Por: Euclydes Lacerda
Esta é a última fase de minha vida.
Morrerei brevemente já o sei. Ela, a Dama Vestida de Negro; virá me
buscar entre dores e feridas no meu coração, no corpo e na Alma;. a
espada Dela ceifará o ultimo alento de minha vida, como o raio do céu
faísca na imensidão. E a esta Dama me abraçarei amorosamente ,sentindo o
calor e o odor Universal da Energia da Vida, pulsando em seus seios.
Morrerei num orgasmo Infinito. Posso afirmar isto porque já vivenciei um
rápido encontro com Ela, que foi o suficiente para compreender bem o
sentido da Vida e da Morte. Vivi bem minha existência neste mundo. Lutei
como um bravo guerreiro, venci batalhas e outras perdi, e realizei
muitos de meus projetos e sonhos ; nem todos, evidentemente, mas alguns
dos mais importantes. Não andei pelo mundo como um alienado, rumo e sem
uma filosofia de vida.
E esta filosofia, guiando meus passos, devo a um homem, que foi meu
Instrutor espiritual, Mestre na Grande Arte e Amigo. Ele já entregou seu
corpo à terra, e seu espírito, liberto, subiu para o Grande Mundo, onde
somos um com Ele. Até hoje tenho gravada na memória, e coração, a sua
figura altiva, libertária e em plena consciência de seus deveres, não só
para seu país mas também com a humanidade inteira. Dizem que eu o
idolatro. Não. Isto não é verdade. Tenho por ele um salutar respeito e
carinho todo especial. Mostrou-me ele, com sua palavra franca e enérgica
minhas possibilidades de vida minhas virtude e defeitos. Se não segui
todos seus ensinamentos foi porque, na época de nosso eu ainda era muito
jovem para medir e avaliá-los com profundidade. Mas não me arrependo.
Cada ser humano tem sua órbita, e eu simplesmente segui a minha, e este
foi seu maior ensinamento: seja o que tu és. Com certeza eu o admirava
muito. Tínhamos um relacionamento bem definido, no qual se destacava
respeito mútuo, e amizade profunda.
Tenho
71 anos agora. Estou condenado a morrer da pior
maneira mais triste, e ele previu isto com anos de antecedência. Mas
seja qual for este destino mesmo dou Glórias a Adonai que, certa vez,
senti o seu toque de amor. Desde aquele dia não mais duvidei de sua
existência, e de sua presença, muito embora, às vezes, minha mente
educada para o “racional” repelia esta crença. Mas no final vi que não
era vã crença, mas certeza. E todo este caminhar estava escrito nas
estrelas milhões de anos antes de eu nascer nesta terra de humanos.
Sou geminiano, e isto é muito complicado, como todo ser nascido sob este
signo não desconhece. Às vezes somo Castor e às vezes Polux. Entre todos
os toques que recebi na minha vida, o dele foi o mais forte. Mais à
frente a isto tive um outro toque, Este toque é que me conduziu através
estes últimos anos no mundo. Pois Ele, desta vez, apresentou-se em sua
forma feminina, na figura da mais terrível, sedutora e amorosa Deusa
Universal: Bhavani Khali, a deusa negra que baila sobre os corpos de
seus adoradores e amantes. E se alimenta do sangue deles. Não do sangue
material rubro que corre em nossas artérias, mas daquela outra energia
existente em nos todos. E toda vez que eu contatava com esta energia, eu
pedia que ela me destruísse num abraço de amor, para que eu pudesse
livrar-me das amarras me prendendo a este Reino que se apraz em nos
iludir. Somente Ela pode nos livrar destas amarras. Mas esta liberdade
vem com muitas dores e sofrimentos. Então. Em primeiro ela tirou-me a
preciosa seiva dos homens. Não satisfeita feriu-me o coração, e minhas
esperanças. E, agora, quatorze anos depois deste toque, ela esta
concretizando sua amorosa presença.
Morrerei sem uma mágoa sequer. Vivi bem. A vida tem que ser vivida
integralmente sem lamurias e não confiante na enganadora luz da mente
disfarçado-a em um mar de rosas, isto é para os fracos. Ela tem que ser
agradecida em quaisquer circunstâncias, pois é um presente do Universo.
Recentemente a vida me proporcionou a oportunidade de conhecer
e amar uma mulher. Este novo e forte amor está me tirando do calvário em
que eu vivia. Sendo mais jovem do que eu, ela vibra de energia e me
concede o sonho de vivenciar toda a beleza que uma mulher pode oferecer
a um homem. Alem de amor tenho por ela imenso carinho, por que ela
representa minha última réstia de luz nesta derradeira fase, em que o
homem perde parte de sua pujança como ser. Eu a reverencio e lhe presto
homenagens as mais verdadeiras e fortes. Espero viver mais algum tempo
para poder continuar a reverenciá-la e dar-lhe meu ultimo alento de
amor.