O defeito comum a todosos sistemas de misticismo prévios ao Aeon cuja Lei é Thelema é que não havia neles lugar para o Riso. Mas a tristeza da Mãe enlutada e melancolia do Homem Moribundo são varridas ao limbo do passado pelo confiante sorriso da Criança imortal.
E não há Visão mais crítica na carreira do Adepto de Hórus do que a da Pilhéria Universal.
Neste Trance ele aceita por completo a Fórmula de Osíris e no ato de aceitá-la ele a transcende; a lança do Centurião atravessa o seu coração sem ferí-lo e a espada do Verdugo se abate inutilmente sobre o seu pescoço. Ele descobre que a Tragédia da qual tantos séculos fizeram tanto caso é apenas uma farsa para divertir crianças. Polichinelo é jogado ao chão apenas para levantar rindo e gritando "Upa-upa-upa, lá vou eu de novo!" Columbina, Pierrô, o Carrasco e o Diabo são meramente os seus companheiros de brinquedo.
Portanto, já que (afinal de contas) os fatos que ele julgara trágicos são bastante reais e a essência da solução consiste em que eles não são verdadeiros tal como ele pensara dele mesmo; mas são apenas um grupo de fenômenos tão comicamente impotentes para afetá-lo quanto qualquer outro grupo. Sua tristeza pessoal foi devida a sua teimosia em considerar uma insignificante sequência de Acontecimentos como se fosse a única realidade e o siginificado da infinita massa de Manifestação.
É assim que a Percepção da Pilhéria Universal leva diretamente à Compreensão de Nós Mesmos como contérminos com o Universo, simultaneamente um com ele, criador dele e apenas dele; um Estado Triuno que, como é sabido, é um dos mais necessários estágios de Samadi (forma clímax de um dos dois mais importantes capítulos de Bhagavagita).
Há ainda outro mérito neste assunto: na idéia de Riso está inerente aquela Crueldade como já foi demonstrado por muitos filósofos e sem dúvida é este o motivo por que o Riso foi excluído, pela Escola Mística dos Narizes-Compridos do seu tedioso currículo. Aúnica resposta consiste em encolhermos os ombros com bem-humorado desprezo. Pois nesta rocha e em nenhuma outra, todos os tímidos barcos deles foram à pique um atrás do outro. A natureza está cheia de crueldades; seus mais altos pontos de alegria e vitória estão marcados por riso. É uma legítima explosão fisiológica de uma tensão seguida por relaxamento que produz riso. É notável que drogas tais como a Cannabis Indica e Anhalonium Lewinii (as quais realmente aliviam as vigas pelas quais a alma respira) causam riso imediato como um dos seus efeitos mais característicos.
Ó que grande, que saudável desprezo pelo senso limitado de si mesmo irrompe a percepção de desproporção gargantesca expressa nesse Riso! Em verdade ele mata com festim canibalístico, aquela azedo e enlutado missionário, o Ego sisudo e o atira para dentro do pote. Hê-Hê! - a Voz da Civilização - o Mensageiro do Deus do Cara-Pálida-borborinho, borborinho, borbulha o panelão! Atire dentro outra pitada de cheiro verde. irmão! E a doce fumaça sobe e vela com maravilhosa, dengosa sedução, os desavergonhados corpos das Estrelas!
Acima disso tudo em valor prático - desde que o sinal rodoviário a cada curva do Caminho dos Sábios lê PERIGO - no entanto surgindo disso tudo por virtude dessa execução do Ego mesmo, está o emprego do Riso como garantia de nossa sanidade. Como é fácil para os charlatões da oratória seduzir o simples entusiasmo da alma! Que auxílio teremos nós a não ser que possamos perceber o quanto eles são ridículos? Não há limite ao abismo de Idiotice em que os falsos sábios nos quereriam lançar nosso único reflexo salvador é a pilhéria automática do Senso de Humor!
Robert Browning não estava longe do Reino de Deus quando escreveu:
"Regozijai-vos de que o homem é atirado
De mudança a mudança incessantemente,
As asas de sua alma sempre abertas!"
E há afinal de contas, muito pouco sal no desdém de Juvenal: "Satur est cum dicit Horatius 'Evohe'!" Pois ainda está para ser notado que qualquer homem consolou ou auxiliou seu próximo através de choramingagem e suspiros.
Não, a Pilhéria Universal, se bem que não seja um verdadeiro Trance é, seguramente, um meio e Graça e com frequencia se prova o principal ingrediente do Solvente Universal.
De volta a Browning, estão as corajosas últimas palavras que ele escreveu enquanto oitenta pancadas batiam no relógio dos seus anos:
"Saúda o invisível como um brado!
Convida-o a aparecer, a se mostrar franco.
Avante e bate-te! - grita-lhe. Vamos, luta sempre,
Em qualquer parte!"
Amém
"Fosse o mundo compreendido,
Bom seria percebido,
Uma linha dança lírica!"
Sim! Terminemos com aquela súbita, mui surpreendente palavra de certo Anjo da Visão e da Voz que deixou o Vidente imerso em seu Trance solene e foi-se com a risonha alegre frase:
"Mas eu - vou dançando!"
As tábuas da Lei? Bah! Solvuntur tabulae - risu!
Pequenos Ensaios em Direção a Verdade.
Traduzido por Frater Adjuvo