E Editora Bhavani
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Tarcisio de Oliveira
Adjunto e Revisão
Marcelo A. dos Santos
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Todos os direitos desta edição, para a língua portuguesa, reservados pela EDITORA BHAVANI
Juro não trair meus irmãos,
nem pelo orgulho, nem pelo rancor, nem pela
covardia. Juro não derramar o sangue de
meus semelhantes, a não ser em legitima defesa.
Juro não desonrar a qualquer Irmão em sua
Esposa, sua Irmã, sua Mãe ou sua Filha,
nem mesmo quando a isso seja solicitado por elas.
Juro nunca revelar a profano algum nem a Irmão de grau inferior
nada do que se passar nesta Loja.
Prometo ser obediente e fiel aos Estatutos, Regulamentos,
Resoluções e Tradições do Supremo Conselho.
PARTE UM
INTRODUÇÃO
“O defeito comum a todos os sistemas de misticismo prévios ao Aeon cuja Lei é Thêlema é que não havia neles lugar para o Riso”
Aleister Crowley
(“Pequenos Ensaios em Direção à Verdade”)
Thêlema, a semelhança de outros Reais Sistemas de Iniciação, é vítima de ataques . Mas os piores ataques são aqueles sob disfarce, ou realizados na calada da noite, ou covardemente pelas costas. Agora, que esses ataques sejam o fruto, quer dos aliados da Grande Fraude quer da própria maldita organização, não importa. De todas as mais exímias manobras, usadas pelos seguidores da Fraude, está aquela de disfarçar-se; fazer-se passar por aliados, amigos, etc. E isso eles fazem com grande perfeição. Você somente percebe as verdadeiras intenções deles quando o punhal já está cravado em suas costas.
Um exemplo dessa habilidade de escamotear-se como um camaleão, estampa-se em alguma folhas soltas que, recentemente, nos foram enviadas (não sabemos por quem) contendo trechos de um trabalho discorrendo sobre uma pretensa história das Ordens Thelêmicas desenvolvendo-se no Brasil. Não temos o nome do autor, mas ele se apresenta como “devotado” thelemita. Presumimos ser mais um desses “inocentes úteis” manipulado pela Grande Fraude.
Nas folhas, a nós enviadas, podemos identificar alguns trechos copiados de autores realmente thelemitas, mas o conteúdo desses textos está grandemente distorcido no sentido de dar respaldo às idéias do autor quanto à sua história de Thelema no Brasil. Ao término da leitura das páginas, mesmo ante a seriedade do problema, nossa imediata reação resumiu-se numa boa gargalhada, tamanhas as sandices ali contidas. Pelo visto o autor do trabalho nada sabe de Ocultismo e, pior ainda, encontra-se sob a falsa impressão de ser exímio conhecedor do assunto e que está ligado a uma real Ordem Thelêmica - o que não é verdadeiro, evidentemente... É por essa e outras razões que Crowley dizia: “Não há limites ao abismo e idiotices em que os falsos sábios nos queiram lançar”.
Como dito, não temos a menor idéia da identidade do autor das sandices escritas naquela “História das Ordens Thelêmicas no Brasil”; mas, mesmo assim, gostaria de o aconselhar a não mais escrever qualquer linha sobre Thêlema; preferivelmente sobre qualquer assunto semelhante fora de seu limitado conhecimento: cresça e apareça! como dizia meu Instrutor. Desta forma, evitaria que leitores mais inteligentes viessem a sofrer fatais crises de riso.
Na verdade, não gostaria de privar leitores de momentos hilariantes, muito embora haja o perigo de que os mais argutos venham a rir de tristeza... o que espero não acontecer, “pois ainda está para ser notado que qualquer homem consolou ou auxiliou seu próximo através choramingagens e suspiros”(Aleister Crowley).
Mais a frente iremos analisar algumas das mais marcantes passagens deste tributo ao hilário.
É forçoso reconhecermos que a maior parte das pessoas, se lançando nesses arroubos “thelêmicos”, sem um mínimo de conhecimento na específica seara iniciática; estão longe, muito longe, de serem modelos de inteligência e de conhecimento, e só aos patetas inspiram confiança.
O trabalho que ora apresentamos é absolutamente novo, ataca, no campo dos fatos historicamente averiguados, o complexo problema das origens e desenvolvimento das Ordens Thelêmicas, satisfazendo plenamente as exigências largamente sentidas de um trabalho rigoroso, num campo em que reinam as mistificações ideológicas e os preconceitos fideístas.
O presente estudo está construído com base em uma documentação de primeira mão. O mais exigente dos leitores (contanto que não pertença a algum grupo fanatizado) não tardará, ao mergulhar na leitura, aperceber-se que não nos limitamos a sistematizar de novo ou a reescrever as construções de outros, temperando-as ou enriquecendo-as com nossas próprias idéias; muito pelo contrário, damos vida a um trabalho completamente individual e inédito nos anais thelêmicos: um novo ponto de vista debruçando-se sobre a intrincada história do mais sério sistema de consecução espiritual jamais oferecido tão abertamente a todos sem quaisquer limites.
Eucydes Lacerda
ESCLARECIMENTOS INICIAIS
Nós não podemos fazer uma avaliação de Thêlema a não ser através um profundo estudo do sistema em todas suas dimensões possíveis. Também não podemos olvidar que o pensamento thelêmico não é novo e não está restrito à organizações materiais como “ordens”, “fraternidades”, etc. O Movimento Thelêmico é mais vasto e mais profundo que todas essas organizações a ele ligadas, e que vêm sofrendo modificações (indevidas) ao sabor das características individuais de cada grupo. Por exemplo: existem organizações que, embora aceitem a Lei de Thêlema, não reconhecem Aleister Crowley como líder a ser seguido - considerando-o apenas como o “instrumento” pelo qual a Lei foi transmitida. Neste caso encontra-se a Fraternitas Saturni. Outras aceitam To Mega Therion como o Cristo do Novo Aeon, sem levar em conta a pessoa de Crowley. Outros tantos o refutam totalmente, aceitando tão somente Liber AL. Outros seguem as idéias de Frater Achad ( C.Stansfield Jones), alegando que Crowley falhara na Atravessia do Abismo, e também baseados no fato de ter sido Achad o descobridor da Chave de AL. Outros voltam-se para Parsons, e outros para Marcelo Motta, e ainda alguns seguem as idéias de K.Grant.
Na verdade, o Movimento Thelêmico encontra-se em processo de amadurecimento (Horus é uma Criança), e por isso, apresenta-se ainda tão confuso e mal compreendido pela maioria das pessoas que dele ouvem falar, ou dele se aproximam através as inúmeras organizações ‘thelemitas’ existentes na atualidade.
O desejo de hegemonia e domínio geral, por parte de alguns grupos em detrimento de outros, é um obstáculo ainda não superado. Em algumas facções esta diferença de opiniões é considerada um crime e indício da atuação de “forças obsessivas” atuantes. Por isso, thelemitas sob esta acusação são “excomungados”. Sim, está é a verdade - excomungados!
Assim, comete-se uma série de enganos prejudiciais ao próprio evoluir do Movimento como uma força viva, dinâmica e expansiva.
Tenho visto alguns núcleos pregarem uma leitura “oficial”, baseada tão somente na obra de Crowley (outros autores são proibidos, mesmo sendo thelemitas) quando todos nós sabemos que qualquer texto (seja thelemita ou não) pode e deve ser lido em qualquer época e livremente interpretado na busca de seu sentido exato, afim de se extrair dele todo riqueza iniciática que por acaso venha a ter, incorporando-a à nossa bagagem. Mas aqueles que, livremente, assim o fazem, seguindo os ditames de Liber OZ, são repreendidos, ou impedidos de faze-lo; e para que esse padrão de conduta coercitiva seja seguido e obedecido, usa-se da punição, da chantagem, da influência “hierárquica”, e até mesmo do poder político financeiro sobre outros grupos ou pessoas independentes. Temos, assim, em pleno final de século, uma repetição do famosa Santa Inquisição Romana, agora sob uma roupagem thelêmica.
Certo determinado grupo, entre os mais conhecidos, tenta manter com mão de ferro o monopólio das obras crowleyanas, e sustenta agentes em todos os cantos do mundo para observância desse monopólio anti-thelêmico. Entretanto, malgrado toda essa vigilância, permite-se publicações de textos pessimamente traduzidos, porque os editores dessas publicações pagam muito bem pela aceitação dessas traduções por parte daquele grupo
Liberdade e Fraternidade deveriam ser o grande elo unindo todas as organizações thelemitas do mundo. Entretanto, é a discórdia, a limitação, e recíprocas acusações que tornaram-se o denominador comum entre elas. Se os grupos mais abastados fossem capazes de superar a intolerância que lhes é característica, respeitando o pensamento dos outros, tenho certeza, as dificuldades, impedindo o desenvolvimento salutar de Thêlema no mundo, se dissipariam como nuvens carregadas pelo vento. Basta que haja um pouco de tolerância, e de honestidade, pois é certo que ninguém gosta de permanecer em erro - a não ser os desmiolados .
Thelema jamais foi uma religião. Tudo que possa sugerir esta visão deveria ser evitado. No momento em que instalamos uma crença religiosa, trazemos em seu bojo a intolerância, o fanatismo; coagiremos a liberdade de expressão, falsearemos a verdade em favor de crenças, dogmas, etc. Esta é uma lição histórica, e Thêlema não pode repetir um tal erro.
Crowley, escreveu várias cartas a Karl Germer, seu futuro sucessor na ordo templi orientis e na A.’.A.’. Especificamente em uma dessas cartas, um pouco antes de sua morte, o alertou da necessidade de serem efetuadas profundas mudanças na estrutura e rituais da ordo templi orientis , para que a Ordem pudesse sobreviver nos tempos modernos como uma legítima divulgadora da Corrente por ele iniciada. O aviso não foi seguido nem por Germer (mas que tentou fechar a Ordem) e nem por seus supostos seguidores. O resultado disso não demorou a se fazer sentir: e hoje temos uma ordo templi orientis dividida, e sem a mínima chance de se apresentar, de fato, como um centro de divulgação legítima de Thêlema na externa.
O presente trabalho baseia-se na liberdade e na fraternidade thelêmicas. Não numa liberdade e fraternidade hipócritas. Por isso não pretende enganar ninguém, nem bajular quem quer que seja, e reserva-se o direito de dizer abertamente o observado durante 35 anos no ambiente thelêmico brasileiro.
Talvez, mais do que qualquer outra, a mudança trazida pela tentativa de massificação do Esoterismo (ao que chamo Onda Esotérica), seja a que mais profundamente alterou o pensamento, hábitos e costumes de grande parte das pessoas neste fim de século - pelo menos em nosso país, formado por um povo reputado entre os mais místicos do mundo. Entretanto esta tentativa de massificação esotérica é um erro, e resultou em mais um tipo de discriminação; isto é, dividiu as pessoas entre duas classes: as possuidoras do poder (financeiro) de acesso à uma literatura séria (sempre difícil de ser encontrada e bastante cara), e os não possuidores desse poder, excluindo-os de qualquer mudança religiosa, científica e social num futuro próximo.
O início desta onda de mudança deu-se em 1962, quando, no Brasil, o esoterismo engatinhando através algumas poucas organizações emergentes e de pouquíssimos livros (a maioria de caracter nitidamente espiritista) conseguiu erguer-se sobre suas pernas. Desde então, o pensamento esotérico começou a ser amplamente divulgado, não só mediante a uma literatura crescentemente procurada, mas também por via da televisão e do rádio, quando inúmeros artistas aderiram a “onda” esotérica no sentido de projetarem-se pessoalmente. E, como sempre, confundindo Esoterismo com o “esoterismo”. Assim, e de uma maneira errada, todos começaram a tomar contato com informações antes somente acessíveis à alguns poucos, que demonstraram ser aptos e merecedores delas.
Tal “abertura ocultista” tornou-se, como era de se esperar, uma faca de dois gumes e uma panacéia para os mais espertos; porque junto às coisas sérias vieram aquelas sem qualquer valor, a não ser para seus criadores e vendedores. E um amontoado de lixo esotérico e exotérico, misturados sem o menor bom senso, foi jogado sobre nós. O faturamento tornou-se o único fito dos responsáveis por essa avalanche de livros, periódicos, revistas, folhetos, “ordens”, “fraternidades”, “centros”, etc., apresentados como se Esoterismo fossem. O homem comum viu-se abordado por uma onda de solicitações, de propaganda, etc.: e tome Fraternidade do “Raio Vermelho”, “Roxo”, “Azul”, ordens cabalísticas, ordens orientais, numerólogos, astrólogos, conselheiros cabalistas, consultas de tarot, etc. A situação atingiu as raias do absurdo, em que uma enorme quantidade de ‘gurus”, “magos”, “ordens iniciáticas”, “ordens secretas”, etc., começaram a surgir nos meios de comunicação, anunciando ao público, seus “poderes”, suas “virtudes”, suas “origens ancestrais” (de preferência egípcias), e uma imensidão de outras idiotices, tão a gosto dos falsários.
Conhecemos dois homens que se tornaram ricos explorando essa onda. Um deles vendendo “cristais mágicos”, o outro lendo Tarot. Hoje, o primeiro reside na Espanha, o outro goza a vida em Miami. Ambos com bastante dólares nos bolsos. Tudo as custas dos trouxas que lhe deram dinheiro por... nada.
Não ficamos só nisto. A coisa vai mais longe. Religiões, mesmo as mais ortodoxas, viram-se envolvidas na trama, e o número de “inovações” espúrias, e falsas igrejas, lideradas por “bispos” sem quaisquer princípios éticos, morais e, principalmente, espirituais, brotaram como nocivos cogumelos em terra fértil, atraindo aos mais humildes, aqueles mais necessitados de uma forte assistência social por parte do governo de nosso país.
Enquanto isso, no desenrolar dessa miséria espiritual, dessa vergonha, a maioria dos “thelemitas organizados” se preocupa com “virtudes civis” e com sua observância pelas aparências. Se Ra-Hoor-Khuit é irmão ou primo de Hoor-Paar-Kraat, se Horus é maior que Rá; se o Universo foi criado pelo vômito de Rá ou por masturbação de Atum ou por um peido de Patah Caso não retornem eles à Thêlema em sua real acepção, estarão fadados a submergir e sucumbir no fluxo dessa pilhéria esotérica que tanto defendem.
Tudo que tem um princípio, evidentemente tem um fim. A “onda” está aos poucos se arrefecendo. Superado o deslumbramento inicial, o “oba! oba!” dos festivos, percebeu-se que tudo que as pessoas tinham acesso, neste carnaval esotérico, não passava de ilusão: o restolho que os Verdadeiros Iniciados permitiram ser exibido a profanos e profanadores. A agitação esotérica amainou. Mas a inércia deste movimento ainda faz com que o cadáver se estremeça, e nós ainda temos muitos anos pela frente para suportar o fedor emanado dele.
Na realidade, “revolução ocultista” afetou profundamente não apenas os círculos tradicionais mas também os mais populares. E o mais importante: alterou profundamente os métodos de transmissão do Conhecimento, que agora encontra-se mais velado do que nunca, por culpa dessa alteração e pelas várias fantasias e idiotices divulgadas. Em resumo: a tão falada “revolução ocultista” mostrou-se um engodo, uma farsa.
Infelizmente várias ordens se envolveram neste caótico quadro. Entre elas a ordo templi orientis que teve sua apresentação pública e estrutura significativamente alterada, mas não na direção correta, ou como deveria ser. Hoje ela surge, aos olhos dos mais argutos, como um simples “clube” maçônico, onde diletantes do esoterismo, amantes do conhecimento fugaz, não estudantes do Esoterismo, se reúnem para jogar conversa fora, para se mostrarem como pavões que são -- uma coisa totalmente profana, sem qualquer sentido iniciático na verdadeira acepção do termo. Seus elos com a Grande Ordem foram rompidos. Ela perdeu o contato com a Palavra do Aeon e com a Sucessão Apostólica. “Ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir”.
Apresentar as origens, a história e os protagonistas do Movimento das Ordens Thelêmicas no Brasil tornou um trabalho difícil, exaustivo, envolvendo uma complexidade quiçá além de nossa capacidade discursiva, sem citarmos a grande reação contraria à sua realização; reação esta dirigida por interesses escusos, está claro. Além disso, existem “historiadores” que, por motivos pessoais e de grupos, escamoteiam a verdade para que ela jamais seja conhecida clara e abertamente. Assim mesmo, tentaremos fazer o melhor a nosso alcance no sentido do verdadeiro.
De início temos que terminar, e de uma vez por todas, com as fábulas e intrigas a respeito de Thêlema. Ninguém pode negar que o próprio processo em terminar com toda essa miscelânea já é, por si mesmo, uma odisséia. Aqui estão envolvidos interesses pessoais e de grupos. Ninguém desconhece o fato de que pessoas (muito mal intencionadas) afirmam categoricamente, mas equivocadamente (pois os fatos não confirmam a versão), que Thelema nasceu no Brasil quando, em 1995, chegou à nosso país uma delegação provinda de uma das várias organizações, sob o nome ordo templi orientis , para iniciar alguns indivíduos aos Três Primeiros Graus. Nada há de mais equivocado, de mais absurdo, como iremos constatar no decorrer desse trabalho.
Mostraremos, apoiados por provas documentais, que o Sistema Thelêmico teve início no Brasil há exatamente trinta e oito anos e através os trabalhos de Marcelo Ramos Motta. Os fundamentos dessa afirmativa têm sido ventilados em várias monografias e cartas, cada qual destacando específica face da questão.
Na verdade, até 1962, Thêlema, Aleister Crowley, ordo templi orientis , Ordem de Thêlema e a A.’.A.’., eram assuntos desconhecidos em nossos meios esotéricos. A não ser alguns pouquíssimos estudiosos, com acesso a livros escritos em outros países (principalmente na língua inglesa), e uma ou duas organizações ocultas mais sérias, tinham a idéia do que esses nomes representavam no contexto do ocultismo moderno. Também é fato notório que essas organizações e essas pessoas escondiam cuidadosamente tal conhecimento do público. Mesmo alguns membros (de graus mais baixos) dessas organizações nada sabiam a respeito de Thelema, etc., pois seus superiores hierárquicos temiam ser vistos como tendo quaisquer ligações com Aleister Crowley, cuja reputação, nos meios sociais e religiosos, era a pior possível, se bem que, como sabemos, tal reputação sendo o resultado de sórdida campanha organizada e bem elaborada pelas igrejas e ordens crististas contra aquele homem.
Entendam os leitores que não ficaria “muito bem” para o “status” dessa gente ser reconhecida como mantendo ligações com Thêlema e Crowley - que no dizer da Igreja de Roma e das Correntes Osirianas, seria um satanista da pior espécie.
A confusão, a indeterminação histórica, as lutas políticas internas e aquelas entre facções rivais, as divisões, e as várias lacunas e anomalias existente nas biografias dos líderes das organizações de perfil maçônico, são mazelas constantemente observadas pelos pesquisadores sérios. A ordo templi orientis não fugiu a essa regra, infelizmente.
Com invariável constância, vemos pessoas se espantarem com esse fato, e de como pode isso acontecer. isto é: como pode haver tanta divergência entre ordens ou fraternidades se dizendo iniciáticas, e indivíduos se dizendo Adeptos nos mais altos graus.
É incompreensível para muitos (mas não para iniciados) como estas coisas podem acontecer em organizações supostamente criadas e mantidas pelos “Mestres”, isto é, seres que, acredita-se, atingiram níveis de consciência, espiritualidade, conhecimento e sabedoria muito além do vulgar; e que, obviamente, deveriam estar inoculados contra as fraquezas do mundo profano. E nós não podemos dizer serem injustificadas essas dúvidas; temos visto coisas altamente chocantes e condenáveis acontecerem entre esses “Mestres” e seus seguidores. O problema é observado com tanta frequência que nos parece fazer parte integrante nos contextos dessas organizações e de seus fundadores.
Para explicar essas anomalias poderíamos elaborar três hipóteses, a saber: ou estas ordens são falsas e jamais tiveram quaisquer elos ligando-as a quaisquer correntes genuinamente iniciáticas; ou aqueles que as formaram não são Adeptos coisa nenhuma, e muito menos reais iniciados; ou existe, muito bem velado, algum fator desconhecido aí inserido, trabalhando no sentido de destruir, desagregar ou testar essas instituições, mediante a manipulação de discórdias, divisões e lutas internas. Sob esse ângulo, a última hipótese seria, particularmente para nós, a mais próxima da verdade, embora não descartemos inteiramente as outras duas restantes. Por que mestres espirituais permitem tais coisas acontecerem? A questão não é fácil de ser respondida. Talvez a resposta seja de que eles não possam interferir diretamente nas ações dos indivíduos; ou que não têm poder para isso, ou estejam testando a integridade moral e espiritual dessas organizações. Talvez , quem sabe?, seja necessário deixar “o barco correr”. Pessoas e grupos necessitam exercer o livre arbítrio, para se poder avaliar o real valor delas e deles ante as solicitações do mundo profano, ou ataques de forças antagônicas.
Evidentemente, existem várias outras versões explicando o fenômeno. Além do mais, seria bastante importante que os leitores entendessem que as ordens são formadas, estruturalizadas, “dirigidas” e, principalmente, administradas, no plano material, por indivíduos (homens e mulheres iguais a nós) possuidores de uma notável diversidade de opiniões sobre variados temas, e bastante falhos em pensamentos e ações, como nós todos. E isto acontece mesmo entre os principais membros de uma mesma organização. Como exemplo dessas divergências entre líderes, membros, etc., veja-se a história da Golden Dawn. Entretanto era de se presumir, que pelo menos no básico, houvesse uma concordância comum entre esses homens e mulheres. Infelizmente não é assim que acontece, o que para muitos torna-se um paradoxo inexplicável. E não é fácil discorrer sobre um assunto tão complexo quanto esse, demandando anos de estudo e experiência pessoal.
A história, o desenvolvimento e as condições atuais das ordens thelêmicas são temas extremamente confusos. Esta confusão vem de longas datas. Ela se alastrou, no decorrer dos anos, em outros países, e no nosso, de uma maneira além de qualquer controle. Particularmente no Brasil, a todo esse amaranhado obscuro, soma-se eventos até hoje não devidamente explicados ou esclarecidos, maldosa e maliciosamente deturpados por indivíduos cujo propósito é aumentar a confusão já existente; indivíduos sem um mínimo de ética, hombridade e lealdade pessoais - verdadeiros aproveitadores das coisas santas para benefício próprio. Nesse contexto destacamos os eventos ocorridos, no Brasil, entre 1962 e 1975 e aqueles surgidos entre 1976 e 1987. Nos anos subsequentes, e com o aparecimento de inúmeros grupos arvorando-se como genuinamente thelêmicos, aumentou mais substancialmente essa teia desordenada onde surgem mais intrigas políticas, subornos morais, usurpações, lutas por direitos autorais duvidosos, influência da política vigente, e as mais inconcebíveis acusações entre “irmãos”. Em suma: até hoje ninguém pode, com a devida convicção, dizer o que realmente ocorreu, ou está ocorrendo no seio das Ordens Thelêmicas, seja no Brasil ou no exterior, a não ser que se tenha envolvido direta e pessoalmente na evolução de todas as ocorrências desde 1962, quando Marcelo Ramos Motta, publicando “Chamando Os Filhos do Sol” deu início ao Movimento Genuinamente Thelêmico no Brasil.
Esse é um trabalho, sem quaquer pretensão a não ser aquela de informar correta e independentemente . Isso significa que não possui vínculos com quaisquer organizações thelêmicas conhecidas publicamente. Sendo mais explicito: O autor de “A Ordem e o Juramento” não está atualmente, embora estivesse no pretérito, ligado, mesmo que remotamente, a qualquer organização, na externa, que se diga ou que se tenha como thelêmica, principalmente aquelas aparecendo sob nomes como ordo templi orientis ou A.’.A.’.. Refutamos veementemente qualquer afirmativa contrária.
Durante o decorrer de muitos anos, quando estávamos ativamente inseridos no contexto de ‘organizações thelêmicas’, observamos existir uma paranóica tendência em sempre se vincular todo e qualquer movimento thelêmico puro a uma dessas estruturas acima mencionadas. Esse é um erro grosseiro, primário - uma mediocridade cometida por aqueles que pouco, ou nada, conhecem a respeito de Thêlema como uma nova e arejada filosofia de vida. Compreenda-se que qualquer indivíduo (homem ou mulher) pode abraçar Thêlema como propósito de vida, sem pertencer, afiliar-se ou submeter-se à estruturas, ou hierarquias de qualquer organização, denomine-se ela ordo templi orientis , A.’.A.’. ou qualquer outro nome que tenha no universo das, assim chamadas, ordens ou fraternidades esotéricas: “Todo homem e toda mulher é uma estrela”.
O visto, hoje, é que, por várias razões, grande número de pessoas perderam a confiança nessas organizações, pois elas têm sido manipuladas e adaptadas politicamente em favor de determinados grupos, nos quais a maioria dos membros direciona suas intenções na obtenção de poder pessoal sobre seus semelhantes, numa clara demonstração contrária ao disposto em Liber AL e Liber OZ, as duas Colunas Mestras do Edifício Thelêmico, que, claramente, liberam as pessoas de qualquer amarras, sejam políticas, sociais ou religiosas.
Creio que me cumpre dar algumas explicações quanto ao tema aqui abordado, cujo conteúdo poderá, talvez, surpreender grande parte de leitores, devido certas declarações feitas e a franqueza com que um tema, sempre velado ao público (apenas discutido em círculos de “altos iniciados”), é aqui exposto aberta e claramente.
Nada será revelado, ou oculto, a favor ou contra esse ou aquele grupo se apresentando como uma Ordem Thelêmica Essa será a política básica de todo trabalho desenvolvido. Falo de uma maneira geral, sem particularizar esse ou aquele Ramo, em que se dividiu e subdividiu-se o Sistema original.
“Confusa, muito confusa”-assim se expressou certa vez um Estudante a respeito da História e da atual situação da ordo templi orientis . Eu, talvez, usasse termos mais rudes, mas penso não ser necessário. Pessoas arguciosas, e de bom senso, sabem do que, e sobre que, aquele Estudante se referia. Entretanto, existem a outras que, por puro comodismo, ou por fraqueza moral, ou por quaisquer outros motivos pessoais, não querem “ver” o obvio, e continuam tentando tapar o sol com uma peneira, ou adotando a atitude do avestruz : “o que não vejo não existe”, enfiando a cabeça na terra para não ver o perigo que se aproxima. Realmente, não existe posição mais cômoda do que esta (sob o ponto de visa do avestruz, certamente) mas ela é bastante perigosa, tanto para o indivíduo quanto para o coletividade.
Por que, me pergunto, chegou aquela Ordem a uma tão crítica situação? Entretanto, pensando bem, chego à conclusão que sempre tem sido assim. Não encontro nenhuma época, desde a criação da ordem, em que a unidade dela não esteve à mercê dos atritos e contradições de seus “inúmeros líderes” ou de outros membros.
Na verdade, a quebra da unidade orgânica em facções antagônicas sempre mostrou-se uma constante, malgrado muita gente julgue que, nos anos iniciais, logo após a criação da Ordem, esta sombra ameaçadora não existisse. Grande ilusão. Basta uma rápida leitura nos vários livros e documentos para verificarmos esta ilusão.
A que poderíamos atribuir como causa dessa intrigante situação? Por que a unidade entre irmãos e irmãs deva sempre sucumbir ante o “monstro ego”, quando todos os caminhos, genuinamente templários, aponta na construção e fortificação de uma união e fraternidade inabaláveis, conseguidas através a destruição dos egos numa luta interna constante. Mas será isso verdade? Será verdade que os irmãos e irmãs dedicam-se seriamente à destruição do ego em benefício da Irmandade Universal?
Bem, pode ser que isto seja verdadeiro para Thelemitas; mas o será para os pseudos membros da ordo templi orientis , ou da A.’.A.’.? Julgo que a resposta seja não. E penso estar aí uma das causas da questão.
Vejamos, com redobrada atenção, se estou correto nesse pensamento. Pode ser que ele esteja um pouco enevoado, devido a algum motivo que foge à minha consciência. Afinal sou um ser humano como outro qualquer, propenso a erros de julgamento.
Ninguém desconhece que a ordo templi orientis surgiu muito tempo antes de Thelema ser oferecida ao mundo.
Qual o significado disso?
Entre outras coisas significa que a Ordem nasceu sob o signo do Aeon Passado e, portanto, profundamente embebida pelo egregora do Deus Sacrificado: fadada a durar pouco tempo, já que toda sua estrutura original (rituais, filosofia, direcionamento, crenças, etc.) não poderia sobreviver no futuro (isto é, no nosso presente) a não ser sendo alimentada por atos predatórios e vampirescos, como acontece com a Igreja de Roma.
Crowley, é verdade, após assumir o Ramo Inglês da Ordem, tentou mudar esse quadro ao adaptar os velhos rituais à Nova Realidade Cósmica. Porém, esta louvável tentativa não surtiu efeito. Não foi suficientemente radical e profunda: os rituais foram revisados mas sem muita mudança. E o resultado do uso desses rituais nos últimos setenta anos foi catastrófico. Surgiu uma ordem indisciplinada, dividida contra si mesma, eivada de confusão e anarquia. Alguns pontos negros permaneceram teimosamente grudados na nova roupagem, como todos podem constatar não somente nos graus mais baixos, como também nos superiores, principalmente no discurso do IX grau, onde encontramos claras referências a “Nosso Senhor Jesus Cristo”. A tentativa foi a mesma que colocar vinho novo em odres velhos. Infelizmente, Crowley, como ser humano , também estava envolvido pelas vibrações do Velho Aeon.
Há também de se lembrar que ele nasceu muito antes do ano de 1904, quando vibrações osirianas ainda estavam em pleno vigor. Somente crianças nascidas após 1904 é que despertaram para a vida sob a influência das vibrações de Horus, o “Vingador de Osiris”. Em seguida podemos observar que líderes e membros da ordem original, todos eles, sem quaisquer exceções, encontravam-se profundamente magnetizados pelo egrégora do “Sacrificado na Cruz” e, dificilmente, libertar-se-iam desse envolvimento até suas mortes físicas. Tanto isso é verdadeiro que o próprio Theodor Reuss (o segundo líder mundial da ordem) repudiou Thêlema em todas suas nuances e, consequentemente, afastou-se de Crowley e do Ramo liderado por ele. Nisto seguiram-no inúmeras Lojas germânicas e suiças.
Comenta-se com muita ênfase sobre a suposta renuncia de Theodor Reuss ao cargo de líder da ordem em favor de Aleister Crowley. Esta é uma ‘história’ inveridica, jamais aconteceu, sendo mais uma lenda a respeito de Crowley, Theodor Reuss, ordo templi orientis etc. com intuito fantasiar e ocultar os reais fatos. Para confirmar isso, temos aquela declaração do próprio Crowley em seu diário mágico de 1921: “Eu proclamei a mim mesmo O.H.O.”. E, em carta dirigida a Heinrich Tranker (1924), admite que Reuss em tempo algum o houvera escolhido como sucessor na ordem
.
Observemos que todos os preceitos da ordem eram (e alguns continuam sendo), obviamente, osirianos, elitistas, machistas, etc.
A ordem, como inicialmente idealizada, pertencia a uma época na qual os preceitos crististas imperavam. O caráter patriarcal apresenta-se claro ao considerarmos que o segredo central da ordem (a feitura do elixir, por assim dizer) refere-se somente aos homens (o macho). É impossível a uma mulher ‘fabricar’ e tomar o elixir sem o concurso do homem. Mas o homem pode ‘fabricar’ e tomar o elixir sem o concurso da mulher. E digo mais: nenhuma mulher pode atingir o IX e o XI graus, a não ser pró forma. Enquanto a idade e o vigor do homem não apresentar empecilho ao seu Trabalho no Nono Grau ele poderá realizá-lo sem problemas. Já com a mulher a coisa não funciona assim. Após a menopausa é posta de lado.
A ordem está eivada do elitismo germânico do Século XIX. Aqueles que a idealizaram, ou que a ela se uniram nos anos subsequentes podiam - e acredito nisso - ser pessoas muito bem intencionadas, mas estavam inconscientemente sob a direta influência desse elitismo. Encontravam-se tão absortas no ambiente da época que nem de longe percebiam essa condição. Analisem os títulos pertencentes aos diversos graus, principalmente aqueles mais elevados. Observem as fotografias dos ilustres fundadores e subsequentes líderes da ordem. O que vemos? Homens em poses bombásticas, pomposas, cobertos de adornos ridículos, exibindo autoridade sobre os ‘inferiores do mundo’ (os não iniciados). Não parecem homens, mas sim estátuas suportadas pelos pedestais da vaidade egoica.
É dito por Alex Constantine (The ordo templi orientis & CIA - Ordis Templis Intelligentis) : “A ordo templi orientis foi fundada em 1895 e 1900 por uma dupla de poderosos mações, Karl Kellner e Theodor Reuss . Politicamente a ordem identificava-se com a extrema direita, propondo a criação de um mundo pan-Germânico (o antigo princípio da raça superior, destinada a segurar a rédeas do mundo) baseado em crenças espirituais pagãs. Kellner morreu em 1905, e Reuss, um antigo espião do Serviço Secreto Prussiano, assumiu o cargo de líder. Quando residindo em Londres, Reuss espionava socialistas exilados, entre esses a filha de Karl Max. Em 1912 ele contatou Aleister Crowley, apontando-o Cabeça do Capítulo Britânico da ordo templi orientis Mas a lealdade política da Besta sempre foi uma questão aberta.”
O trabalho do Sr. Alex Constantine, contendo alguns erros e exageros, chama nossa atenção porque mostra o quanto a ordem está envolvida em política, sempre mantendo em seus principais cargos homens que, de uma maneira ou de outra, estiveram, ou estão, envolvidos em atividades de espionagem, incluindo-se o próprio Crowley, como é dito no trabalho do Sr. Alex Constantine.
E falando em política, não posso de maneira alguma me abster de criticar a política de um certo ramo da ordem, quando vejo a economia de meu país se esvair num sangradouro sem fim, e seu povo se empobrecer cada vez mais, enquanto os vetustos membros desse ramo, que se diz brasileiro (embora seu líder não o seja) perdem precioso tempo e energia discutindo temas que em nada criam soluções concretas para minimizar a situação. Responder: “isto não é nosso problema” (porque assim parece estar determinado em Liber AL, Cap III Vs 18. ), é querer esquivar-se da responsabilidade que todos nós, nacionais brasileiros, temos com nosso país e, principalmente, com as futuras gerações, às quais temos a obrigação de entrega-lo livre e rico.
Saiba-se que a evolução de um pais, principalmente em sua parte espiritual (as outras vem por acréscimo) está na razão direta da evolução espiritual de seus iniciados. Quanto mais desenvolvidos e fortes, espiritualmente falando, são esses iniciados, mais espiritualizado e forte será esse país - mais rápida será sua evolução. Atenção para o que estou afirmando: um pais espiritualizado, um país harmonizado com o Universo, não quer significar que esse país seja militarmente poderoso. Não! Força bruta, poder bélico não quer significar Poder Espiritual, Evolução Espiritual, etc.
Entenda-se isso, por favor.
Ordem ou ciência alguma poderá ser popularizada enquanto se mantiver atada a qualquer tipo de elitismo. E, interessante, caso esse elitismo seja quebrado a ordem desaparece; e, assim sendo, nos deparamos com um grande dilema: ou servimos à ordem ou servimos ao nosso povo. O ideal seria servirmos o povo através da ordem. Quanto mais forte a ordem mais forte o povo. Mas isso é uma quimera inatingível enquanto a humanidade, “in totum”, não alcançar a plenitude do Conhecimento e da Sabedoria Espirituais. Evidentemente, se todos nós (a humanidade) somos Um Só, como poderia um grupo isolado ser feliz ao atingir a plenitude da Sabedoria, enquanto outros ainda se encontram nos baixos níveis da ignorância?
Particularmente, se o Universo nos fez brasileiros é porque nossa responsabilidade é trabalhar nesse , e por esse, país, que é constituído por seu povo. Sem os brasileiros não existe Brasil. E se o povo brasileiro continuar ignorante, o que será do Brasil? Nosso país está, talvez, passando pela pior fase em toda sua trajetória histórica, seja no campo político, financeiro, econômico, social e espiritual. Seu futuro depende de como passarmos por esta fase, e essa passagem depende de todos nós.
Reconheço que estas idéias possam surgir ridículas à pessoas superpragmáticas, principalmente a certos tipos de thelemitas e a “brasileiros” destituídos de sentimento patriótico. Por isso, eles nos chamam de tupiniquins. Para esses descontentes em terem nascido no Brasil existe o remédio emigração. “
Ame-o ou deixe-o.