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O.T.O E SUAS CONTRADIÇÕES

 

Naquela ocasião, muitos ocultistas destacados acreditavam que os antigos mistérios não mais deveriam ficar reservados a uns poucos, mas tornarem-se disponíveis a todos que deles precisassem.

 

No Equinócio de Primavera de 1973 recebi, de Marcelo Ramos Motta, uma Carta Patente da O.T.O. para trabalhar nos Três Primeiros Graus da Ordem no Brasil. O projeto seria formar um grupo de interessados (entre homens e mulheres) em fundar um núcleo inicial da Ordem em nosso país. Na época, tambem era intuito publicar várias obras de Aleister Crowley, destinadas a preencher a lacuna existente, no Brasil, sobre o Sistema Thelêmico de Consecução Espiritual. O projeto era uma aposta de sucesso. Tínhamos, como inspiração, a juventude e a vontade de criar uma nova mentalidade, em termos de Ocultismo no Brasil, totalmente divorciada dos padrões do Sistema do Deus Sacrificado (Osíris-Yeshua). Porém certos eventos, provocados por agentes infiltrados das Forças Antagônicas, mudaram todo este esquema.

Antes de mergulharmos fundo no assunto, necessitamos abordar certas considerações imprescindíveis à compreensão de nossa narrativa.

1) Não sou nenhum mestre, e nem mago, e muito menos um iniciado no estilo que muitos indivíduos se apresentam publicamente;

2) Não faço chover, não ensino o “caminho do céu”, não mando ninguém para o “inferno”, e muito menos ensino como ganhar dinheiro de modo fácil e sem trabalho, ou a ganhar a mulher do próximo. Sou apenas um homem, como 18outro qualquer, que caminha sobre a face do planeta em busca da auto-realização;

3) A noção de mestre é, para mim, a mais clara demonstração do desconhecimento da verdade – a maior barreira erguida entre nós e a  Compreensão de Nós Mesmos (ou do Universo). Portanto, guardem-se das “hierarquias” a respeito do saber, mas não das hierarquias da Sabedoria. A real idéia de Mestre é bastante difícil de ser entendidade pelo profano e por aqueles iniciados de baixo gau. O verdadeiro Mestre está em nós mesmos e fora de nós, e somente “aparece” quando realmente estamos prontos, isto é, quando nós (os “eus”) desaparecemos. O Mestre não é, e jamais foi, uma “pessoa” fora de nós. O Mestre deve ser procurado dentro e não fora de nós próprios. Tudo que  afirma ao contrário e pura mentira, engodo, e desejo de domínio de outros sobre nós. Somente devemos considerar Instrutores, isto é, indivíduos que estão situados um pouco à nossa frente na Escala Evolutiva; é a hierarquia que deve ser respeitada. Mas lembre-se de que cada estrela possui órbita própria, um particular caminho. Isto, é claro, contraria o antinatural conceito de igualdade de todos os homens, tão falso que qualquer real homem deveria sentir náusea com sua mera denominação.

4) A idéia de um Mestre externo cria dependência e por isto está escrito: “Todo homem e toda mulher é uma estrela”;

5) É função do Instrutor insistir que seus instruídos sigam suas próprias órbitas pessoais, como estrelas que são. O verdadeiro Mestre está, repito, em nós mesmos – num sentido mais profundo, ele seria aquilo que, em certas Escolas de Iniciação, chama-se “Sagrado Anjo Guardião”, e em outras“Cristo Interno”. Uma mais profunda  definição seria “Eu Mesmo Além de Tudo Meu”. Um ponto hierárquico acima de nós mesmos;

6) No conjunto dos temas  a serem aqui abordados, destacamos os seguintes:

a) As prováveis origens da O.T.O. Seus prováveis fundadores. Suas ligações com Thêlema e outras Correntes, etc.

b) O desenvolvimento do Sistema Thelêmico e da O.T.O. em nosso país e outros lugares.

c) Uma análise dos Antigos Rituais (os originais de Theodor Reuss e aqueles reformulados por Crowley, dentro do Sistema do Novo Aeon.

d) a questão do surgimento de vários Ramos da Ordem, inclusive aquele criado por Marcelo Motta no Brasil (este Ramo, posteriormente à morte de Marcelo Motta, dividiu-se em 5 outros “independentes”).

e) A realidade a respeito dos atuais “Cabeças Externas da Ordem (O.H.Os.).

f) Outros temas de interesse geral.

Como objetivo secundário, o trabalho se prestará a demonstrar como a ordem e o sistema norteando seu caminho têm sido mal interpretados, mesmo por muitos daqueles se dizendo thelemitas ou irmãos da O.T.O., e porque a ordem sofreu tantas atribulações em sua trajetória, principalmente nos períodos entre os anos de 1962 a 1975, e 1975 a 1997.

Todavia, não afirmo eis a verdade. As lacunas existentes neste ensaio são inúmeras para não o tomarmos como uma apresentação completa e definitiva. Há de se levar também em consideração as tendências pessoais do ensaísta. Antes, o trabalho deveria ser visto como uma introdução – um grupo mais ou menos conexo de sugestões e informações a serem estudadas e que, espero, possam servir de alguma utilidade prática à estudantes, não somente de Thêlema, como  também à outras correntes de pensamento. A todos, sem quaisquer restrições, fazemos o seguinte alvitre: tudo que aqui não possuir utilidade prática e não apresentar alguma coerência, tornar-se-á descartável. Porém, que todos se aproximem do trabalho com mentes abertas, serenas e destituídas de preconceitos, e com liberdade plena de julgamento, principalmente para com os fatos apresentados nos anos de 1974 e 1975, sobre os quais tem havido tantos debates, tantos melindres pessoais, tantos males entendidos, mas poucos esforços no sentido de uma solução definitivamente acabando com as barreiras separando os vários Ramos da Ordem, surgidos aqui e ali ao sabor de preferências pessoais em total desrespeito a uma hierarquia espiritual pré-estabelecida.

Os últimos anos me têm sido muito profícuos e forneceram oportunidades em que eu pude observar, perplexo, até onde pode ir a ignorância humana, a confusão generalizada, erros, e o isolamento infértil gerado pelo império do condicionamento mental ao qual, todos nós, fomos submetidos durante milênios elos padrões do sistema do Deus Sacrificado. Não bastasse isto, temos testemunhado agressões entre várias “clãs”, formadas em torno de indivíduos ligados, anteriormente, a este ou aquele líder – alguns dos quais já falecidos, e que nem por isto devemos considerá-los perfeitos, como normalmente é regra fazermos com  aquele que já morreram, mesmo que tenham atuado nocivamente na sociedade.

Com efeito, todo este tempo perdido em infindáveis e infrutíferas arengas, em gratuito desgaste de energia, que bem poderia ser usada com mais inteligência para causas mais nobres a favor da correta divulgação do que é, na realidade, o Ocultismo, e um alerta do que está se passando à nossa volta nos últimos anos.

Ao apagar das luzes desse Século moribundo, visualizamos a necessidade de , urgentemente, estabelecer uma clara e precisa reavaliação de nossa posição em frente à religião e ao esoterismo (ou ocultismo, eu uso os dois temos indiferentemente) como atualmente o conhecemos, acabando com a prática oportunista e maléfica daqueles que, se utilizando disso, para ganhos pessoais, as têm profanado de maneira ignóbil. Somente armados de grande coragem e determinação e visão profunda, poderemos acabar com toda esta mistificação irresponsável, criminosa, em que transformaram o ocultismo, principalmente  aquele Sistema chamado Thelêmico.

Não podemos nos inclinar ante aqueles cujos pensamentos e atos provam não estarem prontos para compreender os “mistérios”, e a real condição em que o homem se encontra no momento. Não podemos nos inclinar ante aqueles que tentaram (e ainda tentam) transformar a O.T.O. em uma desordem, aliando-se à forças claramente antagônicas às Leis da Evolução, com o nome de democracia. De maneira incisiva, a verdade dos fatos tem que ser dita abertamente, sem pejo ou considerações pessoais, ou de grupos, para que todos a vejam em seus mínimos detalhes. Como dito por Blavatsky “O Segredo é Inimigo da Verdade”.

I

   Em 1904, aconteceu um fato de grande importância nos anais do Ocultismo. Alexander Crowley (mais conhecido como Aleister Crowley) escreveu Líber AL vel Legis (O Livro da Lei), segundo ele ditado por Aiwass, um habitante de outro plano de existência, dotado de um conhecimento muito acima do humano. Com isto, segundo os Thelemitas, iniciou-se o Aeon de Horus (uma Nova Era de evolução humana), em substituição ao Aeon de Osíris (ou Era do Deus Sacrificado: Attis, Dionisios, Adonis, Osíris, Jesus, etc.).

Uma das mais estranhas ironias da História é não haver limites para os erros de interpretação e as deturpações das teorias, ou de sistemas, mesmo numa época de acesso irrestrito à fontes. No mundo do Esoterismo, não há exemplo mais drástico desse fenômeno do que o acontecido com as doutrinas Thelêmicas (ou crowleyanas), nos últimos oitenta anos. Temos constantes referências a Crowley e a Thêlema na imprensa, nos discursos de ocultistas, em ários livros e uma infinidade de artigos produzidos por  pessoas iniciadas ou não. No entanto, com poucas exceções, parece que estes (especialmente em nosso país) sequer viram,  ou leram de relance, uma única linha  escrita por Crowley, ou tiveram um mínimo de práticas  thelemicas. E aqui surge outro fenômeno, onde “esoteristas” de baixíssima categoria aparecem, como “grandes magos”  conhecedores de Thêlema, e dedicando-se a explorar o “conhecimento oculto” para angariar dinheiro e fama pessoal.

Até 1904 estávamos, a maioria de nós, condicionados ao paradigma Osiriano que estabelecia os critérios sociais, os rumos das pesquisas científicas e, claro, os conceitos religiosos, apoiados na idéia de sacrifício do indivíduo em favor da coletividade e o preceito, também  abraçado por Marx, da “igualdade entre os seres humanos”, uma falácia inventada para enganar o povo e mantê-lo presos à certas teorias políticas. Em suma: estabelecia-se que o mundo devia funcionar de acordo com o modelo (padrão) adotado, ou melhor, imposto pelo poder coercitivo, financeiro, social e religioso de uma época em franco declínio. Neste contexto, somos treinados em pesquisar, falar, raciocinar e agir dentro dos paradigmas  aceitos como certos, verdadeiros, etc. Idéias fora deste padrão são consideradas esdrúxulas, perturbadoras da ordem estabelecida, heréticas, elucubrações de mentes desequilibradas, vistas com alta desconfiança e totalmente minadas e descartadas como “não condizentes” com o paradigma aceito. A filosofia thelêmica nos liberta dos grilhões osirianos, mas não de uma hierarquia que devemos nos submeter, espontaneamente no Caminho Iniciático.

Parafraseando Carlos Antonio Fragoso: “Nossa civilização (cristão, judaica, mulçumana, etc) está em crise, e não precisamos de fazer um grande esforço para percebermos isto. A técnica, o tecnicismo e a alta tecnologia, associadas a uma forma de viver moderna, igualmente técnica, cada vez mais estereotipada , pragmática e menos humana, está apontando para a falácia de mais uma promessa: por nos meios de produção, no acumulo de riqueza ou no extremo desenvolvimento material, a chave pra a felicidade (hoje tudo isto tem separado, cada vez mais,, o homem do homem, o homem da natureza, e o homem de si mesmo. Esse é o modelo seguido por nossa ‘civilização’ nos últimos seiscentos anos”. Thêlema nos liberta dessa situação pseudamente sem solução.

O trabalho ora apresentado é absolutamente novo. Ataca, no campo dos fatos historicamente averiguados, o complexo problema das origens e desenvolvimento das Ordens Thelêmicas (principalmente da O.T.O.) seus mais destacados personagens e episódios. Satisfaz plenamente as exigências largamente sentidas de um trabalho rigoroso, num campo  altamente escorregadio.                     

Albert Einstein disse que apenas duas coisas são infinitas: o Universo e a burrice humana. E acrescentou: mas quanto ao Universo tenho minhas dúvidas

Não sei florear minhas palavras. Elas são diretas, claras e sem subterfúgios, principalmente tratando-se do assunto como o que pretendo desenvolver aqui.

Não procuro, com metáforas, amenizar o ditado por minha consciência. Este não é meu estilo literário, muito embora, reconheça que ele  tenha causado, ao longo da minha vida, sérios aborrecimentos e dissabores. Mas, pouco importa! Não podemos fugir desses acidentes de percurso. É esta uma antipática maneira de se expressar, concordo. Mas surge eivada de pureza e autenticidade; e, por isto, sou criticado com veemência por amigos das inverdades, atuando em nosso meio. Esta crítica vindo, principalmente, de facções esotéricas ligadas  a um certa e espúrias “organizações thelêmicas”[u1] , instaladas no mundo, nas últimas décadas do século passado, e desenvolvidas sob  “lideranças” capengas, e zarolhas, alicerçadas numa política enferma e em um poder financeiro escravizador, que nada tem a ver com Thêlema.

Não afirmo que as pessoas embevecidas por este tipo de “sistema” sejam más, no sentido que comumente damos a esta palavra dentro dos padrões esotéricos e teológicos. Não! Elas estão somente mal informadas, enganadas e, claro, lutando em defesa daquilo que julgam ser a mais pura  verdade. Isto é natural. A maioria dessas pessoas, ignoram estar sendo teleguiadas por “instrutores” mal intencionados. Estes sim: com más intenções. O engano também é fruto da falta de experiência espiritual no caminho, isto é, estas pessoas alicerçam seus pontos de vista em pura teoria mal compreendida e, geralmente, deturpada. Jamais na prática diária, conduzida por um honesto instrutor, porque se assim  fosse, colocar-se-iam bem distantes deste tipo de “sistema”, inventado por pútridas mentes embevecidas por seus mesquinhos egos. Estas pessoas não percebem que seguem um “sistema falso”, contaminado, por vários afluentes, em sua  longa trajetória até chegar a nós.

Fico perplexo ao constatar de como pessoas, consideradas inteligentes, abdicam de suas individualidades ao se entregarem à uma doutrina explicitamente dedicada a exaltação de seus  pequeninos “eus”, em detrimento da Verdadeira Entidade existente no interior deles. Afirmo isto porque, a cada dia que se passa, torna-se mais e mais evidente as profundas divergências entre o discurso e os atos dos membros dessas organizações, que se auto-denominam O.T.O. e A.´.A.´..Escuto muita coisa a sendo dita como se verdade fosse, e muita  verdade não sendo dita com vigor. Segundo, possa compreender, o discurso dessa gente deveria ser : “Faze o que TU queres há de ser tudo da Lei”; mas, na realidade, seguem “Faze o que EU quero há de ser tudo da Lei”. Pura exaltação do ego.

Houve uma grande reviravolta em meus conceitos, tanto relacionados com este tipo de “sistema thelêmico”, quanto à outras doutrinas místicas vicejando em nosso meio tão contaminado por inverdades. Não estou meramente me afastando de antigos caminhos, mas sim apontando a proa de minha nave para a Luz. Coloco-me em outra posição. Plenamente consciente do que isto significa, abandono toda estrutura “esotérica” à qual estive ligado durante tantos anos seguidos, da mesma forma como, há algum tempo atrás, quebrei os laços me unindo àquela ordem tão conhecida por todos.

Infelizmente, a natureza altamente emocional e controversa do assunto, torna inevitável a atração de radicais lunáticos ao nosso círculo. Como é normal acontecer, esses são os que tendem a gritar mais alto e a fazer mais ruído e a ocupar mais espaço à luz dos refletores do que realmente merecem. Em razão das ações de um grande grupo de excêntricos, o mundo do esoterismo (não do Esoterismo) tornou-se político, comercializado, etc.. Principalmente os, assim chamados, thelêmicos. Desta forma, várias O.T.O.s proliferam e atolam-se em rusgas mesquinhas, processos jurídicos e controvérsias sem fim sobre a autenticidade de documentos e de herança mágico-espiritual verdadeira. Como se o assunto pudesse ser resolvido através de discussões e atos jurídicos.

O “sistema” está aí, mas não funciona. Hoje qualquer pessoa, entre as mais desclassificadas, pode simplesmente pegar o telefone e solicitar “iniciação” nestas  ordens, ditas thelêmicas. Basta pagar...

Portanto, não esperem, neste trabalho, palavras doces, agradáveis e conciliatórias; mas duras, causticantes, porém honestas.

Acho completamente imprescindível penetrar nas profundezas da doutrina Thelêmica por meio da obra de Aleister Crowley, não de outros que ora se apresentam, ou se apresentaram no passado, como eruditos no Sistema. A leitura desses deve ser de pequeno interesse para o Real Thelemita. É difícil conseguir entender  as motivações que a impeliam se nos movermos por caminhos que deixam de lado o equilíbrio que alcançou a qualidade de sagrado para qualquer um que se considere Adepto de Thêlema.

II

Hoje, o escritor que deseja combater a mentira e a ignorância tem que lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como um arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela ser tornará eficaz; finalmente, precisa ter habilidade para difundi-la entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdade burguesa não estão livres da sua ação.”

Hesito em anunciar o tema deste texto. Existem perigos ao abrirmos certas portas - um perigo além do que poderíamos imaginar. O primeiro é que gere expectativas que, talvez, não sejam satisfeitas. Um outro, é que induzirá à aqueles ligados a Thêlema a abandona-lo mesmo em que se enuncie seu conteúdo. Não há atenuantes. O assunto possui história longa,  centenária e controversa. Mas assim mesmo é nosso objetivo perseguir rigorosamente, e com isenção de ânimo, o dito por Bertold a respeito da verdade, sem economizar nas dores enfrentadas durante sua busca. Será este, sem dúvida, um árduo empreendimento, principalmente quando nós mesmos estivemos profunda e emocionalmente envolvidos, e durante anos, com o tema a ser desenvolvido neste texto; isto é: Thêlema em geral e a O.T.O. e a A.´.A.´. em particular. Ao fato, acrescente-se minha relação mágico hierárquica com Marcelo Ramos Motta (conhecido esotericamente como Parzival XI°). Uma personalidade difícil de se lidar, e de se compreender, por suas idéias e ações bastante paradoxais e, porque não dizê-lo, bizarras, para a mente do homem comum, não familiarizado com os paradigmas esotéricos thelêmicos.

Mas não será  difícil compreender-se a relação de atração e repulsão que todos – com raríssimas exceções – desenvolviam em relação àquele homem., se acompanharmos sua breve carreira [1]  como divulgador de Thêlema (O.T.O. e A.´.A.´.) em nosso país. Basta analisar sua trajetória, no Brasil e nos EEUU, quando procurava ser reconhecido como o sucessor legítimo[2] de Karl Germer (falecido em 1962)[3] líder da O.T.O. (OHO)[4] verdadeiramente thelêmica. Se a pretensão de Marcelo era ou não genuína não nos cabe aqui estabelecer. Apenas ofereceremos dados e fatos para que os leitores decidam, por si mesmos, a questão, e fatos não devem ser negados por não sabermos como podem ter ocorrido. É irracional presumirmos que algo seja impossível e então concluirmos que não possa ser comprovado. Todo evento deve ser julgado pelas evidências, mas não através “evidências de nossos preconceitos acerca dos eventos”.

Marcelo Motta despendeu grande parte de  seus últimos anos de vida no sentido de assumir o controle da O.T.O. , mudando esta sigla para S.O.T.O. (Sociedade Ordo Templi Orientis) para registra-la no Brasil. Nesta época criamos e registramos a Sociedade Novo Aeon, encarregada, no Brasil, de dar continuidade ao trabalho da O.T.O.  Sendo o principal discípulo de Karl Germer (Frater Saturnus)[u2]  na A.´.A.`., Marcelo Motta, considerou-se possuidor deste direito, mas, na verdade, jamais foi patenteado para abrir uma Loja da O.T.O., como também é verdade que ele, em tempo algum, foi formalmente iniciado na O.T.O. Seu grau na Ordem (IX°) lhe foi conferido oralmente, por Germer, sem quaisquer rituais, sem que ele passasse pelos graus anteriores. Este também foi o processo, usado por Crowley, para conferir o IX° a Germer Germer também não foi iniciado formalmente na O.T.O., isto é: ele jamais passou, ritualisticamente, pelos graus anteriores ao IX°. Isto está gravado em uma de suas cartas quando declara não estar apto a receber a função de O.H.O. (Líder) da Ordem.

 

MARCELO MOTTA E A O.T.O.

 

“É minha intenção manter a O.T.O. dividida em três círculos, cada qual de três graus: o externo, o interno, e o secreto. Nenhum dos três terá grande contato um com os outros, e os mais inferiores não conhecerão os mais adiantados como tais. Isto corresponde aos graus  de Homem da Terra, Amante e Eremita, e o IX° será aproximadamente paralelo ao grau de Adepto Exempto da A.´.A.´."

                   A correspondência é a seguinte:

Probacionista:I°, Neófito II°, Zelator III°, Practicus IVº, Philosophus Vº, Adeptus Minor Externo VI°, Adeptus Minor Interno VII°, Adeptus Major VIII°, Adeptus Exempto IX°.

 Os Graus de Rei Nacional e de Cabeça Externa da Ordem (O.H.O.) são apenas de ordem administrativa, os ocupantes de tais cargos estando também no nível de Adeptus Exempto, e são o mesmo: X°. O Grau de XI° corresponde, claro, a Magister Templi, e está completamente fora do âmbito normal da Ordem.

Note que correspondência entre os graus das duas Ordens é puramente para fins de referência. Por exemplo, o III° só alcança realmente o nível equivalente ao Zelator da A.´.A.´. quando passa ao IV°, e assim em todos os casos.”[5]

 Os detalhes de organização não são de grande importância. O que é vitalmente importante é que o Mestre Secreto possa demitir ou desligar da organização, sumariamente, qualquer membro a qualquer tempo, ou todos os membros da diretoria, sem que vice-versa seja possível. Nada democrática a idéia, porém essencial......

É imprescindível que o controle fique sempre nas mãos de um membro do X° ou do XI°. Seria preferível inclusive um membro do XI°, mas historicamente (e refiro-me à maçonaria e todos os tipos de sociedades secretas) este ideal não tem sido possível de atingir.

O Xº O.T.O. corresponde a Adepto Isempto da A.´.A.´., e XIº corresponde ao Mestre do Templo da A.´.A.´.. Lebrem-se de que o XI° foi criado por Aleister Crowley. A maioria das sociedades secretas iniciáticas do passado raramente tiveram um iniciado de Grau de Mestre do Templo como orientador (ou orientadora – veja-se Blavatsky) durante sua existência histórica inteira. Por isso acabam sempre por decair.” (Carta de Marcelo Motta a Euclydes Lacerda – 09 de Novembro de 1974)

 Este era o plano idealizado por Marcelo Motta para a O.T.O. no Brasil sob sua liderança. Ele era incrivelmente seguro de suas idéias. Principalmente no que tangia a Ordem.   Entretanto, e infelizmente, não conseguiu realizá-las. Nenhum dos grupos, formados por ele, atingiram qualquer resultado palpável. Membros desses vários grupos, após a morte do líder, tornaram-se inimigos ferozes.

Educado, instruído, [6]disciplinado, e severamente intransigente em relação aos assuntos de Thêlema., Marcelo Motta atraía a todos (ou repelia) com seu discurso fácil e suas esdrúxulas posturas esotéricas ou profanas. Nunca o vi exaltar-se, a não ser em momentos muito especiais. As vezes eu me pilhava confabulando comigo mesmo a respeito de algumas de suas afirmativas [7]. Não devo aqui afirmar ter sido ele um gênio no esoterismo; mas muito se aproximava disto. Permaneci ligado a ele, em nossos estudos esotéricos e thelêmicos, por treze anos consecutivos., durante os quais fui evoluindo mental, moral e espiritualmente, dentro dos parâmetros thelêmicos que se afastam bastante daqueles alimentados na sociedade, assim dita, cristã[u3] 

Pelo menos eu superava minha fragilidade mental e espiritual, tornando-me um crítico severo de mim mesmo e de muitas crenças mundanas e religiosas, que nada tinham a ver com a realidade do nosso mundo. Eu mudara radicalmente minhas idéias. Atualmente, não tenho muita certeza de que tal mudança tenha sido benéfica em todos os pontos de vista, a não ser em certas e determinadas circunstâncias; assim mesmo muito específicas. Não quero com isto dizer estar arrependido de minhas andanças pelo terreno thelêmico. Muito pelo contrário. Mas o aprendizado foi por demais contundente e rápido, não dando tempo suficiente, ao meu eu, em digerir todo aquele alimento esotérico. Isto me provocou  uma “inflamação egoica”.

Na realidade, eu jamais soube atingir o equilíbrio necessário pra avaliar os ensinamentos que me eram dados, e nem ponderar sobre minhas reações em relação a tudo quanto me fora oferecido em tão pouco tempo e tão rápido.

Com referência à personalidade íntima de Marcelo Ramos Motta, Germer e Crowley jamais cheguei a uma definitiva conclusão: foram eles grandes iniciados ou verdadeiros bufões, ou auto iludidos? Como classificar Marcelo Motta, a quem, indubitavelmente, muito devo no sentido de uma determinada consecução espiritual? E como classificar certas atitudes burlescas de Crowley? Mesmo assim, penso que um saldo positivo surge a favor deles.

Marcelo Motta foi uma das figuras – e isto ninguém pode contestar – mais expressivas no campo do ocultismo contemporâneo de nosso país e, quiçá, no exterior. Todo seu lado positivo, construtivo, crítico, sonhador, combativo, carismático, paradoxal, intolerante, enfim, Thelêmico revolucionário, já foi por demais dito e escrito por “thelemitas” e não “helemitas”. A quem não conhece a história deste enigmático homem, recomendo a leitura atenciosa do texto “MARCELO RAMOS MOTTA, UM ENÍGMA” [8], de minha autoria e “SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA NÃO SÃO INTELIGENTES”, do próprio Marcelo. Através destas duas leituras todos poderão ter o máximo de informações para tirar suas próprias conclusões do caráter dele e o que movia sua vida.

Este homem, que tinha a reputação de ser contraditório em suas idéias a atos, foi uma personagem polêmica que, sem se contentar em atacar a moral e o status cristista em particular, e os costumes da sociedade mundana em geral, direcionava seus ataques para todos os lados (tendência esta que mais se acentuou em seus últimos anos de vida), como também não economizou esforços no ataque a vários outros thelemitas e ocultistas, principalmente aquele que se diziam “altos iniciados” e  únicos representantes de “Ordens Thelêmicas” (O.T.O., etc).

Marcelo Motta nasceu em 27 de junho de 1931. Seu pai, Samuel Catarino Motta era espírita, e sua mãe, Elzira Ramos Catarino Motta era católica romana. Sempre vigiado pelos serviços de inteligência, teve seu apartamento em Copacabana visitado por agentes do DPE.  Marcelo sempre atribuiu esta vigilância “policial” ao fato de ele estar ligado  à Corrente Thelêmica.

Marcelo, politicamente, era um anti-comunista ferrenho., como pode-se constar em “Chamando Os Filhos do Sol”, pág. 15: “Uma palavra a dizer-vos sobre o comunismo. Quer se disfarce como primitivo cristianismo, quer se chame a si próprio materialismo científico, não é nem uma coisa nem outra, pois os primitivos cristãos adoravam a Deus n’Eles mesmos; refiro-me aos Gnósticos, que a Igreja Católica ferozmente perseguiu e dizimou, porque os sabia conhecedores da grande feitiçaria. Quanto a materialismo científico, isto é coisa que o comunismo nunca foi, sendo baseado num certo número de axiomas romanescos e idealísticos que nada têm a ver com os fatos da ciência;como, por exemplo, que os homens são todos iguais....  Ainda mais, a organização social pregada por este “materialismo científico” está em flagrante contraste com a lei natural de evolução por mutação e seleção das espécies; pois a genética nos ensina, e a observação da conduta das espécies o demonstra, que variação da norma produzem evolução, e que a sobrevivência sempre tem que ser dos mais aptos”             

II

É difícil falar da O.T.O., porque, para nossa confusão, existem atualmente várias O.T.O.s. Pelo menos 30 delas, espalhadas pelo mundo. Cada qual se  auto-classificando como a única e verdadeira. Acontece com a O.T.O. o mesmo fenômeno que jogou a Ordem Rosa-Cruz no descrédito com o passar do tempo: Surgiram inúmeras  “ordens rosa-cruz verdadeiras”, com discursos os mais inverossímeis e antagônicas e somente interessadas em lucro financeiro.

A primeira cisão da O.T.O. ocorreu, ao que parece, como resultado de Aleister Crowley ter se auto-proclamado líder mundial da Ordem, e nela introduzir a filosofia Thelêmica (coisa que Theodor  Reuss sempre combateu). A partir desta data surgiram dois Ramos da O.T.O.; uma thelêmica, composta de uma número reduzido de Lojas ( Inglaterra e Alemanha. Mais tarde na América); e outras não thelêmicas, continuando a se orientarem pelos parâmetros originais, quando de sua criação por Theodor Reuss. A esta facção se aliou a maior parte das Lojas ( Inglaterra, Alemanha e França). Hoje em dia, além dessas divisões surgiram outras mais, não só no grupo thelêmico como no outro.

Marcelo Ramos Motta foi, fora de qualquer dúvida, o iniciador de Thelema no Brasil. Quem afirma que este mérito pertence a FRA [9] está completamente enganado ou enganando. A FRA jamais assumiu publicamente ser uma organização thelêmica,  nem privadamente para seus membros que  viviam, e vivem, sob a ilusão do Aeon de Osiris.[10]

Após a morte de Marcelo Motta, o Sistema Thelêmico, no Brasil, virou piada (e de mau gosto, diga-se de passagem); isto é: um verdadeiro caos , onde várias O.T.O.s e apócrifas A.´.A.´.s nascem como cogumelos em terra fértil, e se degladiam publicamente sem o menor constrangimento, e sem qualquer consideração aos reais ensinamentos Thelêmicos. Infelizmente Marcelo Motta foi “substituído”, após sua morte, por pessoas incompetentes, que pouco ou mal o conheciam. Estes “seguidores”, não sabendo avaliar a idéias dele, dentro de um aspecto thelêmico,, confundiram tudo e criaram organizações que se apresentam como verdadeiras aberrações dentro do contexto.

O ideal thelêmico, visto em sua pureza, reúne todos os elementos com os quais se poderia criar uma sociedade, onde seus membros (homens e mulheres livres) gozem a felicidade e o bem estar compatíveis com a nossa condição de seres humanos.

Entretanto, está mais do que claro que a O.T.O. idealizada por Marcelo Motta, é algo que estaria muito perto de uma autarquia com  ressaibos nazistas. Isto, porém, não tira os méritos que cabem àquela figura impar de um homem cuja vida, para o bem ou para o mal, foi dedicada ao Sistema iniciado por Aleister Crowley em 1904.

Marcelo Motta deixou uma vasta obra literária (que deve ser lida com cuidado e atenção, como um complemento à de Crowley) e vários discípulos que, atualmente, encabeçam organizações pseudo-thelêmicas. Mas estas perderam-se a si mesmas em meio a logros que, infelizmente, prevalecem no mundo “thelêmico”. Entre estas organizações elevam-se muros de mútuas desconfianças, recriminações, acusações  e expulsões. As superposições e interconexões são inevitáveis neste caos.

DISCORDÂNCIAS BÁSICAS

Digo, para conhecimento de todos, não existir qualquer, clara e harmônica conexão entre a O.T.O. (como uma ordem para maçônica) e o Sistema Thelêmico como filosofia de vida e método de consecução espiritual. Ou melhor dito: nada existe de comum, em termos estruturais entre a O.T.O. e Thêlema, a não ser a teimosia (e vaidade) de Crowley em querer transformar aquela Ordem num médium de difusão do Sistema criado por ele; coisa que Theodor Reuss sempre combateu e, por isso, expulsou Crowley da O.T.O.(1922). As disputas entre “thelemitas” da “O.T.O”, sobretudo os argumentos pertinentes às relações entre eles, tinham se tornado tão veementes  quanto os eternos conflitos entre políticos de partidos radicalmente antagônicos. A afirmativa, dita assim, pode parecer, a priori, absurda, mas veremos que não é, se apreciarmos, honestamente, o assunto sem qualquer idéia pré-concebida.

Parte da O.T.O. somente tornou-se “thelêmica” após Crowley ter sido “nomeado” líder do Ramo Inglês em 1921 [11]. A Ordem foi fundada e liderada (inicialmente) por homens profundamente influenciados pelo Cristianismo (Sistema Osiriano)  [12].

O próprio Crowley não conseguiu de maneira definitiva livrar-se das compulsões cristãs [13] entranhadas em sua personalidade. Sua infância, não devemos esquecer, foi, marcada e calcada nos preceitos cristãos da Irmandade de Plymouth, uma das seitas protestantes mais fanática da época. Fanatismo que modelou, indelevelmente, o futuro de Crowley. Todo seu antagonismo, e mesmo ódio, a tudo que cheirasse a cristianismo (principalmente católico romano) surge daí, muito embora – e isto é psicologicamente natural – nas camadas mais profundas de sua psique, ele sentia-se fortemente atraído por tais preceitos. Isto não representa uma hipostasia nossa, é uma verdade clara a vista de todos. Esta dicotomia crowleyana está patente a qualquer mais acurada análise de sua vida, e tornou Crowley um incomum e complicado indivíduo, da mesma maneira como se apresentaria Marcelo Motta no futuro. Seus pontos de vista alternavam-se no curso de mais de cinquenta anos de sua carreira como escritor.

Não raramente ele se  contradizia na mesma página. O melhor caminho, a seguir para se obter conhecimento sobre este homem e seu caráter dúbio, seria estudando, com atençõ e cuidado, sua biografia escrita por vários estudiosos, ou ler seu próprios livros. As melhores fontes versando sobre o assunto são “The Confessions” (A. Crowley)  e “The Eye In The Triangle” (Israel Regardie). Crowley, em certo sentido, era um puritano ao reverso. Curiosamente, identificando-se oponente ao Cristianismo, também praticava tradições ocultas cristãs e judaicas, e colocava trabalhos de místicos cristãos – como Ignácio de Loyola e Santa Thereza – em suas longas listas de leitura para aspirantes à Thelema. Isto é fundamental para o entendimento de fatos que serão descritos mais à frente; os quais tornaram-se assunto de discussões entre “thelemitas”, provocando profundo abalo nas relações entre eles. Aliás, isto foi bem comum na História das Ordens Thelêmicas e, por isso, nunca se estabeleceram firmemente em qualquer país do mundo.

Existem, também, sérias dúvidas quanto as considerações de Crowley em relação ao papel da mulher no mundo thelêmico. De acordo com alguns estudiosos, entre os quais destacamos Peter Koenig, o sistema de Crowley é totalmente voltado a misoginia. “A mulher existe para uso do homem”. Isto significa, à primeira vista, que seu interesse era somente dirigido para o corpo de mulher, e que não desejava nem espiritual e nem intelectual participação dela. Isto, pelo menos, é o que se depreende de suas palavras e ações a respeito das mulheres. Entretanto, por outro lado, isto ´pe negado por vários outros comentaristas.

São mais do que visíveis os fortes antagonismos entre a O.T.O. – com seus rígidos estatutos, ‘landmarks’, regras coercitivas, princípios e ritualismos maçônicos [14] - e o liberalismo Thelêmico, ou “Iluminismo Científico”[15]. Este fato tem sido induzido ao escquecimento pela maioria dos membros das “O.T.O.s”, que procurando oculta-lo de qualquer maneira dos numerosos interessados e membros novos, recém “iniciados”,  obviamente os alienando da real história e estrutura das organizações em flagrante choque com a Filosofia Thelêmica, como doutrina fundamental para trabalho no campo iniciático.

Dentro deste contexto, é bastante surpreendente apreciar como podem 3 letras (OTO)  suscitar tanta discussão, tanta animosidade entre pessoas, sabendo-se que estas letras pertencem ao logotipo de uma organização, cujos membros dizem cultuadores da  fraternidade e da liberdade humanas. Também nos causa admiração observar-se, que a maioria desses “thelemitas”, defendem ruidosamente direitos individuais e autonomia em relação ao governo e à socieadade como um todo. Mas eles somente fazem isto se estas liberdades se encaixam em seus  padrões de comportamento ou de ideais pessoais.        

Afinal, o que existe por  detrás  de tudo isto? O que há de tão importante para suscitar tantas brigas? Por que se luta tanto pela liderança de uma ordem pseudo maçônica em vias de desaparecimento?

Muitas têm sido as respostas a essas questões. Mas ninguém toca no âmago do problema. Na realidade, por detrás de todas estas lutas, estão os direito autorais do livros de Crowley, que valem muito dinheiro hoje em dia. Atualmente corre nos EEUU, e na Europa, vários processos jurídicos com a finalidade de, uma vez por todas, resolver a disputa entre várias facções. O assunto é bastante complexo e longo para ser aqui discutido, mas sabe-se que o próprio Crowley nomeara a John Symons seu executor literário. Portanto, John Symonds tornou-se o único administrador dos direitos autorais de Crowley.

As iniciais O.T.O. têm sido referidas a `Ordo Templi Orientis’, mas na verdade possuem uma outra conotação oculta como uma organização de características maçônicas, fundada, ao que é dito, por Karl Kellner. Entretanto existem muitas dúvidas a respeito do assunto. É bem provável que ela tenha sido criada pelo próprio Theodor Reuss que, após a morte de Karl Kellner, aproveitou-se do renome deste para fins de dar à sua organização maior conceituação nos meios maçônicos da época.

A Ordem, como uma organização “maçônica” osiriana, ia muito bem até 1922, quando Crowley assumiu a liderança da Secção Britânica (Mysteria Maxima Mystica). Daí em diante começaram a surgir problemas  e, desses, várias divisões eclodiram. A maioria das Lojas permaneceu fiel ao antigo sistema, repudiando a Lei de Thêlema [16]; mas outras (na grande parte de língua inglesa) tornaram-se thelêmicas o que, a nosso ver surge como um desvio das origens da Ordem. Pode se que esta seja a principal causa da O.T.O.[17] não se firmar até a data de hoje como um bloco único e coeso. A Ordem foi fundada no Sistema Osiriano (e este é um fato que ninguém pode contestar) e “adaptada” para Aeon de Horus.[18] Muitos estudiosos afirmam que a idéia de Crowley era a criação de uma sinarquia. Nisto ele  foi seguido por Germer e, mais tarde por Marcelo Motta. A O.T.O. crowleyana  possuía colorações nazistas. Na verdade Marcelo Motta sustentava a idéia de que a O.T.O. deveria ser uma autocracia. Uma Autocracia, como se pode deduzir, evoca o conceito de auto-governação. Um autocrata é aquele que detém o poder de se comandar. É muito fácil confundir-se o significado de autocracia com fascismo, absolutismo, etc.

Sabemos que atualmente a Ordem (se é que assim a podemos nomear nos dias de hoje)) vem passando por várias crises e divisões. Isto vem acontecendo desde o aparecimento de Crowley, acentuando-se ainda mais com o surgimento do Caliphado (Uma organização Norte Americana (que se diz a única e verdadeira O.T.O.) sob a liderança de um tal Hymenaeus Betha). O que esta situação significa ainda não pode ser determinada com exatidão mas, indiscutivelmente, aponta para algo errado com ela..... aliás algo muito errado.

Líderes de facções da O.T.O. clamaram, correntemente, ser os legítimos  herdeiros de Crowley. Após McMurtry iniciar uma O.T.O. nos Estados Unidos (Caliphado), precisamente na Califórnia, três outros se apresentaram clamando o título de O.H.O. (Outer Head of the Order). Hermann Metzger era um antigo membro da O.T.O. suíça sob a tutela de Reuss. Entretanto, seu clamor foi ignorado por todos membros fora de seu país e ele jamais insistiu no assunto. Ele morreu em 1990.

Os outros dois foram Kenneth Grant[u4]  e Marcelo Ramos Motta (1931 – 1987).

Kenneth grant extinguiu seu caráter maçônico, passando a denominá-la O.T.O. Typhoniana.

A O.T.O. Typhoniana funciona como uma rede cósmica que não opera através de lojas fundadas no plano físico, porque seus membros não estão – em um sentido mágico – centrados sobre a Terra. Suas zonas de atividade oculta estão localizadas nos espaços os quais incluem e transcendem simultaneamente níveis astrais de consciência. A O.T.O. Typhoniana não é, portanto, uma organização num sentido mundano – esta é controlada por contatos dos planos interiores focados hoje através de um punhado de correntes individuais canalizadas fora dos círculos do tempo e espaço. Referente a Thêlema a O.T.O. Typhoniana é considerada ser a Máquina, enquanto a A.`.A.´. é a Operadora. (“Kenneth Grant e a O.T.O. Typhoniana” – P Koening)

Marcelo Motta seguia a trilha deixada por Germer.

Existe, e ninguém o pode negar, mistificações e deslavadas mentiras nos inúmeros sistemas esotéricos  e religiosos conhecidos no mundo. Senão neles, pelo menos em seus fundadores, continuadores e mais destacados membros.(Afirmamos, entretanto, haver aqueles sérios, cujo trabalho é dedicado  ao bem do ser humano. Mas, nisto não está incluída a pieguice e falsidades da Igreja Romana, evangélicos e espiritistas)[19]. Isto vem acontecendo desde os inícios do Século XIX; época em que surgiram alguns dos mais conhecidos “mestres espirituais” e organizações esotéricas ligadas a tais mestres. Foi nesta época que deu início  a lenda dos “Mestres ascencionados e gurus orientais. Desde a Teosofia, de Blavatsky, com seus escândalos, até mais recentemente, sempre se observa uma sequência de engodos, mentiras, rivalidades, embustes e lutas pela liderança de uma pseudo “elite espiritual”, estimulando seus parvos seguidores a venerarem quimeras ao invés de estimula-los na procura da verdade.

Assim tem acontecido em todos estes anos e em todas a sociedades místicas, fraternidades esotéricas, ordens ocultas, etc., que já apareceram sobre a terra. Esta é a verdade. Infelizmente. Ao que parece, neste particular assunto, não há mais em que ou em quem confiar. Na realidade jamais houve. Nós é que teimosamente fechamos nossos olhos à esta realidade. Confiar nestes pulhas, nestas arapucas cheirando a incenso, comprado no camelot da praça, com seus “mestres secretos” (Morya, Serapis, Veneziano, etc), envolve, no mínimo, entregar nossa alma a uma autoridade capeng, não comprovada, porquanto ninguém pode afirmar, com absoluta certeza e sã consciência nesta “autoridade”.

A natureza fugidia e abstrata do crescimento espiritual estimula todos esses enganos, enganadores e enganados. A habilidade de um professor de piano pode ser medida por sua perícia na execução de peças musicais; a de um médico cirurgião por suas intervenções cirúrgicas. Mas, como medir a capacidade iniciática de um homem? Como medir seu nível de evolução espiritual, supondo-se que a própria noção de capacidade iniciática ou nível evolutivo espiritual, em tal contexto, depende de fatores puramente subjetivos? Quem pode afirmar com absoluta certeza que você realmente não se comunica com os “mestres secretos”, ou que não está em contato com o plano astral como afirma estar? Da mesma forma, como poder-se-ia afirmar ao contrário? Quem pode afirmar com absoluta certeza que Apolonio de Thiana não foi um Enviado? Ou que não passou de uma impostura? As mesmas questões podem ser levantadas em relação a Jesus de Nazaret. Absolutamente não podemos, em misticismo, ou em magia, afirmar ou negar qualquer coisa. Quem afirmar ao contrário está enganado ou enganando. Quem pode afirmar, ou negar, que as visões de Crowley não foram causadas pelo haxixe, ou outras drogas usadas por ele? Na realidade, caímos no mesmo mundaréu da fé das religiões.

Somente você pode afirmar (ou negar) qualquer fenômeno interno seu. A maioria das fraternidades, das irmandades, ordens, etc., baseiam-se em afirmações altamente duvidosas, vindas de “comunicações” entre os, assim chamados, “mestres ascencionados” e os fundadores e/ou dirigentes destas organizações, politicamente com poderes sobre seus pupilos, e nos próprios poderes de persuasão deles, para sustentar suas “autoridades”. Blavatsky recebia e enviava cartas aos “mestres”[20], e Anne Besant seguiu o mesmo caminho, que não foi diferente daquele de Mathers. Entre todos os mestres espirituais, ou gurus, ou iniciadores, cuja história conhecemos, somente Krishnamurti se mostrou averso a estas demonstrações de intimidade com os “mestres” do astral. Ele mesmo terminou com a fraude arquitetada por Anne Besant e Leadbeater em torno de sua própria pessoa: ao invés aceitar uma tal missão de “Mestre da Humanidade” ele declarou-se ao contrário disto. Ao invés de procurar basear-se numa tradição esotérica, afirma que cabe ao próprio indivíduo descobrir seu particular caminho a seguir em busca da libertação espiritual.

Tradição jamais pode se apresentar como barreira ao progresso pessoal, pois cada pessoa é a única que pode encontrar seu próprio caminho e o de nenhuma outra mais. E podem estar certos de que este particular caminho (pessoal) encontra-se inserido na Tradição. Este é um dos grandes e reais mistérios jamais contestado. “Todo homem e toda mulher é uma estrela”. Disso a derrocada de inúmeras fraternidades, irmandades e ordens que surgiram em nosso tempo (ou mesmo antes) que quiseram determinar o caminho alheio. Ensinar métodos de consecução espiritual não é o mesmo que determinar o caminho espiritual alheio. Eis o motivo pelo qual o próprio Crowley, já próximo ao final de sua vida, aconselha a Germer a executar uma radical mudança na estrutura da O.T.O.. Mas a preocupação de Crowley foi tardia, a ordem já se acabara.

III

Telema e a O.T.O. não se casam.

Engana-se todos aqueles que pensam ser possível viver thelemicamente e pertencer aos quadros da O.T.O. ao mesmo tempo. Se isto não é verdade, então vejamos:

Sendo a O.T.O. uma ordem seguindo os padrões maçônicos, isto é, uma organização cujo trabalho é coletivo e eivado de estatutos, regras, hierarquias, etc., ela, por sua própria natureza e definição, contraria a tal “democracia”. Portanto o dístico que encontramos nos livros oficiais de thêlema:[21] “The Review Of Scientific Illuminism”, não se coadunam com a O.T.O., mas sim com a A.´.A.´., se esta última for concebida destituída de um “poder central”, administrativo ou coercivo” no plano físico, como alguns alucinados querem inventar existir, onde eles mesmos ocupam os mais altos cargos.  Recentemente, já se comenta sobre rituais coletivos, e de iniciação em Loja (ou Templos, dá no mesmo).Isto é um disparate. E depois não querem que se ria de tais “mestres”.

A A.´.A.´. refere-se ao indivíduo, ao seu particular desenvolvimento, à sua Iniciação, à sua passagem do estado de Estudante ao de Ipsissimus; ele não está com relação com ninguém, à exceção do Neófito que o introduz e do Estudante que pode, depois de ser Neófito, introduzir. Para ele, a A.´.A.´. não é mais um ordem fundada numa data precisa, mas uma cadeia intemporal formada por todos os que “buscam a Luz”.

As críticas mais inflamadas ao nosso ponto de vista vêm, quase sem exceção, dos teóricos do esoterismo, julgando que suas idéias, suas crenças, são as únicas e verdadeiras – que o método por eles adotado é o único válido. Válido para que? Para iniciar raposas? Ou, para enfaticamente declarar:: “a minha “ordem”, “fraternidade”, etc., é a única verdadeira”. Fora dela não há salvação”. Claro que suas “ordens” são verdadeiras. Pelo menos no plano físico e para eles. Não discordamos disso. Na verdade elas são tão verdadeiras como o é a força de coesão – a mentalidade do rebanho. Como disse um certo estudioso do assunto: “Atualmente a O.T.O. é um circo sem leões, só tem palhaços.”

Antes de prosseguir, gostaria de sublinhar aqui as palavras de René Descartes (a quem acusam de Rosa-Cruz)[22] no início do seu “Discurso Sobre O Método” que, certamente, todos conhecem, mas que julgo oportuno recordá-las, principalmente quando lidamos com assuntos tão imponderáveis quando o são aqueles ligados às “doutrinas esotéricas”, ou à aquilo que chamam de doutrinas esotéricas.

“O bom senso é a coisa melhor dividida no mundo, pois cada um  se julga tão bem dotado dele que ainda os mais difíceis de serem satisfeitos em outras coisas não costumam quere-lo mais do que têm”

Usemos, pois, o bom senso na discussão e crítica dos temas aqui bordados.

Assim estabelecido, continuemos:

Há momentos em que sentimos a frustração congelar nossas almas. É um sentimento ímpar, tão forte que dói, e com ele vem a dúvida. E quando somos assim invadidos e tomados, sabemos ser o momento de profundas reflexões e, paralelamente, somos induzidos à um reavaliação de nossas vidas, de nossos atos passados e, através disto, a orientação para novos rumos. É como se chegássemos a uma encruzilhada: um ponto, a partir do qual devemos optar, sem qualquer tipo de ajuda externa, a não ser aquela de nossa consciência, a direção a seguir daquele momento em diante. Se a voz interna reafirmar o Caminho o qual vínhamos trilhando, tudo bem, é só seguir em frente. Caso contrário, devemos nos armar de coragem, assumir nossos erros e enganos, e mudar nossos rumos, atendendo as indicações da consciência armada pelo bom senso.

 Muitos têm questionado quanto aos motivos pelos quais iniciei um afastamento paulatino, mas crescente e seguro, das, assim chamadas, “doutrinas esotéricas”[23]. E, certamente, também notaram uma reviravolta em meus conceitos relacionados com a O.T.O.[24]. Saibam, entretanto, que não sou e nem serei nisto um fato isolado e inédito nos anais da Ordem. Temos notícias de vários outros me precedendo nesta direção, e outros mais me seguirão, na medida em que começarem a abrir os olhos, usando o bom senso aplicado na análise da Ordem, e perceberem no que estão metidos, isto é, perceberem o que é realmente “pertencer” [25] a uma Ordem como a O.T.O. atual. Portanto, podem estar certos: não serei o primeiro e nem o último nesta lista.

Reconheço ser esta uma atitude um tanto estranha depois de tantos anos ligado às aventuras da ordem em nosso país. Mas, se o leitor analisar, com cuidado, o tal Sistema de Iniciação ao qual estive ligado, e que muitos outros ainda estão ligados, verá que não é Thelêmico coisa nenhuma, principalmente quando evocado naquela organização pseudo maçônica. Os fatos que ocorreram, e continuam a ocorrer, no ambiente da O.T.O. (qualquer uma delas), quer seja em nosso país, quer seja em outros, descredenciam-na como um Sistema Iniciático Real.

Ponderem, entretanto, que estes motivos são meus, as conclusões minhas também. Não são os motivos e as conclusões de vocês, que podem, perfeitamente, seguir em outras direções. Portanto, estas minhas conclusões e estes meus motivos não devem ser, em absoluto, tomados por vocês, a não ser apresentando-se uma concordância suficientemente forte, entre os meus motivos e os seus, entre minhas conclusões e as suas, nascida da consciência de vocês. Jamais permitam que sentimentos de amizade, familiares, de pseudo hierarquias, ou de  inimizade, etc, interfiram nos seus particulares julgamentos.

Finalizando este parágrafo, gostaria de sublinhar as palavras de um outro pensador, num momento de lucidez.

“É útil que todas as idéias, mesmo as mais contraditórias e as mais excentricas, venham à luz; elas provocam o exame e o julgamento; e se forem falsos, o bom senso lhes fará justiça; elas cairão forçosamente a prova definitiva do controle universal, como já caíram tantas outras.” 

IV

Meu interesse pelo ocultismo ou esoterismo, usem a palavra que mais lhes aprouver, remonta à minha juventude, quando tive a oportunidade de ler vários autores, entre os quais destaco, Conde Rochester, Eliphas Levi, Papus, Blavatsky, Bulwer Lynton, Krumm-Heller, Prentice Mulford, Krishnamurti, etc. Também, é desta época minha atração pelas misteriosos ordens secretas, que tanto iriam influenciar minha vida no futuro. Tudo aquilo era maravilhoso. Eu me deliciava com as lendas das Grandes Civilizações Perdidas e cidades fabulosas: Atlantida, Lemúria, Shangri-La, Duat, Agartha. Na Teosofia vivi o sonho das cidades subterrâneas. Mas, um dia todo este conto de fadas ruiu. Porém, neste caminho, não posso nega-lo, muito foi aprendido. Querendo concretizar meus sonhos, iniciei-me na Maçonaria, na FRA[26], na AMORC, na O.T.O. e em outras mais.

MEU CONTATO COM THÊLEMA[27]

Meu contato com o Sistema Thelêmico deu-se em 1962 ao ler “Chamando Os Filhos do Sol”, sendo a primeira publicação brasileira tratando abertamente da Lei de Thêlema, e apresentanto as organizações vinculadas, na época, ao Sistema.

Atraído fortemente pelo conteúdo do livro, escrevi ao autor, solicitando minha filiação em uma das ordens ali apresentadas.

É necessário, entretanto, explicar porque o conteúdo do livro tanto me atraíra. Dois preponderantes fatores contribuíram para esta atração: primeiro, é claro, minha insaciável sede pelo conhecimento esotérico – e no livro haviam promessas da abertura de novos horizontes neste específico campo. Segundo, o natural resultado de meu estado emocional. Explico: o Brasil encontrava-se, na época, em grande agitação político-social e, evidentemente, caminhava, a passos largos, em direção a uma revolução armada, na qual várias correntes políticas certamente se defrontariam, notadamente aquelas mais extremadas da esquerda (sindicatos, trabalhadores, etc) e da direita (capitalistas, militares, igrejas, etc). Minha geração, tomada de brios patrióticos, e pelo desejo de mudanças radicais na sociedade, manifestava-se revoltada contra o “status quo” vigente. Víamos, e sentíamos na pele, o poder político do capitalismo norte-americano, atuando descaradamente em nossos assuntos internos e, nisto, sendo apoiado por, assim chamados, “democratas”. Desta maneira, não foi difícil, para um jóvem, animado por ideais políticos e sociais, misturar esses anseios com misticismo.

Devemos, também, levar em conta existir no conteúdo do livro um claro chamamento para grandes mudanças, pois, segundo o mesmo, todas nossas mazelas seriam frutos de uma Era decadente, chamada Aeon de Osiris, no qual estariam inseridas as doutrinas crististas, islâmicas e judaicas – em resumo: todas as correntes de crenças surgidas na, assim chamada, Era de Virgo Pisces ou Aeon de Osiris (baseando-se na Lenda do Deus Sacrificado). Deste modo, em meu entusiasmo “esotérico-político”, abracei a Lei de Thêlema como o caminho mais rápido para realização daqueles ideais. Thêlema me surgia como um ponto dinâmico sintetizando soluções para todas estas ansiedades políticas e místicas. E esta foi também a esperança de outros tantos, engajados na luta por mudanças. O leitor pode verificar que todos aqueles que, na época, abraçaram thêlema, também atuaram no campo da política: Marcelo Motta, Raul Seixas, Paulo Coelho, etc.

Somente muito mais tarde é que, alguns de nós percebemos, que havia um  viés apontando para certas tendências fascista, principalmente na Ordem, denominada O.T.O. Isto acontecia porque ela estava sendo desvirtuada: grupos mal intencionados estavam se aproveitando de sua estrutura hierárquica, não democrática, em sentido contrário. Aquilo que chamávamos de mudança. Thêlemia, na verdade apregoa profundas modificações nas estruturas da sociedade e sua hierarquização; mas, a partir de certo momento, o caminho usado por uma maioria de líderes (com raríssimas exceções) seria aquele de uma política altamente despótica, determinantemente de extrema direita, baseada numa distorcida e maliciosa interpretação de Liber AL. Infelizmente a O.T.O. foi a organização escolhida para esta desvirtuação de Thêlema. Aqui deve ser dito que a maioria dos indivíduos confundem liberdade (democracia?) com licenciosidade, bagunça, etc. Na realidade, podemos firmar que no campo da  Iniciação não existe democracia. Existem muitos requisitos (talvez estranhos ao profano) para se poder classificar uma fraternidade (ordem, etc) como possuidora de reais processos iniciáticos.

É mais do que provável que serei duramente criticado e vilipendiado após a publicação deste estudo. E as maiores críticas virão não de meus adversários de fora do sistema; mas, sim daqueles dizendo-se meus correligionários, daqueles que me exaltam como um verdadeiro seguidor de Thêlema (coisa que jamais deixei de ser). Não me preocupo com isto. Nem rebaterei tais ataques. Da nada adiantaria, pois são reações normais à própria natureza humana. Seguidores de “thêlema” – festivos – evidentemente tentarão apresentar ‘provas’ me contradizendo. Os anátemas serão variados: entre outras coisas, alguns afirmarão minha falha na tentativa de “cruzar o Abismo” (mais à frente discutirei este assunto), ou que sou presa de forças ligadas ao Aeon Passado, etc. Todas aquelas idiotices tão bem conhecidas de estudiosos do oculto; sendo o prato preferido desses cegos.

Muitos até dirão, na sagrada certeza de suas crenças, que passei “para o outro lado”. Entenda-se o “outro lado” como uma “Irmão do Caminho da Esquerda” (como se soubessem exatamente o significado do termo), ou um Mago Negro (título muito usado quando desejam depreciar a alguém) aliado ao Aeon de Osiris ou da Igreja Romana; ou mesmo ser um agente a soldo do FBI, CIA ou do Vaticano. Isto não importa. O importante, é a voz de minha consciência. O que interessa é a verdade dos fatos. Chega de embromação. Chega de meias verdades a respeito de Crowley, de Germer, de McMurtry, de Marcelo Ramos Motta, de mestre Morya, de Cagliostro, de Blavatsky, de Magia de Maat, etc. Chega de esquemas para justificar as profundas contradições se chocando no âmago da própria vida desses “líderes”[28], e dessas fábulas criadas em torno de seus nomes.Afinal de contas, eles também foram homens como nós e, portanto, passíveis de erros, etc. O grande problema é que temos medo de encarar a realidade e, por isso, tecemos ilusões à nossa volta.

Durante muito tempo os “eruditos” do sistema se concentraram quase que exclusivamente na linguagem e no gênero literário dos textos, sem conhecer – sem mesmo querer conhecer – a mensagem neles contida.

Quantos, acusados de agnósticos, de traidores e mesmo de materialistas, têm dado a vida pela humanidade, sem pensar em nenhuma recompensa, neste ou em outros mundos, crendo indiretamente em Deus através suas obras. Não obstante outros, alardeando-se hierofantes, mestres, cavaleiros, vaqueiros e outros bichos mais, pensando exclusivamente em faturar, salva a pele, e em preparar um lugarzinho lá do outro lado, ou deste lado mesmo. Afinal, de que vale o indivíduo dizer-se católico, protestante, cavaleiro rosa-cruz, vaqueiro, umbandista, espiritista, ou o que quiser? O  imprescindível é servir à humanidade sem abraçar-se a pieguices religiosas. Alguém, realmente importante escreveu: “Ninguém, como o homem debruçado sobre a matéria compreende até que ponto o Cristo, por sua Encarnação, é interior ao Mundo, enraizado no Mundo, até o coração do menor átomo”. É preciso nos debruçarmos sobre estas palavras e compreende-las, absorve-las e vivê-las.

Não importa a fidelidade religiosa de quem escreveu estas palavras, se cristão, mulçumano, judeu ou espírita. Não disponho de espaço e tempo suficiente para discorrer sobre todos os movimentos intitulando-se os únicos e verdadeiros senhores da verdade divina; não podendo, portanto, fazer um infindável relato acerca de seus rituais que, por vezes idiotas, primários, tolos, infantis e até muitas das vezes estúpidos e violentos [29] têm existido em todas as épocas, penetrando o tempo até nossos dias, onde chegaram com roupagens modernizadas: uns praticados abertamente, sob a capa da religiosidade, e outros amoitados na desculpa dos mistérios. Que mistérios? Chegará o dia em que alguns desses “thelemitas” e “crentes” cairão na real. Espero sinceramente não seja tarde demais para alguns deles (ou delas).

Nasci para ser construtor de pontes que ligam, e não muros que separam. “Thelemitas”, das várias O.T.O.s existentes, até hoje somente construíram muros. E com estes muros têm conseguido muitas divisões, até entre eles mesmos. Dividir para enfraquecer: um lema bastante maquiavélico romano, se me permitem a alusão.

Creio que com Thêlema o ser humano tornar-se-ia melhor e, conseqüentemente, o mundo também. Mas, antes, devemos expor as velhacarias do falso telemismo.

Liberto destas influências malsãs do “telemismo” (mas não de Thêlema), resolvi dar meu particular testemunho de quanto uma fórmula, esotérica ou mágica, mal interpretada, mal direcionada, mal intencionada, mas possuidora de grande poder de persuasão, pode transformar, deturpar, desencaminhar e embaralhar a vida das pessoas e daquelas que as cercam, sejam amigos ou inimigos. Neste mesmo caminho vi homens perderem tudo que possuíam e morreram na terrível solidão de si mesmos. Presenciei a mentira substituir a verdade, e o deboche ser confundido com o amor. Presenciei o poder da tirania espiritual. Conheci pessoas meigas, delicadas, cheias de ternura, entregarem-se ao desatino do ódio injustificável contra tudo e contra todos aqueles não concordantes com suas  idéias e pensamentos. E, em alguns casos, mesmo contra aqueles seus pares. Convivi com homens e mulheres loucamente devotados a poderes passageiros, ávidos de títulos, comendas e graus “iniciáticos” jamais existentes, a não ser na cabeça deles e de seus líderes.

V

MESTRES

Antes tarde do que nunca, descubro que na idéia de “mestres secretos”, organizações iniciáticas e tudo mais do programa, na maioria das vezes, esconde-se vaidade, ambição espiritual alimentando-se da satisfação de ver outros ao redor de si, comungando os mesmos desatinos, os mesmos ideais, as mesmas fantasias.  O fato de verem que estes satélites aceitam suas idéias e crendices, delas compartilhando e vivendo, dá-lhes conforto e segurança, porque isto lhes parece como se fosse a afirmação divina que estão certos. A prova é que, por diversas vezes, nós os ouvimos dizer: “se não estivéssemos certos e com razão e, se os “mestres” não tivessem conosco, não teríamos o número de seguidores que temos; e esta também é uma falácia muito usada pelas organizações “evangélicas”. Mas, eu digo: quantidade jamais foi qualidade.

Procurem entender que a admissibilidade do que chamamos “mestres da sabedoria” ou “mestres ocultos”, e as definições que se propagam, levam-nos a entender que estes possam antever e conhecer acontecimentos ainda mergulhados no futuro. Dir-se-á que no “agora”, anteveriam fatos distantes, ainda por acontecer... Mas, ante a psicologia moderna, parapsicologia e outros estudos paralelos, tais possibilidades não seriam privilégio de “mestres”, sábios ou santos, mas, peculiares a certas determinadas pessoas, em estados especiais de consciência alterada.

Mesmo assim, creio eu, se os tais “mestres secretos” possuem poderes excepcionais, além da nossa compreensão profana, e em antecipando o que ocorreria com suas ordens e fraternidades no futuro, teriam, evidentemente interferido ou, pelo menos, amenizado as sucessivas quebras na unidade das mesmas. Afinal essas ordens e fraternidades não foram criadas pelo “mestres” para promover a evolução humana, e por isso não deveriam ser mais bem cuidadas?

Em  17 de julho de 1964, recebi a seguinte carta de Marcelo Motta:

 

                   “Caro Senhor:

                   Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Há várias Ordens Iniciáticas legitimas, e todas elas estão em contato com a Corrente do Novo Aeon, como não podia deixar de ser. Há, por outro lado, uma quantidade imensa de falsas ordens, instituídas por padres romanos, agentes comunistas, grupos financeiros e partidos políticos, assim como por entidades demoníacas encarregadas do trabalho de destruição das correntes do passado. Não existe lei além de Faze o que tu queres.

De um modo geral, o senhor pode seguir a seguinte regra: toda corrente de atividade que permanece obediente à legítima autoridade que a iniciou está em contato com  as Correntes do Aeon de Horus, porque está em contato com o Magus que iniciou a corrente particular, e todos  os Magi obedecem ao Magus do Aeon – a Palavra, ou Verbo, do Aeon – o LOGOS AIONOS em grego. Recentemente, como o senhor sabe, o Grande oriente do Brasil voltou a se aliar e obedecer à Grande Loja da Inglaterra, chefe tradicional do Antigo Rito. Conseqüentemente, é de se esperar uma melhora na maçonaria. Existem, entretanto, várias falsas lojas trabalhando no país, e se o senhor foi indicado para a maçonaria eu aconselharia o senhor a inquirir se a Loja particular em que o senhor foi indicado está ligada ao Grande oriente do Brasil ou não. O Grande Oriente tem certamente uma lista das Lojas que estão em harmonia com a sua vigência.

A Igreja de Roma não está contada entre as correntes de atividade que permanecem obedientes à legítima autoridade que as iniciou, porque a Igreja de Roma jamais obedeceu à legítima autoridade do Logos do Aeon de Osíris, como o senhor pode ter verificado da leitura de minha CARTA A UM MAÇON. A Igreja de Roma é uma impostura vergonhosa que causou imenso dano à humanidade enquanto existiu. Digo enquanto existiu porque ela está morta, e sua dissolução é inevitável. Partes sadias – se as houver – serão reabsorvidas na legitima corrente cristã.

Algumas palavras rápidas sobre o restante de sua carta. Antes de mais nada, Umbanda, É, tanto quanto pude investigar, um movimento sério, mas em que a quantidade de “terreiros” legítimos é ínfima, e a quantidade de falsos “terreiros”, de charlatões, e de feiticeiros, é enorme. ‘O Caboclo das Sete Encruzilhadas’ é a forma que o Logos Aionos assumiu para se manifestar em Umbanda. Cuidado, entretanto, com os impostores! Toda entidade pseudo-espiritual que não aceita que Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei é uma entidade falsa, demoníaca. Fiquem os senhores avisados. O mesmo se aplica aos falsos cascões que se manifestam em centros espíritas pretendendo que são Ishmael. Ishmael, como toda legítima entidade espiritual, aceitou a Lei de Thelema. Fique o senhor prevenido. Esse assunto de lidar com “espíritos” utilizando a corrente de Aub, sem proteção, é infinitamente perigoso. Pessoalmente, eu evito contato com padres romanos, médiuns espíritas e macumbeiros precisamente por causa da imundice infecta que é a aura de tal gente. As exceções provam a regra, claro – mas as exceções são sempre pouquíssimas. Uma grande integridade pessoal, uma vida pura (que não quer dizer castrada!), intenções sérias e sentimentos elevados conferem proteção am alguns casos e inibem a manifestação de larvas e cascões. Mas torno a repetir que tais casos são raríssimos. A maior parte dos centros espíritas, “terreiros” de Umbanda e igrejas romanas são focos de pestilência psíquica.”

A carta é longa, mas dá para apreciar o quanto seu escritor estava  prevendo tudo que aconteceria no desenvolvimento da O.T.O. em nossos dias.  Tudo que ele disse pode ser apreciado, não somente com respeito as pseudas O.T.O.s., como também, com respeito às outras organizações “místicas, esotéricas, que surgem em nossos dias como erva daninha em campo florido.

VI

CODIGOS  SECRETOS

Não é desconhecido, por nós todos que, desde tempos imemoriais, o uso de uma simbologia e de códigos secretos em documentos esotéricos é um constante. Assim foi feito, como é dito, para impedir que pessoas não autorizadas ou não classificadas tivessem acesso a conhecimentos pertencentes a uma elite congregada em torno de uma organização ou fraternidade oculta. Na concepção de alguns autores, esta minoria temia que seus conhecimentos, caindo em mãos inadequadas, fossem deturpados e mal utilizados, colocando a humanidade em perigo. Discordo desta tese, pois ela firma-se em uma falácia. Para explicar meu ponto de vista darei aqui um exemplo atual: não somos nós, profanos, a estarmos colocando a humanidade em perigo de uma extinção nuclear, mais sim uma elite fechada conhecendo e manipulando os segredos nucleares. Não somos nós que estamos fazendo experiências com a engenharia genética, criando verdadeiros monstros, seja no reino vegetal, seja no animal e, talvez, no hominal. Se isto não demonstra o mau uso dos segredos da natureza, então confesso minha ignorância. Todos nós temos o direito de saber o que nossos governos, nossos cientistas, nossos líderes e nossas forças armadas sabem, estão fazendo ou planejando fazer, porque, afinal de contas, somos nós que iremos sofrer as conseqüências destas iniciativas, sejam elas certas ou erradas, boas ou más. Com os segredos esotéricos dá-se o mesmo. Não diz Thêlema que “a lei é para todos?”. Não afirmou Blavatsky que “o segredo é inimigo da verdade?”. Não dizem estes dois enunciados a mesma coisa?

Digo que a minoria que manipula estes conhecimentos “secretos” não os deseja compartilhar conosco em virtude de que tais conhecimentos lhes dão poder político, social e religioso sem contestações porque a maioria de nós é escrava de suas próprias crendices, e tememos questioná-las (se ficar demonstrado que o Imperador Constantino jamais viu o símbolo da cruz no céu com a inscrição “Com este símbolo vencerás”, toda base da Igreja de Roma cai por terra). E mais ainda: a divulgação destes “segredos” tornaria obvia a natureza destas elites e seus reais objetivos. Em tempos passados a Igreja de Roma torturava e queimava em praça pública quem duvidasse de seus dogmas (segredos), ou quem pertencesse a outras religiões.

Além das divisões já referidas,  thelemitas se dividiram em duas facções distintas desde a morte de Crowley; uma ala, que denomino exotérica, a qual aderiu a maioria, e uma esotérica. A primeira seguindo as injunções do Comento [30], a segunda estando disposta a estudar profundamente o livro, não levando o Comento em consideração.

Entretanto,  devemos convir que a O.T.O. é necessariamente anti-democrática. Democracia surge, na O.T.O. como um absurdo e um ideal impossível, desde que a “Vontade” é inconsciente. Portanto, no âmbito da Ordem, a degeneração da democracia é inevitável. Mesmo levando em conta a insistência sobre a soberania do indivíduo, a O.T.O. está  consignada a uma autocracia. Entretanto, o autocrata precisa estar divinamente identificado com a Real Vontade do total da sociedade; isto é, ele deverá atingir uma perfeita aniquilação do ego. Assim, ele deve tornar-se um “rei espiritual”, o líder da “Grande Fraternidade Branca”, e sua corte formada por aqueles que, eventualmente, “cruzaram o Abismo”.

A degeneração da democracia em comunismo é, como dito por Karl Max, historicamente inevitável. Neste ponto podemos observar a similaridade da forma de governo thelêmico {aquele praticado na pré-invasão do Tibet.

O dito acima, isto deve ficar bem claro, refere-se à esmagadora maioria das ordens, fraternidade, grupos, associações de caráter esotérico, não a uma determinada  ordem, etc. Referências ao nome de algumas delas são usadas apenas como exemplos circunstanciais. Já dizia René Guenon: “não existe iniciação democrática”; no que era confirmado por Platão: “a democracia é o governo dos ignorantes”.

Nas diversas religiões ou ordens iniciáticas (secretas ou não), encontramos estes códigos, esses dogmas. O que não falta são números kabalisticos, fórmulas, esquemas exóticos, e estatuárias espalhados por todas as partes, vindos – assim é afirmado – de uma antiguidade indeterminada e inexplicável.[u5] 

Mesmo em nossos dias, o uso de códigos secretos é bem conhecido. Nós os vemos na Goetia[31] , na Cabala, nos Tratados Alquímicos, entre políticos, nas forças armadas e, claro, nos famosos serviços de inteligência de todos os países (na maioria das vezes, constituindo um governo paralelo ao legal, e não dando a mínima satisfação para os contribuintes). Longe de mim afirmar categoricamente de que todos esses grupos estejam ligados entre si; muito embora a hipótese seja viável.

É quase certo que a maior parte das ordens ocultas têm subjacente uma ligação com grupos políticos e agências de inteligência, e que representa, em nível acima da compreensão popular, um tipo de código gigantesco, o qual temos lido erroneamente, ou não sabemos ler.

Assim é: após ter despendido grande parte de minha vida, dedicando-me ao assunto “ocultismo”, despertei para fatos ainda não vistos com clareza devida. Talvez – quem sabe? – devido à minha estreiteza mental, ou o resultado advindo de crenças sem qualquer sólido fundamento.[32] Entretanto, ao livrar-me destas crenças, comecei a repensar minha vida, minhas convicções, e a reavaliar meus “conhecimentos” esotéricos. Não demorou muito para encontrar-me ante vasto e tenebroso horizonte, desdobrando-se à minha frente como uma serpente  maligna: e quanto mais firmava minha atenção, mais o horizonte se enegrecia, mostrando-me uma paisagem bem diversa daquela criada pela ilusão do falso ocultismo. Percebi, também, que da mesma maneira, outros ainda se debatem neste negror. Assim sendo, alguém deveria alertá-los. Para tanto, resolvi assumir a responsabilidade, porque de fato eu, de uma forma ou de outra, contribui para que eles entrassem na armadilha.

VII

O FENÔMENO OCULTISMO NOS DIAS DE HOJE

SOCIEDADE,  POLÍTICA E RELIGIÃO

 

O ocultismo ou o esoterismo, use a palavra que mais lhe agradar, (dá tudo no mesmo), em todas suas tendências e cores, está passando, no momento atual, por uma fase de grande expansão. Ninguém desconhece este fato. Isto é bom ou é mau, perguntaria você. Sob o meu ponto de vista, qualquer expansão destas doutrinas, da maneira como esta sendo feito, é um mal a ser combatido. Existe grande interesse na divulgação errada do esoterismo, principalmente por aqueles escondendo suas reais intenções. Veja, com cuidado, de como esta expansão ocorre em todas as camadas sociais, como se o verdadeiro esoterismo fosse democrata, substituindo as religiões em franco declínio. Não sou contra a substituição das religiões decadentes. No entanto, não posso concordar que as substitutas sejam piores que as substituídas. Está eclodindo um rápido crescimento no número de novos sistemas, ordens, fraternidades, associações, centros de estudo, mestres, guias, iniciados, etc.

Como um efeito paralelo do fenômeno, aumentou o número de leitores e de livros, manuscritos , comunicações, exposições, considerações, debates sobre o tema que empolga a multidão e enriquece as casas impressoras e as livrarias. Entre na Internet! Você ficará boquiaberto com  enormidade de “sites” a respeito. Obviamente, muitos dos leitores são movidos por pura curiosidade, mas grande parte pretende descobrir segredos miraculosos, penetrar e tomar posse de poderes mágicos e místicos, como se tais poderes existissem e, em caso positivo, fossem acessíveis pela simples, fácil e rápida leitura de livros ou por consulta no computador...

Em tempo algum seria demais retornar ao tema dos movimentos ocultistas que nascem como capim após a chuvarada. No atual caso, esta chuvarada pode ser caracterizada pela ânsia, desconforto, temores advindos da Segunda Guerra Mundial, quando o caos assumiu poder sobre a Terra. Segundo alguns ocultistas, seria necessário acelerar a reorganização das coisas após a guerra, e assegurar uma paz duradoura no mundo. O esoterismo, através ordens, fraternidades, etc. seria o fator para esta ordem e paz. Assim, estabeleceram os “mestres secretos”, e assim foi feito. Grande ilusão: a despeito da visão destes “mestres”, o mundo continuou sua velha rotina das guerras, das atrocidades, do desrespeito a vida e, agora, acrescente-se a ameaça nuclear. A tal reorganização tornou-se uma fábula, e a paz nem a ONU consegue tornar realidade. Aliás a ONU jamais resolveu coisa alguma...

É sabido que após a Segunda Grande Guerra, vários fatos ocorreram no mundo do ocultismo. Um deles tendo sido o crescimento do Sistema Thelêmico, mais ou menos em 1947. A queda da União Soviética, e conseqüente soberania da política selvagem e coercitiva do capitalismo mundial representado pelos Estados Unidos da América do Norte, é considerado como uma vitória dos “poderes” dos “mestres” e da justiça. Acontece, entretanto, que o desequilíbrio das forças robusteceu a ganância do capitalismo. A este “Capitalismo salvador” (que confunde-se com a tal da democracia), não lhe importa os milhares de homens, mulheres, crianças e velhos morrendo à mingua neste maravilhoso e democrata mundo capitalista,enquanto os “abençoados por deus” passam féria nas Bermudas, comendo do bom e do melhor. Também não lhes importa que as indústrias bélicas faturem bilhões de dólares com a fabricação de armas, aviões e mísseis, cada vez mais poderosas, cada vez mais velozes, e cada vez mais precisos.

Mas, dirá você, esta não é a Lei de Darwin, a lei do mais apto, do mais forte?

Nada disso. Acontece que a Lei de Darwin está inserida ao campo de ação da Natureza pura e simples. Nossa civilização, há muito, divorciou-se da Natureza. Vivemos num mundo totalmente artificial, criado pelo homem em sua insensatez. A Natureza (Deus) nada tem a ver com este mundo. Um leão (o mais forte) mata apenas uma gazela (o mais fraco) para matar a fome. Ele não dizima todo um rebanho pelo prazer de matar indiscriminadamente. Existe uma grande diferença entre o ato praticado pelo leão e aquele praticado pelo homem. O homem é o único animal que mata pelo prazer de matar. Mata o leão para exibir sua cabeça em sua sala de caça, não para comê-lo.

Se o leitor gosta de interpretar símbolos, veja que todos os países que usaram a Águia como sinal de orgulho, mais cedo ou mais tarde foram destruídos. Exemplos: Roma Imperial, França Napoleônica, Alemanha Nazista, e outros. Agora temos os Estados Unidos da América. Aguardemos para ver o que acontecerá no futuro.



[1] - Nota de E.: Marcelo Motta faleceu em agosto de 1987 aos 53 anos de idade)

[2] - Nota de E.: Quando a morte de Germer, sua esposa Sascha Germer, escreveu uma carta a Marcelo Motta, então no Brasil: “Nosso amado Mestre está morto..... Você é o sucessor (you are the follower)... foi sua última vontade”

[3] - Nota de E.: Germer fora o instrutor de Marcelo na A.´.A.´. e o introduzira na O.T.O. direto no XI°. Germer preparara o pupilo pra substituí-lo. A própria senhora Germer afirmaria  isto em uma carta dirigida a Marcelo após a morte de seu marido: “Você é o sucessor”.

[4] - Nota de E.: O.H.O. – Outer Head of the Order (Cabeça Ezxterna da Ordem)

[5] - Carta de Marcelo a Euclydes, onde expões suas idéia sobre a “nova O.T.O.” (dele)

[6] - Nota de E.: Marcelo fora aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro(1945 – 1952). Uma das melhores instituições de ensino no Brasil

[7] - Nota de E.: Certa vez ele me confiou ter sido Ignacio de Loyola em passada encarnação. Eu não sabia o que pensar. Não tinha (e nem poderia ter) qualquer certeza, nem mesmo se acreditava em reencarnação, muito embora assumisse, de forma bastante  peculiar, tal certeza: reminiscências do tempo em que abraçara o Espiritismo como filosofia de vida.

[8] -Nota de E.: Vide Adendo II

[9] - Nota de E.: Fraternitas Rosacruciana Antiqua. Esta organização foi criada por Krumm-Heller, um aventureiro que nada tinha de thelemita. Tanto isto é verdade que a FRA usa, até hoje,  rituais baseados no Aeon de Osiris

[10] - Nota de E.: O egregora osiriano é tremendamente forte na subconsciência da raça. São mais de sete mil anos de atuação. A FRA manteve em grande segredo sua ligação com Thêlema. Isto era somente revelado a iniciados de alto grau e escolhidos entre os que mais abjuravam de suas individualidades. Assim a FRA não divulgou publicamente sua ligação dom “o maior mago negro do mundo”, como Crowley era designado na mídia da época francamente teleguiada, como sempre, pelo poder clerical  romano e pelos capitalistas. Marcelo Motta foi iniciado na FRA em 19 de Agosto de 1948. Após entrar em contato com Thelema, afastou-se daquela Fraternidade (1957). \possuo um exemplar da “Gnose” ( informativo oficial da FRA) de 1949, onde encontra-se um pequeno poema escrito por Marcelo Motta, de título “Flor de Pedra”.

[11] - Nota de E.: Existem sérias dúvidas quanto a esta “nomeação”. O próprio Crowley, em seus Diários Mágicos de 1921, declara textualmente: “Eu proclamei a mim mesmo O.H.O. (Outer Head of the Order). Alguns estudiosos do assunto afirmam que Theodor Reuss jamais cogitou em nomear Crowley como seu substituto.

[12] -Nota de E.: A estrutura templária/maçônica (introduzida, ao que parece, em 1903) e apenas designada O.T.O. após a morte de Kellner (1905) não era importante para o falecido ocultista que trabalhava no seu Círculo sem o sistema de ordem. Inexistem documentos evidenciando sequer que Kellner alguma vez tenha usado o termo O.T.O.. O seu Círculo era denominado “O Triângulo Interno” (vide “Os Espermos-Gnósticos e a Ordo Templi Orientis” – Peter Koenig) Na realidade, a história da O.T.O. é extremamente complicada (pretensões rivais à sucessão ‘apostólica’, mútuas recriminações e expulsões.

[13] - Nota de E.: O egregora osiriano (cristão) é tremendamente forte no atavismo da raça. São milênios de forte atuação.

[14] - Nota de E.: Todos baseados na Lenda do Deus Sacrificado, isto é, na Fórmula do Antigo Aeon. Foi somente após a morte de Kellner (1905) que Theodor Reuss criou o sistema da O.T.O. consistindo de sete graus pseudo-maçônicos, que atuavam, assim era dito, nos Sete Chakras do corpo astral do homem, enquanto que os graus mágicos (VIII e IX) eram dados diretamente de “boca a ouvido”  ao membro que atingia o grau correspondente. Esta regra perdurou até recentemente, tendo sido mudada pelo “Caliphado” (uma O.T.O. Norte Americana). O grau X° apenas designava o Líder do País (Rei) . Para uma melhor ingormação sobre  o Caliphado ver “A Verdadeira História do Califado” (Marcelo A.C. Santos)

[15] - Nota de E.: Dizer-se que a O.T.O. desenvolveu a vertente tântrica de Thêlema, e a A.´.A.´. aquele Qabalistica, é confessar-se um ignorante nestes caminhos.

[16] -Nota de E.: Caracterizando esta crise podemos citar aqui a famosa Coferência de Weida, em 1925,  na qual vários esoteristas reuniram-se pra discutir a respeito de Crowley ser aceito ou não como líder da O.T.O. bem como a de várias outras organizações. Os componentes desta Conferência foram: Heinrich e Helena Tranker, Karl Germer, Grau, Eugen Grosch Birven, Marta Kunzel, Dorothy Olsen, Normam Mudd, Crowley e outros. Resultou desta Conferência uma grande divisão. Germer, Mudd,  Kunzel e Leah Hirsig ficaram do lado de Crowley. Os outros decidiram permanecer independentes.

[17] - Nota de E.: A O.T.O. como uma ordem maçônica iniciáica não pode seguir uma estrutura baseada na democracia. A O.T.O. é autocrática, e este princípio deve reger todo seu desenvolvimento.

[18] - Nota de E.: Não é bem assim. Esta “adaptação”  foi parcial. O Ritual do III° ainda está baseado na lendada do  Deus (Herói) morto. Só que na O.T.O. este “herói” (deus) tem outro nome e de origem árabe.

[19] - Nota de E.: O catolicismo romano, que no mundo ocidental vem vingando há mais de 2000 anos, tem que ser urgentemente aposentado e eliminado, pois é uma mentira e um enfoque de cegos e caolhos. Não dá mais para suportar a montanha de logros, mentiras e enganos que prevalecem no mundo das religiões organizadas. Vide como clássico exemplo as variadas “relíquias” cristãs: Santo Sudário,  Pedaços da cruz “Verdadeira”, etc

[20] - Nota de E.: Como se um Mestres necessitasse escrever cartas para se comunicar com alguém.

[21] - Nota de E.: Que é um véu colocado ante os olhos do Aspirante.

[22] - Nota de E.: Se René Descartes tivesse pertencido a qualquer fraternidade atual com o nome Rosa Cruz, ele não teria sido citado aqui; pois não teria escrito “O Discurso do Método”, que é um livro baseado mo bom senso de um raciocínio científico.

[23] - Nota de E.: Mas não do Esoterismo Verdadeiro.

[24] - Nota de E.: Veja-se que eu disse com a O.T.O., não com Thêlema. Esta observação torna-se necessária porque muita gente têm confundido estas duas coisas como sendo uma só e, convenientemente, titrado conclusões precipitadas sobre minha atual posição.

[25] - Notga de é: Sob o ponto de vista Thelêmico, nenhum homem pertence a coisa alguma, mas sim as coisas pertencem a ele.

[26] - Notas de E.: Na FRA (Fraternitas Rosicruciana Antiqua) tive a honra de ser iniciado pelo Sr. Paula Paula, um dos mais sérios ocultistas que tive o prazer e a sorte de conhecer e conviver. Ele faleceu em junho de 2001,  na cidade de Juiz de Fora. Um estudo sobre estas “Fraternidades Rosa Cruz”, consta no meu texto denominado “Um Documento Necessário”.

[27] - Nota de E.: Thelema é um sistema místico filosófico e cultural baseando-se em Líber Al vel Legis, que resume-se na aparente simples premissa: Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.; esta frase já tendo sido usada por Rebelais em seu livro “Gargantua e Pantagruel”. S.Paulo, por sua vez usou: Ama e faze o que quizeres

[28] - Nota de E.: No Brasil e fora dele (principalmente na América do Norte) é grande o número destes líderes. Ao inquirir na OTO inglesa (Kenneth Grant) sobre um tal de L.F., que se dizia alto representante daquela organização, recebi a seguinte resposta: “...... L.F. is well known to us as a fraud, and We have repeatedly asked him to stop misrepresenting himself . He is not a representative of Kenneth Grant......”

[29] - Nota de E.: Recentemente, tive notícias, através pessoas dignas de credito, que existe uma organização, em nosso país,  usando um tipo de “corredor polonês”  na cerimônia de iniciação. Neste corredor os candidatos são agredidos (levam socos e ponta pés, e outras coisas mais) ao comando de “iniciadores”. Gostaria de não acreditar nestas notícias, mas....

[30] -Comento. Um aviso em Líber Legis que tacitamente estabelece ser proibida a interpretação ou a simples discussão do texto do livro. “Aqueles que discutem o conteúdo desse livro devem ser considerados como focos de pestilência.”

[31] - Goetia é um dos ramos da magia que lida com a evocação de espíritos.

[32] - Como os cristianismo pregado por aí.


 [u1]Thelema é um sistema cultural e místico criado em 1904 por Aleister Crowley. Baseia-se na frase “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. Embora possa parecer, a frase não é uma licença a anarquia  moral e, mística e social. A frase determina a descobera da Verdadeira Vontade que transcende aos “nosso desejos”. Faze o que tu queres  não é o mesmo que faze o que quizeres..

 [u2]O próprio Germer recusou a aceitar as obregações do O.H.O.  Desde que ele ecreditava que a O.T.O. de Reuss tinha mais autoridade do que a O.T.O. de Crowley

 [u3]A sociedade, dita cristã,  tal como o Marxismo,  baseia-se no conceito da igualdade de todos os seres, quando a evidencia é farta de que a lei natural a este respeito é variação da norma. A organização social pregada pelo Marxismo está em flagrante contraste com a Lei Natural de Evolução por mutação e seleção das espécies; pois a genética nos ensina, e a observação da conduta das espécies o demonstra, que variações da norma produzem evolução.

 [u4]É minha crença atual, que Kenneth Grant, Cabeça Externa da Ordem chamada O.T.O. Typhoniana tem mais autoridade do que qualquer um que clame por isto. Em 1946 escreveu Crowley: a respeito de Grant: “...uma clara doação dos Deuses” e sobre o escrito em seu diário em março de 1946:”Valor de Grant: se eu morrer ou for para os Estados Unidos, deve ser um homem treinado para tomr conta da O.T.O. Inglesa

 [u5]O que não consigo compreender é como um conhecimento tão antigo não conseguiu  resolver ainda os grandes problemas da humanidade. Ora, tivesse eu o segredo da vida eterna, eu o compartilharia com todos e, evidentemente, não morreria. Como, então, estes senhores, cujo poder e conhecimento em todas estas ciência, morrem? É dito existir um segredo conferindo eterna juventude e saúde perfeita e, no entanto, aqueles que afirmam em possuí-lo envelhecem, adoecem e morrem. Como pode ser que em conhecendo o poder alquímico de transformar chumbo em ouro, eu morre na pobreza?

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