A palavra do Senhor é rápida e poderosa, e mais afiada que uma espada de dois gumes.
Tal como a Baqueta é Chokmah, a Vontade, o Pai, e a Taça a Compreensão, a Mãe, Binah: assim também a Espada Mágica é a Razão “O Filho”, as seis Sephiroth de Ruach e nós veremos que o Pantáculo corresponde a Malkuth, “A Filha”.
A Espada é a faculdade analítica; dirigida contra qualquer Demônio, ataca a complexidade deste.
Somente o simples pode resistir à Espada. Como nós estamos abaixo do Abismo, esta arma é inteiramente destrutiva: Ela divide Satã contra Satã. É somente nas formas mais baixas de Magia, as formas puramente humanas, que a Espada se tornou uma arma tão importante. Uma Adaga deveria ser suficiente.
Mas a mente do homem normalmente é tão importante para ele que a espada é no presente a mais volumosa de suas armas; feliz daquele que pode fazer com que a adaga seja suficiente.
O punho da espada deveria ser feito de cobre.
A guarda é composta dos dois arcos da lua crescente e minguante – um de costas para o outro. Esferas são colocadas entre eles, formando um triângulo equilátero como a esfera na extremidade do punho.
A lâmina é reta, pontuda e afiada até a guarda. É feita de aço, para ser equilibrada com o punho, pois o aço é o metal de Marte, tal como o cobre é o metal de Vênus.
Estes dois planetas são macho e fêmea – e assim refletem a Baqueta e a Taça, se bem que num senso mais (muito) baixo.
O punho da Espada está em Daath, a guarda se estende para Chesed e Geburah, a ponta está em Malkuth. Alguns Magistas fazem as três esferas respectivamente de chumbo, estanho e ouro; as luas de prata, e o punho contendo mercúrio; assim eles tomam a Espada simbólica dos sete planetas. Mas isto é uma fantasia e afetação.
“Quem quer que empunhe a Espada morrerá pela espada” não é uma ameaça mística, é uma promessa mística. É a nossa complexidade que deve ser destruída.
Aqui está outra parábola. Pedro, a Pedra dos Filósofos, decepa a orelha de Malchus, o servo do Sumo Sacerdote (a orelha é o órgão do Espírito). Em análise a parte espiritual de Malchus deve ser separada desta pela Pedra Filosofal, e então Christus, o Ungido, as junta novamente. “Solvé et coagula.” (1)
Note que isto acontece na hora da prisão de Cristo, que é filho, o Ruach imediatamente antes de sua crucificação.
A Cruz do Calvário deveria ser de seis quadrados, um cubo desdobrado, o qual cubo é esta mesma pedra filosofal.
Meditação revelará muitos mistérios que estão ocultos neste símbolo.
A Espada ou Adaga é atribuída ao Ar, que circula em toda parte, que penetra em toda parte, mas é instável; não um fenômeno sutil como o fogo, não uma combinação química como a água; mas uma mistura de gazes.
A Espada, por necessária que seja ao principiante, é uma arma grosseira.
Sua função é manter os inimigos à distância ou forçar uma passagem através deles – e se bem que deve ser brandida para ganharmos admissão ao palácio, ela não pode ser envergada durante o festim nupcial.
Poderíamos dizer que o Pantáculo é o pão da vida, e a Espada a faca que o corta. Devemos ter ideias, mas devemos criticá-las.
Espada é também aquela arma com a qual aterrorizamos os Demônios e os dominamos. Devemos manter o Ego senhor das impressões. Não devemos permitir que o círculo seja rompido pelo Demônio; não devemos permitir que qualquer ideia nos arrebate.
Será prontamente visto como tudo isto é elementar e falso – mas para principiantes é necessário.
Em toda lida com Demônios a ponta de Espada é mantida apontando para baixo; ela não deve ser usada para invocações, como é ensinado em certas escolas de magia.
Se a Espada é levantada em direção a Coroa, não é mais realmente uma Espada. A Coroa não pode ser dividida. Certamente a Espada não deveria ser levantada.
A Espada, porém, pode ser empunhada com ambas as mãos e mantida firme e ereta, simbolizando que o pensamento se tornou um com a aspiração única, e foi queimada como uma flama. Esta flama é Shin, o Ruach Alhim, não o mero Ruach Adam. A consciência divina, não a humana.
O Magista não pode manejar a Espada a não ser que a coroa esteja em sua cabeça.
Aqueles Magistas que tentaram fazer da Espada a única ou mesmo a principal arma, apenas destruíram a si mesmos, não pela destruição de combinação, mas pela destruição de divisão. A fraqueza vence a força.
O mais estável edifício político da história foi aquele da China, que estava baseado principalmente na política social, e o da Índia se tem provado suficientemente forte para absorver seus muitos conquistadores.
A Espada foi a grande arma do século passado. Toda ideia foi atacada por pensadores, e nenhuma ideia resistiu ao ataque. Daí a ruína presente da civilização.
Não sobrou nenhum princípio fixo. Hoje em dia todo estadismo construtivo é empirismo ou oportunismo. Tem sido duvidado se existe qualquer relação real entre Mãe e Prole, qualquer verdadeira diferença entre Macho e Fêmea.
A mente humana, em desespero, pressentindo insanidade iminente no estilhaçar destas imagens coerentes, tem tentado substituí-las por ideais que são salvos da destruição, no momento mesmo de nascerem, apenas pelo fato de serem extremamente imprecisos.
A Vontade do Rei, pelo menos, era fácil de ser determinada a qualquer momento; ninguém ainda descobriu um meio de determinar a vontade do povo.
Toda ação voluntária consciente é impedida; a marcha dos acontecimentos é agora apenas inércia.
Que o Magista considere estes fatos antes de empunhar a Espada. Que ele compreenda que o Ruach, esta combinação frouxa de seis Sephiroth, somente ligadas umas as outras pela conexão com a vontade humana em Tiphareth, deve ser rompido.
A mente deve ser decomposta em uma forma de insanidade antes que possa ser transcendida.
David disse: “Eu odeio pensamentos”.
O hindu disse: “Aquilo que pode ser pensado não é verdadeiro”.
Paulo disse: “A mente da carne é inimizade a Deus”.
E todo aquele que medita, mesmo por uma hora, cedo descobrirá como este lépido vento sem fito faz com que sua flama pisque. “O vento sopra aonde quer”. “O homem normal é menos que uma palha”.
A conexão entre o Alento e a Mente tem sido suposta por alguns como existente apenas em etimologia. Mas a conexão é mais verdadeira que isto.
Em qualquer caso, existe indubitavelmente uma conexão entre as funções respiratórias e mentais. O estudante verificará isto pela prática de Pranayama.
Através deste exercício certos pensamentos são barrados, e aqueles que mesmo assim vêm à mente vêm mais devagar, de forma que a mente tem tempo de perceber a falsidade deles e destruí-los.
Na lâmina da Espada Mágica está gravado o nome Agla, em Notariqon formada pelas iniciais da sentença Ateh Gibor Le-olahm Adonai, “A Ti seja o Poder através das Eras, oh meu Deus”.
E o ácido que come o aço deveria ser óleo de Vitríolo. Vitriol é um Notariqon de Visita Interiora Terræ Rectificando Invenies Occultum Lapidem. Isto quer dizer: “Pela investigação de tudo e pela colocação de tudo em harmonia e proporção você encontrará a pedra oculta”, a mesma pedra dos filósofos já mencionada, a qual vira tudo em ouro. Este óleo que pode comer o aço é, além disso, aquele de que está escrito, Liber LXV, I, 16: “Como um ácido morde o aço... assim sou Eu para o espírito do homem”.
Note como está estreitamente entrelaçado todo este simbolismo.
O centro do Ruach sendo o coração, é visto que esta Espada do Ruach deve ser mergulhada pelo Magista no seu próprio coração.
Mas existe uma tarefa subsequente, da qual é falado – Liber VII, V.47. “Ele esperará a espada do Bem-Amado e oferecerá sua garganta para o golpe.” Na garganta está Daath – o Trono de Ruach. Daath é o Conhecimento. Esta destruição final do Conhecimento sobre o portal da Cidade das Pirâmides.
Está também escrito – Liber CCXX, III.11: “Que a mulher esteja cingida com uma espada diante de mim”. Mas isto se refere a Sanna armando Vedana, a conquista de emoção pela clareza de percepção.
Também é dito, Liber LXV, V.14, da Espada de Adonai, “que tem quatro lâminas, a lâmina do raio, a lâmina do Pilono, a lâmina da Serpente, a lâmina do Falo.”
Mas esta Espada não é para o Magista ordinário. Pois esta é a Espada flamejante em toda direção que guarda o Éden, e nesta Espada a Baqueta e a Taça estão escondidas – de forma que embora o ser do Magista seja fulminado pelo Raio, e envenenado pela Serpente, ao mesmo tempo os órgãos cuja união é o supremo sacramento são deixados intactos nele.
À vinda de Adonai, o indivíduo é destruído em ambos os sensos. Ele é estilhaçado em mil pedaços, no entanto é simultaneamente unido ao simples. (2)
Disto também fala São Paulo em sua Epístola à igreja de Tessalonicenses:
“Pois o Senhor descerá do Céu, com um grito, com a voz do Arcanjo, e com a Trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo se erguerão primeiro. Então nós que estamos vivos e permanecemos seremos arrebatados com eles às nuvens para encontrar o Senhor no Ar; e assim estaremos para sempre com o Senhor”.
A estúpida interpretação deste verso como profético de uma segunda vinda não necessita nos preocupar; toda palavra dele é, no entanto, digna da mais profunda consideração.
“O Senhor” é Adonai – que é o hebreu para “meu Senhor”; e Ele desce do céu, o Éden superno, o Sahasrara Chakra no homem, com um “grito”, uma “voz” e uma “trompa”, novamente símbolos aéreos, pois é o ar que transmite o som. Estes sons referem-se àqueles ouvidos pelo Adepto no momento do arrebatamento.
Isto é muito acuradamente simbolizado no trunfo do Taro chamado “O Anjo”, que corresponde a letra Shin [ש], a letra do Espírito e do Alento.
A mente inteira do homem é rompida pela vinda de Adonai, e instantaneamente arrebatada à união com Ele – “No ar”, o Ruach.
Note que etimologicamente a palavra Samadhi, “junto com”, e o Sânscrito sam; e o hebreu adni é o sânscrito adhi.
A frase “com o Senhor” é então literalmente idêntica à palavra Samadhi, que é o nome Sânscrito para o fenômeno descrito por São Paulo, esta união do ego e do não-ego, sujeito e predicado, este casamento químico; é assim idêntica com o simbolismo da Rosa Cruz, sob um aspecto ligeiramente diverso.
E deste casamento só pode ocorrer entre um e um, é evidente que nenhuma ideia pode ser assim unida, a não ser que seja simples.
Portanto, toda ideia deve ser analisada pela Espada. Portanto, também, deve haver apenas um único pensamento na mente da pessoa que medita.
Podemos agora passar à consideração do uso da Espada na purificação de emoções em percepções.
Foi a função da Taça interpretar as percepções pelas tendências; a Espada livra as percepções da Teia da emoção.
As percepções são sem significado em si mesmas; mas as emoções são piores, pois elas levam sua vítima a supor que são significativas e verdadeiras.
Toda emoção é uma obsessão; a mais horrível das blasfêmias é atribuir qualquer emoção a Deus no macrocosmo, ou à alma pura no microcosmo.
Como pode aquilo que é auto existente, completo, ser movido? Está até escrito que “torsão em torno de um ponto é iniquidade”.
Mas se este ponto mesmo pudesse ser movido deixaria de ser o ponto, pois o único atributo do ponto é posição.
O Magista deve, portanto, se tornar absolutamente livre neste respeito.
A prática constante de Demônios é tentar aterrar, chocar, desgostar, seduzir. Contra tudo isto deve ele opor o Aço da Espada. Se ele se livrou da ideia do ego, esta tarefa será comparativamente fácil; se ele não se livrou assim, a tarefa será quase impossível.
Diz o Dhammapada:
Ele me abusou, ele me bateu, ele me roubou, ele me insultou:
Quem se permite tais pensamentos nunca deixará de odiar.
E este ódio é o pensamento que inibe o amor cuja apoteose é Samadhi.
Mas é demasiado esperar que o Magista noviço pratique apego ao que é desagradável; que ele primeiro se torne indiferente. Que ele se esforce por encarar fatos como fatos, com tanta simplicidade quanto ele os encararia se os fatos fossem históricos. Que ele evite uma interpretação imaginativa de quaisquer fatos. Que ele não se ponha no lugar das pessoas de quem os fatos são relatados; ou se ele assim faz, que isto seja feito apenas com a finalidade de compreender. Simpatia, indignação, elogio ou condenação, não tem lugar no observador.
Ninguém até hoje considerou a questão da quantidade e qualidade da luz fornecida por velas feitas de cristãos azeitados.
Quem sabe que pedaço do missionário ordinário é preferido pelos gastrônomos? É simples matéria de conjectura que católicos são mais gostosos que protestantes.
No entanto, estes pontos e outros do mesmo tipo são os únicos que têm qualquer importância no momento em que os eventos ocorrem.
Nero não considerou o que a posteridade ainda por nascer pensaria dele; e é difícil acreditar que os canibais calculem que a descrição de seus feitos incitará velhotas devotas a renovar-lhes a despensa.
Pouquíssimas pessoas já viram uma tourada. Um tipo de pessoa vai para ser excitado; outro tipo pelo prazer perverso que o horror real ou simulado lhe oferece. Pouca gente sabe que sangue fresco derramado à luz do sol é talvez a cor mais linda encontrada em estado livre na natureza.
É um fato notório que é praticamente impossível obter uma descrição que mereça confiança do que ocorre numa sessão espírita; as emoções nublam a visão.
Somente na absoluta calma do laboratório, onde o observador está perfeitamente indiferente ao que possa acontecer, preocupado apenas em observar o que é que acontece, medir e pesar o que acontece através de instrumentos incapazes de emoção, é que podemos começar a ter esperança de um registro verdadeiro dos acontecimentos. Mesmo as bases fisiológicas comuns da emoção, os sensos de prazer ou de dor, infalivelmente levam o observador a errar. Isto se bem que os sentidos possam não estar suficientemente excitados para lhe per turbar a mente.
Mergulhemos uma das mãos numa bacia cheia de água quente, a outra numa bacia cheia de água fria, depois ambas as mãos numa bacia de água morna; uma mão dirá quente, a outra frio.
Mesmo quando usamos instrumentos, as qualidades físicas destes, tais como expansão e contração (as quais podem ser chamadas, de certo modo, as raízes do prazer e da dor), causam erro.
Façamos um termômetro; o vidro fica tão excitado pela fusão necessária que ano após ano, durante trinta anos ou mais, a altura da coluna de mercúrio continuará a alterar-se; quanto mais então uma matéria tão plástica quanto a mente.
Não existe emoção que não deixe uma marca na mente; e todas as marcas são más. Esperança e medo são apenas fases opostas de uma emoção única; ambas são incompatíveis com a pureza da alma. Com as paixões do homem o caso é um pouco diverso, desde que elas são funções da própria vontade dele. As paixões devem ser disciplinadas, não suprimidas. Mas a emoção é impressa de fora para dentro. É uma invasão do Círculo.
Como é dito no Dhammapada:
Uma casa mal telhada está aberta à mercê de chuva e vento.
Assim a paixão tem poder para invadir uma mente irrefletida.
Uma casa bem telhada é à prova da fúria da chuva e do vento;
Assim, a paixão não tem poder para invadir uma mente bem ordenada.
Por tanto, que o estudante faça uma prática de observar as coisas que normalmente lhe causariam emoção; e que ele, tendo escrito uma cuidadosa descrição do que vê, compare tal descrição com aquela de alguma pessoa familiarizada com tal coisa.
Operações cirúrgicas e as bailarinas são excelentes escolhas para o principiante.
Ao ler livros emocionais do tipo que é infligido sobre crianças, que ele sempre se esforce por contemplar o evento do ponto de vista oposto àquele do autor. No entanto, que ele não emule aquela criança parcialmente emancipada que se queixou de uma gravura do Coliseu, que “havia um coitadinho de um leão que não tinha nenhum cristão para comer”, a não ser no primeiro caso. Crítica adversa é o primeiro passo; o segundo passo deve ir adiante.
Tendo simpatizado suficientemente tanto com os leões quanto com os cristãos, que ele abra seus olhos àquele fato que sua simpatia impediu-o de perceber até agora: que a gravura foi abominavelmente concebida, abominavelmente composta, abominavelmente desenhada e abominavelmente colorida, como seguramente será o caso.
Que, além disto, estude aqueles mestres, na ciência ou na arte que observaram com mentes imperturbadas por emoção.
Que ele aprenda a perceber idealizações, a criticá-las e corrigi-las.
Que ele compreenda a falsidade de Raphael, de Watteau, de Leighton, de Bouguereau, que ele aprecie a veracidade de John, de Rembrandt, de Titian, de O’Conor.
Estudos análogos em literatura e filosofia levarão a resultados análogos.
Mas que ele não negligencie a análise de suas próprias emoções; pois até que estas tenham sido conquistadas ele será incapaz de julgar outras.
Esta análise pode ser executada de diversas formas; um método é o materialismo. Por exemplo: se oprimido por um pesadelo, que ele explique: “Este pesadelo é uma congestão do cérebro”.
A maneira estrita de fazer isto através de meditação é – Mahasatipatthana, mas deve ser auxiliada a todo momento da vida diária pelo esforço por interpretar ocorrências com objetividade. A relatividade do valor delas, em particular, deve ser cuidadosamente considerada.
A sua dor de dentes não incomoda ninguém senão dentro de um Círculo muito limitado. Inundações da China significam para você apenas um parágrafo num jornal. A destruição do mundo, mesmo, não teria nenhum significado em Sirius. Não podemos sequer imaginar que os astrônomos de Sirius perceberiam uma perturbação tão insignificante.
Agora se considerarmos que mesmo Sirius é, tanto quanto você sabe, apenas uma, e uma das menos importantes, das ideias na sua mente, por que deverá aquela mente ser perturbada pela sua dor de dente? Não é possível elaborarmos este ponto sem tautologia, pois é um ponto muito simples; mas devemos dar-lhe ênfase, precisamente porque é muito simples. Au! Au! Au! Au! Au!
Na questão da ética, isto novamente se torna de importância vital, pois muita gente parece incapaz de ponderar os méritos de qualquer ato sem introduzir uma quantidade de assuntos completamente irrelevantes.
A Bíblia foi mal traduzida por letrados perfeitamente competentes, porque eles tinham que considerar a teologia da época. O mais flagrante exemplo é o “Cântico dos Cânticos”, de Salomão, uma típica peça de erotismo oriental. Mas como seria impossível permitir isto num “Livro Sagrado”, eles tentaram fazer de conta que a obra era simbólica.
Eles tentaram “refinar” a grosseria das expressões, mas mesmo seus esforços provaram ser incapazes disto.
Esta forma de desonestidade atinge o cume na expurgação dos clássicos. “A Bíblia é a Palavra de Deus, escrita por homens santos durante inspiração pelo Espírito Santo. Mas nós omitiremos essa passagem que consideramos impróprias.” “Shakespeare é o nosso maior poeta – mas, claro, ele é indecente.” Ninguém pode sobrepujar o lirismo de Shelley, mas devemos fazer de conta que ele não era um ateísta.
Alguns tradutores não puderam aturar que os chineses pagãos usassem a expressão shang ti, e fizeram de conta que a expressão não significa Deus. Outros, compelidos à admissão de que ela significava Deus, explicaram que o uso do termo demonstra que “Deus não se deixara sem testemunho mesmo nessa mais idólatra das nações. Eles foram misteriosamente compelidos a utilizar a palavra, sem compreenderem o seu significado.” Tudo isto por causa do preconceito emocional deles de que eram melhores que os chineses.
O mais flagrante exemplo disto está na história do estudo do Budismo.
Os primeiros letrados a estudar o Budismo, simplesmente não podiam compreender que o cânon Budista nega a existência da alma, considera o ego uma ilusão cansada por uma faculdade especial da mente doentia; não podiam conceber que o fito do Budista, Nibhana, fosse de qualquer forma diverso do fito deles mesmos, o “Céu”, a despeito da completa franqueza da linguagem em diálogo tais como aquele do Arahat Nagasena e o Rei Melinda; e as tentativas deles de adaptarem o texto aos seus preconceitos perdurarão como uma das grandes tolices dos sábios.
Da mesma forma é quase impossível para o cristão bem-educado o conceber Jesus Cristo comendo com os dedos. O entusiasta da temperança faz de conta que o vinho das Bodas de Canaã não continha álcool.
É uma espécie de silogismo doido.
Ninguém que eu respeito faz isto.
Eu respeito fulano.
Portanto, fulano não fez isto.
O moralista de hoje em dia fica furioso quando pessoas comentam o fato que praticamente todos os grandes homens da história eram “grossos” e notoriamente imorais.
Chega deste penoso assunto.
Enquanto nos esforçamos por adaptar fatos e teorias, em vez de adotarmos a atitude científica de alterar as teorias (quando necessário) para que se adaptem aos fatos, permaneceremos atolados em falsidade.
O religioso zomba do cientista por causa desta mente aberta, desta adaptabilidade. “Diga uma mentira e persista nela” é o lema dos religiosos.
Não é necessário explicar mesmo ao mais humilde estudante da Magia da Luz a que tende tal curso de ação.
Quer o Livro do Gênesis seja verdade, quer a geologia seja verdade, um geólogo que crê no Livro do Gênesis irá para Gehenna. “Não podeis servir Deus e Mammon.”
Traduzido por Frater Ever
(1) Latim; “dissolver e coagular.”
(2) Compare o primeiro grupo de versos em Liber XVI. (XVI no tarô é peh (פ), Marte, a Espada.)