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Princípios do Ritual

Existe uma única definição geral do propósito de qualquer Ritual Mágico: é a união do Microcosmo com o Macrocosmo. O Supremo e Completo Ritual é, portanto, a Invocação do Sagrado Anjo Guardião(1) ou, na linguagem do misticismo, União com Deus(2).

Todos os outros Rituais Mágicos são casos particulares deste princípio geral e a única desculpa para utilizarmos consiste em que algumas vezes uma porção particular do Microcosmo é tão fraca que a sua imperfeição de impureza viciaria o Macrocosmo, do qual ele é a imagem, Eidolon ou reflexo. Por exemplo, Deus está além do sexo, portanto nem o homem e nem a mulher, como tais, podem ser considerados como abarcando por completo, muito menos como representando, Deus. É, portanto, de suma importância que o Magista macho cultive as virtudes femininas nas quais ele é deficiente, e esta tarefa ele deve, claro, executar sem prejudicar de forma alguma a sua virilidade. Será tão permissivel que um Magista Invoque Ísis e se identifique com ela; se ele fracassar nisto, sua apreensão do universo quando ele atingir o Samadhi não incluirá a concepção da maternidade. O resultado será uma limitação metafísica e – por corolário – uma limitação ética na religião que ele fundar. Judaísmo e Islamismo são flagrantes exemplos desse fracasso.

Para dar outro exemplo, a vida ascética que a dedicação à Magick tão fequentemente provoca, indica uma fraca natureza íntima do Asceta, uma limitação, uma falta de generosidade. A natureza é infinitamente prodigiosa – nem sequer uma semente em um milhão chega a dar fruto. Quem tem dificuldade em perceber isso que Invoque Júpiter.(3)

O perigo da Magick Cerimonial – o perigo mais sutil e mais profundo – é este: o Magista naturalmente tenderá a invocar aquele ente parcial que mais fortemente o atrai de forma que seu excesso natural naquela direção será exagerado ainda mais. Portanto, que ele, antes de começar a sua Obra, se esforce por traçar o plano de seu próprio Ser e arranje suas invocações de maneira a restabelecer o equilibrio!(4)

Isto é, claro, deveria ter sido feito, até certo ponto, durante a preparação das Armas e o mobiliário do Templo.

Considerando de uma maneira mais particular, essa questão da natureza do Ritual, suponhamos que o Magista se percebe sem aquela percepção do valor da Vida e da Morte, tanto de indivíduos como de raças, que é característico da natureza. Ele tem talvez uma tendência de acentuar a “primeira nobre verdade” enunciada por Buda de que “tudo é sofrimento”. A Natureza, aos seus olhos, é uma tragédia. Talvez ele já tenha experimentado o Grande Trance chamado Dor. Ele deveria então ponderar se não existe alguma Deidade que expressa esse Ciclo e, no entanto, cuja natureza seja alegria. Ele encontrará o que ele necessita em Dionisos ou Bacchus. A distorção desses rituais forma o Mistério central da religião Cristã.

Existem três métodos especiais de invocar qualquer deidade: o primeiro consiste em devoção àquela Deidade e, sendo principalmente místico por natureza, não é necessário discutí-lo aqui, principalmente desde que uma perfeita instrução existe em Liber 175.

O segundo método é a invocação cerimonial. É o método que usualmente era empregado na Idade Média. Sua vantagem é por se tratar de um método direto, porém, sua desvantagem é ser cru. A “Goécia” da clara instrução neste método a assim fazem muitos outros Rituais, negros e brancos. Mais adiante dedicamos algum espaço a clara exposição desta Arte.

No caso de Bacchus, entretanto, podemos esboçar o método de proceder. Observamos que o simbolismo de Tiphareth expressa a Natureza de Bacchus. É então necessário construir um Ritual de Tiphareth. Abrindo o Liber 777, veremos na linha 6 de cada coluna, as várias partes das correspondencias necessárias. Tendo organizado tudo na devida forma, nós exaltamos a mente através de repetidas invocações ou conjuração até atingirmos a mais alta concepção daquele Deus; até que, em um sentido ou outro da palavra, Ele nos aparece e inunde nossa consciência com a Luz de Sua Divindade.
O terceiro método é o dramático, talvez o mais atraente de todos, certamente assim o é para aqueles de temperamento artístico, pois apela à imaginação por meio dos sentidos.

Sua vantagem está, principalmente, na dificuldade de sua execução por uma só pessoa. Mais tem a sanção da mais alta antiguidade e é provavelmente o mais útil para se fundar uma religião. É o método da Cristandade católica e consiste na Dramatização da lenda dos deus. A peça intitulada Bacchael de Eurípides é um magnífico exemplo de um Ritual dramático, assim também, se bem que em menor grau, é a Missa romana. Nós podemos ainda mencionar muitos dos graus da Maçonaria, principalmente o terceiro. O Ritual 5º = 6º é outro exemplo.

No caso de Bacchus, primeiro comemoramos seu nascimento de uma mãe mortal que entregou sua Casa-de-Tesouro ao Pai de Tudo, o ciúme e raiva excitados por esta encarnação e a proteção celeste outorgada ao menino. Em seguida, deve-se comemorar a jornada em direção ao ocidente montando sobre um asno. Agora chega a garnde cena do drama: o gentil, lindo mancebo com seus seguidores (principalmente mulheres) parece ameaçar a ordem estabelecida das coisas e aquela Ordem estabelecida se prepara para por fim ao perigo. Vemos Dionísos confrontar o Rei enfurecido, não com desafio, mas com doçura, no antando com uma sutil confiança, um riso disfarçado. Ele está coroado de vinha. Ele fica afeminado com essas folhas que coroam sua cabeça? Mas as folhas ocultam chifres. O rei Penteu, símbolo do respeito,(5) é destruido por seu orgulho. Ele sobe as montanhas para atacar as mulheres que seguiam Bacchus, o mancebo que ele escarneceu, fustigou e encadeou, o qual no entanto, apenas sorriu e por estas mulheres, embriagadas de êxtase, divinamente enlouquecidas, ele é despedaçado.

Já nos parece impertinente ter dito tanto quando Walter Pater contou a história com tanta simpatia e percepção. Não nos alongaremos em demonstrar a identidade desta lenda com o curso da natureza, com a loucura desta, com sua prodigalidade, sua intoxicação, sua alegria e , acima de tudo, sua sublime persistência através dos ciclos de Vida e Morte. O leitor pagão deve se esforçar por isto nos Estudos Gregos de Pater e o leitor cristão o reconhecerá, incidente por incidente, com o conto de Cristo. Esta lenda é simplesmente  a dramatização da primavera.

O Magista deseja invocar Bacchus através do método dramático deve, portanto, organizar uma cerimônia em que ele assuma o papel de Bacchus, incorre as peripécias do Deus e emerge triunfante além da morte. Ele deverá, entretanto, estar e, guarda contra a possibilidade de confundir o simbolismo. Nesta lenda, por exemplo, a doutrina da imortalidade individual foi inserida para degradação da verdade primitiva. Não é aquela parte completamente sem valor do homem, sua consciência individual como Johan Smith, que desafia a morte – aquela consciência morre e renasce com cada pensamento! -  O que persiste (se alguma coisa persiste) é a verdadeira essência de John Smith, uma qualidade da qual ele provavelmente nuca se tornou consciente a sua vida inteira.(6)

Mesmo aquilo não persiste sem mudança. Está sempre crescendo. A Cruz é um graveto seco e as pétalas da Rosa caem e apodrecem, mas na união da Cruz de da Rosa há uma constante sucessão de novas vidas.(7) Sem esta união e sem esta morte do indivíduo, o ciclo seria interrompido.

Nós dedicaremos um capítulo à remoção das dificuldades práticas deste método de Invocação. Sem dúvida, terá sido notado pela astúcia do leitor que no essencial estes três métodos são um. Em cada caso, o Magista se identifica com a Deidade invocada. Invocar é chamar para dentro, interiorizar, da mesma forma que evocar é pro para fora, exteriorizar. Essa é a diferença essencial entre os dois ramos da Magick. Em Invocação o Macrocosmo inunda a Consciência. Em Evocação, o Magista, tendo se tornado o Macrocosmo, cria um Microcosmo. Você invoca um Deus para dentro do círculo. Você evoca um Espírito para dentro do Triângulo. No primeiro método, identidade com o Deus é conseguida por amor e redição por abandono ou supressão de todas as partes irrelevantes (e ilusórias) de você mesmo. É o mesmo que limpar um jardim.

No segundo método a identificação é conseguida por concentração na parte desejada de você mesmo, positivo, enquanto o primeiro método é negativo. O segundo equivale a colocar uma determinada flor do jardim em um pote e regá-la e expô-la ao Sol.

No terceiro método, a identificação é conseguida por simpatia. É muito difícil para o homem comum identificar-se por completop com o personagem de uma peça ou de uma novela, mas para aqueles que assim podem fazer, este método é indibtavelmente o melhor.

Observe: cada elemento deste ciclo é de valor idêntico. É errôneo dizer, triunfante, “Mors janua vitae”, a não ser que você acrescente, com igual triunfo, “Vita janua mortis”. Para aquele que compreende esta cadeia de Aeons do mesmo ponto de vista de Ísis sofredora e do Osíris triunfante, sem esquecer o elo entre eles representado pelo destruidor Apóphis, não existe nenhum segredo da natureza que permaneça velado. Ele grita aquele nome de Deus que através da história tem sido ecoado de uma religião a outra, o infinito, essurgente paean I.A.O!(8)

 

Comentários de Therion:


1 - Veja o Livro da Magia Sagrada de Abramelin o mago, Liber 418, 8ºAethyr e Liber Samekh.

2 - A diferença entre estas operações é mais teórica do que a própria importância prática.

3 – Existem certas considerações muito mais profundas, parecendo que "Tudo que é, está certo". Elas estão formuladas em outro lugar, podemos apenas resumí-las aqui dizendo que a sobrevivência dos mais aptos é resultado delas.

4 –.O método ideal de se fazer isso está descrito em Liber 913, Equinox I. Ver também Liber CXI vel Aleph.

5 – Existe outra interpretação onde Penteus é tido com o "Deus sacrificado". Ver a minha obra "Good Hunting" eo "Golden Bough" do Dr.J.C. Frazer.

6 – Ver o Livro das Mentiras (Liber 333) para diversas elucidações para este assunto. Em particular os capítulos Alpha, Delta, Eta, Iota-Epsilon, Iota-Sigma, Iota-Eta, Kappa-Alpha, Kappa-Eta. A reencarnação do Khu ou Ente Mágico é um assunto inteiramente diverso, complicado em demasia para ser tratado neste manual elementar.

7 – Ver Liber 33. Toda teoria da morte deve ser estudada em Liber Aleph

8 – Mors janua vitae ("A Morte é a porta da Vida"). Vita janua mortis ("A Vida é a porta da Morte"). O nome I.A.O. é cabalisticamente idêntico ao da BESTA com o seu número 666, de forma que invoca o primeiro, também invoca o segundo. Também com AIWAZ e o número 93.


Traduzido por Frater Adjuvo


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