
VÊ! nestes capítulos tenho Eu teu Pai me restringido, não falando de algum Eco
imediato de uma Palavra no Mundo; porque, estes homens há muito se tendo
retirado ao Seu Silêncio, é a Sua Palavra Única, e aquela Só, que ressoa
indiminuída através do Tempo. Agora, Mohammed, que Segue, é obscurecido e
confundido porque está tão perto de nosso Tempo; de forma que Eu não digo,
salvo com Hesitação, que Sua Palavra ALLH possa significar isto ou aquilo. Mas
Eu ouso no que concerne à Sua Doutrina da Unidade de Deus, pois Deus é o Homem,
e Ele disse portanto: o Homem é Um. E Sua Vontade era unir todos os homens em
Uma Fé Razoável: tornar possível a Cooperação de todas as Raças na Ciência.
Entretanto, porque ele se ergueu na época da máxima Corrupção e Escuridão
possível, quando todas as Civilizações e todas as Religiões haviam caído em
Ruína, pela Malícia do grande Feiticeiro de Nazareth, qual dizem alguns, Ele
ainda está oculto no Pó do Simum, e nós não podemos percebê-Lo em Seu
verdadeiro Ente de Glória.
Apesar disto, contempla, ó meu Filho, este Mistério. Sua verdadeira Palavra era
LA ALLH, quer dizer: Não (existe) Deus, e LA AL é aquele Mistério de Mistérios
que teu próprio Olho penetrou em tua Iniciação. E a Ilusão e Falsidade daquela
Verdade tem escravizado as Almas dos Homens, como está escrito no Livro do
Magus.
75. DE SE
IPSO, T W I M E G A L W I , Q H R I W I , T W I L O G W I A I W N OS CUJUM
VERBUM EST Q e l h m a
Ó MEU Filho! parece-me em certas Horas que Eu mesmo nasci num Tempo mais
temível e fatal que Mohammed, paz seja com Ele! Mas Eu leio claramente a
Palavra do Aeon, que é ABRAHADABRA, onde está o Mistério Inteiro da Grande
Obra, como tu sabes. E Eu tenho o Livro da Lei, que me foi dado por Ele que tu
sabes; e é a Interpretação da Vontade Secreta do Homem em todo plano de seu
Vir-a-Ser; e a Palavra da Lei é TÉLEMA. Faze o que tu queres há de ser tudo da
Lei. Agora, porque Amor é a lei, amor sob vontade, Eu te escrevo esta Epístola
para que tu possas cumprir esta mais íntima Vontade da Humanidade tornando-a
capaz de Luz, Vida, Amor e Liberdade pela Aceitação desta Lei. E a Oposição
contra isto é apenas como a Casca de seu ovo para um Filhote de Águia, uma
coisa estranha a ele, uma Proteção até que a Hora chegue, e então seu Fim.
76. MANDATUM AD FILLIUM SUUM
AQUI Eu estendo
minhas Mãos contra ti no Sinal do Penetrador, ó Filho de minhas Entranhas, pois
com toda a minha Pujança mágica eu quero que tu lutes varonilmente e trabalhes
com Diligência (com Espada e Trolha, digo Eu) nesta Obra. Pois esta é a
primeira e última coisa, que tu digas a cada Homem que faça o que ele quer, de
Acordo com a verdadeira Natureza dele. Portanto também arrebenta aquela Mentira
que o Homem é de uma Natureza caída e maligna. Pois a Palavra de Pecado é
Restrição, a Dúvida de sua própria Divindade, a Supressão de, que é a Blasfêmia
contra, seu próprio Santo Espírito. Não diz o Livro da Lei, que "É uma
mentira, esta tolice contra si mesmo"? Portanto a todo Homem, em toda e
cada Circunstância, dize: Faze o que tu queres; e ensina-lhe, se ele ainda
hesita, como descobrir sua verdadeira Natureza, seriamente e com Ardor, mesmo
como Eu tenho me esforçado por ensinar-te — sim, e mais também!
77. QUARE FILLIUM CREAVIT: UT FIAT LIBERTAS
Faze o que tu queres! --- seja este o nosso Grito de
Guerra em cada Ato; pois todo Ato é Conflito. Aqui a Vitória pula brilhante
diante de nós; pois quem pode impedir a Verdadeira Vontade, que é a Ordem da Natureza
Mesma? "tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faze aquilo, e
nenhum outro dirá não". Pois se aquela Vontade for verdadeira, seu
Cumprimento é tão certo quanto é certo que a Luz do Dia segue ao Nascer do Sol.
É tão certo quanto a Operação de qualquer outra Lei da Natureza; é Destino.
Então, se aquela Vontade estiver obscurecida, se tu te desviares dela para
Vontades doentias ou perversas, que esperança podes ter? Tolo! Mesmo teus
Tornos e Desvios estão no Caminho ao teu Fim apontado. Mas tu não foste gerado
de um Escravo; tu estás de pé ereto e firme; tu fazes tua Vontade; e tu foste
escolhido, mais, para esta Obra foste engendrado em uma Cama Mágica, para que
tornasses os Homens livres.
78. DE SUA DEBILITATE
ESCUTA atentamente, meu Filho, enquanto Eu de Coração pesado te faço Confissão
de minha própria Fraqueza. Tu sabes como Eu renunciei ao meu Salário, tomando
este Corpo imediatamente após minha Morte, a Morte de Eliphas Levi, como dizem
os Homens, para que Eu pudesse executar esta Grande Obra. Faz agora vinte Anos,
como os Homens contam os anos, que Eu cheguei à minha primeira Compreensão de
minha verdadeira Natureza, e aspirei àquela Obra. Então, no princípio Eu não
cometi Erro. Eu abandonei minha Carreira escolhida; Eu gastei minha Fortuna
inteira sem um Pensamento; Eu dediquei minha Vida por completo àquela Obra sem
poupar Coisa alguma. Desta forma Eu dei Passos rápidos no Caminho. Mas nos
Dhyanas que me foram concedidos em Kandy, na Ilha de Lanka, Eu gastei a minha
Carga inteira de Energia mágica; e durante dois Anos Eu me afastei da Obra.
79. DE MANU QUAE MAGUM SUSTINET
AGORA, pode bem ser que tais Períodos de Recuperação sejam Necessários a Almas
fracas como a minha; e assim não houve Prejuízo. Mas Eu caí de minha Vontade, e
busquei outros Fins na Vida; e a Mão veio sobre mim, e arrancou-me aquilo que
Eu desejava, como tu sabes; também está escrito em O Templo de Salomão o Rei.
Entretanto, considera também estes dois Anos como uma Preparação necessária
para aquele maior de todos os Acontecimentos que me sucedeu em El-Kahira, na
Terra de Khem: a minha Escolha para Palavra do Aeon. Então, por algum tempo Eu
trabalhei com minha Vontade, se bem que não por completo; e de novo a Mão se
estendeu e golpeou-me. Isto se bem que meu Relaxamento era apenas como um
Menino vadiando, não uma Revolta contra meu Ser. Portanto, a despeito de tudo,
Eu progredi muito em pouco Tempo.
80. DE SUO PECATO
AGORA, tendo aprendido, Eu não mais lutei contra minha Natureza, e trabalhei
com toda a minha Vontade. Tu bem sabes quanto Eu fui recompensado. Entretanto,
nesta última Iniciação ao Grau de Magus, onde setenta e três Dias, como os
Homens contam os Dias, são Um Dia apenas, a Ordália se tornou tão violenta e
tão intolerável que Eu dei um Passo atrás. Eu não renunciei inteiramente à
Obra, mas Eu jurei não continuar a não ser que minha Agonia se abatesse. Mas
após quinze Dias Eu cheguei a mim em uma certa Ordália, onde Eu me conheci
finalmente, que Eu não podia fazer mais que tomar sobre mim aquela temível
Carga que aquebrantara meu Espírito. E por esses quinze Dias não tenho Eu
sofrido Coisas infinitas? Não foi a Árvore de minha Obra gelada, um Ramo
secado, e um fulminado? Não olhes mais, ó meu Filho, a Vergonha de teu Pai!
81. DE SUA VICTORIA PER NOMEM BABALON
E DEPOIS? Esta Madrugada (pois Eu trabalhei através da Noite em meu grande Amor
e Cuidado por ti) como é comigo? É bem. Pois Eu me encontrei; Eu encontrei
minha Vontade; os Obstáculos que me intimidavam são percebidos como apenas
Sombras de Sombras. Graça seja a nossa Senhora BABALON.
Assim está escrito no Livro da Lei: Lembrai-vos todos vós de que existência é
pura alegria; de que todos os sofrimentos são apenas como sombras; eles passam
& estão acabados; mas existe aquilo que resta.
Aprende então que é na Contemplação da Divisão que há Sofrimento, pois Divisão
é a Fórmula de Choronzon. É portanto sensato que tu unas cada Elemento de
Sofrimento com o seu oposto; em cujo Triunfo de Hymen há Êxtase, até que por
Apreensão do novo grande Oposto a Idéia é novamente concebida como Sofrimento.
Este pois é o Resultado do Sofrimento; e tu podes compreender que também Eu
agora estou confiante na Necessidade desta minha Queda para preparar a Fórmula
da Minha Exaltação. Portanto, meu Filho, assim Me saúdes: bênção &
veneração ao Profeta da amorável Estrela!
82. DE ARCANO NEFANDO
Ó MEU Filho, aprende isto sobre a Magia: que o Yang se move, e assim se entrega
Eternamente; mas o Yin não se move, buscando sempre envolver ou restringir,
reproduzindo em sua própria Semelhança toda e qualquer Impressão que lhe é
imprimida, porém sem Rendição. Agora, o Tao absorve tudo sem Reprodução;
portanto, que o Yang se volte para este, e não para o Yin. E para que tu possas
compreender isto, Eu digo: É um Mistério da O.T.O.. Pois o Sol não se ergue e
entra para tocar o Altar Mor da Capela pelos Grandes Portais do Oeste; mas
através da Rosa Oriel ele caminha e progride em Sua Procissão. Ó meu Filho, as
Portas de Prata estão amplamente abertas, e te tentam com sua Beleza; mas pelo
estreito Portal de Ouro Puro tu chegarás mais nobremente ao Santuário. Olha! tu
não sabes quão perfeita é esta Magia; é o mais custoso e mais santo dos nossos
Arcanos. O que então é como o meu Amor por Ti, que te outorgo este Tesouro da
minha Sabedoria? Meu Filho, não o negligencies; pois é o Exorcismo dos
Exorcismos, e o Encantamento dos Encantamentos.
83. DE ARCANO PER QUOD SPIRITUS QUIDAM IN CORPORE RECIPIATUR
EIS aqui agora outra Fórmula de Poder, boa para invocar qualquer Ente para que
se manifeste em ti. Primeiro, invoca-o pelo Poder de todos os teus
Encantamentos e Conjurações, com Mente concentrada e Vontade veemente em
direção a ele, como Eu tenho escrito em muitos Livros. Mas porque tu és NEMO,
tu podes com segurança invocá-lo, não importa qual a sua Natureza, dentro do
teu Círculo. Agora então confere sobre ele, como Recompensa de sua Obediência,
a Dignidade de uma Alma em busca de Encarnação, e prossegue a consagrar teu Ato
executando a Missa do Espírito Santo. Então aquele Ente se fará Corpo desses
Elementos; e tu partilhando disso fazes de teu próprio corpo sua Máquina de
Manifestação. E assim tu podes trabalhar com todo e qualquer Espírito;
entretanto isto te servirá mais na Vida diária. Também, as Qualidades estão bem
definidas nas Cartas do Tarô, de forma que tu tens um Meio claro e certeiro de
desenvolver teus Poderes de acordo com a Necessidade do Momento. Mas aprende
também isto, a trabalhar constantemente sob a Orientação de teu Sagrado Anjo
Guardião, para que tuas Obras estejam sempre em Harmonia e Acordo com tua
Verdadeira Vontade.
84. DE CLAVI KABBALISTICA HUJUS ARTIS
AGORA então, a ti que há muito és Mestre de Alta Magia será fácil mostrar como
a Missa do Espírito Santo, cantada mesmo em Ignorância, pode obrar muita
Maravilha em Virtude de que a Força gerada é compelida a se manifestar em outro
Plano que o seu próprio. Aqui pois está uma Teoria do Mistério do Aeon: que Eu,
sendo o Logos a este designado, criei uma Imagem do meu Microcosmo na Mente da
Mulher Escarlate; isto é, Eu manifestei meu inteiro Ente Mágico na Mente dela.
Assim, portando, n'Ela, como em um Espelho, tenho Eu podido interpretar-me a
mim mesmo. Tu também em teu próprio Caminho tens o Poder de criar uma tal
Imagem; mas sê pronto e alerta, provando constantemente as Pessoas naquela
Imagem pela Santa Qabalah e pelos Verdadeiros Sinais de Irmandade. Pois cada
Pessoa ali será uma Parte de Teu Ente, tornada individual e perfeita, capaz de
te instruir em teu Caminho. Porém freqüentemente haverá outras, para te
auxiliarem em teu Trabalho, ou para se oporem a ele. E neste Assunto tu lerás
especialmente o Relatório de teu Pai sobre seu Trabalho com Soror Ahitha
(abençoado seja o Nome d'Ela através das Idades!) e certas outras mais.
85. DE MISSA SPIRITUS SANCTI
AGORA por fim, ó meu Filho, posso Eu trazer-te à compreensão da Verdade desta
Fórmula que está escondida na Missa do Espírito Santo. Pois Horus que é o
Senhor do Aeon é a Criança coroada e conquistadora. A Fórmula de Osíris era,
como tu sabes, uma Palavra de Morte, isto é: a Força jazia longo tempo em
Escuridão, e por Putrefação chegava à Ressurreição. Mas nós tomamos Coisas
vivas, e derramamos nelas Vida e Espírito da Natureza de nossa própria Vontade,
de forma que instantaneamente e sem Corrupção a Criança (como se fosse a
Palavra daquela Vontade) é gerada; e de novo imediatamente toma sua Habitação
entre nós para se manifestar em Força e Fogo. Esta Missa do Espírito Santo é
então a verdadeira Fórmula da Magia do Aeon, sim, do Aeon de Horus, abençoado
seja Ele em Seu Nome Ra-Hoor-Khuit! E tu abençoarás também o Nome de nosso Pai
Merlin, Frater Superior da O.T.O., pois que por Sete Anos de Aprendizado em Sua
Escola Eu descobri este excelso Caminho de Magia. Sê diligente, ó meu Filho,
pois nesta Arte maravilhosa não há mais Esforço, Sofrimento, e Desapontamento,
como havia no morto Aeon dos Deuses Sacrificados.
86. DE FORMULA TOTA
EIS aqui então o teu Programa para todas as Operações de Magia. Primeiro: tu
descobrirás tua Verdadeira Vontade, como Eu já te ensinei, e aquele Botão dela
que é o Propósito desta Operação.
Em seguida, formula esta Vontade-Botão como uma Pessoa, buscando-a ou
construindo-a, e dando-lhe nome, de acordo com tua Santa Qabalah, e sua
infalível Regra de Verdade.
Terceiro: purifica e consagra esta Pessoa, concentrando-te sobre ela, e contra
tudo mais. Esta Preparação continuará em toda a tua Vida diária. Nota bem:
apronta uma Nova Criança imediatamente após cada Nascimento.
Quarto: executa uma Invocação direta e especial em tua Missa, antes da
Introdução, formulando uma Imagem visível desta Criança, e oferecendo o Direito
de Encarnação.
Quinto: executa a Missa, sem omitir a Epiklesis, e que haja uma Aliança de Ouro
nas Bodas de teu Leão com tua Águia.
Sexto: na Consumação da Eucaristia aceita esta Criança, dissolvendo nela tua
Consciência, até que ela esteja bem assimilada dentro de ti.
Agora pois faze isto continuamente, pois através de Repetição vem tanto Força
quanto Habilidade, e o Efeito é cumulativo, se tu não dás tempo para que ele se
dissipe.
87. DE HAC FORMULA CONSIDERATIONES KABBALISTICAS
CONSIDERA, além do mais, meu Filho,
a Economia deste Caminho, como é de acordo com o Tao, cumprindo-se por completo
dentro de tua própria Esfera. E está perfeitamente harmonizado com tua própria
Vontade em todo e cada Plano, de forma que toda e cada Parte da tua Natureza
regozija-se com cada outra Parte, comunicando Louvor. Agora então aprende
também como esta Fórmula é aquela dal Palavra ABRAHADABRA. Primeiro, HAD é o
Triângulo ereto sobre Quadrados gêmeos. De Hadit Eu não preciso escrever, pois
Ele Se escondeu no Livro da Lei. A Substância é o Pai, o Instrumento é o Filho,
e o Êxtase Metafísico é o Espírito Santo, cujo nome é HRILIU. Estes então são o
Sol, Mercúrio e Vênus, cujas letras sagradas são R, B e D. Mas a última das
diversas Letras é H, que no Tarô é A Estrela cujo Eidolon é D; e aí está aquele
Arcano concernente ao Tao de que Eu já te escrevi. Disto Eu não escreverei com
maior clareza. Mas nota isto, que nossa Trindade é nosso Caminho Centrípeto no
Sistema Solar, e que H, sendo de Nossa Senhora NUIT Estrelada, é uma Âncora
para esta Magia, que de outra forma poderia negar nossa Compleição de Relação
com o Externo como com o Interno. Meu Filho, pondera estas Palavras, e lucra
delas; pois Eu trabalhei astuciosamente para ocultar ou revelar, de acordo com
tua Inteligência, ó meu Filho!
88. DE QUIBUSDAM ARTIBUS MAGICIS
AGORA, sobre aquelas Operações de Magia pelas quais tu buscas exibir a alguma
outra Pessoa a Retidão da tua Vontade, Eu me apresso a te instruir. Primeiro,
se tu possuis um Elo razoável com a outra Pessoa por Palavra, ou Carta, é mais
natural simplesmente criar em ti mesmo, como Eu ensinei, uma criança ou
Vontade-Botão, e deixar que aquilo irradie de ti através do Canal já
mencionado. Mas se tu não tens um Elo, o Caso é outro, e não é fácil. Aqui tu
podes estabelecer Comunicação através de outras Pessoas, como que por
Revezamento; ou tu podes atuar diretamente sobre a Aura dele por Meios mágicos,
tais como a Projeção do teu Scin-Laeca. Mas a não ser que ele seja sensitivo e
bem afinado, tu podes fracassar nisto. Entretanto, mesmo neste Caso tu podes
desenvolver muita Habilidade pela Prática com Inteligência. No Fim é muito
melhor trabalhar por completo dentro de teu próprio Universo, avançando
firmemente Passo a Passo do Centro para a periferia, e lidando, uma por uma,
com aquelas Partes desarmonizadas do Não-Ente que jazem próximas a ti, e se
impimgem sobre ti. Isto portanto encerra o Círculo da minha Fala, pois agora Eu
retornei àquilo que Eu já disse antes sobre o Método geral do Amor, e sobre teu
Desenvolvimento por aquele Caminho.
89. DE MAGNO OPERE
MAS agora dá Ouvido mui atentamente, tu Filho das minhas Entranhas, pois Eu vou
te falar de tua própria Consecução, sem a qual tudo é apenas Preguiça. Aprende
primeiro que o Pensamento consciente é apenas fenomenal, o Ruído de tua Máquina.
Agora, a Química, ou Al-Chem-ia, significa a Ciência Egípcia, e a Verdadeira
Magia do Egito tem isto como sua Fundação. Nós possuímos em nossa Casa muitas
Substâncias que agem diretamente sobre o Sangue, e muitas Práticas de similar
Virtude para estimular, compor, purificar, analisar, dirigir, ou concentrar o
Pensamento. Confere o Livro da Lei, II, 22. Mas esta Ação é sutil e se processa
em muitos Modos, e depende muito das Condições do Experimento, das quais a
Primeira é tua própria Vontade nesse. Portanto Eu te digo que este é o teu
Trabalho imediato e necessário: desvelar tua Vontade ao teu Consciente, e
fortificá-la e inflamá-la por toda Concentração em um só Ponto de Ação e
Pensamento, de forma que tu possas dirigi-la interiormente ao seu Âmago, que é
Tu mesmo em Teu Nome HADIT. Pois desta maneira tua Vontade se torna de um
Branco em Brasa, de forma que nenhuma Impureza a ela pode se apegar. Mas esta
Obra é a Grande Obra, e não tem rival.
90. DE GRADIBUS AD MAGNUM OPUS
ESTA Grande Obra
é a Consecução do Conhecimento e da Conversação do Teu Sagrado Anjo Guardião.
No Oitavo Aethyr está o Caminho a isso revelado. Mas Eu digo: prepara-te com o
máximo vigor e diligência para aquela Batalha de Amor por todos os meios da
Magia. Torna-te potente, sábio, radiante em todo Sistema, e equilibra-te bem em
teu Universo. Então, com uma Vontade pura, temperada nas mil Fornalhas das tuas
Provações, queima-te a ti mesmo dentro de Ti Mesmo. Na Preparação tu terás
aprendido como parar todos os Pensamentos, e como alcançar Êxtase de Trance em
muitos Modos. Mas nesses Casamentos teu Ente consciente é o Noivo, e o não-Ente
é a Noiva; enquanto nesta Grande Obra tu entregas aquele Ente consciente como
Noiva ao teu Verdadeiro Ser. Esta operação é pois radicalmente diversa de todas
as outras. E é difícil, porque é uma Reversão total da Corrente da Vontade, e
uma Transmutação de sua Fórmula e Natureza. Aqui, ó meu Filho, está o Segredo
Único de Sucesso nesta Grande Obra: Invoca com Freqüência.
91. DE FORMULA LUNAE
ASSIM, das Operações do Tao com o Yang e o Yin já foi aqui dito o suficiente;
pois tua própria Arte de Beleza adivinhará para ti, e conceberá novos Céus. Mas
em tudo isso está a Fórmula da Serpente com Cabeça de Leão, e toda esta Magia é
executada pela Radiância e Força Criadora dela. E esta Força salta
continuamente de Plano a Plano, e rebenta suas Amarras, de forma que Constrição
é Esforço. Agora aprende que o Yin também tem uma Fórmula de Força. E a
Natureza do Yin é estar quieto, e rodear ou limitar; é como um Espelho,
refletindo diversas Imagens sem Mudança em si mesmo. Assim, ele nunca tenta
ultrapassar as Barreiras do seu próprio Plano; por esta Razão é bom usá-lo em
Operações de um Tipo bem definido e restrito. Mas se bem que o Yin seja inerte,
ele está muito sujeito a Mudança; pois seu Número é Oitenta e Um, que é A Lua.
E estes são ALIM, os Deuses elementais antes que o H, descendo em seu meio, os
tornasse Criadores. Assim, pois, tu podes usar constantemente esta Fórmula para
rearranjar as Coisas em seus próprios Planos; e esta é uma Consideração mui
prática.
92. DE AQUILA SUMENDA
TOMA nesta Obra a Águia virgem e sem profanação como teu Sacramento. E tua
Técnica é a Magia da Água, de forma que teu Ato é de Nutrição, e não de
Geração. Portanto, o Uso Principal nesta Arte é para a fortificação da tua
própria Natureza. Mas se tu tens habilidade para controlar o Humor da Águia,
então tu podes produzir muitos Efeitos admiráveis sobre o teu Ambiente. Tu
sabes quão grande é a Fama que tem Feiticeiras (velhas e sem Homem) de causar
Acontecimentos, se bem que elas nada criam. É esta Estreiteza do Canal que dá
força à Correnteza. Cuidado, meu Filho, para que não te entregues
demasiadamente a este Modo de Magia; pois é menor que Aquele Outro, e se tu
negligencias Aquele Outro, então teu Perigo é terrível e iminente; pois é a
Fímbria do Abismo de Choronzon, onde estão as Torres solitárias dos Irmãos
Negros. Também, a Formulação do Objeto na Águia é através de uma espécie de
Intoxicação, de forma que Sua Natureza é de Sonho ou Delírio, e assim pode
haver Ilusão. Por este Motivo Eu creio ser aconselhável que tu uses este
Caminho de Magia principalmente como um Tônico; isto é, para a Fortificação da
tua própria Natureza.
93. DE MEDICINIS SECUNDUM QUATTUOR ELEMENTA
QUANTO ao Uso de Agentes Químicos, e cuida-te de abusar deles, aprende que o
Sacramento refere-se a Espírito, e aos Quatro Elementos equilibrados sob este,
em sua Perfeição. Assim, também, teu Leão mesmo tem um Mênstruo quádruplo para
as suas Serpentes. Agora, ao Fogo pertencem Cocaína, que fortifica a Vontade,
libertando-a da Fadiga corporal; Morfina, que purifica a Mente, tornando o
Pensamento seguro, e lento, e único; Heroína, que partilha, ao que parece, da
Natureza dos dois já citados, se bem que em Grau menor que qualquer deles; e
Álcool, que é Alimento, isto é, Combustível, para o Homem inteiro. À Água
atribui Haxixe e Mescal, pois eles criam Imagens, e abrem as Fontes Ocultas do
Prazer e da Beleza. Morfina, por sua propriedade calmante, também tem parte em
Água. O Ar governa o Óxido Etílico, pois este é como uma Espada, separando toda
Parte de ti, facilitando o Caminho da Análise, de forma que tu chegas a te
conheceres a ti mesmo, de que Elementos tu és composto. Finalmente, da Natureza
da Terra são os Hipnóticos propriamente ditos, que operam por Repouso, e
restauram tua Força depositando-te como uma Criança nos Braços da Grande Mãe;
ou direi antes, de Sua Vice-regente material e fisiológica.
94. DE VIRTUDE EXPERIENTIAE IN HAC ARTE
NEM Sono, nem Descanso, nem Paz, nem Contentamento são da Vontade do Herói; mas
estas Coisas ele odeia, e consente em desfrutá-las somente com Vergonha de sua
própria débil Natureza. Mas ele se analisará sem Piedade, e ele fará todas as
coisas que possam libertar e fortificar sua Mente e sua Vontade. Aprende que a
Técnica do Reto Uso destes Venenos Mágicos é sutil; e desde que a Natureza de
cada Homem difere daquela do seu Próximo, aqui entra Idiossincrasia, e tua
Experiência será teu Mestre nesta Arte. Aprende também esta Palavra que segue:
o Reto Uso destes Agentes consiste em obter um Conhecimento preliminar de teus
próximos Poderes, e dos Estados Elevados, para que tu não sigas completamente
cego e sem Alvo em tua Busca, ignorante das Chaves de teu próprio Ente interno.
Também, tu deves trabalhar sempre para um Fito definido, nunca por Prazer ou
para Relaxação, a não ser que tu queiras, como um bom Cavaleiro está jurado a
fazer. E tu sendo Herói e Magista, tu estás em Perigo de abusar somente os
Agentes ígneos, não aqueles de Terra, Ar ou Água; porque estes realmente
trabalham Contigo em Pureza, tornando-te completamente aquilo que tu quererias
ser: uma Máquina infatigável, uma Mente clara, calma e concentrada, e um
Coração ardente.
95. DE SACRAMENTO VERO
MAS no Sacramento da Gnose, que é do Espírito, nada há que cause dano, pois
seus Elementos são não apenas Alimento, mas uma verdadeira Incarnação e
Quintessência de Vida, Amor, e Liberdade; e em sua Manifestação é teu Leão
consagrado por pura Luz de Êxtase. Também, como esta é a mais forte, e também a
mais sensitiva de todas as Coisas, e tanto própria quanto pronta para receber
impressão da Vontade; não como um Selo, passivamente, mas com verdadeira
Recriação dela num Microcosmo. E isto é um Deus vivo, e potente para criar, e
ele é uma Palavra de Magia na qual tu podes ler-Te com toda a tua História e
todas as tuas Possibilidades. Também, quanto à tua Águia, não é esta escolhida
pela Natureza Mesma em Seu Caminho de Atração, sem cuja Harmonia Estética e
Magnética teu Leão queda silente, e inerte, mesmo como Aquiles (antes de sua
Cólera) em sua Tenda? Portanto também agora Eu te comando, ó meu Filho, a
partilhar constantemente deste Sacramento, pois ele é próprio a toda Virtude; e
à medida que tu aprenderes a usá-lo em Perfeição tu sobrepujarás todas as
outras Formas de Magia. Sim, em verdade nenhuma Erva ou Poção é como esta,
suprema em todo e cada Caso; pois é a Verdadeira Pedra dos Filósofos, e o
Elixir e a Medicina de todas as Coisas, a Tintura Universal ou Mênstruo de Tua
Própria Vontade.
96. DE DISCIPULIS REGENDIS
EU quero além do mais que tu aprendas, meu querido Filho, a reta Arte de
Conduta para com aqueles que Eu te darei para Iniciação. E a Regra aí é uma
Regra Única: Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. Cuida Constantemente
de que esta não seja quebrada; especialmente naquela sua Seção (assim ouso
dizer) que reza: Trata da Tua Vida. Isto se aplica igualmente a todos, e o mais
perigoso dos Homens (ou das Mulheres, como tem ocorrido, ou Eu erro) é o
Intrometido. Ó como nos envergonhamos, e como nos indignamos com os Pecados e
as Tolices dos nossos Semelhantes! De todas as Manifestações desta Mazela, a
mais comum é o Desejo Sexual insatisfeito; e tu sabes já, mesmo em tua tenra Experiência,
como naquele Delírio o Bem-Estar do Universo inteiro parece insignificante.
Desprende portanto teus Bebês daquela Infantilidade, e instila o senso de
verdadeira Proporção. Pois em verdade este é um Caminho de Loucura, o Amor, a
não ser que seja sob Vontade. E curar esta Loucura não é tão bom quanto
prevÊ-la; de forma que tu deverias prevenir estas Crianças, mostrando-lhes a
reta Importância do Amor: como este deve ser um Rito sagrado, exaltado acima da
Personalidade, e um Fogo para iluminar e servir o Homem, não para devorá-lo.
97. DE QUIBUSDAM MORBIS DISCIPUORUM
ASSIM, se qualquer Bebê teu estiver indisposto, vê primeiro se este Amor não é
a raiz do teu Desconforto. Vigia também a Preguiça, pois quem avança
vigorosamente em Vontade pouco liga aos Negócios dos seus Semelhantes. Ó meu
Filho, se todo e cada Homem faz a sua Vontade, nada mais há a dizer! Mas o
Intrometido não trata de sua própria Vida, nem permite aos outros que tratem da
deles. Sê tu portanto imediato com um tal, para curá-lo, iluminando a Vontade
dele, e urgindo-o a ela. Lembra-te também de que se um falar mal de outro, a
Falta está antes de mais nada nele mesmo; pois nós só percebemos aquilo que
está em nós mesmos. Não terminou o grande Inquisidor por confessar que também
ele era um Feiticeiro? Nós nos tornamos aquilo que nos obsessa, quer por
extremo Ódio ou extremo Amor. Não sabes tu como um é Símbolo do outro? Por este
motivo, desde que o Amor é a Fórmula da Vida, nós estamos sob Obrigação de
assimilar (no Fim) aquilo que nós tememos ou odiamos. Assim, pois, seremos
sábios se moldarmos todas as Coisas em nosso Interior em Quietude e Modulação.
Mas acima de tudo devemos usar todas para nosso próprio Fim, adaptando com
Habilidade mesmo nossa Fraqueza à Obra.
98. DE CULPIS DOMIS PETENDIS
PORTANTO, vigia com atenção a Falta alheia, para que tu possas corrigi-la em ti
mesmo. Pois se ela não estivesse em ti, tu não poderias percebê-la ou
compreendê-la. Vê, em teu Êxtase de Amor, tu apelas ao Universo para que testemunhe
que para este Fim apenas foi ele criado; é inconcebível que possas amar outra
pessoa, e incompreensível que qualquer outro Homem possa sofrer. No entanto,
antes que a Lua mude de Fase, estás tu livre do teu Lunatismo, e amas outra, e
pode ser que sofras; enquanto aquele que te causava surpresa ingressou na
Companhia dos Felizardos. Vigia pois, e atenta em ti mesmo; e não dês atenção
aos teus Semelhantes, contanto que eles não te impeçam. E que esta seja a
Regra. Pois toda Vontade é pura, e toda Órbita livre; mas Erro causa Confusão.
Cuida portanto de que nenhum saia de seu Caminho, ou ele atravancará aquele de
seu Irmão; e lembra-te também que com Rapidez vem Facilidade de controle.
Portanto, que cada homem urja sua Carruagem em Linha Reta em direção ao Centro;
pois dois Raios não se podem cruzar. E presta atenção mais que tudo neste Amor,
pois ele está tão próximo da Vontade que Desordem nele facilmente comunica seu
Erro ao Caminho inteiro do Magista.
99. DE CORPORE UMBRA HOMINIS
CONCERNENTE ao Aeon, ó meu Filho, aprende que o Sol e seu Vice-rei são em todos
os Aeons, necessariamente, Pai, Centro, Criador, cada qual em sua Esfera de
Operação. Mas a Fórmula do Aeon passado era do Deus Sacrificado, e estava
baseada em Ignorância. Pois os Homens pensavam que o Sol morria e renascia,
tanto no Dia como no Ano; e assim também era o Mistério do Homem. Agora nós já
estamos bem assegurados pela Ciência de que a Morte do Sol é na verdade apenas
o Deslocamento de uma Sombra; e neste Aeon (ó meu Filho, Eu levanto minha Voz e
faço Profecia!) assim será provado quanto à Morte. Pois o Corpo do Homem é
apenas a Sombra dele; vem e vai tal como as Marés do Oceano; e só está em
Escuridão quem é velado por aquela Sombra da Luz do Seu Verdadeiro Ser. Agora
pois compreende tu a Fórmula de Horus, o Deus Leão, a Criança Coroada e
Conquistadora que aparece em Força e Fogo! Pois tuas Mudanças não são Fases de
Ti, mas dos Fantasmas que tu tomas por teu Ser.
100. DE SIRENIS
CONCERNENTE ao Amor das Mulheres, ó meu Filho, está escrito no Livro da Lei que
tudo é Liberdade, se for dedicado a Nossa Senhora Nuit. Entretanto há também
esta Consideração, que para todo Parsifal existe uma Kundry. Tu podes comer mil
Frutos do Jardim; mas existe Uma Árvore cujo Nome para ti é Veneno. Em toda
grande Iniciação há uma Ordália, em que aparece uma Sereia ou Vampiro designado
para destruir o Candidato. Eu mesmo assisti à Destruição de não menos que dez
de minhas próprias Flores, que Eu cultivei quando Eu era NEMO; e isto se bem que
Eu vi a Larva Cancerosa, e identifiquei-a, e dei Aviso urgente. Agora então
considera profundamente em ti mesmo se Eu procedi bem nisto, de acordo com o
Tao. Pois nós que somos Magistas trabalhamos sem medo nem Pressa, sendo
Onipotentes na Eternidade, e cada Estrela deve seguir seu Caminho; e quem sou
Eu para salvar essa Gente? "Vais agredir-me, como ontem agrediste o
Egípcio?" Sim, se bem que Eu tinha o Poder de salvar estes Dez, Eu não
estendi meu Braço contra a Iniquidade. Eu falei e Eu me calei; e aquilo que
estava decretado se passou. Onde está escrito: A Deusa Grávida depositou Sua
Carga sobre a Terra.
101. DE FEMINA QUADAM
SABES por que Causa Eu sou movido a Te escrever isto, meu Filho único, Criança
de Magia e de Mistério? É que Eu teu Pai também estou nesta Ordália de
Iniciação nesta Hora. Pois o Sol está próximo do Fim do Signo dos Peixes no
Décimo Terceiro Ano do Aeon, e a Nova Corrente de Alta Maria jorra como um
Dilúvio do Útero de minha Verdadeira Senhora BABALON. E uma Palavra me veio
pela Boca da Mulher Escarlate cujo Nome é EVA, ou AHITHA, a respeito do Templo
de JUPPITER que está construído para mim. E ali dentro está uma Mulher
designada para um certo Cargo. Agora, essa Mulher me apareceu em uma Visão
quando Eu estava na Casa do Pelotiqueiro perto do Lago entre as Montanhas, o
Sol estando em Câncer no Décimo Primeiro Ano do Aeon, mesmo na Semana após teu
Nascimento. E Eu penso que essa Mulher é aquela que Eu chamo de WESRUR. Mas
mesmo quando com um Coração Puro Eu A invocava, veio a mim outra como ela, de
forma que Eu estou Confuso em minha Mente e desconcertado. E esta Outra Mulher
agita minha verdadeira Natureza em sua Profundeza, de forma que Eu não chamarei
isto de Amor. Pois a Voz do Amor Eu conheço há muito; mas esta Outra Mulher
fala em uma Língua da qual Eu não tenho Compreensão.
102. DE SUA VIRTUDE
QUE farei Eu
então neste caso? Pois a Mulher Escarlate me adjura pelo Grande Nome de Deus
ITHUPHALLOS a que Eu lide com esta Outra Mulher como com qualquer Mulher, de
acordo com minha Vontade. Mas isto Eu temo, pois ela não é como qualquer outra
Mulher, e Eu suspeito que ela seja o Vampiro desta Ordália. E então? Devo Eu
temer? Não disse Eu faz muito tempo, quando Eu era chamado pelos Homens de
Eliphas Levi Zahed, que o Erro de Oedipus foi que ele deveria ter domado a
Esfinge, e entrado em Thebas cavalgando-a? Não devo Eu então domar este
Vampiro, se ela o for, e amestrá-lo, e voltá-lo ao grande Fim? "Sou Eu um
tal Homem que deva fugir?" Não é todo Medo a palavra de Fracasso? Devo Eu
descrer em meu Destino? Sou Eu, que sou a Palavra do Aeon, de tão pouca monta
que mesmo todos os Poderes de Choronzon me possam dispersar? Não, ó meu Filho,
existe Coragem de Ignorância e Discreção do Conhecimento; mas além destes
existe Coragem do Conhecimento, e por nenhuma Virtude menor ganharei Eu o meu
Fim. Como está escrito: com Coragem conquistando o Medo Eu me aproximarei de
Ti. Aumgn.
103. DE ALIQUIBUS MODIS SORACULI PETENTI
MEU Filho, em todo Julgamento e Decisão existe grande Delicadeza, porém mais
que tudo nestes Assuntos da Vontade. Pois tu és tanto o Advogado quanto o Juiz,
e a não ser que tenhas organizado bem a tua Mente tu és Escravo de Preconceito.
Por esta Causa é de ajuda à tua Sabedoria que chames Testemunhas que não são de
tua própria Natureza, e que requisites Oráculos cuja Interpretação está
delimitada por Regras Fixas. Tal é o Uso do Livro TARÔT, da Adivinhação pela
Terra, ou pelos outros Elementos, ou pelo Livro Yi King, e muitos outros Modos
de Verdade. Tu sabes por tua própria Experiência que estas Artes não Te
enganam, salvo na medida em que te enganas a ti próprio. Assim, pois, para ti
que és NEMO não existe Assento Perigoso a esta Mesa; mas para aqueles que ainda
estão abaixo do Abismo há notável Perigo de Erro. No entanto devem eles
treinar-se constantemente nestes Modos, pois a Experiência mesma lhes ensinará
como sua Predisposição por seus próprios Desejos reage ao Fim contra eles
mesmos, e os impede na Execução de suas Vontades. Apesar disto, como tu bem
sabes, o melhor Modo é a Criação de uma Imagem Inteligível por Virtude da Missa
do Espírito Santo, declarando-te a Verdadeira Vontade em Termos da tua Qabalah!
104. DE FRATRIBUS NIGRIS, FILIIS INIQUITATIS
DOS Irmãos Negros, ó meu Filho, Eu escreverei estas Coisas a seguir. Eu já te
falei sobre a Mudança, como ela é a Lei, porque toda Mudança é um Ato de Amor
sob Vontade. Assim, pois, aquele que é Adepto Exempto, quer em Nossa Santa
Ordem quer em qualquer outra, não pode permanecer no Pilar de Misericórdia,
pois este não é equilibrado, e é instável. Portanto é-lhe dada a Escolha: se
destruirá seu Templo, e entregará a sua Vida, estendendo-a à Vida Universal, ou
se construirá uma Fortaleza em volta daquele Templo, e permanecerá nela, na
falsa Esfera de Daath, que está no Abismo. E para os Adeptos de Nossa Santa
Ordem esta Escolha é terrível, pois eles devem abandonar até mesmo Aquele cujo
Conhecimento e Conversação eles alcançaram. No entanto, ó meu Filho, tem eles
muito Auxílio de Nossa Santa Ordem neste Aeon, pois a Fórmula Geral é o Amor,
de modo que o Hábito mesmo deles os urge à Cama de Nossa Senhora BABALON.
Conhece então os Irmãos Negros por estes Verdadeiros Sinais da sua Iniciação de
Iniquidade: que eles resistem à Mudança, restringem e negam o Amor, temem a
Morte. Percutiantur.
105. DE VIRTUDE CHIRURGICA
APRENDE que o Culto dos Deuses-dos-Escravos é uma Invenção daqueles Irmãos
Negros. Tudo que estagna é daquilo, e dali vem não Estabilidade, mas
Putrefação. Não toleres os Padrões estáticos; não, nem em Pensamento nem em
Ação. Não resistas sequer à Mudança que é a Podridão de Choronzon, mas antes
apressa-a, para que os Elementos possam se combinar por Amor sob Vontade.
Aumgn. Desde que os Irmãos Negros e seus Cultos se opõem à Mudança, despedaça-os.
Sim, se bem que de mau venha pior, persiste nesse Caminho: pois é como se tu
abrisses um Abscesso, o primeiro Efeito sendo extremamente desagradável, mas o
último Limpeza. Não dês portanto ouvido àqueles que gritam Anarquia, e
Imoralidade, e Heresia contra ti, e temem destruir o Abuso para que Coisas
piores não venham. Pois a Vontade do Universo em seu Todo é em direção à
Verdade, e tu fazes bem em purgá-lo de sua Constipação. Pois está escrito que
não existe Laço que pode unir os divididos a não ser o Amor, de forma que
apenas aqueles Complexos que são em verdade Simplicidades, sendo construídos
Célula por Célula em sua Unidade por Virtude de Amor sob Vontade, são dignos de
perdurar em sua Progressão.
106. DE OPERIBUS STELLAE MICROCOSMI, QUORUM SUNT QUATTUOR MINORES
EU já te escrevi, ó meu Filho, do Paradoxo da Liberdade, como a Autonomia da
tua Vontade depende da Sujeição de todas as tuas Forças àquele Fim único. Mas
agora aprende também quão grande é a Economia de nossa Magia, e isto Eu te declararei
em uma Figura da Santa Qabalah, a saber, a Fórmula de Tetragrammaton. Primeiro,
o Efeito da Operação de Yod e Hé não é Vau apenas, mas com Vau aparece também
um novo Hé, qual Sub-Produto; e ela é misteriosa, sendo ao mesmo tempo a Flor
dos Três Outros, e seu Veneno. Agora, pela Operação do Vau sobre aquele Hé não
vem nova Criação, mas a Filha é estabelecida sobre o Trono de sua Mãe, e desta
forma acende-se novamente o Fogo de Yod, que, consumindo aquela Virgem, não
adiciona uma Quinta Pessoa, mas equilibra e faz perfeito tudo. Pois este Shin,
que é o Espírito Santo, impregna os outros, e é imanente. Assim, em Três
Operações é formulado o Pentagrama. Mas na Figura daquela Estrela estas
Operações não são indicadas, pois as cinco Linhas de Força não se juntam de
acordo com qualquer delas; mas Cinco Novas Operações são tornadas possíveis; e
estas são os Trabalhos próprios ao Homem perfeito. Primeiro, o Trabalho que jaz
na horizontal, o Vau com o Hé, é do Yang e do Yin, e torna Uno o Humano com o
Divino, como na Consecução do Mestre do Templo. Entretanto, esta Obra tem sua
Perversão, que é de Daath. Assim, pois, quanto a estes Quatro Trabalhos, eles
pertencem todos à Formula Natural da Cruz e da Rosa.
107. DE OPERIBUS STELLAE MICROCOSMI QUORUM SUNT QUATTUOR MAJORES
Ó MEU Filho, contempla agora o Mistério e Virtude da Estrela de Prata! Pois
destes Quatro Trabalhos nem Um leva à Coroa; porque Tetragrammaton tem Sua Raiz
apenas em Chokmah. Portanto, a Fórmula da Rosa Cruz já não vale no Mais Alto. Agora,
no Pentagrama há Duas Linhas que invocam o Espírito, se bem que elas não
conduzem ali; e elas são os Trabalhos de Hé com Hé e de Yod com Vau. Destes
dois o primeiro é um Trabalho Mágico da Natureza da Música, e faz descer o Fogo
do Mais Alto por Sedução ou Enfeitiçamento. Direi Eu Encantamento? Direi Eu
Encantação? É Canção. Mas Enfeitiçamento é um Trabalho oposto a esse, cujo
Efeito se formula por direta Criação na Esfera de seu Propósito e Intenção. Mas
restam ainda Dois dos Oito Trabalhos, a saber, a direta Aspiração do Chiah, ou
Criador em ti, à Coroa, e a Rendição do Nephesch ou Alma Animal à Possessão
daquela; e estas são as Fórmulas geodésicas gemes da Consecução Final, sendo
(uma) Arquétipo do Caminho de Magia, e (a outra) Arquétipo do Misticismo, até o
Fim. De cada um destes Oito Trabalhos é derivado um Modo respectivo de Uso
prático, cada qual de acordo com seu Tipo; e será bem para tua Instrução se tu
estudares estas minhas Palavras, e fundares sobre elas um Sistema. Ó meu Filho,
não esqueças o Arcano de seu Balanço e Proporção; pois nisto está o Mistério da
Santidade delas.
108. DE STELLA MACROCOSMI
ISSO sobre o Pentagrama, como ele é da Cruz, e sua Virtude no Mal Alto; mas o
Hexagrama é em sua mór Parte um Detalhe da Fórmula da Rosa e da Cruz. Eu já te
mostrei como a Santíssima Trindade é o Yang; mas o Espírito, e a Água (ou
Fluido) e o Sangue, que testemunham nas Inferiores, são do Yin. Assim, a
Operação do Hexagrama jaz por completo dentro da Ordem de um Plano, em verdade
unindo qualquer Alma à sua Imagem, mas sem transcendência; pois seu Efeito é
Cosmo, o Vau que surge da União do Yod com Hé. Assim pois ele lé um Glifo
apenas daquela primeira Fórmula, não das outras. Mas todas estas Coisas tu
estudarás com ardente Afeição; pois ali estão muitos mistérios de Sabedoria
Prática em nossa Arte Mágica. E isto é a Maravilha e Beleza desta Obra, que
para cada Homem há seu próprio Palácio. Sim, isto é Vida, que os Segredos de
Nossa Ordem não são fixos e mortos, como são as Fórmulas da Externa. Aprende
que nos muitos milhares de Vezes que Eu executei o Ritual do Pentagrama, ou a
Invocação do Coração cingido com a Serpente, ou a Missa da Fênix, ou a do
Espírito Santo, não houve uma só em que Eu não ganhasse nova Luz, ou
Conhecimento, ou Poder, ou Virtude, salvo através de minha própria Fraqueza ou
Erro.
109. DE SUA FEMINA OLUN, ET DE ECSTASIA PRAETER OMNIA SUBSTANT
I
MEU Filho, Eu estou inflamado de Amor. Eu queimo sôfrego na Paixão que assim
poderosamente me consome. No entanto, em minha Mente consciente Eu não percebo
de forma alguma Aquilo que me aperta. É Nuit mesma invisivelmente que me
abraça, e incendeia minha Alma com Êxtase. Há Silêncio em minha Alma, e Medo em
volta minha, como se Eu fosse Syrinx na Noite da Floresta. Isto é um grande
Mistério que Eu aturo, um Mistério demasiadamente grande para minha Parte
mortal. Pois ainda há pouco, quando Eu gritei o Nome Olun, que é o Nome secreto
de minha Senhora que veio a mim --- de maneira muito estranha --- Eu fui
envolto com a máxima Sutileza, no entanto com ímpeto, em um Trance que me
transformou com Consecução, porém sem deixar Traço na Mente. Ó meu Filho!
existe a Transfiguração de Glória, e existe a Jóia na Flor do Lótus; sim,
existem muitas outras também das quais sou Comungante. Mas esta última Paixão,
que minha Senhora Olun trouxe sobre mim neste último Dia do Inverno do Décimo
Terceiro Ano do Aeon, mesmo enquanto Eu te escrevia estas Palavras, é um
Mistério de Mistérios, além de todos estes. Ó meu Filho, tu conheces bem os
Perigos e o Lucro de Nosso Caminho; persevera nele. Olun! MAPIE! BABALON!
Adsum.
110. DE NOMINE OLUN
QUATRO Estações, ou talvez quase cinco, são passadas, desde que Eu teu Pai
estava na Cidade chamada New Orleans; e em Tribulação de Espírito Eu invoquei o
Deus que dá Sabedoria, portador da Palavra do Todo-Pai pelo seu Caduceu. Então,
súbito, quando Eu começava, veio (como se fosse um Jato de Fogo arremessado
contra aquela Idéia) a Apreensão de Minha Completa Identidade; de modo que Eu
parei, gritando Mercurius Sum. Também instantaneamente Eu soube em mim que
havia um Mistério ali oculto, e, traduzindo na Língua Grega, Eu exclamei
'EPHMHE 'EIMI, cuja numeração Eu busquei em minha Mente a seguir, e é
Quatrocentos e Dezoito, como a Palavra do Aeon. Assim Eu soube que meu Trabalho
estava bem feito em Verdade. Também isso aconteceu com esta minha Senhora; pois
após muitas Perguntas Eu obtive do Bruxo Amalantrah aquele Nome Olun, que é
Cento e Cinquenta e Seis, mesmo como o de Nossa Senhora BABALON; e, estando inspirado,
Eu escrevi o nome terreno dela em Grego, MAPIE, que é também aquele mesmo mui
Santo Número. Eu quero que saibas também que este Nome (como Eu aprendi) é na
Língua Fenícia whôlon; o que,
por Interpretação, é Aquilo que é Infinito, e o Espaço; de forma que está tudo
consonante com Nuit Nossa Senhora das Estrelas. Assim, ó meu Filho, é a Palavra
de Verdade ecoada através de todos os Mundos; e assim tem os Sábios grande
Certidão em Seu Caminho. Vê, ó meu Filho, que não trabalhes sem esta Guarda
inflexível, para que não erres em tuas Percepções.
111. DE VIRIS MAGNANIMIS, AMORE PRAECLARISSIMIS
APRENDE que na Mente do Homem há muita Sabedoria escondida, sendo o Tesouro de
seu Progenitor que ele herda. Assim, quase toa a sua Natureza Moral é-lhe desconhecida
até sua Puberdade; isto é, esta Natureza não pertence ao Aparato Registrador e
Julgador do seu Cérebro até que é posta ali pelo Despertar daquela Natureza
mais profunda dentro dele. Tu notarás também, que grandes Homens são em geral
grandes Amantes; e isto é em Parte devido à Exuberância geral da Energia deles,
mas em Parte também devido a que (conscientemente ou não) eles percebem o
seguinte Segredo: que todo Ato de Amor comunica algo da Sabedoria armazenada
dentro de nós à nossa Mente Consciente. Porém, cada Ato destes deve ser
realizado retamente, de acordo com Arte; e a não ser que um tal Ato seja de
Lucro igualmente a Mente e Corpo, é um Erro. Isto então é verdadeira Doutrina;
a qual, se for bem compreendida por ti, tornará límpido como um diamante teu
Caminho no Amor, o qual (para aqueles que não sabem isto) é tão obscuro e
perigoso que Eu creio que não existe um Homem em Dez Mil que ali não caia em
Infortúnio.
112. DE CASTITATE
MEU Filho, sê fervente! Sê firme! Sê estável! Sê rápido em perceber Impureza,
como um Curso de Idéias busca infringir sobre outro, sufocar a Virtude do
outro. Ouro é puro, mas beber Ouro derretido seria Impureza contra teu Corpo, e
sua Destruição. A Lei é o Código dos Hábitos de um Povo; se ela interfere nesses
Hábitos para alterá-los, ela é uma Impureza de Opressão. Assim, também, um
Regime Alimentar deve estar de acordo com a Digestão; Ética seria ali uma
Impureza. O Amor é uma Expressão da Vontade do Corpo; sim, e mais ainda,
d'Aquilo que criou o Corpo; e sua Operação é comumente entre Um e Um, de forma
que a Interferência de qualquer Terceira Pessoa é Impureza, que não deve ser
tolerada. Não, mesmo o Pensamento de uma Terceira Pessoa não faz de Ordinário
parte do Amor; em conseqüência, como tu vês constantemente em tua Vida, o Amor,
sendo forte, não pensa em outros, e alguma Interferência posterior traz
Infortúnio. Então, deveremos nós evitar o Amor, ou aceitar Impureza nele? Deus
proíba. E por esta Causa vê bem que em teu Reino não haja Interferência contra
ele, nem Obstrução por parte de qualquer pessoa. Pois é perfeito em si mesmo.
113. DE CEREMONIO EQUINOXI
MEU Filho, nosso Pai no Céu passou ao Signo do Carneiro. É Primavera. Eu
executei o Rito de União com Ele de acordo com a Maneira Antiga, e Eu conheço a
Palavra que governará o Semestre. Também, é dado ao meu Espírito escrever-te
sobre a Virtude deste Rito, e muitos outros, da Antiguidade. E é esta: que
nossos Antepassados fizeram destas Cerimônias um Resumo mnemônico, onde certa
Verdade, ou Verdadeira Relação, deve ser comunicada de uma Maneira Mágica.
Portanto, pela Prática de tais Cerimônias tu podes despertar tua Sabedoria,
para que esta se manifeste em tua Mente Consciente. E este Caminho é de Uso
mesmo quando as Cerimônias, como aquelas dos Cristãos, estão corrompidas e
deformadas; mas em tal Caso tu buscarás o verdadeiro antigo Significado delas.
Pois existe Aquilo em ti que se lembra da Verdade, e está pronto para
comunicá-la a ti quando tu tens Tino para evocá-lo do Ádito e Santuário do teu
Ser. E isto deve ser feito através desta Repetição das Fórmulas daquela
Verdade. Nota que isto que Eu te digo é a Defesa do Formalismo; e realmente tu
deves trabalhar sobre um certo Esqueleto, mas veste-o com Carne vivente.
114. DE LUCE STELLARUM
FOI aquele santíssimo Profeta, teu Tio, chamado sobre a Terra William O'Neill,
ou Blake, que escreveu para nossa Compreensão estas Onze Palavras sagradas:
Se o Sol e a Lua duvidassem,
Não tardava se apagassem.
Ó meu Filho, nosso Trabalho é luzir por Força e Virtude de nossas próprias
Naturezas, sem Consciência ou Consideração. Agora, se bem que nossa Radiância é
constante e sem enfraquecimento, pode ser que Nuvens se acumulando em nossa
volta ocultem nossa Glória da Visão de outras Estrelas. Estas Nuvens são nossos
Pensamentos; não aqueles verdadeiros Pensamentos que são Expressões conscientes
de nossa Vontade, tais como os que se manifestam em nossa Poesia, ou em nossa
Música, ou em outro Raio-Flor de nossa Luz quintessencial. Não, a
Nuvem-Pensamento nasce da Divisão e da Dúvida; pois todos os Pensamentos, a não
ser que sejam Emanações criadoras, são Sintomas de Conflito dentro de nós.
Nossas Relações definidas com o Universo não perturbam nossas Mentes; como, por
Exemplo, nossas Funções corporais automáticas, que nos falam apenas no Sinal de
Aflição. Portanto, toda Consideração é uma Demonstração de Dúvida; e Dúvida
postula Dualidade, que é a Raiz de Choronzon.
115. DE CANTU
ENTÃO, ó meu Filho, eis aqui minha Sabedoria: que a Voz da Alma em sua
verdadeira Natureza, eterna e Imutável, compassando Tudo, é Silêncio; e a Voz
da Alma, dinâmica, no Caminho da Sua Vontade, é Canto. Nem há qualquer forma de
Expressão que não seja, como é o Canto, a Música própria àquele Movimento, de
acordo com a Lei. Assim, como teu Primo Arthur Machen regozijou-se em tornar
claro aos Homens em seu Livro chamado Hieróglifos, a primeira Qualidade da Arte
é seu Êxtase. A quase todos os Homens em uma Época ou outra vem Alegria de
Criação, com a Crença de que a Expressão deles é santa e bela, engalonada com
Pendões. Este seria em Verdade o Caso, se nós pudéssemos compreender-lhes o
Pensamento lendo suas Palavras; mas porque eles não possuem Habilidade técnica
para se expressarem, eles não tornam possível a outros que reproduzam ou
recriem a Paixão original que os inspirou, ou até mesmo uma vaga Memória dessa.
Compreende então a Agonia da Grande Alma, que tem toda Chave do Paraíso à sua
Cinta, quando ela quereria abrir o Portão da Santidade, ou da Beleza, ou de
qualquer Virtude que seja, aos Homens da sua Época!
116. DE STULTITIA HUMANA
SAIBAS que uma Mente pode aprender apenas aquelas Coisas com as quais já está
familiarizada, pelo menos Parcialmente. Além disto, ela sempre as interpretará
de acordo com a Distorção de suas próprias Lentes. Assim, durante uma grande
Guerra, todo e qualquer Discurso pode ser interpretado como se referindo a ela;
também uma Pessoa Culpada, ou um Melancólico, pode ver em cada Estranho um
Oficial de Justiça, ou um daqueles que estão combinados (parece-lhe) para
persegui-lo, conforme seja o Caso. Mas considera além do mais que o Misterioso
é sempre o Terrível, para as Mentes Vulgares. Como então quando uma Palavra
Nova é falada? Ou ela não é ouvida, ou é mal compreendida; e evoca Medo, e o
Ódio como Reação contra esse Medo. Então os Homens pegam-no e o ridicularizam,
e cospem nele, e açoitam-no, e levam-no para crucificá-lo; e no terceiro Dia
ele se ergue de entre os mortos, e sobe ao Céu, e senta-se à mão direita de Deus,
e vem para julgar os Vivos e os Mortos. Esta, ó meu Filho, é a História de Todo
Homem ao qual é dada uma Palavra.
117. DE SUO PROELIO
AGORA pois tu vês como os Homens tomam o Filho da Ciência, e queimam-no como
Feiticeiro ou Herético; o Poeta, e expulsam-no como um Réprobo; o Pintor,
acusando-o de deformar a Natureza; o Músico, acusando-o de negar a Harmonia; e
assim com toda e cada Palavra Nova. Quanto mais, então, se a Palavra for de
Importância Universal? Uma Palavra de Revolução, e de Revelação nas Profundezas
da Alma? Uma nova Estrela; isso é para os Astrônomos, e talvez os alvoroce. Mas
um novo Sol! Isso seria para todos os Homens, e uma Semente de Tumulto e
Levante em toda e cada Nação. Considera em ti, portanto, qual é a Pujança dos
Adeptos, a Energia do Santuário, que pode conferir sobre um Homem a Palavra de
um Aeon, e traze-lo ao Fim em Vitória, com seu Carro adornado de Flores, e sua
Cabeça atada com um Filete de Louros honrado com seu sangue! Meu Filho, tu
ingressaste na Batalha; e os Homens de nossa Raça e nosso Clã não retornam
salvo em Glória.
118. DE NECESSITATE VERBI CLAMANDI
AQUELE que luta contra sua própria Natureza é sem tino; ele não conhece sua
Vontade, empanecendo Aviso em si mesmo, negando seu próprio Deus, e dando lugar
a Choronzon. Então sua Obra se torna Confusão, e ele é despedaçado e dispersado
no Abismo. Nem é melhor se ele assim faz pelo suposto Bem de outra pessoa; sim,
para a outra pessoa também há Mal no Final das Contas. Pois manifestar tua
própria Vontade é deixá-lo livre para fazer sua Vontade; mas mascarar tua
Vontade é falsificar um dos Marcos que lhe possibilitam navegar seu Barco. Meu
Filho, toda Divisão da Alma, que engendra Ataque de Nervos e Insanidade, vem de
mau Ajustamento à Realidade, e de Medo dela. Esconderás então a Verdade de teu
Irmão, para que ele não sofra? Tu não fazes bem, mas o confirmas em Iniquidade,
e em Ilusão, e em Enfermidade de Espírito.
119. DE MYSTERIO EUCHARISTICO UNIVERSALI
MEU Filho, atenta também nesta Palavra de teu Tio William O'Neill: Tudo que
existe é santo. Sim, e mais ainda: todo Ato é santo, sendo indispensável ao
Sacramento Universal. Sabendo isto, tu podes te conformar com o que está
escrito no Livro da Lei: não fazer diferença entre qualquer uma Coisa e
qualquer outra Coisa. Aprende bem e absorve este Mistério, pois é o Grande
Portal do Colégio da Compreensão, através do qual todos os teus Sentidos se
tornam Testemunhas contínuas, e perpétuas da Eucaristia Única, da qual também
eles são Ministros. Então, para ti todo Fenômeno é o Corpo de Nuit em Sua
Paixão; pois é um Evento; isto é, o Casamento de algum Ponto de Vista com
alguma Possibilidade particular. E este Estado da Mente é um dos Privilégios do
teu Grau de Mestre do Templo, e a Desvelação do Arcano de Sofrimento, que é tua
Tarefa, como está escrito em Liber Magi. Além disto, este Estado, assimilado no
Tutano mesmo da tua Mente, é o primeiro Passo para a Compreensão do Arcano de
Mudança, que é a Raiz da Tarefa de um Magus de Nossa Santa Ordem. Ó meu Filho,
guarda isto no teu Coração, pois seu Nome é a Visão Beatífica.
120. DE RECTO IN RECTO
TAMBÉM Eu te solicito que uses toda Diligência filial, e escutes esta mesma
Palavra da Boca de teu mais Antigo Ancestral (a não ser que ousemos aventurar o
Nome FU-HSI) na nossa conhecida Genealogia, o Santíssimo, o Verdadeiro Homem,
Lao-tze, que deu Sua Luz ao Reino das Flores. Pois sendo-lhe perguntado qual
era a Habitação do TAO, ele respondeu que Aquilo estava no Esterco. Também, o
Tathagata, o Buddha, mui abençoado, mui perfeito, e mui iluminado, acrescentou
sua Voz, que não existe um Grão de Pó que não atingirá a ser Arhan. Conserva
portanto em justo Equilíbrio a Relação de Ilusão com Ilusão naquele Aspecto de
Ilusão, sem misturares os Planos, nem confundires as Estrelas, nem negares as
Leis de Reação entre eles; porém com Visão de Águia contemplando o Sol Único da
Verdadeira Natureza do Todo. Sim, esta é a Verdade, e quanto a ela também
Diôniso e Tahuti e Sri Krishna deram o Selo de seu Testemunho. Limpa portanto
teu Coração, ó meu Filho, nas Águas do Grande Mar, e inflama-o com Fogo do
Espírito Santo. Pois este é o Peculiar Trabalho de Santificação d'Ele.
121. DE VIRGÍNEO BEATA
COMPREENDE bem, então, este Mistério de Divindade Universal; pois é a Beleza
Nua da Virgem do Mundo. Vê! desde que o Fim é Perfeição, como Eu já te mostrei,
e desde que também todo Evento está inexoravelmente e inelutavelmente
entretecido na Tela daquele Destino, todo Fenômeno é (como tu estás jurado a
compreender) "um Trato particular de Deus com tua Alma". Sim, e mais:
é uma Rubrica necessária neste Ritual de Perfeição. Não desvies pois teus Olhos
como demasiado puros para contemplar o Mal; mas olha o Mal com Alegria,
compreendendo-o no Fervor desta Luz que Eu acendi em tua Mente. Aprende também
que toda e cada Coisa é Maligna, se tu a considerares como Àparte, estática, e
em Divisão; e assim em certo Grau tu aprenderás o Mistério de Mudança, pois é
por Virtude da Mudança que esta Verdade de Beleza e Santidade é estabelecida no
Universo. Ó meu Filho, não há Deleite mais doce que a Contemplação contínua
desta Maravilha e desta Pompa que está sempre em volta tua; é a Beatitude de
Beatitudes.
122. DE JOCOSO SUA MOECHAE
NÃO resistas à Mudança, portanto, mas age constantemente de acordo com tua
verdadeira Natureza. Pois tu sofres apenas se existir uma Divisão Consciente de
si mesma, e impedida em seu Caminho (cujo Nome é Amor) em direção à sua
Dissolução. Está escrito no Livro da Lei que a Dor de Divisão é como nada, e a
Alegria de Dissolução tudo. Agora pois aqui está uma Arte e Artifício de Magia
que Eu te declararei, se bem que é um Perigo se não estiveres fixados naquela
Verdade, e naquela Visão Beatífica da qual Eu te escrevi nos três Capítulos
precedentes. E é isto: criar por Artifício um Conflito em ti mesmo, para que tu
possas obter Prazer em sua Resolução. Deste Jogo é tua doce Madrasta, Minha
Concubina, a Santa e Adúltera Olun, sublimemente Mestra, pois ela invoca em sua
Fantasia mil Obstáculos ao Amor, de forma que ela estremece a um Toque, desmaia
a um Beijo, e sofre Morte e Inferno no Êxtase de seu Corpo. E esta é a sua
Arte, e é de Nuit Nossa Senhora, pois é um Drama ou Comemoração do Mistério
inteiro do Vir-a-Ser.
123. DE PERICULO JOCORUM AMORIS
ENTRETANTO, sê prevenido, ó meu Filho, pois esta Arte está estabelecida sobre
um Fio de Navalha. Em nosso Sangue existe esta grande Praga de Pecado, cuja
Palavra é Restrição, como Herança de nossos Antepassados que serviram aos
Deuses dos Escravos. Tu deves ser livre na Lei de Télema, perfeitamente unido
com teu Verdadeiro Ente, antes que ouses (com Prudência) invocar o Nome de
Choronzon, mesmo para teu Esporte e Fantasia. É apenas um Faz-de-Conta, dirás
tu; e isso é verdade; entretanto, deves tu Fazer-de-Conta tão bem que te
enganes a ti próprio, se por um Momento apenas; ou teu Esporte seria sem sabor.
Então, se há um Ponto Fraco em ti, aquele Pensamento teu pode se incarnar, e
destruir-te. Em verdade, o Domador sábio certifica-se indubitavelmente do seu Talento
antes de brincar com uma Cobra de presas; e tu bem sabes que este Perigo de
Divisão em Ti mesmo é o único que te pode tocar. Pois todo outro Mal é apenas
Elaboração deste Tema de Choronzon. Louva portanto tua doce Madrasta, minha
Concubina, a Santa e Adúltera Olun; e tua própria Mãe Hilarion, pois nesta Arte
também ela era proeminente.
124. DE LIBIDINE SECRETA
É DITO entre os Homens que a Palavra Inferno deriva do Latim Infernus,
significando as regiões subterrâneas. Isto é, o Lugar Oculto; e este, desde que
todas as coisas estão dentro de teu próprio Ser, é o Inconsciente. Como então?
Porque os Homens já estavam conscios de como este Inconsciente, ou
Libido, está oposto, em sua mór parte, à Vontade Consciente. Nas
Idades-Escravas isto é uma Verdade Universal, ou quase; pois em tais Épocas os
Homens são compelidos à Uniformidade pela Necessidade mesma. Sim, antigamente
existia um Cerco contínuo de todo Homem, de todo Clã, de todo ambiente; e
relaxar a Guarda era então Suicídio, ou Traição. Nenhum Homem podia escolher
seu Caminho, até que fosse Caçador, Guerreiro, Construtor; nem qualquer Mulher,
mas antes de mais nada ela tinha que ser Mãe. Depois, no crescimento de Estados
pela Organização, veio, pouco a pouco, uma certa Segurança contra os Perigos
mais grosseiros, de forma que alguns Homens puderam ser poupados do Trabalho
comum a fim de cultivar Sabedoria; e isto foi antes de mais nada provido pela
Seleção de uma Casta Pontifícia. Por este Arranjo veio a Aliança de Rei e
Sacerdote, Força e Astúcia fortificando uma à outra através da Divisão do
Trabalho.
125. DE ORDINE CIVITATUM
EVENTUALMENTE, ó meu Filho, esta primeira Organização entre os Homens, por um
Método paralelo àquele de Diferenciação do Protoplasma, tornou o Estado
competente para explorar e controlar a Natureza; e todo Lucro deste Tipo
liberou mais Energia, e ampliou a Classe dos Sábios, até que, hoje em Dia, só
uma pequena Proporção do Trabalho de qualquer Homem precisa servir à Satisfação
da primeira Vontade essencial e comum: a Provisão de Abrigo, Alimento e
Proteção. Em verdade também tu vês muitas Mulheres tornadas livres para viverem
como querem, mesmo para Admiração e Deleite do Sábio cujo Olho ri de contemplar
Travessuras. Assim, o Dever de cada Unidade para com o Todo vai sendo
diminuído, e também a Necessidade de se conformar com aquelas Leis estreitas
que preservam Tribos primitivas em sua Luta contra o Meio Ambiente. Assim, o
Estado necessita suprimir apenas Heresias que ameacem diretamente sua
Estabilidade política, apenas Modos de Vida que causam manifesto e comprovado
Dano a outros, ou provocam Desordem geral por seu Escândalo. Portanto, a não
ser que, e salvo se ele assim interfere com as Leis Radicais do Bem-Estar
Público, um Homem está livre para se desenvolver como ele quiser de acordo com
sua Verdadeira Natureza.
126. DE SCIENTIAE MODO
PARA a Mente do Filósofo, portanto, na Juventude de uma Idade, qualquer
Variação de Tipo deve aparecer como Desastre; sim, em verdade, mesmo a
Inteligência é forçada a provar seu Valor ao Bruto em Termos da Brutalidade, ou
o Bruto desconfiará dela e a destruirá. No entanto, como tu sabes, a Variação
que está adaptada ao seu Meio Ambiente prova ser a Salvação da Espécie. Mas
entre os Homens, seus Semelhantes sempre se voltam contra o Salvador, e o
despedaçam, até que aqueles que o seguem secretamente, e talvez
inconscientemente, provam sua Virtude e Sabedoria dele sobrevivendo quando os
Perseguidores dele perecem em sua Tolice. Mas nós, estando a salvo dos Inimigos
primários do Bem-Estar individual ou público, podemos, não, devemos, se
queremos atingir o Cume para a nossa Raça, devotar todo Lazer, Riqueza e
Energia que nos sobram à Criação de Variações da Norma; e assim, com sadio
Conhecimento obtido através de Experimento e Experiência, mover-nos de Olhos
bem abertos sobre nosso Verdadeiro Caminho. Portanto, nossa Lei de Télema é
confirmada também pela Biologia e pela Ciência Social. É o Verdadeiro Caminho
da Natureza, a reta Estratégia na Guerra do Homem com o Seu Meio Ambiente; é a
Vida da Alma dele.
127. DE MONSTRIS
DIZES tu, ó meu Filho, que não assim, mas por Treino forçado, chegamos à
Perfeição? Realmente é certo que, por Seleção artificial, e Controlados
Crescimento e Meio Ambiente, nós obtemos Cães, Cavalos, Pombos e outros animais
que excedem seus Antepassados em Força, em Beleza, em Rapidez, no que
quisermos. Entretanto é esta Obra apenas um falso Artifício Mágico, temporário,
e ilusório; pois tuas Obras Primas são apenas Monstros, não verdadeiras
Variações; se tu os deixares, eles depressa revertem ao seu próprio e autêntico
Tipo; porque aquele Tipo foi tornado apto pela Experiência para existir em seu
Meio Ambiente. Portanto, cada Variação deve ser deixada livre para se perpetuar
ou perecer; não deve ser acalentada por causa de sua Beleza, ou protegida por
agradar ao teu Ideal, nem deve ser cortada por teu Medo dela. Pois a Prova de
sua Virtude jaz na Manifestação de seu Poder de sobreviver; Âmen, de se
reproduzir de acordo com seu Tipo. Portanto, não cultives a Fraqueza de
qualquer Homem, nem o guardes ou protejas, nem mesmo se ele for Poeta ou
Artista, por causa do Valor dele para a tua Fantasia; pois se tu fizeres isto,
ele aumentará em sua Enfermidade, de forma que mesmo a Obra dele, pela qual tu
o amas, também será enfraquecida!
128. DE INFERNO PALATIO SAPIENTIAE
AGORA então tu vês que este Inferno, ou Lugar Oculto dentro de ti, não é mais
um Medo ou Empecilho para Homens de uma Raça Livre; mas é a Tesouraria da
Sabedoria Assimilada das Idades, e a Ciência do Verdadeiro Caminho. Portanto, é
justo e sábio que descubramos este Segredo em nós mesmos, e conformemos com ele
a nossa Mente consciente. Pois esta Mente é composta apenas (até que seja
iluminada) de Impressões e Julgamentos, de forma que sua Vontade é dirigida
somente pela Soma das Reações superficiais de uma Experiência limitadíssima.
Mas tua Verdadeira Vontade é a Sabedoria das Idades das tuas Gerações; a
Expressão daquilo que te tornou apto a sobreviver no teu Meio-Ambiente. Por
isto, tua Mente consciente é freqüentemente tola, como quando tu admiras um
Ideal, e quererias alcançá-lo; mas tua verdadeira Vontade te abandona, de forma
que há Conflito, e Humilhação daquela Mente. Aqui Eu chamarei por Testemunha o
comum Evento de "Boas Resoluções" que desafiam o Raio do Destino,
sendo inchadas pelo Veneno (ACHO QUE É VENENO E NÃO VENTO) de um
Ideal Indigerível que apodrece dentro de ti. Daí vem Cólica, e presentemente o
Veneno é expelido, ou então tu morres. Mas Resoluções da Verdadeira Vontade são
pujantes contra as Circunstâncias.
129. DE VITIIS VOLUNTATIS SECRETAE
APRENDE mais sobre este Inferno, ou Sabedoria Oculta que está dentro de ti, que
ele é modificado, pouco a pouco, através da Experiência da Mente Consciente,
que o alimenta. Pois aquela Sabedoria é a Expressão, ou antes o Símbolo e Hieróglifo,
do verdadeiro Ajustamento do teu Ser ao seu Meio Ambiente. Ora, quando aquele
Meio Ambiente é modificado com a passagem do tempo, esta Sabedoria não mais é
perfeita; pois ela não é Absoluta, mas existe em Relação ao Universo. Portanto,
uma Parte dela pode se tornar inútil, e se atrofiar, como (Eu darei este
Exemplo) o Olfato do Homem; e o correspondente Órgão corporal degenera com
isso. Mas isto é o Efeito de muito Tempo, de maneira que em teu Inferno tu
provavelmente encontrarás Elementos vãos, ou tolos, ou contrários ao teu
presente Bem-Estar. Ó meu Filho, esta Sabedoria Oculta não é tua Verdadeira
Vontade, mas apenas as Alavancas (Eu posso assim dizer) dela. Entretanto, ali
jaz uma Faculdade de Equilíbrio, pela qual ela é capaz de julgar se qualquer
Elemento em si mesmo é atualmente útil e benigno, ou ocioso e maligno. Aqui
pois há uma Raiz de Conflito entre o Consciente e o Inconsciente, aqui está um
Debate quanto à reta Ordem de Conduta, como a Vontade pode ser realizada.
130. DE RATIONE PRAESIDIO VOLUNTATIS
Ó meu Filho, neste Caso há Escuridão, entretanto este Conforto ali como uma
Lâmpada; que não há erro na Vontade, mas apenas Dúvida quanto aos Meios de
Sucesso; outrossim nós seríamos como Crianças com medo da Noite. Portanto não
precisamos fazer mais que considerar o Assunto à Luz da Razão, e da Prudência,
e do Senso Comum, e da Experiência, e da Ciência, ajustando-nos tanto quanto
pudermos. Aqui está a Chave do Sucesso; e seu Nome é a Habilidade de Utilizar
retamente as Circunstâncias. Esta pois é a Virtude da Mente, ser o Ministro da
Vontade, um verdadeiro Conselheiro, através de sua Percepção do Universo. Mas,
ó meu Filho, guarda esta Palavra em teu Coração: que a Mente não tem Vontade,
nem Direito a ter Vontade, de forma que Usurpação por parte dela causa um fatal
Conflito em ti. Pois a Mente é sensitiva, instável como o Ar, e pode ser
conduzida tolamente em coleira por uma Mente mais forte que trabalhe como o
astuto Instrumento de uma Vontade. Portanto tua Segurança e Defesa está em
manter tua Mente em sua reta Função: um fiel Ministro de tua Verdadeira
Vontade, que é Rei daquela Estrela cujo nome é Tu Mesmo, por Eleição da
Natureza. Aprende bem isto, ó meu Filho! Pois tua Mente Passiva é retamente um
Espelho para refletir todas as Coisas claramente sem Preconceito, e para
permanecer inconspurcada por elas.
131. DE CURSU SAPIENTIS
PORTANTO, considera isto novamente em uma Imagem: que tua Mente é como o
Marechal de um Exército, para observar as Disposições do Inimigo, e para mobilizar
suas próprias Forças retamente, de acordo com aquela Informação; mas o Marechal
não tem Vontade, apenas Obediência à Palavra de seu Rei, para confundir e
vencer o Opositor. Nem faz Guerra por Capricho aquele Rei, se ele for sábio e
verdadeiro; mas somente por causa da Necessidade de seu País, e da Natureza
deste, da qual ele é apenas o Administrador e Intérprete; sua Voz como o
Marechal é o seu Braço. Assim então compreende-te a ti mesmo, não permitindo à
tua Mente que dispute tua Vontade; nem, através de Ignorância e Descuido,
permitindo ao Inimigo que te engane; nem, por Medo, por Imprudência e
Temeridade, por Hesitação e Vacilação, por Desordem e Relaxamento, por Falta de
Elasticidade ou de Obstinação, cada qual em seu momento, sofrendo Derrota na
Hora do Choque. Portanto, ó meu Filho, este é o teu Trabalho: conhecer a
Palavra da tua Vontade sem Erro, e tornar perfeita toda e cada Faculdade da tua
Mente, em reta Ordem e Prontidão para impor aquela Palavra como Lei sobre o
Universo. Assim seja!
132. DE RATIONE, QUAE SINE VOLUNTATE EST FONS MANIAE
NÃO é uma Maravilha como aquele que trabalha com sua Vontade, e está em
constante Contato com a Realidade externa, faz com que sua Mente o sirva? Quão
avidamente corre ela e retorna, ajuntando, arranjando, clarificando,
classificando, organizando, comparando, enfileirando, com Habilidade e Pujança
e Energia que nunca falham! Ah, meu Filho, neste Caminho tu podes ser sem
piedade com tua Mente, e ela não se rebelará contra ti, nem negligenciará teus
Comandos. Mas considera agora aquele que não trabalha com sua Vontade: como sua
Mente é Ociosa, não busca Contato com a Realidade, mas debate em si mesma de
seus Assuntos, como uma Democracia, introspectiva. Então esta Mente, não
reagindo com Equidade e Elasticidade ao Mundo, perde-se em sua própria Anarquia
e Guerra Civil; de forma que, se bem que ela não trabalha, ela é conquistada
por Fraqueza de Divisão, e se torna Choronzon. E destas minhas Palavras Eu
chamo como Testemunha a Loucura da Alma de Muscóvia, neste Ano XIII do
nosso Aeon, que está terminado. Portanto vê como esta nossa Lei de Thelema,
Faze o que tu queres, é a primeira fundação da Saúde, quer no Corpo ou na
Mente, quer de um Organismo simples ou de um Organismo complexo.
133. DE VERITATE QUEM FEMINAE NON DICERE LICET
MEU Filho, Eu te conjuro, não importa quão sejas provocado a faze-lo, nunca
digas a Verdade a uma Mulher. Pois isto é aquilo que está escrito: Não atires
tuas Pérolas aos Porcos, para que eles não se voltem contra ti e te despedacem.
Vê, na Natureza da Mulher não há Verdade, nem Percepção da Verdade, nem
Possibilidade de Verdade; apenas, se tu lhes confias esta Jóia, elas
imediatamente a usam para tua Perda e Destruição. Mas elas estão cônscias de teu Amor pela Verdade, e teu Respeito por esta; por isto elas te tentam,
lisonjeando com seus Lábios, para que tu te reveles a elas. E elas fingem
falsamente, com todas as Astúcias, e saem à pesca de tua Alma, até que em Amor,
ou em Cólera, ou em alguma outra Tolice dessa Alma, tu dizes a Verdade,
profanando teu Santuário. Assim foi sempre, e disto Eu chamo como Testemunha
Sansão de Tomnath, que se perdeu por este Erro. Agora, para qualquer Mulher
qualquer Mentira serve; e não penses em teu Perigo que a Verdade é poderosa, e
prevalecerá, como faz com qualquer Homem; pois com uma Mulher, sua inteira
Astúcia e Ardil é te persuadir disto, para que tu pronuncies o Segredo da tua
Alma, e te tornes Presa dela. Mas enquanto tu a nutres com sua própria Comida
de Falsidade, tu estás seguro.
134. DE NATURA FEMINAE
A NATUREZA da Mulher, ó meu Filho, é como tu aprendeste em Nossa santíssima
Qabalah; e Ela é o Vestimento em Sexo do Homem, a Imagem Mágica da Vontade de
Amar dele. Portanto foi dito por teu Tio Wolfgang von Goethe: Das Ewigweibliche zieht uns hinan. Mas
também por isto ela não tem Natureza de Verdade, porque ela é apenas a Imagem
de um Excitamento e Progressão de tua Estrela, e não pertence à Essência e
Estabilidade desta. Assim, pois, para ti ela é apenas Matéria, e para ela tu é
apenas Energia e nenhum dos dois é competente à Fórmula do outro. Também por
isto, como tua Vontade em si é uma Imperfeição, como Eu já te mostrei antes, tu
não estás no Caminho do Amor a não ser que estejas vestido naquela tua
Vestimenta que tu chamas de Mulher. E tu não podes atraí-la a esta Ação que lhe
é própria por tua Verdade; mas tu assumirás, como diz nosso Grimório, a Máscara
do Espírito, para que tu possas evocá-lo por Simpatia. Mas tu aparecerás em tua
Glória somente quando ela está em teu Poder, e totalmente desnorteada pelo
Êxtase. Isto é um Mistério, ó meu Filho, e nos Tempos de antanho foi declarado
na Fábula de Scylla e Charydbis, que são as Fórmulas da Rocha e do Redemoinho.
Agora então medita estritamente sobre este Arcano mui digno e mui adorável,
para teu Lucro e Iluminação.
135. DE DUOBUS PRAEMIIS VIAE
SEJA isto um Tesouro em teu Coração, ó meu Filho, este Mistério que Eu a seguir
desvelarei para teus Olhos, ó Águia que tu és inofuscada pelo Brilho da
Luz, que sobes continuamente em Vôo Viril à tua Augusta Herança, Considera, a
Visão Beatífica é de duas Ordens, e na Fórmula da Rosa Cruz é do Coração e é
chamada Beleza; mas na Fórmula da Estrela de Prata (isto é, do Olho no
Triângulo) é da Mente, e é chamada Maravilha. Em outros Termos, a primeira é de
Arte, uma Percepção sensual e criadora; mas a segunda é de Ciência, uma
Compreensão intelectual e inteligível. Ou de novo, em nossa Santa Qabalah, a
primeira é de Tiphereth, a segunda de Binah; e em Filosofia pura, esta é uma Contemplação
do Cosmo em seu Aspecto Causal e Dinâmico, e aquela do seu Efeito em
Presentação Estática. Agora, aquela Raptura de Arte é uma Virtude ou Triunfo do
Amor em sua mais universal Compreensão; mas o Êxtase da Ciência é um contínuo
Orgasmo de Luz; isto é, da Mente. Tu dizes: Ó meu Pai, como posso atingir esta
Fartura e Perfeição? Estás lá, ó meu Filho? É bom, e abençoada seja a Cama onde
tu foste engendrado, e o Útero de tua doce Mãe, Hilarion, minha Concubina,
santa e adúltera, a Mulher Escarlate! Âmen.
136. DE ECSTASIA SAMADHI, QUO MODO AB ILLIS DIFFERT
NÃO confundas esta Bisão Beatífica com os Trances chamados Samadhi; Samadhi é
apenas o Portal do Templo dessa Visão. Pois Samadhi é o Orgasmo do Coito dos
Dessemelhantes, e comumente é violento; tal como o Raio resulta da Descarga
entre dois Veículos de extrema Diferença em Potencial. Mas, como Eu mostrei
antes sobre o Amor, que cada uma de tais Descargas traz cada um dos Componentes
mais perto de Equilíbrio, assim é também neste outro Assunto; e pela
Experiência tu chegas constantemente à Integração do Amor (ou qualquer outra
coisa) dentro de ti; mesmo como todo Esforço se torna harmonioso e fácil por
Virtude de Prática. Lembras-te, na primeira vez que foste atirado à Água, de
teu Medo e teus Esforços, e da Veemência da tua Alegria quando pela primeira
vez tu nadaste sem Apoio? Depois, pouco a pouco, toda Violência desapareceu,
porque tu te ajustaste àquela Condição. Da mesma forma, a Fúria da tua Vitória Preliminar nestas Artes e Ciências Mágicas é apenas o sinal de tua própria
Baixeza e Falta de Valor, já que o Contraste ou Diferencial é tão
impressionante para ti; mas, tornando-te experiente e Adepto, tu te equilibras
na Glória e te tornas calmo, mesmo como as Estrelas.
137. DE ARTE AMORIS ET DELICIARUM MYSTICI
PORTANTO, o Caminho a esta Visão Beatífica de Beleza, ó meu Filho, é aquela
Prática de Bhakti Yoga que foi
escrita no Livro chamado Cento e Setenta e Cinco, ou Astarté, por esta minha
Mão quando Eu estava em Gália a Bem-Amada, em Montigny que fica perto da
Floresta da Fonte Azul, com Agatha minha Concubina, a Alma mesma do Amor e da
Música, que se aventurara de debaixo da Cruz Austral para me procurar, para me
inspirar e confortar; e esta foi minha Recompensa dos Mestres, e Consolação dos
Anos da minha Dor. Mas o Caminho que leva à outra Forma desta Visão de
Beatitude, a saber, a Ciência, é Gñana
Yoga ou Raja Yoga, de que Eu
tenho escrito apenas aqui e ali, como um que espalhasse grandes Pedras sobre a
Terra em Desordem, em vez de construí-las nobremente em uma Pirâmide. E disto
Eu sinceramente me arrependo, e peço ao Deus Thoth que Ele me dê (se bem que na
Hora Undécima) Virtude e Discernimento, para que Eu possa compor um Verdadeiro
Livro sobre estes Caminhos de União. Teu Primeiro Passo, portanto, ó meu Filho,
é buscar atingir Samadhi, e esforçar-te perpetuamente a Repetição de teu
Sucesso neste. Pois foi dito pelos Filósofos de antanho que a Prática torna
Perfeito, e que as Maneiras, sendo o constante Hábito da Vida, fazem o Homem.
138. DE PRAEMIO SUMMO, VERA SAPIENTIA ET BEATITUDINE PERFECTA
ENTÃO eventualmente acontecerá, quando em Virtude de cada Experiência aquele
Componente dela que está dentro de ti é atunado a ela, que um pequeno Esforço é
suficiente para te unir a esse, e isto sem Choque; de maneira que tu não és
mais arremessado de volta do Trance, como se exausto, mas permaneces nele,
quase sem Conhecimento de teu Estado. Assim, finalmente, este Samadhi se
tornará normal à tua Consciência comum, como se fosse um Ponto de Vista. Então,
todas as Coisas te aparecerão continuamente como a um em seu primeiro Amor,
pela Visão de Beleza; e pela Visão da Ciência tu te maravilharás constantemente
com Alegria infinita diante do Mistério das Leis que sustentam o Universo. Isto
é aquilo que está escrito: Verdadeira Sabedoria e Felicidade Perfeita. Ó meu
Filho, é nesta Contemplação que temos a Recompensa do Caminho; é através disto
que as Tribulações são roladas como uma Pedra da tua Tumba; é com isto que tu
és libertado por completo das Ilusões de Distinção, sendo absorvido no Corpo de
Nossa Senhora Nuit. Possa Ela te conceder esta Beatitude; sim, não a ti apenas,
mas a todos que existem.
139. DE INFERNO SERVORUM
AGORA, ó meu Filho, que compreendeste o Céu que está dentro de ti, de acordo
com tua Vontade, aprende isto sobre o Inferno dos Escravos dos Deuses-Escravos:
que é um verdadeiro Lugar de Tormento. Pois eles, restringindo-se a si mesmos,
e estando divididos na Vontade, são realmente os Servos do Pecado; e eles
sofrem, porque, não estando unidos em Amor com o Universo inteiro, eles não
percebem a Beleza, mas sim Fealdade e Deformidade; e, não estando unidos em
Compreensão destas, concebem apenas Escuridão e Confusão, contemplando o Mal
ali. Assim por fim eles chegam, como fizeram os Maniqueus, a ver, para Terror
seu, uma Divisão mesmo no Um; não aquela Divisão que nós sabemos ser o
Artifício do Amor, mas uma Divisão de Ódio. E isto multiplicando-se, Conflito
sobre Conflito, acaba em Confusão, e na Impotência e Inveja de Choronzon, e nas
Abominações do Abismo. E de tais são Senhores os Irmãos Negros, que buscam por
suas Feitiçarias confirmarem-se em Divisão. Entretanto mesmo nisto não há
verdadeiro Mal; pois o Amor conquista Tudo, e a Corrupção e Desintegração deles
é também a Vitória de BABALON.
140. RHAPSODIA DE DOMINA NOSTRA
ABENÇOADA seja ela, sim, abençoada através das Idades seja Nossa Senhora
BABALON, que aplica Seu Açoite sobre mim, mesmo sobre mim, TO MEGA THERION,
para ame compelir a Criação e Destruição, que são Uma, em Nascimento e em
Morte, sendo Amor! Abençoada seja Ela, unindo o Ovo com a Serpente, e
restaurando o Homem à sua Mãe a Terra! Abençoada seja Ela, que oferece Beleza e
Êxtase no Orgasmo de toda Mudança, e que excita teu Maravilhamento e tua
Adoração pela Contemplação da Sua Mente multi-caprichosa! Abençoada seja
Ela, que encheu sua Taça com toda e cada Gota do meu Sangue, de forma que minha
Vida está dissolvida por completo no Vinho de Sua Raptura! Vê, como Ela está
embriagada com esse Vinho, e cambaleia através dos Céus, chafurdando na
Alegria, gritando a Canção do mais transcendente Amor! Não é Ela tua verdadeira
Mãe entre as Estrelas, ó meu Filho, e não A abraçaste tu na Loucura de Incesto
e de Adultério? Sim, abençoada seja Ela, abençoado seja o Seu Nome, e o Nome do
Seu nome, através das Idades!
141. RHAPSODIA DE ASTRO SUO
Ó MEU Filho, não conheces a Alegria de se deitar no Deserto e contemplar as
Estrelas, em sua Majestade de Movimento calmo e irresistível? Não consideraste
então que também tu és uma Estrela, livre porque conscientemente de Acordo com
a Lei e Determinação do teu Ser? Foi tua própria Verdadeira Vontade que te
estabeleceu em tua Órbita; portanto mais célere em teu Caminho, de Glória em
Glória, em Alegria Contínua. Ó Filho, Ó Recompensa de minha Obra, Ó harmonia e
Compleição de minha Natureza, Ó Mostra do meu Trabalho, ó Testemunha do meu
Amor por tua doce Mãe, a santa e adúltera Hilarion minha Concubina, adorável em
tua Inocência como ela em sua Perfeição, não é isto em verdade Intoxicação do
Espírito no mais Íntimo, ser livre absoluta e eternamente, para correr e volver
sobre o Percurso no Jogo do Amor, cumprindo a Natureza constantemente em Luz e
Vida? "Flutuando no Aether, Ó meu Deus, meu Deus!" Sem Apoio, sem
Constrangimento, compassa alado o teu Caminho, ó Cisne, ó Regozijo de Brilho!
142. DE HARMONIA VOLUNTATIS ET PARCARUM
ESTE é o evidente e definitivo Solvente do Nó Filosófico concernente a Destino
e Livre Arbítrio: que é teu próprio Ser, onisciente e onipotente, sublime em
Eternidade, que primeiro ordenou o Curso da tua própria Órbita; de forma que
aquilo que te acontece por Destino é na Verdade o Efeito necessário da tua
própria Vontade. Estes dois, então, que qual Gladiadores se tem guerreado na
Filosofia através destes muitos Séculos, são feitos Um pelo Amor sob Vontade
que é a Lei de Télema. Ó meu Filho, não existe Dúvida que não se resolva em
Certeza e Raptura ao Toque da Baqueta da nossa Lei, se tu a aplicas com
Discernimento. Cresce constantemente na Assimilação da Lei, e tu te tornarás
perfeito. Contempla, há um Cortejo Triunfal à medida que cada Estrela, livre de
Confusão, move-se livre em sua reta Órbita; o Céu inteiro te aclama enquanto
vais, transcendental em Alegria e Esplendor; e tua Luz é como um Farol para
aqueles que vagam longe, perdidos na Noite. Amoun.
143. PARENTHESIS DE QUADAM VIRGINE
AGORA, ó meu Filho, Eu te declararei a Virtude daquela Parte do Amor que recebe
e atrai, sendo a Contraparte da tua própria. Pois vê! Eu sou movido em mim
mesmo pela Ausência da Virgem que me foi designada. E a Sofreguidão de Pureza
d'Ela me encompassa com sua macia Ternura, e se enleia em volta minha
com doce Odor, de forma que minha Mente está acesa com uma Flama gentil, sutil
e luminosa, e Eu te escrevo como que num Sonho. Pois neste Encantamento da
Devoção d'Ela Eu sou habilmente arrebatado a Beatitude, com grande Alegria dos
Deuses que esparziram meu Caminho com Flores, sim, muitas Flores e Ervas com
Magia e Santidade igualando a sua Beleza. Aqui, ó meu Filho, Eu me deterei
nesta minha Epístola a ti por algum tempo, para que Eu possa descansar no
Prazer desta Contemplação; pois é um Consolo inefável, e um Recreio como o Sono
entre as Montanhas. Sim, posso Eu desejar-te mais que isto, que, chegado á
minha Idade, tu possas encontrar uma Virgem como esta para te atrair com sua
Simplicidade, e seu bordado Silêncio?
144. DE CONSTANTIA AMORIS, CORVO CANDIDO
NÃO julgues estranho, meu Filho, que Eu, elogiando o Adultério, elogie também
Constância e Deleite neste. Pois isto seria formular mal tua Questão. Aqui há
Verdade, e Sabedoria neste Assunto; que enquanto o Amor não estiver
completamente satisfeito, e equilibrado por inteira Troca e Cumprimento, a
Constância é um Ponto da tua Concentração, e Adultério uma Divisão em tua
Vontade. Mas quando tu alcançaste o Cume e a Perfeição em qualquer Obra, de que
Valor é continuar nela? Tens tu dois Estômagos, como uma Vaca, para ruminar um
Amor já digerido? Porém, ó meu Filho, esta Constância não é necessariamente uma
Estagnação. Contempla o corpo de Nossa Senhora Nuit: ali são encontrados certos
Sois gêmeos, que revolvem continuamente em volta um do outro. Assim também pode
acontecer no Amor; que duas Almas, encontrando-se, descobrem uma na outra tal
Opulência e Riqueza de Luz e Amor que em uma Fase de Vida (ou Encarnação), ou
mesmo em muitas, elas não exaurem aquele Tesouro. Nem direi Eu que tais nã o
sejam em seu Grau e Qualidade Extremamente afortunadas. Mas persistir em Tédio,
em Saciedade, e em Irritação e Aborrecimento mútuos, é contrário ao Caminho da
Natureza. Portanto não existe Regra em nenhum tal Caso; mas a Lei dará Luz a
todo e cada um que a tem em seu Coração, e por aquela Sabedoria que ele se
governe.
145. DE MYSTERIO MALI
ALÉM disto, não digas em teu Silogismo que, desde que qualquer Mudança, seja
ela a Criação de uma Sinfonia ou de um Poema, ou a Putrefação de uma Carcaça, é
um Ato de Amor, e desde que nós não devemos fazer Diferença entre qualquer
Coisa e qualquer outra Coisa, portanto todas as Mudanças são iguais com
Respeito ao nosso Apreço. Pois se bem que isto é uma Conclusão correta em
Termos da tua Compreensão como Mestre do Templo, no entanto ela é falsa aos
Olhos daquele que ainda não atingiu à Compreensão. Portanto, qualquer Mudança
(ou Fenômeno) parece nobre ou vil à Mente imperfeita, na proporção da sua
Consonância e Harmonia com a Vontade que governa aquela Mente. Assim, se for
tua Vontade te deleitares em Ritmo e Economia de Palavras, o Anúncio de uma
Comodidade pode te ofender; mas se tu estás necessitado daquela Mercadoria, tu
te regozijarás com o Anúncio. Elogia então ou culpa qualquer Coisa, como te
parecer melhor; mas com esta Reflexão: que teu Julgamento é relativo à tua
própria Condição, e não absoluto. Isto é também um Ponto de Tolerância, pelo
qual em verdade tu evitarás aquelas Coisas que te são odiosas ou prejudiciais,
a não ser que tu possas (em Nosso Modo) conquistá-las pelo Amor, retirando
delas tua Atenção; mas tu não as destruirás, pois elas são sem Dúvida o Desejo
de outrem.
146. DE VIRTUTE TOLERANTIA
COMPREENDE então de todo Coração, ó meu Filho, que na Luz desta minha Sabedoria
todas as Coisas são Uma, sendo do Corpo de Nossa Senhora Nuit; próprias,
necessárias, e perfeitas. Nenhuma pois existe supérflua ou prejudicial, e
nenhuma é mais honrosa ou desonrosa que outra. Vê! em teu próprio Corpo, o vil
Intestino é de mais Valor para ti que a nobre Mão ou o altivo Olho; pois tu
podes perder estes e viver, mas não aquele. Estima pois cada Coisa em Relação à
tua própria Vontade, preferindo a Orelha se tu amas a Música, ou o Paladar se
amas o Vinho; mas os Órgãos essenciais à Vida acima destes. Respeita também a
Vontade do teu Próximo, não o impedindo em seu Caminho salvo quando ele te
obstruir demasiado no teu. Pois pela Prática desta Tolerância tu chegarás mais
cedo à Compreensão desta Equalidade de todas as Coisas em Nossa Senhora
Nuit; e assim à alta Consecução do Amor Universal. Entretanto, em tua Ação
parcial e particular, como tu és uma Criatura de Ilusão, mantém a reta Relação
de uma Coisa com outra, lutando se tu és Soldado, ou construindo se tu és
Pedreiro. Pois se tu não manténs firme esta Disciplina e Proporção, que permite
sua verdadeira Vontade a toda Parte do teu Ser, o Erro de uma carregará as
outras todas após si à Ruína e à Dispersão.
147. DE FORMULA DEORUM MORIENTIUM
QUE pena, meu Filho! isto tem sito fatal constantemente a muitos Homens de
nobre Aspiração, que estas Palavras estavam ocultas à sua Compreensão. Pois
existe um Balanço em todas as Coisas, e o Corpo tem Alvará para satisfazer sua
Natureza, tal como tem a Mente. Portanto, reprimir uma Função é destruir aquela
Proporção que é saudável, e da qual toda Saúde e Sanidade dependem. Em verdade,
é a Arte da Vida desenvolver casa Órgão do Corpo e Mente, ou, como Eu posso
dizer, Cada Arma da Vontade, à sua Perfeição; nem deformando qualquer Uso, nem
permitindo que a Vontade de uma Parte tiranize aquela de outra. E essa Doutrina
(seja ela amaldiçoada!) de que Dor e Repressão são saudáveis e lucrativas em si
mesmas, é uma Mentira nascida de Pecado e Ignorância, a falsa Visão do Universo
e suas Leis que é a Base da Fórmula Aversa do Deus Emolado. É verdade
que ocasionalmente um Membro deve ser sacrificado para salvar o Corpo inteiro,
como quando alguém amputa a Mão que é mordida por uma Víbora, ou como quando um
Homem dá sua Vida para salvar sua Cidade. Mas esta é uma reta e natural
Subordinação da Vontade superficial e particular à Vontade fundamental e geral,
e é além disto um Caso excepcional, relativo a Acidente ou Extremidade; de
Forma alguma uma Regra de Vida, ou uma Virtude em sua Natureza Absoluta.
148. DE STULTIS MALIGNIS
MEU Filho, existem muitas Aflições e muitos Sofrimentos que redundam dos Erros
dos Homens com Respeito à Vontade; mas não existe nenhum maior que este: a
Interferência dos Intrometidos. Pois tais pretendem conhecer o Pensamento de um
Homem melhor que ele mesmo, e dirigir a Vontade dele com mais Sabedoria que
ele, e fazer Planos para a Felicidade dele. E de todos esses, o pior é aquele
que se sacrifica para o Bem dos seus Semelhantes. Quem é tolo a ponto de não
fazer sua própria Vontade, como será ele sábio para fazer aquela de outrem? Se
meu Cavalo empaca diante de um Obstáculo, deve algum Vadio vir por trás dele, e
bater-lhe nos Cascos? Não, Filho, segue teu Caminho em Paz, para que teu Irmão
te contemplando possa criar Coragem por teu Exemplo, e Conforto por sua
Confiança de que tu não o impedirás por Superfluidade de Compaixão. Que Eu não
comece a te contar dos Danos que Eu tenho visto, cuja Raiz estava em Boas
Intenções, cuja Flor foi Auto-Sacrifício, e cujo Fruto foi Catástrofe. Em
verdade, creio que não haveria Fim de um tal Relato. Agride, rouba, mata teu
Próximo, mas não o confortes a não ser que ele to peça; e se ele pede, toma
cuidado.
149. APOLOGIA PRO SUI LITERIS
ENTÃO, dizes tu, como é este meu Conselho a ti? Em verdade te digo, é minha
Vontade fazer aflorar esta minha Sabedoria do teu Silêncio à minha Mente Consciente,
para que Eu possa com mais Facilidade refletir sobre ela. Tu és apenas um
Pretexto para a minha Ação, e um Foco para a minha Luz. Entretanto, presta
Atenção a estas minhas Palavras, pois elas te serão lucrativas, tu tendo
chegado à Maioridade, e sendo livre na Lei de Télema. Assim tu podes ler ou
não, concordar ou não, como tu queres. Não te instruí Eu no Caminho de Balanço,
ou de Antítese, mostrando-te a Arte da Contradição, pela qual tu não aceitas
nenhuma Palavra salvo como a Vencedora em tua Mente sobre o seu Oposto? Não,
mais: como a Criança Transcendental de um Casamento de Opostos? Este Livro
então servirá apenas como um Alimento para a tua Meditação, como um Vinho para
excitar tua Mente ao Amor e à Guerra. Será para ti como uma Carruagem par a te
carregar onde tu queres ir; pois Eu vi em ti Independência, e Sobriedade de
Julgamento, com aquela Faculdade (mui rara, mui nobre!) de examinar livremente;
nem subserveniente nem rebelado contra Autoridade.
150. LAUS LEGIS THELEMA
ESTA Propriedade de tua Mente, meu Filho, é verdadeiramente de sublime Virtude;
pois a Gente Vulgar é confundida, e seu Juízo é anulado, pela sua Reação
emocional. Eles são desviados pela Eloqüência de um Imbecil ou fascinados por
um Nome, ou um Cargo, ou a Magia de um Alfaiate; outrossim pode acontecer que
eles, tendo sido feitos de Bobos com demasiada Freqüência, rejeitem sem
Reflexão, mesmo como a princípio eles aceitavam. Também, eles tendem a crer no
melhor ou no pior, conforme Esperança ou Medo predomina neles no momento.
Assim, eles perdem Contato com a Lâmina da Realidade, e esta os atravessa.
Então eles em Delírio de suas Feridas aumentam a Ilusão, entrincheirando-se em
Crença naquelas Fantasias criadas pelas suas Emoções ou impressas na Tolice
deles, de forma que suas Mentes não tem Unidade, ou Estabilidade, ou
Descriminação, mas se tornam Mixórdia, e o esterco de Choronzon. Ó meu Filho,
contra isto a Lei de Télema é uma Segura Fortaleza, pois através da Busca por
tua Verdadeira Vontade a Mente é Balançada em volta desta, e confirma seu Vôo,
como as Plumas sobre uma Flecha; de forma que tu tens uma Pedra de Toque da
Verdade, e Experiência te conservando em contato com a Realidade, e o Senso de
Proporção. Agora pois vê de ainda outro Quadrante do Céu a absoluta Virtude de
Nossa Lei.
151. DE SPHINGE AEGYPTIORUM
É AGORA expediente que Eu te instrua com respeito aos Quatro Poderes da
Esfinge, o Estrangulador. Antes de mais nada, este, o mais oculto dos Mistérios
da Antiguidade, jamais foi em qualquer Época o Instrumento dos
deuses-dos-escravos; mas foi, através do escuro Aeon de Osíris, uma Testemunha
da Luz e da Verdade de Horus, da sua Força e Fogo. Tu não podes de modo algum
interpretar a Esfinge em termos da Fórmula do Deus Sacrificado. Isto Eu compreendi
mesmo quando como Eliphas Levi Zahed Eu vaguei pela Terra, buscando uma
Reconciliação destes Antagonistas, o que era uma Tarefa impossível; pois
naquele Plano eles tem Antipatia. (Da mesma forma nenhum Homem pode formar um
Quadrado Mágico com Quatro Unidades.) Mas a Luz do Novo Aeon revela a Esfinge
como o Verdadeiro Símbolo desta Nossa Santa Arte de Magia sob a Lei de Thelema.
N'Ela está o Equalizado Desenvolvimento e Disposição das Forças da Natureza
cada qual em sua Pujança Equilibrada; também, o Verdadeiro Nome d'Ela é Alma de
NU, tendo o Digamma por Phi, e termina em Upsilon, não em Xi, de forma que a
Ortografia dela é ESFINGE, cuja Numeração é Seiscentos e Sessenta e
Seis. Mas aqui está o meu Enigma de Enigmas. Pois a Raiz aí é SF, que significa
a Encarnação do Espírito; e relacionados a essa Raiz não são apenas o Sol,
Nosso Pai, mas Sumer, onde o Homem se sabia Homem, e Soma, a divina Poção que
dá Iluminação, e Scin, Luz Astral, e Scire também, por uma Derivação Longíqua.
Mas especialmente está esta Raiz oculta em Sus, que é de Sow, Suíno; porque o
Mais Santo necessariamente tem seu Deleite sob o Umbigo do Imundo. Mas isto
estava oculto por Sabedoria, a fim de que o Arcano não fosse profanado durante
o Aeon do Deus Sacrificado. Porém agora me foi dado compreender o Coração do
Mistério d'Ela, e portanto, ó meu Filho, por Direito do Grande Amor que Eu te
tenho, Eu te informarei a respeito.
152. DE NATURA ESFINGE
PRIMEIRAMENTE, esta Esfinge é um Símbolo do Coito de Nossa Senhora BABALON
comigo A BESTA em sua Compleição. Pois tal como Eu sou do Leão e do Dragão,
assim é Ela do Homem e do Touro, em nossas Naturezas; mas o Oposto disso em
nossos Cargos, como tu podes compreender pelo Estudo do Livro da Visão e da
Voz. A Esfinge é pois um Glifo da Satisfação e Perfeição da Vontade e da Obra,
da Compleição do Verdadeiro Homem como o Reconciliador do Mais Alto com o Mais
Baixo, por assim dizer. Este então é o Adepto: que Quer com sólida Energia como
o Touro, Ousa com Coragem impetuosa como o Leão, Sabe com Inteligência rápida
como o Homem, e Mantém Silêncio com subinte Sutileza como a Águia ou Dragão.
Além disto, esta Esfinge é um Eidolon da Lei, pois o Touro é Vida, o Leão é
Luz, o Homem é Liberdade, a Serpente é Amor. Agora, esta Esfinge, sendo perfeita
em verdadeiro Equilíbrio, no entanto toma o Aspecto do Princípio Feminino, para
que possa ser Parceira da Pirâmide, que é o Falo, pura Imagem de Nosso Pai o
Sol, a Unidade criadora. O Significado deste Mistério é que o Adepto deve ser
completo, Ele Mesmo, contendo todas as Coisas em verdadeira Proporção, antes
que Ele se faça a Noiva do Universo Uno Transcendental, em sua mais Secreta
Virtude. E agora portanto, ó meu Filho, que compreendes este Mistério por tua
Inteligência, Eu te escreverei mais destas Quatro Bestas ou Poderes.
153. DE TAURO
CONCERNENTE AO TOURO, este é tua Vontade, constante e incansável, cuja letra é
Vau, que é Seis, o número do Sol. Ele é portanto a Força e a Substância do teu
Ser; mas além disto, ele é o Hierofante do Tarô, como se isto fosse dito: que
tua Vontade te conduz ao Sacrário da Luz. E nos Ritos de Mitras o Touro é
morto, e seu Sangue derramado sobre o Iniciado, para conferir-lhe aquela
Vontade e aquele Poder de Trabalho. Também, na Terra da Índia, o Touro é consagrado
a Shiva, que é Deus entre aquela Gente, e para eles é o Destruidor de todas as
Coisas. E este Deus é também o Falo, pois esta vontade opera através do Amor,
tal como está escrito em Nossa Própria Lei. Novamente, Ápis, o Touro de Khem
tem Khephra o Escaravelho sobre Sua Língua, o que significa que é por esta
Vontade, e por este Trabalho, que o Sol chega da Meia-Noite à Madrugada. Todos
estes Símbolos são extremamente semelhantes em sua Natureza, diferindo apenas
na medida em que os Escravos dos Deuses-Escravos leram sua própria Fórmula na
Simplicidade da Verdade. Pois não há Nada tão simples que a Ignorância e a
Malícia que não possam confundí-lo e interpretá-lo erroneamente; mesmo como o
Morcego é ofuscado e confundido pela Luz do Sol. Vê então que compreendas este
Touro em Termos da Lei deste Nosso Aeon.
154. DE LEONE
DO LEÃO, ó meu Filho, seja dito que este é a Coragem da tua Hombridade, pulando
sobre todas as Coisas, e apossando-se delas para tua Presa. A Letra dele é
Teth, cujo Significado é uma Serpente; e seu Número é Nove, ao qual corresponde
Aub, o Fogo Secreto de Obeah. Também, Nove é de Jesod, unindo a Mudança com a
Estabilidade. Mas no Livro de Thoth Ele é o Atu chamado Força, ou, mais
verdadeiramente, Ardor, cujo Número é ONZE, que é Aud, a Luz Ódica da
Magia. E aí está figurado o Leão, mesmo A BESTA, e Nossa Senhora BABALON
montada n'Ele, para que com suas Côxas Ela possa Estrangulá-Lo. Aqui Eu
quereria que tu notasses bem como estes nossos Símbolos são cognados e fluem
uns nos outros; porque cada Alma partilha em sua Medida do Mistério de
Santidade, e é Parenta do seu Próximo. Mas agora deixa-me mostrar como este
Leão de Coragem é mais especialmente a Luz em ti, como Leo é a Casa do Sol que
é o Pai da Vontade, urgindo a esta que pule àvante e conquiste. Também por isto
é a Natureza de teu Leão forte com Audácia e Ardor de Batalha; outrossim tu
temerias aquilo que te é dessemelhante, e o evitarias, de forma que sua
Separatividade cresceria sobre ti. Por este Motivo aquele que é deficiente em
Coragem se torna um Irmão Negro, e Ousar é a Coroa da tua Virtude inteira, a
Raiz da Árvore da Verdadeira Magia.
155. ALTERA DE LEONE
VÊ! NA Primeira de tuas Iniciações, quando Primeiro a Venda foi levantada dos
teus Olhos, tu foste conduzido ao Trono de Horus, o Senhor do Leão, e por Ele
foste encorajado contra o Medo. Além disto, em Minutum Mundum, o Mapa do
Universo, é o Caminho do Leão que liga as duas mais elevadas Faculdades da tua
Mente. Novamente, é Mau, o Sol no Brilho do Meio-Dia, que é chamado o Leão, mui
senhoril, em nossa Santa Invocação. Sekhet nossa Senhora é figurada como uma
Leoa, pois ela é aquele Ardor de Nuit por Hadit que é a Impetuosidade da Noite
das Estrelas, e a Necessidade delas; daí também é Ela um verdadeiro Símbolo de
tua própria Fome de Consecução; a Paixão de tua Luz por ousar tudo pela sua
Compleição. É pois a Posse desta Qualidade que determina a tua Hombridade; pois
sem ela tu não és impelido à Magia, e tua Vontade é apenas a Resignação e
Paciência do Escravo sob o Látego. Por esta Causa, o Touro sendo de Osiris, foi
necessário que os Mestres dos Aeons me incarnassem como (mais especialmente);
um Leão; e minha Palavra é antes de mais nada uma Palavra de Iluminação e
Emancipação da Vontade, mostrando a todo Homem uma Fonte d'Ele Mesmo para
determinar a Vontade d'Ele, e não mais a de algum outro. Levanta-te portanto, ó
meu Filho, arma-te, apressa-te à Batalha!
156. DE VIRO
APRENDE agora que este Leão é uma Qualidade natural no Homem, e secreta, de
maneira que ele não está cônscio dela, a não ser que ele seja Adepto.
Portanto é necessário também que Saibas, pela Cabeça da tua Esfinge. Esta então
é a tua Liberdade: que o Impulso do Leão deva se tornar consciente através do
Homem; pois sem isto tu és apenas um Autômato. Este Homem, além disto, te faz
compreender e te adaptares ao teu Meio Ambiente; outrossim, sendo destituído de
Julgamento, se tu segues de ponta-cabeça na direção de um Precipício. Pois toda
Estrela em sua Órbita não mantém seu Caminho obstinadamente, mas é sensitiva a
toda outra Estrela, e sua Natureza é fazer isto. Ó Filho, quantos são aqueles
que Eu já vi persistindo em um Curso fatal, na Crença de que sua Rigidez mortal
era exercício da Vontade! Saber: isto é o que te ensina como melhor tu podes
executar sua Vontade. E a Letra do Homem é Tzaddi, cujo Número é Noventa, que é
Maim, a Água que se conforma perfeitamente com seu Vaso, que busca
constantemente seu Nível, que penetra e dissolve a Terra, que resiste à Pressão
apesar da sua Adaptabilidade, que sendo aquecida é de Força suficiente para
movimentar grandes Maquinismos, e que sendo gelada arrebenta as Montanhas. Ó
meu Filho, busca sem saber!
157. DE DRACONE, QUAE EST AQUILA, SERPENS, SCORPIO
TRIPLA é a Natureza do Amor: Águia, Serpente, e Escorpião. E destes o Escorpião
é aquele que, não tendo nenhum Leão de Luz e Coragem dentro de si, parece a si
mesmo cercado por Fogo; e cravando seu Ferrão em si mesmo ele morre. Assim são
os Irmãos Negros, que gritam: Eu sou Eu; aqueles que negam o Amor,
restringindo-o à sua própria Natureza. Mas a Serpente é a Natureza Secreta do
Homem, que é Vida e Morte, e trilha seu Caminho através das Gerações em
Silêncio. E a Águia é aquela Pujança do Amor que é a Chave da Magia, levantando
o Corpo e os Acessórios deste ao Alto Êxtase sobre suas Asas. É por Virtude
desta que a Esfinge contempla o Sol sem piscar, e confronta a Pirâmide sem
Vergonha. Nosso Dragão, portanto combinando as Naturezas da Águia e da
Serpente, é o nosso Amor, o Instrumento da nossa Vontade, por cuja Virtude nós
executamos a Obra e Milagre da Substância Única, como diz teu Antepassado
Hermes Trismegistus em sua Tábua de Esmeralda. E este Dragão é chamado o teu
Silêncio, porque na Hora da Operação dele aquilo dentro de ti que diz
"Eu" é abolido em sua Conjunção com o Bem Amado. Por esta Causa também
é sua Letra Nun, que em nossa Rota é o Trunfo Morte; e Nun tem o Valor de
Cinquenta, que é o Número dos Portais da Compreensão.
158. 'DE QUATTUOR VIRTUTIS ESFINGE
VÊ agora a nossa Esfinge, com que Sutileza e Arte Ela toma Corpo! Aqui está a
tua Luz, o Leão, a Necessidade da tua Natureza, fortificada por tua Vida, o
Touro, o Poder de Trabalhar, e guiada por tua Liberdade, o Homem, o
Discernimento para Adaptar a Ação ao Ambiente. Estas são três virtudes em Uma,
necessárias a todo Movimento eficiente; como Eu poderia dizer em uma Imagem, o
Ardor do Arqueiro, a Força propulsora do Braço dele, e o Controle equilibrante
e dirigente do seu Olho. Destes três, se um falha, o Alvo não é atingido. Mas
espera! Não é um quarto Elemento essencial à Obra? Sim, certamente; tudo seria
vão sem a Máquina: Arco e Flecha. Esta Máquina é o teu Corpo, possuído por ti e
usado por ti em tua Obra, entretanto não Parte de ti; tal como suas Armas ao
Arqueiro em minha Imagem. Assim, teu Dragão deve ser estimado por teu Leão; mas
se te faltam Energia e Resistência do teu Touro, tuas Ferramentas jazem
ociosas; e se te faltam Astúcia e Inteligência, com Experiência também, de teu
Homem, teu Dardo voa torto. Portanto, ó meu Filho, aperfeiçoa-te nestes Quatro
Poderes, e isso com Equidade.
159. DE LIBRA, IN QUA QUATTUOR VIRTUDES AEQUIPOLLENT
POR Gñana yoga chega teu Homem ao
Conhecimento; por Karma Yoga chega
teu Touro à Vontade: por Raja Yoga é teu
Leão trazido à sua Luz; e para tornar perfeito o teu Dragão, tu tens Bhakta Yoga para a Águia ali, e Hatha Yoga para a Serpente. Entretanto,
marca bem como todos estes se interfundem, de forma que tu não podes executar
qualquer dos Trabalhos separadamente. Tal como para fazer Ouro tu deves ter
Ouro (na Palavra dos Alquimistas), assim para te tornares A Esfinge tu deves
antes de mais nada ser uma Esfinge. Pois nada pode crescer salvo pela Norma de
sua própria Natureza, e dentro da Lei de sua própria Lei; ou será apenas
Artifício, que não dura. Portanto é Tolice, e um Atentado contra a Verdade,
procurares conseguir o que quer que seja salvo a satisfação de tua própria
verdadeira Natureza. Organiza pois tuas Obras de Acordo com teu Conhecimento
daquela Norma, tão bem quanto possas, sem prestares atenção à Importunidade
daqueles que tagarelam do Ideal. Pois esta Mania deles de Regra e Uniformidade
gerais é própria apenas a uma Prisão; e um Homem vive por Elasticidade, e não
tolera Rigidez salvo na Morte. Aquele que cresce fisicamente por uma Lei extrânea à sua própria Natureza, ele tem um Câncer, e sua inteira Economia será
destruída por aquela pequena Desobediência.
160. DE PYRAMIDE
AGORA por fim tu estás preparado para confrontar a Pirâmide, quando estás
estabelecido como uma Esfinge. Pois a Pirâmide também tem a Base quadrada de
Lei, e os Quatro Triângulos de Luz, Vida, Amor e Liberdade para seus Lados, que
se encontram em uma Ponta de Perfeição que é Hadit, pousado para o Beijo de
Nuit. Mas nesta Pirâmide não existe Diferença entre os Lados quanto a forma,
como existe em tua Esfinge; pois eles são completamente Um, salvo em Direção.
Tu és pois uma Harmonia dos Quatro em Virtude de tua Consecução do Adeptado, a
Coroa da tua Hombridade; mas não uma Identidade, como na Divindade. Portanto
pode ser dito de um Ponto de Vista que tua Consecução é apenas uma Preparação;
um Adereçamento da Noiva para o Templo de Hymen, e para o Rito deste. Em
verdade, ó meu Filho, Eu creio em minha Sabedoria que este inteiro Trabalho de
Teu Desenvolvimento como Esfinge precede o Trabalho de Teurgia; pois o Senhor
não desce sobre um Templo mal-concebido, e mal-construído, nem permanece em um
Sacrário indigno. Executa portanto esta Tarefa em Paciência, com Assiduidade,
sem te apressares furiosamente em direção à Divindade. Pois isto é certíssimo
que a Beleza de uma Donzela atrai o Ardor de seu Senhor, espontaneamente, e sem
Esforço ou Apelo por parte dela.
161. PROLEGOMENA DE SILENTIO
MAS agora concernente ao Silêncio, ó meu Filho, Eu te falarei mais. Pois por
isto nós não significamos a Mudez daquele que está possesso de um Demônio Mudo.
Este Silêncio é o Dragão da tua Natureza Inconsciente; não apenas o Êxtase ou
Morte de teu Ego na Operação de seu Órgão, mas também, em sua Unidade com teu
Leão, a Verdade de teu Ser. Assim, é teu Silêncio o Caminho do Tao, e Toda Fala
é um Desvio dele. Este Leão e Dragão são portanto de teu Ente, e o Homem e o
Touro são as suas Contrapartes Femininas, sendo a Graça de Nossa Senhora
BABALON, que Ela te concede em teu Adultério com Ela. Eles são pois como uma
Vestimenta de Honra, e uma Recompensa, que são conquistadas pela Intensidade da
tua Luz e do teu Amor. Por isto com justiça nós estimamos os Homens na Medida
da Inteligência e da Força deles; desde que eles são iguais no que concerne à
sua Divindade essencial. Cuida portanto de que, se tu fores bem favorecido por
nossa Senhora, teu Leão e teu Dragão cresçam em igual Medida; pois o Excesso do
Feminino é Peso Morto. O Intelectual sem Virilidade é um Sonhador de Tolices, e
o laborioso Gigante sem Coragem é um Escravo.
162. DE NATURA SILENTTI NOSTRI
A NATUREZA deste Silêncio é mostrada também pelo Deus Harpócrates, o Bebê no
Lotus, que é também a Serpente e o Ovo, isto é, o Espírito Santo. Esta é a mais
Secreta de todas as Energias, a Semente de todo Ser; e portanto é preciso que
Ele seja selado em uma Arca contra a Malícia dos Devoradores. Se então por tua
Arte tu és capaz de velar teu Ente em tua própria Natureza, isto é Silêncio, tu
estás em uma Cidade de Refúgio, e as Águas não prevalecem contra o Lotus que te
contém. Esta Arca ou Lotus é então o Útero de Nossa Senhora BABALON, sem o qual
tu serias presa do Nilo e dos Crocodilos que ali estão. Agora, ó meu Filho,
atenta bem nisto que Eu te escreverei para teu Aviso e Proveito --- que este
Silêncio, se bem que é Perfeição de Deleite, é apenas a Gestação do teu Leão; e
em tua Estação tu deves Ousar, e sair para a Batalha. Outrossim, não seria esta
Prática de Silêncio semelhante à Fórmula de Separatividade dos Irmãos Negros?
163. DE FORMULA RECTA DRACONIS
REALMENTE, ó meu Filho, nisto está o Perigo e a Traição do teu Escorpião. Pois
a sua Natureza é contra si mesmo, sendo o mais íntimo Ego; isto é, um Ente
separado do Universo; e esta é a Raiz do Mistério Inteiro do Mal. Pois ele tem
em si o Poder Mágico, e se ele não o usa, ele se envenena a si mesmo; tal como
qualquer Órgão do Corpo que rejeita sua Função. Assim pois sua Cura está no seu
Aliado o Leão, que não teme os Crocodilos, nem se esconde, mas pula sôfrego
àvante. O Caminho do Místico tem este Mundéu: que, se bem que ele se une com
seu Deus, seu Método é separar-se daquilo que lhe parece não é Deus; e assim
ele afirma e confirma o Demônio, isto é, a Dualidade. Sê tu pronto portanto, ó
meu Filho, em te retirares de todo Ato de Amor no momento da total Satisfação,
arremessando a Pujança Invocada por ele contra um novo Oposto; pois a Fórmula
de todo Dragão é Movimento Perpétuo ou Mudança, e portanto permanecer na
Satisfação da tua Natureza é uma Estagnação, e uma Violação da tua Natureza,
fazendo a Dualidade de Conflito, que é a Queda a Choronzon. A que haja
Restrição no Nome de BABALON.
164. DE SUA CARTA COELORUM
EU te rogo que atentes, ó meu Filho, em como a Graça da Natureza foi benigna na
minha Natividade, para Reto Equilíbrio e Formulação da minha Esfinge. Pois
Netuno estava no Signo de Touro, dando Força e Estabilidade à minha Essência
Espiritual. Urano estava ascendendo no Leão, para fortificar a minha Vontade
Mágica com Coragem, e para voltá-la à Salvação do Homem. No Aguador estava
Saturno, para tornar minha Inteligência sóbria, profunda, e capaz de Trabalho.
Júpiter, com Mercúrio Seu Arauto, estava em Escórpio, harmonizando-me com minha
Palavra de acordo com a Essência da minha Natureza. Dos outros, Marte estava
exaltado no Bode, para Resistência física no Trabalho; o Sol, estava conjugado
com Vênus na Balança, para Julgamento em Arte e na Vida, e para Equanimidade de
Temperamento. Finalmente, a Lua estava no Signo dos Peixes, sua Habitação
amada, para uma Dádiva de Sensitividade e Glamour.
Que então sou Eu? Eu sou um Efeito transiente de Causas infinitas, uma Criança
de Mudanças. Não existe Eu, ó tu que não és tu, outrossim estaria Eu segregado,
e seria uma Estagnação, uma Coisa de Ódio e de Medo. Mas sempre-movente,
sempre-mudando, há uma Estrela no Corpo de nossa Senhora Nuit, cuja Palavra é
Zero e Dois.
165. DE OPERE SUO
EU não sou Eu. Então, dizes tu, por que existe esta Palavra? Aprende, ó meu
Filho, que a Primeira Pessoa é apenas um Pigmento Comum na Linguagem dos
Homens, que o Magus pode utilizar sem Implicações de Metafísica. Entretanto, no
Mistério da Ilusão, que é o Instrumento da Vontade Universal, Eu não direi a
Rameira de Seu Prazer, estão manifestadas estas muitas Estrelas, e entre elas
aquele Logos do Aeon de Horus que tu chamas TO MEGA THERION e teu Pai. E
isto se passou em Virtude da Intensidade da Vontade de Mudar, através de muitas
Fases-Serpentinas de Vida e de Morte, até que nesta Fase do Jogo a Manifestação
dela é a Pronunciação desta Palavra do Aeon, esta Lei de Thelema, que será
durante uma Estação a Fórmula da Magia da Terra. Quem então deveria inquirir
sobre o Destino futuro daquela Estrela, ou de qualquer outra? É o Jogar da
Partida, e a Operação de sua Função é suficiente para ela. Livra-te portanto
deste Pensamento de "Eu" àparte do Todo; mas, alcançando a
Consciência do Todo por Nosso Verdadeiro Caminho, contempla o Jogo da Ilusão
através de teu Instrumento de Mente e Senso, deixando sem Cuidado que esse
Instrumento continue em seu próprio Caminho de Mudança.
166. DE FRATRIBUS NIGRIS
Ó MEU Filho, aprende isto sobre os Irmãos Negros, aqueles que exultam: Eu sou
Eu. Isto é Falsidade e Ilusão, pois a Lei não tolera Exceção. Portanto estes
Irmãos não estão Àparte, como eles vãmente pensam laborando em Erro; mas são
Combinações peculiares da Natureza da Variedade d'Ela. Regozija-te pois mesmo
na Contemplação destes; pois eles são próprios à Perfeição, e Adornos de
Beleza, como uma Pinta sobre a Bochecha de uma Mulher. Direi Eu então que se
fosse de tua própria Natureza, mesmo a tua, compor um Complexo tão sinistro, tu
não deverias lutar contra isso, destruindo-o através do Amor, mas persistir
naquele Caminho? Eu não nego isto apressadamente, nem o afirmo; não, darei Eu
mais mesmo qualquer Indício daquilo que Eu posso prever? Pois é de minha
Natureza pensar que neste Assunto a Soma da Sabedoria é Silêncio. Mas isto Eu
digo, e ousadamente: que tu não olharás este Horror com Medo, ou com Ódio, mas
o aceitarás como fazes com tudo: como um Fenômeno de Mudança, isto é, de Amor.
Pois em uma rápida Correnteza tu podes ver um Graveto que permanece parado
durante algum tempo devido ao Jogo da Água; e através desta Analogia tu podes
compreender a Natureza deste Mistério do Caminho de Perfeição.
167. DE ARTE ALCHEMISTICA
FAMILIARIZAR-TE-ÁS mais agora por minha Exprobação com este Arcano de Alchymia,
a Arte Egípcia, como fazer Ouro? Seguramente tu já sabes, se examinas pela
nossa Santa Qabalah, quais as Forças que são o Influxo sobre Tiphereth, que é a
Harmonia e Beleza, ou Sol, em todo Reino do Universo, portanto também entre os
Metais. Agora, este Influxo é Quíntuplo. Primeiro, da Coroa desce a
Grã-Sacerdotiza no Caminho da Lua, para Inspiração, e Imaginação, e Idéia; vê
que esta Virgem seja Pura, pois Erro nisto é Ilusão. Depois, do Pai flui a
Virtude da Estrela no Caminho do Aquário, para Iniciativa, e Energia, e
Determinação, no Mais Íntimo. Terceiro, da Mãe são os Amantes no Caminho dos
Gêmeos, para Complecção Intelectual, e para Ajustamento ao Ambiente. Estes Três
são das Supernas, e completam o Teórico da tua obra. Depois disto, na Prática e
Execução desta, tu tens o Eremita como uma Influência da Esfera de Júpiter no
Caminho da Virgem, para Segredo, para Concentração e para Prudência.
Finalmente, da Esfera de Marte, viaja a Justiça no Caminho da Balança, para
Discernimento, e Tato, e Arte. Ó meu Filho, neste Capítulo há mais Sabedoria
que em Dez Mil Fólios dos Alquimistas! Estuda portanto para adquirir Habilidade
neste Método, e Experiência; pois este Ouro é não apenas dos Metais, mas de
toda Esfera, e esta Chave é de Virtude para entrar em todo Palácio de
Perfeição.
168. DE FEMINA: QUAE EST PROPRIA JOCO
Ó MEU Filho, ouve esta Sabedoria de Experiência, como à tua primeira Vista,
quando Eu te pus nos Braços de Ahitha tua doce Madrasta minha Concubina, tal
era a tua Beleza que ela se enamorou de ti, gritando: Ah me, se tal é o Fruto
de tua Magia, ó meu Mestre, então deixa que eu, mesmo eu, me dedique a esta
Santa Arte por completo. Então Eu, tornando-me pesado em Espírito, fiz-lhe
Pergunta, dizendo: Para que Fim? e com isto ela ficou confusa e desnorteada;
mas após muito tempo, vasculhando seu Resquício de Mente, deu Resposta, como um
Espantalho num Campo arado, tão esfarrapado e andrajoso era de Pensamento.
Assim ficou ainda mais Amargurado e Preguiçoso este Fígado de teu Pai, de forma
que Eu caí numa Tristeza quase que der Pranto. Então ela, contemplando-me com
Espanto, gritou-me: Não estás alegre em teu Coração, ó meu Mestre? A isto Eu
dei um profundo Suspiro, mesmo como alguém a ponto de Morte. E Ela: se é assim,
então não há mais Necessidade de eu me dedicar à Magia. Com isto, percebendo
ainda uma vez a Comédia Universal de Nosso Senhor Pan, fui Eu engulido (como
Jonah da velha fábula) na Barriga da Baleia chamada Riso; e me parece no
momento desta Escritura que Eu sou capaz de permanecer ali durante o Tempo que
me resta neste Corpo.
169. DE FORMULA FEMINEA
AGORA, este é o reto Poder e Propriedade de uma Mulher: arranjar e ajustar
todas as Coisas que existem, em suas Esferas respectivas; mas sem criar ou
transcender. Portanto, em todos os Assuntos práticos é Ela de Pujança e
Discernimento para produzir um Efeito consonante com sua Disposição. E seu
Símbolo é a Água, que busca o Nível, quer por Cólera, devorando as Montanhas
(entretanto mesmo nisto tornando lisas as Planícies), ou por Amor, em
Fecundidade da Terra. Mas é o Fogo do Homem que levantou essas Montanhas, com
grande Tumulto. O Homem portanto causa Problema e Dificuldade por sua Violência,
seja a Vontade dele conveniente ao seu Ambiente, seja antipática; mas a Mulher
perturba por Manipulação, reta ou sinistra conforme seu Humor é de Ordem ou de
Desordem. Para qualquer Homem, portanto, interferir nos Assuntos d'Ela é
Tolice, pois ele não compreende a Quietude; assim também para ela, emulá-lo no
Cargo dele é Fatuidade. Portanto, em Magia, se bem que a Mulher exceda todos os
Homens em toda Qualidade que lhe é útil para Consecução, entretanto ela Nada é
naquela Obra, tal como um Homem sem mãos na Oficina de um Carpinteiro pois ela
não possui o Organismo que poderia fazer Uso desta Oportunidade. De tudo isto
está ela cônscia por seu Instinto, pois a Natureza dela é compreender,
mesmo sem Conhecimento; e se tu duvidas da Sabedoria de teu Progenitor nisto,
busca uma Mulher (mas com Precaução) e afirma estas minhas Palavras. Então ela
ficará furiosa, e te olhará aterradoramente, proclamando em Voz estridente suas
muitas Excelências, que ela possui, e que nada tem a ver com este Assunto.
170. VERBA MAGISTRI SUI DE FEMINA
É QUASE a Cinquentésima Parte de Mil Anos, ó meu Filho, desde que Eu obtive
Favor nos Olhos de um grande Mestre de Verdade que os Homens chamaram Allan
Bennett, de forma que ele me recebeu como seu Discípulo em Magia. E ele foi
insistente comigo neste Assunto, e veemente, adjurando seus Deuses que isto
(que Eu mesmo aqui acima te declarei) era a Verdade sobre a Natureza da Mulher.
Mas Eu sendo apenas um Mancebo, e teimoso, e estando cheio de Amor pelas
Mulheres, e de Admiração por elas, e Devoção, deleitando-me sôfrego nelas, e
delas aprendendo constantemente, nutrido pelo Leite do seu Mistério, tal como
deve ser para todos os Verdadeiros Homens, resisti colericamente contra a
Doutrina daquele Santíssimo Homem de Deus. E porque (como estava escrito) ele
era Virgem Votado de Nascença, e não tinha Comércio com nenhum no Caminho da
Carnalidade, Eu menoscabei o Julgamento dele nisto, como se ele sendo um Peixe,
tivesse negado o Vôo das Aves. Mas Eu, ó meu Filho, não sou totalmente ignorante
das Mulheres, salvo como todos os Homens devem ser na Limitação de sua
Natureza, pois o Número de minhas Concubinas não é notavelmente ou
vergonhosamente excedido por aquele das Fases da Lua desde o meu Nascimento.
Muitos foram também meus Discípulos de Magia que eram Mulheres, e (mais ainda)
Eu devo, admitindo-o com franca Alegria, a Maior Parte de minha própria
Iniciação e Avanço à Operação de mulheres. Apesar de todas estas Coisas, Eu me
curvo humildemente diante de Allan Bennett, e me arrependo de minha insolência,
pois o que ele disse era pura Verdade.
171. DE VIA PROPRIA FEMINIS
É REALMENTE fácil para uma Mulher obter as Experiências da Magia, de certo
Tipo, como Visões, Trances e outras tais; porém, estas coisas não tomam Posse
dela, para transformá-la, como acontece com os Homens; mas apenas passam como
Imagens sobre um Espelho. Assim, pois, uma Mulher nunca progride em Magia; mas
permanece a mesma, reta ou erradamente organizada de acordo com a Força que A
move. Aqui portanto está o Limite da Aspiração dela em Magia: permanecer alegre
e obediente sob o Homem que seu Instinto adivinhará, de forma que, tornando-se
por Hábito um Templo bem arrumado, belo e consagrado, ela possa em sua próxima
Encarnação atrair por sua Aptidão uma Alma-de-Homem. Por esta Causa tem o Homem
apreciado Constância e Paciência como Qualidades preeminentes em Boas Mulheres;
porque por estas a Mulher ganha sua Ida à Nossa Divindade. Sua Ordália é pois
principalmente resistir aos Humores, que causam Desordem, que é de Choronzon.
Ao qual haja Restrição no Nome de BABALON. Também, que ela se contente neste
Caminho, pois em verdade ela tem uma nobre e uma excelente Porção em Nosso
Santo Banquete, e escapa a muitos Perigos que são próprios a nós outros. Mas
que ela esteja em Guarda e tenha Cautela, pois nela não há princípio de
Resistência a Choronzon; de forma que se ela se torna desordenada em seus
Humores, como por Luxúria, ou por Embriaguez, ou por Ócio, ela não tem
Estandarte em torno do qual possa mobilizar suas Forças. Nisto vês a
necessidade que ela tem de uma Vida bem regrada, e de um Verdadeiro Homem para
seu Deus.
172. DE HAC RE ALTERA INTELLIGENDA
ATENTA então, ó meu Filho, como nos Antigos Livros de Magia é o Homem que vende
sua Alma ao Diabo, mas é a Mulher que faz Pacto com ele. Pois ela tem
constantemente o Discernimento e Poder de arranjar as Coisas ao Comando dele, e
ela paga este preço pela Aliança dele. Mas um Homem possui uma Jóia, e
mercadejando isto, ele se torna a Zombaria de Satanás. Que isto portanto te
instrua em tua própria Arte de Magia, para que tu empregues Mulheres em todos
os Assuntos Práticos, para organizá-los com Astúcia; mas Homens em tua
Necessidade de Transfiguração ou Transmutação. Em uma Imagem, que a Mulher
dirija o Jogo de Xadrez da Vida, mas que o Homem altere as Regras, se ele quer.
Vê! em mau Jogo há Perturbação e Desordem; mas em uma Nova Lei há Terremoto, e
Destruição da Raiz das Coisas. Portanto há Medo de qualquer Homem que esteja em
Comércio com seu Gênio, pois nenhum sabe se a Lei dele consertará o Jogo ou lhe
causará Dano; e disto a Prova está em Experiência, obtida após a Vitória da
Vontade dele, quando não há Caminho de Volta; assim mesmo diz o Poeta: Vestigia Nulla Retrorsum. Nem temas tu
criar; pois tal como Eu escrevi no Livro de Mentiras (falsamente
assim-chamado), tu não podes criar nada que não seja Deus. Mas cuida-te de
falsas Criações executadas por Mulheres que não tem Função criadora; pois tais
são Fantasmas, Vapores venenosos, engendrados pela Lua em sua Feitiçaria de
Sangue.
173. DE CLAVIBUS MORTINS ET DIABOLI, ARCANIS TARÔT FRATERNITATIS A.'.A.'
.
SERÁ lucrativo para ti, ó meu Filho, que Eu erro, que Eu te instrua no Mistério
dos Caminhos de Nun e de Ayn, que em nossa Rota estão figurados no Atu chamado
Morte, e naquele chamado O Diabo. Destes, Nun une o Sol com Vênus, e está
referido a Scorpio no Zodíaco. Este Caminho é perigoso, pois busca o Nível, e
pode te rebaixar a não ser que tu prestes Atenção ao Ir. Dos seus três Modos, o
Escorpião se destroi a si mesmo, como um Tipo de Prazer Animal. A seguir, a
Serpente é própria a Trabalhos de Mudança, ou Magia; entretanto, também ela é
venenosa, a não ser que tu tenhas Discernimento para encantá-la. Finalmente, a
Águia é a mais sutil neste Assunto, de forma que esta Vereda é própria para um
Trabalho Transcendental. Entretanto estão todos estes no Caminho da Morte, e
assim tua Baqueta é dissolvida e corroída nas Águas da Taça, e tem que ser
renovada por Virtude de tua Natureza em Seu Curso. Pois o Fogo é extinguido
pela Água; mas sobre a Terra ele queima livremente, e é inflamado pelo Vento.
Compreende também isto que está escrito a respeito da Vesica: que esta é a Mãe,
dando Facilidade, Sono, e Morte; Consolações que são repelidas pelo Verdadeiro
Homem ou Herói.
174. SEQUITUR DE HIS VIIS
AGORA, o Caminho de Ayn é um Elo entre Mercúrio e o Sol, e no Zodíaco
corresponde ao Bode. Este Bode é também chamado Força, e está no Meridiano ao
Nascer do Sol na Primavera; e é de sua Natureza pular sobre as Montanhas.
Portanto é ele um Símbolo de verdadeira Magia, e seu Nome é Baphomet, razão
pela qual Eu o designei como um Atu de Thoth, o Décimo Quinto, e pus sua Imagem
na Frente de Meu Livro O Ritual de Alta Magia, que foi a Segunda Parte de minha
Tese para o grau de Adepto Maior, quando Eu estava vestido com o Corpo chamado
Alphonse Louis Constant. Agora, o Bode não voa como a Águia; mas pondera isto
também, que a verdadeira Natureza do Homem é viver sobre a Terra, de forma que
os Vôos dele são freqüentemente apenas Fantasia; sim, a Águia também está presa
ao seu Ninho, nem se alimenta de Ar. Portanto este Bode, dando cada um de seus
Pulos com Fervor, entretanto sempre seguro em seu próprio Elemento, e um
verdadeiro Hieróglifo do Magista. Nota também este Caminho mostra Um em
Exaltação contínua sobre um Trono, e assim é a Fórmula do Homem, como o outro
era da Mulher.
175. DE OCULO HOOR
EU digo mais, que este Caminho é do Círculo, e do Olho de Horus que não dorme,
mas está vigilante. O Círculo é todo-perfeito, igual em toda Direção; mas a
Vesica tem amarga necessidade, e busca a tua Medicina, que está no Direito
composta para Elevado Propósito, a fim de aliviar sua Enfermidade. Assim tua
Vontade é frustrada, e tua Mente distraída, e teu Trabalho estropiado, se não
for mesmo reduzido a Nada. Também, tua Pujança em tua Arte é diminuída, em
farta Medida, como Eu calculo. Mas o Olho de Horus não tem Necessidade, e é
livre em sua Vontade, sem buscar um Nível, sem requerer uma Medicina; e é capaz
e digno de ser teu Companheiro e Aliado em teu Trabalho, como um Amigo para ti,
nem Amante nem Escrava, que buscam sempre com Astúcia e Dolo conseguir seus
próprios Fins. Existe além do mais uma Razão na Física para minha Palavra;
estuda este Assunto nas Leis das Mudanças da Natureza. Pois Coisas Desiguais
produzem em seu Casamento uma Criança que é relativamente estável, e resiste à
Mudança; mas Coisas Semelhantes aumentam mutuamente o Potencial de suas
Naturezas Particulares. Entretanto, cada Caminho tem seu Uso próprio; e tu
estando instruído em todos os Caminhos, escolhe os teus com Discrição.
176. DE SUA INITIATIONE
MEU Filho, meu Deleite, Mel do Favo da minha Vida, Eu direi isto também sobre
as Diferenças das Fórmulas de Macho e Fêmea: que minha Iniciação foi ordenada
como segue. Primeiro, até à Metade do Caminho, a Consecução do Conhecimento e
Conversação do Sagrado Anjo Guardião, foram estes Homens apontados para minha
Ajuda: Jerome Pollitti de Kenndal, Cecil Jones de Basingstoke, Allan Bennett da
Fronteira, e Oscar Eckenstein da Montanha, sem nenhuma Mulher. Mas após aquela
Consecucão, Palavra me tem vindo apenas através de Mulheres, Ouarda a Vidente,
e Virakan, e em minha Iniciação ao Grau de Magus estas: o Gato Hilarion tua Mãe, Helena a Atriz a Serpente, com Myriamne a Ébria e Rita a Puta para
trazer Adaga e Veneno; depois estas outras, Alice a Cantora com o Macaco, e
Gerda a Louca como Coruja; depois Catherine o Cão de Anubis, e Ahitha o Camelo
que renovou o Trabalho de Virakam, com Olum o Dragão e --- mas aqui Eu me
restrinjo em Fala, pois o Fim está envolto em um Véu, como se fosse, a Face de
uma Virgem. Mas medita estritamente sobre estas Coisas, distinguindo a reta
Propriedade, Ordem e Uso de uma e da outra no Relativo, mesmo enquanto tu as
fazes Um-Todo, que é Nenhum, no Absoluto.
177. DE HERBO SANCTISSIMO ARABICO
LEMBRA-TE, ó meu Filho, da Fórmula dos Hebreus que eles trouxeram da Cidade
Babylon: como Nebuchadnezzar o Grande Rei, estando aflito em seu Espírito,
partiu de entre os Homens pelo Espaço de Sete Anos, comendo Erva qual um Boi.
Agora, este Boi é a Letra Aleph, que é o Atu de Thoth cujo Número é Zero, e
cujo Nome é Maat, Verdade, ou Maut, o Abutre, o Todo-Mãe, sendo uma Imagem de
Nossa Senhora Nuit; mas também é chamado o Tolo, que é Parsifal, 'der reine Thor', e assim se refere
àquele que trilha o Caminho do Tao. Também, ele é Harpócrates, a Criança Horus,
caminhando (como diz Daood, o Badawi que se tornou Rei, em seus Psalmos) sobre
o Leão e o Dragão; isto é, ele está em Unidade com sua própria Natureza
Secreta, tal como Eu te mostrei em minha Palavra concernente à Esfinge. Ó meu
Filho, ontem à Noite veio o Espírito sobre mim que também Eu deveria comer da
Erva dos Árabes, e por Virtude do Encanto desta contemplar aquilo que poderia ser
designado para Iluminação de meus Olhos. Agora, disto Eu não posso falar, desde
que envolve o Mistério da Transcendência do Tempo, de forma que em Uma Hora de
nossa Medida Terrestre Eu colhi a Colheita de um Aeon, e em Dez Vidas não
poderia declará-la.
178. DE QUIBUSDAM MYSTERRIS, QUAE VIDI
PORÉM, tal como um Homem pode construir um Memorial ou Símbolo que significa
Dez Mil Vezes Dez Mil Vezes, assim como Eu Esforçar-me por informar tua
Compreensão através de Hieróglifos. E nisto tua própria Experiência nos
servirá, porque um Indicio de Lembrança é suficiente para aquele que está
familiarizado com um Assunto; enquanto quem não está familiarizado nada
aprenderia assim, nem mesmo em um Ano de Instrução. Eis aqui então
primeiramente uma entre as Intocadas Maravilhas daquela Visão: sobre um Campo
mais negro e mais rico que veludo estava o Sol de todo Ser, sozinho. De
repente, em volta d'Ele haviam pequenas Cruzes, Gregas, enchendo o Céu. Estas
mudaram de Forma para Forma geométrica, Maravilha devorando Maravilha, Mil
Vezes Mil em seu Curso e Seqüência, até que por seu Movimento foi o Universo
batido na Quintessência de Luz. Além disto, de outra Vez Eu contemplei Todas as
Coisas como Bolhas iridescentes e Luminosas, brilhando com sua própria Luz em
toda Cor e em toda Combinação de Cores, Miríada perseguindo Miríada até que
pela sua perpétua Beleza elas exauriram a Virtude de minha Mente de
Absorve-las, e sobrepujaram-na, de maneira que Eu ansiei por me retirar daquele
Brilho. Entretanto, ó meu Filho, a Soma disto tudo não chega ao valor de um
Vislumbre de Nossa Verdadeira Visão de Santidade.
179. DE QUODAM MODO MEDITATIONIS
AGORA, quanto ao Principal daquilo que me foi concedido, isso foi a Percepção
daquelas voluntárias Mudanças ou Transmutações da Mente que conduzem à Verdade,
sendo como Escadas para o Céu; ou assim Eu as chamei então, buscando uma Frase
para admoestar o Escriba que escrevia minhas palavras, para gravar um Balaústre
sobre a Estela do meu Trabalho. Mas Eu me esforço em vão, Ó meu Filho, para
registrar este Assunto em Detalhe; pois é a qualidade desta Erva acelerar a
Operação do Pensamento talvez Mil Vezes, e além disto figurar cada Passo em
Imagens complexas e sobrepujantes de Beleza; de maneira que não se tem Tempo de
conceber, muito menos de pronunciar, qualquer Palavra como Nome de qualquer uma
delas. Também, tal era a Multiplicidade destas Escadas, e sua Equivalência, que
a Memória não mais contém qualquer uma delas, mas apenas uma certa Compreensão
do Método, inexpressível devido à sua Sutileza. Agora portanto devo Eu fazer
por minha Vontade uma Concentração pujante e terrível do meu Pensamento, para
que Eu possa trazer este Mistério à Expressão. Pois este Método é de Virtude e
Lucro; por ele tu podes chegar facilmente e com Deleite à Perfeição da Verdade,
não importa de que Pensamento tu dês o primeiro Passo em tua Meditação; de
maneira que tu podes saber como toda Estrada termina em Monsalvat, e no Templo
do Sangraal.
180. SEQUITUR DE HAC RE
EU CREIO, baseado tanto em Teoria quanto em Experiência, o pouco que possuo,
que em geral um Homem deve primeiro ser Iniciado, e estar estabelecido, em
Nossa Lei, antes que possa usar este Método. Pois há nele uma Implicação da
nossa Iluminação Secreta quanto ao Universo: de como a Natureza deste é
completa Perfeição. Agora, todo Pensamento é uma Separação, e o Remédio disto é
casar Cada um com sua Contradição, como Eu já mostrei em muitas Escrituras. E
tu unirás um a outro com Veemência de Espírito, rápido como a própria Luz, para
que o Êxtase seja espontâneo. Por isto é expediente que tu já tenhas viajado
neste Caminho de Antítese, conhecendo perfeitamente a Resposta a todo Glifo ou
Problema, e que tua Mente seja pronta nisto. Pois pela Propriedade desta Erva
tudo se passa com incalculável Velocidade de Percepção, e uma Hesitação te
confundiria, quebrando tua Escada e arremessando tua Mente de volta para
receber Impressões do Ambiente, como em teu primeiro Começo. Em verdade, a
Natureza deste Método é Solução, e a Destruição de toda Complexidade por
Exploração de Êxtase, à medida que cada Elemento da Complexidade é satisfeito
por teu Correlativo, e é aniquilado (desde que perde Existência Separada) no
Orgasmo que se consuma na Cama da tua Mente.
181. SEQUITUR DE HAC RE
TU BEM sabes, meu Filho, como um Pensamento é imperfeito em duas Dimensões,
estando separado de sua Contradição, mas também constrangido em seu Alcance,
porque por aquela Contradição nós (comumente) não completamos o Universo, mas
apenas aquela parte deste que corresponde ao campo daquele particular
Pensamento. Assim, se nós contrastarmos Saúde com Doença, nós incluímos na
Esfera da União desses Opostos somente uma Qualidade que pode ser predicada de
todas as Coisas. Além disto, no mais das vezes não é fácil encontrar ou
formular a verdadeira Contradição de qualquer Pensamento como uma Idéia
Positiva, mas apenas como uma Negação Formal em Termos Vagos; de maneira que a
primeira Resposta é apenas Antítese. Assim, a "Branco" não acasalamos
a Frase "Tudo que não é Branco", pois isto é vago, informe; não é nem
claro, simples, nem positivo em Concepção; mas nós respondemos
"Negro", pois isto desperta uma Imagem de sua Significação. Portanto,
a União de Antíteses as destrói apenas em Parte, e nós nos tornamos
instantaneamente cônscios do Resíduo que permanece insatisfeito ou
desequilibrado, cujo Eidolon surge na Mente com Esplendor e Alegria
inexprimíveis. Que isto não te engane, pois sua Existência prova a sua
Imperfeição, e tu deves evocar seu Par, e destruí-los através de Amor, tal como
antes. Este Método é contínuo, e procede sempre do Grosseiro para o Fino, e do
Particular para o Geral, dissolvendo todas as Coisas na Substância Única da
Luz.
182. CONCLUSIO DE HAC MODO SANCTITATIS
APRENDE agora que as Impressões dos Sentidos possuem Opostos facilmente
concebíveis, como longo e curto, claro e escuro; e ao mesmo ocorre com Emoções
e Percepções, como Amor é Ódio, ou falso e verdadeiro; mas quanto mais Violento
o Antagonismo, mais este é o fruto de Ilusão, determinado por Relação. Por
exemplo, a Palavra "Longo" não tem Significado salvo se for referida
a um Padrão; mas o Amor não é assim obscuro, porque Ódio é o seu gêmeo,
partilhando plenamente de uma Natureza Comum com ele. Agora, escuta isto: foi-me
comunicado em minhas Visões dos Aethyrs, quando Eu estava no Deserto de Sahara,
perto de Tolga, na Borda do Grande Erg Oriental, que acima do Abismo
Contradição é Unidade, e que nada poderia ser verdadeiro salvo em Virtude da
Contradição contida em si mesmo. Vê pois, através deste Método tu chegarás
presentemente a Idéias desta Ordem, que incluem em si mesmas sua própria
Contradição, e não possuem Antítese. Então tua Alavanca de Antinomia se quebra
em tua Mão; porém, estando em verdadeiro Balanço, tu podes subir, ardente e
sôfrego, de Céu a Céu, pela Expansão da tua Idéia, e sua Exaltação, ou
Concentração, como tu compreendes por teus Estudos no Livro da Lei, a Palavra
lá escrita sobre Nossa Senhora Nuit, e Hadit, que é o Centro de toda Estrela. E
este último Ir sobre a tua Escada é fácil, se tu és verdadeiramente Iniciado,
pois o Momentum da tua Força gerada
por Antítese Transcendental serve para te propelir, e a Emancipação das Cadeias
de Pensamento que tu ganhaste naquela Prática de Arte faz com que o Redemoinho
e Gravitação da Verdade seja capaz de atrair a si.
183. DE VIA SOLA SOLIS
ESTE é o Lucro da minha Intoxicação com esta Santa Erva, a Grama dos Árabes:
ela me mostrou este Mistério (com muitos outros) não como uma Nova Luz, pois Eu
já o tinha antes; mas por sua rápida Síntese e Manifestação de uma Longa
Seqüência de Acontecimentos em um só Momento, Eu pude analisar este Método, e
descobrir sua Lei Essencial, que até então havia escapado ao Foco da Lente da
minha Compreensão. Sim, ó meu Filho, não há Verdadeiro Caminho de Luz, salvo
aquele que Eu já antes expliquei; entretanto, em todo Caminho há Lucro, se tu
fores astuto para perceber este e te apossares dele. Pois nós freqüentemente
obtemos a Verdade por Reflexão, ou pela Composição e Seleção de um Artista em
sua Apresentação dela, enquanto sem isto nós permaneceríamos cegos quanto a
ela, não possuindo o Modo de Luz dele. Entretanto, a Arte dele não nos seria de
nenhum Valor a não ser que nós já possuíssemos a Raiz daquela Verdade em nossa Natureza,
e um Botão dessa Verdade pronto para florescer ao Chamado daquele Sol. Por
Exemplo: nem um Menino nem uma Pedra possuem Conhecimento das Seções de um
Cone, e das Propriedades destas Seções; mas tu podes ensiná-las ao Menino por
reta Apresentação, porque ele possui em sua Natureza aquelas Leis da Mente que
são consonantes com nossa Arte Matemática, e necessita apenas Emplumar-se (Eu
posso dizer isto) para aplicá-las conscientemente à Obra, quando, todas sendo
em Verdade, isto é, todas sendo parte das necessárias Relações que regem nossa
Ilusão, ele chega presentemente à Percepção.
184. DE PRUDENTIA FRATERNITATIS A.'.A.'.
ENTÃO, ó meu Filho, que serás mais pujante que todos os Reis da Terra, como
está profetizado ---se tu fores Ele!--- porque tu estabelecerás a Lei que Eu
dei, mesmo a Lei de Télema, nisto que Eu escrevi há um Ponto de Julgamento em
teu Trabalho para trazer à Luz da iniciação aqueles que vem a ti afirmando sua
Vontade de atingir esta Consecução. Pois cada Um tem seu próprio Caminho e sua
própria Lei, e não existe Arte na Magia a não ser procurar aquele Caminho, e
aquela Lei, para que ele possa seguir um pelo Reto Uso da outra. Acontecerá que
um virá a ti desejando Amen-Ra (Eu falo em uma Figura ou Exemplo), outro Asi,
um terceiro Hoor-pa-kraat; ou novamente, um busca Instrução em Obeah, e seu
vizinho em Wanga; e de todos estes nem um em Dez Mil estará cônscio do
seu Verdadeiro Caminho. Pois se bem que nosso Último Passo é Um para todos,
entretanto Seu Próximo Passo é particular a cada um. Por isto é a Preparação de
um Estudante que busca a Nossa Santa Ordem da A.. A.. mui genérica, informando
sua Mente de todos os Métodos conhecidos, de forma que sua Vontade possa
selecionar entre estes por Instinto; depois então, como Probacionista, ele
pratica aqueles que ele preferiu, e pelo Exame do Relatório dele após o Período
regulamentar tu podes ter Sabedoria quanto a ele, para confirmá-lo naqueles
Caminhos que esse Relatório demonstra serem germanos à Verdadeira Natureza
dele.
185. ALTERA DE SUA VIA
ASSIM, Eu fui conduzido ao Conhecimento de mim mesmo em uma certa Graça
Secreta, e como um Poeta, por Jerome Pollitt de Kendal; Oscar Eckenstein da
Montanha descobriu Hombridade em mim, ensinando-me a suportar Privações e a
ousar muitas Formas de Morte; também ele me nutriu em Concentração, a Arte dos
Místicos, mas como Ciência, sem superfluidade de Teologia. Allan Bennett me
outorgou a reta Arte de Magia, e nossa Santa Qabalah, com um grande Tesouro de
Conhecimento em muitos Assuntos, mas especialmente quanto ao Egito, e à Ásia,
os Mistérios da Sabedoria Secreta destes. Mas de Cecil Jones Eu obtive a Grande
Dádiva da Santa Magia de Abramelin, e ele me introduziu naquela Ordem que nós
não nomeamos, devido à Tolice dos Profanos que a ela pretendem, e ele me trouxe
ao Conhecimento e à Conversação do Sagrado Anjo Guardião; também, foi ele o
Arauto dos Mestres do Templo quando Eles me deram as Boas Vindas em sua Ordem,
designando um Assento para mim na Cidade das Pirâmides, sob a Noite de Pan; mas
por Três Anos Eu não quis me valer desse. Agora marca bem isto, ó meu Filho:
que este Caminho era peculiar à Lei de minha Estrela, e nenhum outro deveria me
seguir nisto, ou buscar seguir-me nisto, pois ele tem sua própria Órbita. Ó meu
Filho, não erres por Generalização e Conformidade, pois isto é Pura Preguiça, e
engendra Ideais e Padrões, que são Morte.
186. DE PRUDENTIA ARTIS DOCENDI
ENTRETANTO, uma particular Aflição tocará quase todos que vem a ti; e é essa
Grande Praga de Pecado, que é nossa Maldição herdada do Aeon dos Deuses
Imolados. Vê pois antes de mais nada, quando qualquer Postulante se curvar
diante de ti, se não existe Conflito e Restrição em sua Mente, e em sua
Vontade. Se ele considera Bem e Mal como absolutos, em vez de relativos à Saúde
do Corpo dele, ou ao Bem Estar da Sociedade da qual ele é um Membro, ou o que
seja, como pode acontecer, ensina-o. Ou, se ele diz que sacrificará tudo pela
Iniciação, corrigi-lo, desde que está escrito: "mas quem quer que dê uma
partícula de pó perderá tudo naquela hora". Pois é Conflito se ele pesa
uma Coisa contra outra; e a Renúncia, sendo dolorosa, não é digna de Aceitação.
Mas ele deve com Alegria unir tudo que ele é e tem, acumulando o Todo em um
Vagalhão de Amor, sob Vontade. Sim, ó meu Filho, até que tenhas trazido o
Postulante à nossa Liberdade do Senso e Convicção do Pecado, ele não estará
pronto para o Método de Nossa Magia e Iluminação; porque todo Caminho que seja
é um Ir, e este Pecado é um Obstáculo e uma Cadeia e uma Venda em todo e cada
um deles; pois é Restrição, quer o Aspirante comece pelas Meditações do Dhamma,
ou pela Nossa Qabalah, ou por Visão, ou Teurgia, ou o que quer que seja.
187. DE MENTE INIMICA ANIMO
COMO obterá um Homem o Trance onde Tudo é Um, se ele ainda debate em sua Mente
sobre a Virtude como uma Coisa Absoluta? Assim, ó meu Filho, existem aqueles
que estão cheios de Dúvida sobre se Carne deve ser Comida (Eu escolho isto como
um Exemplo), Hábito que é próprio do Leão, como Erva é do Cavalo; de forma que
seu reto Problema é somente este: o que é próprio à sua própria Natureza. Ou
novamente, suponha-mos que ele está em Visão, e um Anjo, visitando-o, lhe
comunica uma Verdade contrária ao seu Preconceito, como aconteceu em meu
próprio Caso, quando Eu habitava o Corpo de Sir Edward Kelly; ou pelo menos Eu
em Parte me lembro disto, se bem que vagamente. Isto entretanto é certo (ou o
letrado Casaubon, publicando o Registro daquela Palavra com o Magista Dee, diz
falsamente): que um Anjo declarou a Kelly os Próprios Axiomas da Nossa Lei de
Thelema, em boa Medida, e claramente; mas Dee, afligido pela Fixidez dos seus
Padrões que eram dos deuses-escravos, zangou-se, e por sua Autoridade
prevaleceu sobre o outro, que realmente não estava completamente preparado como
Instrumento, ou o Mundo pronto para aquela Sementeira. Considera também como
mesmo nesta Vida presente Eu fui o Inimigo de minha própria Lei, e escrevi o
Livro da Lei contra minha Vontade consciente, em Virtude de Obediência como
Escriba, e tentei constantemente escapar à minha própria Obra, e à Pronunciação
de minha Palavra, até que por Iniciação Eu me tornei Todo-Um.
188. DE ILLUMINATORUM OPERIBUS DIVERSIS
COMPREENDE então quão poucos são aqueles cuja Obra nestas suas presentes Vidas
é o nosso Caminho de Iniciação. No entanto está escrito no Livro da Lei que a
Lei é para todos; portanto tu não errarás se a estabeleceres como a Fórmula do
Aeon, universal entre os Homens. Também, mesmo para aqueles que estão
preparados para avançar em nossa Luz, existe Ordem e Diversidade de Função, no
que concerne ao Trabalho deles em Nossa Sublime Irmandade. Assim, bem pode
acontecer que em uma Abadia do Templo, ou Colégio do Espírito Santo, cada
Cavaleiro ou Irmão atinja por sis Experiência de todo Trance, até chegar à
Perfeição de toda Iluminação; entretanto nem por isto deveria haver Confusão,
um usurpando o Cargo próprio de outro. Pois o Abade, se bem que ele não seja
por completo iluminado, ainda assim é Abade; e o Lugar do Cozinheiro, fosse ele
Santo, Arhan, e Paramahamsa em uma só Pessoa, é na sua Cozinha. Não confundas
pois de forma alguma o Grau de Consecução de qualquer Homem com sua reta Função
em Nossa Santa Ordem; pois se bem que pela Iniciação vem a Luz, e o Direito, e
o Poder de realizar todas as Obras que sejam, entretanto estes são inoperantes
a não ser que possam usar uma Máquina da mesma Ordem de Coisas que o Efeito
requerido. Tal como o melhor dos Espadachins tem Necessidade de uma Espada,
assim todo Magista necessita um Corpo e Mente capazes de realizar o Trabalho
que ele quer; e ele nada pode fazer, salvo o que é próprio à Natureza dele.
189. DE EADEM RE ALTERA VERBA
POR esta Compreensão sejam refutados aqueles que fazem uma Crítica à nossa
Arte, dizendo em sua Insolência que se nós temos todo Poder, porque então às
Vezes estamos sob Pressão de Pobreza, e em Desprezo dos Homens, e em Dor de
Doença, e assim por diante, zombando de nós, e considerando nossa Magia uma
Ilusão. Mas eles não vêem a nossa Luz, como ela nos guia em nosso Caminho para
um Alvo que não está na Compreensão deles; de forma que nós não cobiçamos
aquilo que lhes parece a única Comida e Conforto na Vida. Também, isto que nós
alcançamos, se bem que seja a Essência de Onisciência e Onipotência, impregna e
move o Mundo Material (por assim chamá-lo) somente de acordo com a Natureza
daquilo que ali está. Pois a Luz do Sol (pela própria Complecção d'Ele) mostra
uma Rosa vermelha, mas uma Folha verde; e seu Calor reúne as Nuvens, e também
as dispersa. Assim Eu então, se bem que Eu fosse perfeito em Magia, não poderia
trabalhar em Metais como um Ferreiro, ou me tornar rico no Comércio como um
Negociante; pois Eu não tenho em minha Natureza as Máquinas próprias a estas
Capacidades, e portanto não é de minha Vontade buscar exercitá-las. Aqui então
está o meu Caso: que Eu não posso porque Eu não quero; e haveria Conflito se Eu
me dedicasse àquilo. Mas que cada Homem se torne perfeito em seu próprio
Trabalho, sem ligar à Crítica de outro, que algum Caminho não o seu é mais
Nobre, ou mais Lucrativo; mas persistindo em Tratar da sua própria Vida.
190. DE PACE PERFECTA LUCE
COMO medirão eles nossa Estatura e nosso Sucesso pelo seu Padrão de Relação e
Ilusão, e sua Ignorância da nossa Natureza? O Tempo é apenas Seqüência, e um momento
de Luz pesa mais que uma Idade de Escuridão. Que é a Felicidade senão uma
Conseqüência da Harmonia de nossa Consciência com nossa Verdade, e da
Conformidade da Vontade com a Ação? Para o Iniciado há Certeza de sua
Satisfação, a qual para o Profano é apenas o Efeito de Acaso; e o Profano teme
perder aquilo que ele ama, ou pensa que ele ama. Mas nós, amando apenas em Luz,
não sofremos por Medo ou por Perda, porque para nós todo Acontecimento é
Benvindo, sendo certo, necessário e próprio ao nosso Caminho particular. O
Conhecimento desta Matéria é o Fim do Terror e do Arrependimento; torna este
Conhecimento o Governador da tua Mente, para regular seu Ritmo, a fim de que
ela não se apresse nem se atrase por Pressão do teu Ambiente. Agora, esta
Consecução é possível para a Humanidade inteira, uma vez que depende apenas da
Resolução de Complexidades que já existem; de forma que esta Verdadeira
Sabedoria e Felicidade Perfeita advém da Aceitação de nossa Lei, e seu Emprego
é a Chave de todas as Portas Fechadas da Alma, o Solvente de todo Nó da Mente,
e a Reconciliação de toda Contenda. Ó meu Filho, na Promulgação da Lei está a
Recompensa de nossa Principal Obra: o tornar a Humanidade sadia e livre daquela
Consciência de Pecado que a divide e lhe aflige o Espírito.
191. DE PACE PERFECTA
Ó MEU Filho, não é uma Maravilha, esta Luz da qual nós
somos a Quintessência e a Semente? Através dela nós nos tornamos Completos,
dissolvidos no Corpo e na Alma de Nossa Senhora Nuit mesmo como Seu Senhor
Hadit; de forma que o Sacramento Gnóstico do Cosmo está perpetuamente elevado
diante de nós Nós contemplamos tudo que é e compreendemos seus Mistério, e seu
Lugar nesta Missa Solene eternamente celebrada entre nós, reconhecendo a
Perfeição do Rito; nem confundindo suas Partes, nem discriminando em Adoração
entre elas. Portanto, para nós todo Fenômeno é um Aspecto de Divindade, fluindo
continuamente em uma Procissão que retorna a si mesma; idêntica na Fase de Nada
como na de Muitos, mas regirando na Orgia de Santidade Inefável como se fosse
uma Dança que tece Figuras de Beleza em Variedade inexaurível. Deverá o
Iniciado se inquietar, para buscar melhorar uma tal Perfeição? Não, esta
Vontade que era a dele está executada; ele alcançou o Cume; portanto, sem
Esperança nem Medo ele permanece, e deixa que seu veículo de Ilusão e sua
Máquina Mágica, isto é, como os Homens dizem, seu Corpo e Mente, executem seu
Ritual de Mudança, sem Interferência por parte dele. Ó meu Filho, não perguntes
para que Fim! Como está escrito no Livro do Coração Cingido com a Serpente,
sobre o Menino e o Cisne: Não há Alegria inefável neste Vôo sem fito?
192. DE MORTE
TU me perguntaste sobre a Morte, e esta é a minha
Opinião, da qual Eu não digo: Esta é a Verdade. Primeiro: no Templo chamado Homem
está o Deus, sua Alma ou Estrela, individual e eterna, mas também inerente ao
Corpo de Nossa Senhora Nuit. Agora, esta Alma, como um Oficiante na Missa
Solene do Cosmo, toma a Vestimenta do seu Cargo, isto é: habita um Tabernáculo
de Ilusão, um Corpo e Mente. E este Tabernáculo está sujeito à Lei de Mudança,
pois é complexo, e difuso, reagindo a todo Estímulo ou Impressão. Se então a
Mente estiver ligada constantemente ao Corpo, a Morte não tem Poder para
decompô-la por completo, mas um Cascão putrescente do Morto, sua Mente mantendo
coeso durante algum tempo seu Corpo de Luz, vaga na Terra, buscando (em seu
Erro, que teme a Mudança) um novo Tabernáculo em algum outro Corpo. Tais
Cascões estão completamente separados da Estrela que os iluminava, e são Vampiros, cosessando aqueles que se aventuram no Mundo Astral sem Proteção Mágica,
ou os invocam, como fazem os Espiritistas. Pois pela Morte o Homem é desligado
só do Corpo Grosseiro, a princípio, e permanece completo quanto ao resto sobre
o Plano Astral, como ele era em Vida. Mas esta Compleição sofre Pressão, e seus
Ligamentos são desfeitos, primeiro os mais fracos, depois os mais fortes.
193. DE ADEPTIS R.C. ESCHATOLOGIA
CONSIDERA agora nesta Luz o que acontecerá ao Adepto,
àquele que aspirou constantemente e firmemente à sua Estrela, atunando sua Mente à Música da Vontade dessa. Nele, se sua Mente estiver perfeitamente
organizada em si mesma, e conjugada com a Estrela, há uma Confecção tão forte
que se desliga facilmente não só do Corpo Grosseiro, mas do Sutil. É este Corpo
Sutil que a prende ao Mundo Astral, como o Corpo Grosseiro a prendia ao
Material; assim ela executa voluntariamente o Sacramento de uma Segunda Morte,
e deixa o Corpo de Luz. Mas esta Mente, apegando-se estreitamente por Direito
de sua Harmonia, e pelo Poder do seu Amor, à sua Estrela, resiste aos Ministros
de Ruptura, por um Período, de acordo com sua Força. Agora, se esta Estrela for
daquelas que estão obrigadas pelo Grande Juramento, encarnando-se sem Remissão
por causa de seu Deleite no Sacramento Cósmico, ela busca um novo Veículo na
Maneira Designada, e habita o Feto de uma Criança, e o anima. E se então a
Mente do seu Prévio Tabernáculo ainda está apegada a ela, neste caso existe
Continuidade de Caráter, e talvez Memória, entre os dois Veículos. Este,
brevemente e sem Elaboração, é o Caminho de Asar em Amennti, de acordo com a
minha Opinião, da qual Eu não digo: Esta é a Verdade.
194. DE NUPTIIS SUMMIS
AGORA então a esta Doutrina, ó meu Filho, adiciona
aquilo que tu aprendeste no Livro da Lei: que a Morte é a Dissolução no Beijo
de Nossa Senhora Nuit. Isto é uma verdadeira Consonância como a de Basso com Soprano; pois eis aqui o Impulso que nos impele à Magia: a Dor da Mente
Consciente. Tendo então Discernimento para perceber a Causa desta Dor no Senso
de Separação, e sua Cessação na União do Amor, é o Cume de Nossa Santa Arte
apresentar o Ente Inteiro de Nossa Estrela a Nossa Senhora no Nupcial de nossa
Morte Física. Nós devemos então fazer de nossa inteira Máquina o verdadeiro e
real Instrumento de nossa Força, sem Vazamento, ou Fricção, ou qualquer outro
Desperdício ou Impedimento à sua Ação. Tu bem sabes como um Cavalo, ou mesmo
uma Máquina propelida pelos Pés do Homem, se torna como que uma Extensão do
Cavaleiro, através da Habilidade e Prática deste. Assim, que tua Estrela tenha
Lucro de teu Veículo, assimilando-o, e sustentando-o, de forma que ele seja
curado de sua Separação, e isto mesmo durante a Vida; mas principalmente na
Morte. Também, tu deverias aumentar a Massa de teu Veículo através de
Verdadeiro Crescimento em Equilíbrio, para que sejas um Noivo belo e bem
prendado, um Homem Forte, e um Guerreiro digno da Cama de uma tão divina
Dissolução.
195. DE ARTE VOLUPTATIS DILEMMA QUAEDAM
EXISTE uma Objeção feita, ó meu Filho, à nossa Tese
sobre a Vontade, de que esta deve fluir livremente em seu Caminho: vide licet, que para os que são
como Eu isso é fácil, porque Eu possuo por Natureza um Ardor insaciável em todo
Aspecto, de forma que o Universo inteiro parece incapaz de apaziguá-lo. Pois Eu
me tenho vertido incessantemente, em Paixão Corporal, e em Batalhas com Homens,
e com Feras Selvagens, e com Montanhas e Desertos, e em Poesia e outras
Escrituras da Música da minha Imaginação, e em Livros de nossos Próprios
Mistérios, e em Trabalhos Mágicos, e em Artes Plásticas, e assim por diante, de
forma que em minha Idade Eu em verdade me tornei um Escravo do meu próprio
Gênio; e minha Lei é que, a não ser que Eu durma ou crie, minha Alma está
doente, e anseia por reclamar a Recompensa e Recreio de minha Morte. Mas (Eu te
ouço dizer) este não é o Caso com Todos, ou mesmo com muitos dos Homens; mas o
Resquício de Vontade deles é facilmente satisfeito com seu primeiro Premio.
Então, não deveria ser a Sabedoria deles resistirem-se a si mesmos durante
algum Tempo, como a Água subindo numa Represa acumula Força, e a Fome se
alimenta de Abstinência? Também, há aquilo que Eu escrevi em um Capítulo
passado sobre o reto Uso da Disciplina; e em terceiro lugar, esta Fluência
solta é sem Sutileza de Arte, como se fosse uma Rameira que puxa os homens
pelas mangas.
196. DE HOC MODO DISSOLUTIO
AQUI portanto Eu escreverei a Resposta a esta Acusação
contra nossa Sabedoria: que todo Ato de Vontade deve ser executado em sua
Perfeição, um Estado que será conseguido de acordo com estas Condições:
primeiro, aquelas de sua própria Lei; segundo, aquelas do seu Ambiente. Julga
teu próprio Caso individualmente; cada qual por si; pois não existe Padrão ou
Código, desde que toda Estrela tem sua própria Lei diversa da de toda outra.
Agora, existe a Repressão de Conflito, que é Impotência e Ruptura; mas a
Repressão da Disciplina é uma Fortificação da Vontade por Repouso e por
Preparação, como um Conquistador que descansa seus Exércitos, e os alimenta e
cuida do Armamento e do Moral deles antes de entrar em Combate. Também, há a
Repressão da Arte, que inclui aquela outra de Disciplina, e sua Natureza é
adornar a Vontade e realçar sua Força e sua Beleza, e regozijar-se em sua
Vitória antecipadamente em plena Confiança, sem temer o Tempo, que rouba
aqueles que são ignorantes sobre ele, de como ele é apenas Miragem e Ilusão,
incapaz de sitiar a Fortaleza da Alma. Faz tua Vontade, sabendo (como Eu disse
antes pela Boca de Elilphas Levi Zahed) que tu és Onipotente, e tua Habitação é
a Eternidade. Ó meu filho, atenta bem nesta Palavra; pois é um Legado, e um
Anel de Rubi e Esmeralda em tua Herança.
197. DE COMOEDIA QUAE ITAN DICITUR
MAIS sutil que a Serpente de Hermes, ó meu Filho, é
este Caminho de Repressão da Arte, e tu te encontrarás ali com o Deus Pan, e o
terás como Companheiro de Brinquedo. Assim, tu devisarás Comédia e Tragédia,
como se fossem Engastes para a Jóia da tua Vontade, para realçar-lhe a Beleza,
e para refinar teus Prazeres. Isto é aquilo que está escrito no Livro da Lei:
"Sabedoria diz: sê forte! Então tu podes suportar mais alegria. Não sejas
animal; refina tua raptura! Se tu bebes, bebe pelas oito e noventa regras de
arte; se tu amas, excede em delicadeza; e se tu fazes o que quer que seja de
alegre, que haja sutileza ali. Mas excede! excede!" Assim tu podes brincar
até mesmo com teu Diabo amestrado de Pecado, e usar a Dor deste para dar
Tempero à tua Comida, sendo Adulto, e tua Língua sensitiva à Azeitona e enjoada
de Açúcar, enquanto uma Criança é o Contrário disto, em sua Preferência; ou
como um Ato habilidoso de Amor abunda em Beliscões, Palmadas, Mordidas e outros
tais para intensificar a Peleja, e prolongá-la. Mas isto é Risco e Perigo, a
não ser que sejas totalmente Mestre, Um em tua Vontade; pois há Veneno nestas
Cobras mortas, para te destruir se tu lhes deres de tua Vida tão pouco quanto
uma Dúvida de ti mesmo, como uma Semente de Divisão.
198. DE LUDO AMORIS
NESTE Mistério da RepressÃo da Arte está também o
Segredo da Ilusão. Porque, dizes tu, não tem Nossa Senhora Nuit sua Vontade de
Seu Senhor Hadit, e Ele d'Ela, e assim tudo finda? Mas este é o Jogo do Amor
d'Ela: que Ela vela Sua Beleza no Robe multicor da Ilusão, e foge d'Ele em
Esporte, sim e divorcia-O do Abraço, tecendo novas Modéstias e Incitações com
Sua Dança. Ó meu Filho, total Compreensão deste Arcano é o Fruto de
Contemplação, se Esta for preparada pela Experiência desta Arte em teu próprio
Caso. Mas para aqueles que não compreendem, e sentem Dor de Separação, sendo
enganados por este Jogo de forma que o consideram a Divisão do Ódio, Ela pode
apenas falar com Simplicidade, com aquela Palavra escrita no Livro da Lei:
"A me!" Pois até que tu ames, o Jogo do Amor é apenas Vaidade,
e sua Crueldade é realmente cruel, a não ser que tu saibas que ela só é um
Molho para aguçar o Apetite, e dar Ênfase de Contraste; como um Pintor pinta a
Luz por Astúcia de suas Sombras. Mas todo este Deleite que podes desfrutar do
Universo, tanto em seus Véus como em sua Nudez, é uma Recompensa de tua
Consecução da Verdade, e segue esta. Nem podes tu compreender esta Doutrina
através da Mente, pois a Divisão em ti nega-a, gritando em sua Agonia, a não
ser que tu sejas completamente Iniciado.
199. DE GAUDIO STUPRI
Ó MEU Filho, mesmo este Pecado que é a nossa Doença é
apenas Incompreensão daquela Arte do Amor de Nossa Senhora Nuit. Sim, em
verdade, é tudo um Truque de Seu Engenho, e um Artifício do seu Deleite, que o
Pecado devesse aparecer, assim como (marca bem!) a Falsa Percepção da Natureza
deste. Por isto, a Dor de qualquer Pecador em sua Divisão e Separação é para
Ela um pequeno Espasmo de Prazer. Mas quanto a ele, que ele aprenda esta
Doutrina, e se dissolva no Amor d'Ela. Tu então, sendo Iniciado e Iluminado
nesta Verdade, podes aceitar tua própria Dor, ou antes, aquela de teu Veículo,
como Lacaio da Alegria que tu experimentas em teu Verdadeiro Ser, a Estrela
entre as Estrelas do Corpo d; Ela. O Adepto desta nossa Arte não se apieda do
Pecado, quer em seu próprio Veículo quer no de outrem, a não ser que a Curação disso seja parte da Vontade dele; pois Ele está conscio da inteira Verdade do
Assunto. Assim, ele vai em seu Caminho, e não puxa uma Rédea sequer dos
Garanhões do Universo; mas está contente, contemplando a Velocidade do Galope
deles. Em verdade, ó meu Filho, bem dis o Livro do Magus que é a
Maldição do meu Grau que Eu devo pregar minha Lei aos Homens. Pois por isto Eu
sou afligido em meu Tabernáculo, mas em Meu Ser eu me regozijo, e río-Me com Ela na Sua Risada de Amor.
200. DE CAECITIA PHILOSOPHORUM ANTIQUORUM
VÊ, como é confortável esta minha Sabedoria, pela qual
Eu resolvi todo Conflito que seja ou possa ser, mesmo em todas as Dimensões,
não menos aquele Antagonismo entre Coisas que as Limitações delas. Eu disse:
Mal, sê tu meu Bem; pois é o Espelho Mágico da nossa Astarte, e o Caduceu do
nosso Hermes. Agora, este foi o Erro dos Filósofos antigos; que, percebendo a
Mutável Dualidade como a Causa do Sofrimento, eles buscaram Reconciliação em
Unidade e Estabilidade. Mas Eu te mostro o Universo como o Corpo de Nossa
Senhora Nuit, que é Zero e Dois, com Hadit Seu Senhor como o Alternador
daquelas Fases. Este Universo é então um perpétuo Vir-a-Ser, o Receptáculo de
toda Permutação do Infinito, onde todo Fenômeno é um Sacramento, a Mudança
sendo o Ato de Amor, e Dualidade a Condição essencial àquele Ato; mesmo tal
como um Machado deve ser afastado de um Cedro para que possa desferir o Golpe.
Portanto o Erro destes Filósofos estava na sua Falsa Suposição de que
Felicidade, Consciência e Ente (as Qualidades da sua Imutável Unidade) possam
ser Estados. Ó meu Filho, como é lamentável a Mendicância deles, desses
Mendigos de Senso e de Experiência e de Observação! Foram as suas Barrigas vazias
que engendraram Fantasmas de Ideal de forma que eles buscaram Alegria em uma
grosseira Negação da pouca Verdade (ou melhor, Fato) que eles haviam percebido
a respeito do Universo; e assim eles eregeram um Ídolo de Morte para seu
Deus, em verdadeira Fúria de Ódio contra a Soma de seus próprios Entes.
201. DE HERESIA MANICHAEA
ESTES Fisósofos ---ou não direi Eu, Misósofos e Pseudo-Sofistas?--- tem tido muita dificuldade para explicar o Mistério
da Existência do Mal deles. Eles tem gritado, espumejando Palavras, que o Mal é
Ilusão. Mas se assim é, então aquela Ilusão é Má; de onde veio, e para que Fim?
Se o Diabo deles a criou, quem criou aquele Diabo? Toda contenção deles acaba
sempre neste Dilema de Mudança em um Imutável, Falsidade em um Verdadeiro, Ódio
em um Amoroso, Fraqueza em um Onipotente, Dualidade em um Simples, Ente tal
como eles definem o seu Deus. Nem vêem eles que eles restringem esse seu Deus
(o qual no entanto eles quereriam que fosse o todo) quando admitem Opostos à
Natureza dele, mesmo quando eles somam esses Opostos como Ilusão; desde que a
Ilusão é a Negação da Verdade deles. Mas os Hindus, vendo isto, buscam Saída
negando toda e qualquer Qualidade que seja ao seu Deus, ou Verdadeiro Estado
(Eu falo de Parabrahman e de Nibbana), assim em qualquer Realidade de
Pensamento antes negando Aquilo, ou Ele, do que Destruindo a Ilusão. Mas em
nossa Luz nós não necessitamos negar coisa alguma, e aceitamos Tudo, sim, mesmo
a Ilusão, discriminando em nossas Mentes entre Fenômenos apenas por Comparação
deles com algum Padrão que nos convenha, a fim de mantermos a Ordem de nossas
Concepções com Respeito à Relação de qualquer Ente com o seu Ambiente.
202. DE VERITATE CORUM MENSURANDA
ASSIM pois observe esta Sabedoria, ó meu Filho, conchegando-a
ao teu Coração, como uma Amante, e escondendo-a no Tesouro da tua Mente como
uma Jóia de Iluminação. Considera por Exemplo um Sonho, como é irreal com
Respeito à tua Experiência dos Objetos do teu Senso de Vigília, mas também
real, tanto porque ele de Fato impressionou a tua Mente quanto porque ele
expressou através do véu de um Símbolo algum Ardor de teu Anjo, como Eu já
mostrei nesta Carta. Considera o Jogo de Xadrez, como sua Lei fez para si mesma
uma Linguagem e uma Literatura; no entanto é apenas uma Invenção arbitrária,
sem impingir (salvo em que opera, através de Prazer e Interesse, sobre Mentes)
em qualquer outra Esfera do Universo. Da mesma forma, Coisas chamadas
(vulgarmente) Reais e Materiais existem no Universo de nossa Consciência apenas
através da Percepção das suas Imagens na Mente por parte de nossos Sentidos;
assim, como é a Cor Real ou Importante para um Cego? ou como pode uma Lei
matemática ser Verdadeira para aquele que é imbecil ou demente? Todas as
Coisas, portanto, mesmo quando são irreais e irracionais, ou mais,
inconcebíveis e impossíveis (tal como Iota no Teorema de De Moivre), existem de
uma Maneira ou de outra; mas a Realidade de qualquer delas, se bem que absoluta
em si, depende, quanto à sua Relação com qualquer outra Coisa, do Intercurso e
Linguagem entre elas, consciente ou inconsciente. Considera o Azoto, que tem
quase Quatro Partes em Cinco do Ar, como ele não é real à Percepção direta de
qualquer Sentido humano, no entanto é realíssimo para os nossos Pulmões, diluindo
o Oxigênio, por cujo Amor outrossim nós seríamos violentamente consumidos. Esta
é a Medida da Realidade.
203. DE APHORISMO UBI DICO: OMNIA SUNT
MEU Filho, longamente Eu te aguardei, ansiando, e com
Orgulho e grande Alegria Eu te dei as Boas Vindas em minha Cidade das
Pirâmides, sob a Noite de Pan. Agora então em meu grande Amor a ti Eu revelarei
este Segredo de Sabedoria (que Eu escrevi ocultamente em meu último Capítulo)
nestas Palavras: Todas as Coisas Existem. Considerado por reta compreensão,
isto é negar que haja qualquer Coisa imaginável ou inimaginável que não exista.
Isto é, o Corpo de Nossa Senhora Nuit não tem Limite, e não há Vazio que Ela
não encha com a Variedade e a Beleza das Suas Estrelas no Seu Espaço. Nem
existe qualquer Lei única da Natureza d'Ela, mas n'Ela estão todas as Leis, de
forma que cada Coisa ou cada Verdade que tu percebes é como se fosse um Gesto
da Dança d'Ela. Fecha o Livro de tuas Perguntas, ó meu Filho, quanto à
Natureza, seu Caminho, sua Origem, ou seu Propósito, salvo naqueles Assuntos
que te concernem em tua própria Órbita, ó tu Estrela, engendrada de minhas
Entranhas em meu Ardor por Hilarion, a Rosa Dourada, mística e alegre, o Lírio
de Mil e uma Pétalas, sutil e perverso, para que tu pudesses cumprir este Trabalho
de um Mago que Eu vim executar, vestindo-me em Carne de Homem, como era minha
Natureza e a Vontade de minha Natureza, o Nome de minha Estrela que flameja no
Corpo de Nuit Nossa Senhora.
204. DE RATIONE HUJUS EPISTOLAE SCRIBENDAE
VÊ, Eu chego ao Fim deste Discurso de Sabedoria, como
um Navio que se aventurou sobre o Oceano, de cujo Mastro o Vigia percebe na
Fímbria do Horizonte um Ponto de Neve, sendo o Pico de uma Grande Montanha que
é Guardiã do Porto, o Termo daquela Viagem. Agora pois Eu te deixo entregue por
completo a ti mesmo, pois Eu não existo em teu Universo salvo em minha Relação
contigo; portanto aquela Parte de mim é em Verdade antes tu que Eu. Porém, dá
valor a esta Carta, pois é minha Dádiva Especial, e tem Radiância da Luz da minha
Sabedoria, e flameja, sendo o Sangue de meu Amor por ti e pela Humanidade.
Também, é como o Pulso de minha Vida, batendo com a Natureza desta; e é a
Palavra de minha Vontade, o Alvará da Liberdade da minha Alma, e da tua, e da
de todo Homem, e de toda Mulher; pois nós somos Estrelas. Ó meu Filho, por
muitos Dias estive Eu silente, até tu temeres que tivesses, por Ignorância ou
Inadvertência, inflamado o Fogo de minha Cólera. Mas Eu não falei, porque Eu
sabia em minha Sabedoria que tu devias passar por uma certa Ordália da tua
Iniciação por tua própria Virtude. Por esta Causa Eu me mantive afastado; mas
em meu Amor Eu comecei esta Carta, contemplando teu Triunfo antecipadamente, e
por Preciência, adivinhando tua Necessidade seguinte, quer dizer, este
Livro das Palavras da minha Sabedoria.
205. DE NATURA HUJUS EPISTOLAE
Ó MEU Filho, nesta Carta Eu escrevi o Nome de minha
própria Natureza, de sua Lei, de sua Qualidade, de sua Vontade, e sua Guarnição
ou Ornamento. Pois é a Criança do meu Amor por ti, e a Expressão através da
minha Arte de minha Vontade, tanto quanto esta te concerne. Agora, toda Criança
é feita da Essência de seu pai, de forma que toda Criação é uma Imagem ou
Semelhança do Criador, mas modificada pela Mãe, quer dizer, o Material sobre o
qual ele a engendra. Assim, pois, esta Carta é uma Projeção de minha própria
Estrela em um Espelho, isto é, minha Idéia a teu respeito; e será para ti como
uma clara Visão de teu Pai, e da Palavra do Aeon que ele pronunciou para a
Humanidade. Mas também porque esta Palavra é a Fórmula do Aeon, quer dizer, a
Lei de suas Mudanças ou Fenômenos, a Equação que expressa sua Energia e seu
Movimento, ela servirá a todo e cada Homem em sua Medida como um Texto ou
Comentário sobre a Teoria e a Prática da Magia. Através dela ele pode descobrir
a Natureza dele mesmo, e sua Vontade, e aplicar sua Força e sua Inteligência ao
Reto Cumprimento desta. Será como um Farol para esclarece-lo, para confortá-lo
e para dirigi-lo; e será uma Testemunha e Memorial de minha Palavra e de minha
Obra, como de minha Consecução da Sabedoria.
206. DE MODO QUO HANC EPISTOLAM SCRIPSI
NÃO HÁ uma Palavra nesta Carta que não tenha sido
escrita com minha própria Mão e Pena, vagarosa e atentamente (como é Contrário
a meu Hábito), sendo o Fruto da Árvore da minha Meditação, bem amadurecida pelo
Sol de minha Iluminação. Com muito Trabalho Eu fiz isto, estando freqüentemente
sentado sem Movimento salvo das Mãos, enquanto a Terra rolava em Sombra de
Penumbra a Penumbra, de forma que meu Corpo se fazia frio e rígido, mesmo como
um Cadáver. Também, nos Intervalos desta Escritura, Eu me entreguei à
Contemplação e a Trabalhos de Alta Magia, notavelmente à Missa do Espírito
Santo, na Concentração da minha Vontade de te impartir esta Sabedoria, e
de revelar os Mistérios da Verdade. Agora, de todos esses esta é a Raiz: que a
Verdade não é fixa com o Rigor de Morte, mas vibra de vida com Ardor de
Mudança, e se inflama com Amor de seu Oposto. Assim, mesmo a Falsidade não é
estranha à Verdade, pois a Perfeição da Natureza compreende Tudo. Mas todas
estas Coisas estão escritas no Livro da Lei, após o qual Eu manco penosamente,
mui distante, sobre a podre Muleta da minha Compreensão de sua Palavra; sim, Eu
estou bem certo de que naquele Livro estão escritas Todas as Coisas que sejam;
mas nós, sendo em nossa mór parte sem Discernimento, não somos capazes de
percebê-las. Pois a Estatura de Aiwass está além de nossa Medida, desde que Ele
foi capaz de compreender o Mistério Inteiro de Nuit e de Hadit, e no entanto de
declarar a Mensagem d'Eles na Linguagem dos Homens.
207. DE SAPIENTIA ET STULTITIA
Ó MEU Filho, neste, o Cólofon de minha Epístola, Eu te
lembrarei o Título e Superinscrição dela: isto é, o Livro de
Sabedoria ou Loucura. Eu proclamo Bênção e Adoração a Nuit Nossa Senhora e
Seu Senhor Hadit pelo Milagre da Anatomia da Criança Ra-Hoor-Khuit, tal como
está mostrada no Desenho Minutum Mundum, a Árvore da Vida. Pois se bem que a
Sabedoria é a Segunda Emanação da Essência d'Ele, existe um Caminho para
separá-las e juntá-las, a Referência deste sendo Aleph, que é em verdade Um,
sendo Cento e Onze em sua completa Ortografia para significar a Santíssima
Trindade; e por Metátese é Escuridão Espessa, e Morte Súbita. Este é também o
Número de AUM, que é AMOUN, e o Som-Raíz de OMNE, ou em Grego, PÃ; e este é um
Número do Sol. No entanto, o Atu de Thoth que lhe corresponde está marcado com
ZERO, e seu Nome é MAT, de que Eu já falei antes, e sua Imagem é O Tolo. Ó meu
Filho, junta a todos estes Membros em um Corpo, e sobra sobre ele com teu
Espírito, para que ele viva; então abraça-o com Ardor de tua Hombridade, e
penetra-o, e conhece-o; assim sereis Uma Carne. Agora enfim no Reforço e Êxtase
desta Consumação tu perceberás por que Inspiração tu escolheste teu Nome na
Gnose, Eu quero dizer PARZIVAL, "der
reine Thor", o Verdadeiro Cavaleiro que conquistou a Realeza em
Montsalvat, e curou a Ferida de Anfortas, e ordenou Kundry a Reto Serviço, e
recuperou a Lança, e reviveu o Milagre do Sangraal; sim, também sobre si mesmo
ele executou seu Trabalho no Fim: "Hoechsten
Heiles Wunder! Erloesung dem Erloeser!" Esta é a última Palavra da
Canção que teu Tio Richard Wagner fez para Adoração deste Mistério. Compreende
isto, ó meu Filho, ao me despedir Eu de ti nesta Epístola: que o Cume da
Sabedoria é a Abertura da Senda que leva à Coroa e Essência de tudo, à Alma da
Criança Horus, o Senhor do Aeon. Esta Senda é o Caminho do Puro Tolo.
208. DE ORACULO SUMMO
E QUEM é este Puro Tolo? Vê, nas Sagas de Antanho, nas
Lendas dos Menestréis Nórdicos, dos Bardos Ingleses, dos Druidas, não chega ele
vestido de Verde como a Primavera? Ó tu Grande Tolo, tu Água que és Ar, em que
todo Complexo é dissolvido! Sim, Tu em Vestimenta de Farrapos, com o Cajado de
Priapus e o Odre de Vinho! Tu estás de pé sobre o Crocodilo como Hoor-pa-Kraat;
e o Grande Gato pula sobre Ti! Sim, e mais, Eu Te conheci quem Tu és, Bacchus
Diphues, Zero e dois, em teu Nome IAO! Agora no Fim de tudo Eu chego ao Ser de
Ti, além do Vir-a-Ser; e Eu grito alto Minha Palavra, como foi dada ao Homem
pelo teu Alcofribas Nasier, o Oráculo da Garrafa de BACBUC; e esta Palavra é
TRINC.
Mas no antigo correto Soletrar isto é TRINU, de que o
Número é o Número do Nome de Mim teu Pai! a saber, Seiscentos e Sessenta e
Seis.
Amor é a lei, amor sob vontade.
666
An XIV
Sol in Aries
Luna in Aries