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ensaios dos membros - Keron-ε

O DIREITO DE MATAR EM LIBER OZ

Oz

93!

Liber Oz é um dos escritos mais interessantes de 666 não apenas pelo conteúdo em si, mas pelas reações que causa. A quinta asserção é a responsável pela polêmica. A maioria das pessoas interpreta da pior forma possível sem compreender de fato o que está escrito, e o pior, muitos tendem a amenizar o texto atribuindo significado oposto ao escrito para não entrarem em polêmica mantendo-se na mentalidade de manada – consciente ou inconscientemente. Gravíssimo erro.

Liber 77 é claro, não possui subtendido nem artifícios de linguagem para confundir ou pregar uma peça no leitor; o significado, na minha opinião, é o que está ali: o homem tem sim o direito de matar, como está escrito. Sem mais nem menos.

Acontece que muitos enveredam pela rasteira interpretação: “Se alguém tentar me impedir de desenhar (por exemplo) eu tenho direito de matar este alguém.” Tal interpretação não está alinhada com o conteúdo do texto. O livro 77 não se refere ao mero ato em si, no caso, desenhar, mas ao direito de desenhar; do mesmo modo, ao direito a viver como quiser, trabalhar, brincar, comer, beber, falar, escrever, vestir, etc.  Posso impedir determinado cidadão de desenhar na minha casa, mas não cassá-lo este direito que o permite fazê-lo em outro lugar – e uma coisa a se considerar: é mesmo necessário desenhar na minha casa ou seja, certos atos são mesmo necessários? (1)

Se alguém, seja pessoa física, jurídica ou Estado, por um lado, toma de uma pessoa todos os direitos contidos em Oz , como expresso no controverso item está, por outro lado, fornecendo o direito a ser eliminado. Seria uma manifestação seríssima da Restrição. Isso evoca desobediência civil para alguns. Sim, evoca. E não é apenas no pensamento thelêmico, religiões contém isso em seu código de conduta como a Igreja Católica Apostólica Romana no seu catecismo:

§ 2242. O cidadão é obrigado, em consciência, a não seguir as prescrições das autoridades civis, quando tais prescrições forem contrárias às exigências de ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho. A recusa de obediência às autoridades civis, quando as suas exigências forem contrárias às da recta consciência, tem a sua justificação na distinção entre o serviço de Deus e o serviço da comunidade política.

«Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (Mt 22, 21). «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens» (Act 5, 29):

«Quando a autoridade pública, excedendo os limites da própria competência, oprimir os cidadãos, estes não se recusem às exigências objectivas do bem comum; mas é-lhes lícito, dentro dos limites definidos pela lei natural e pelo Evangelho, defender os seus próprios direitos e os dos seus concidadãos contra o abuso dessa autoridade» (27).

E Justifica até o uso de armas:

§ 2243. A resistência à opressão do poder político não recorrerá legitimamente às armas, senão nas seguintes condições:

1 – em caso de violações certas, graves e prolongadas dos direitos fundamentais;
2 – depois de ter esgotado todos os outros recursos;
3 – se não provocar desordens piores;
4 – se houver esperança fundada de êxito;
5 – e se for impossível prever razoavelmente soluções melhores.

Aliás, desobediências civis bem vistas pela história existem, Gandhi que o diga.

Alguém poderia pensar: “um preso possui vários desses direitos tomados pelo Estado, logo, em contrapartida, ganharia o direito de matar”,  porém, o preso está ali por ter violado, no mínimo, um dos direitos reservados a outrém contidos em Oz ou outro derivado destes (2). Fora esses pontos, existe a tendência de interpretarmos o conteúdo apenas a nosso favor (ego), esquecendo do próximo, afinal, está escrito “ser humano” e não pessoa específica. Por exemplo: “(direito de) morar onde quiser”; qualquer pessoa possui tal direito inclusive o dono da terra onde você quer morar (seja pessoa física, jurídica ou Estado). Se ele permitir, tudo bem, caso contrário, vá embora ou lute por ela; caso desobedeça a legislação local, será punido; caso discorde da legislação tente modifica-la ou mude-se para um local onde as leis o agradarem; porém matar, neste caso, não; seria restringir o direito do outro.

Liber Oz, de certa forma, reflete a obra de 666: em um primeiro momento chocante e absurda mas, quando estudada sem preconceitos, mostra-se dona de virtudes importantíssimas ao ser humano. Liber Oz é de escrita clara e de fácil compreensão, basta “esvaziar a tua xícara antes de tomar da minha”, quebrando paradigmas para entrar no Novo Æon.


Keron-ε

1 - "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém." 1 Coríntios 6:12.

2 - Ecoando o contido no O Dever: "A essência do crime é que ele restringe a liberdade do indivíduo atingido (assim, assassinato restringe seu direito a viver; roubo restringe o seu direito de aproveitar os frutos de seu trabalho; falsificação de dinheiro seu direito & garantia do Estado de que pode trocá-lo com segurança etc)."

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