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Anton Szandor LaVey e a sua “Igreja Satânica”

Church of Satan

Finalmente se torna adequado fazer um comentário sobre Anton LaVey; seus seguidores nos tem enviado muitas cartas com esta finalidade, não necessariamente com as melhores intenções… não fossem eles “satanistas".

Precisamos definir, antes de tudo, a “prole negra do abismo” do Sr. LaVey, ao recordar o leitor sério sobre o comentário do “Papa” Paulo IV (ou seria o Sexto? Eu nunca consigo enumerar esses vigaristas miseráveis) – dirigido com muita preocupação aos teólogos progressistas papistas – quanto ao fato de que a existência do Demônio é essencial para a existência do Cristo; ou em outras palavras, que o Credo de Nicéia, e mil e quinhentos anos de genocídio, loucura e crueldade não são atribuídos ou recaem sobre “Jesus”, mas sobre “Satã”.

Isto, todo Adepto verdadeiro sabe. Portanto, torna-se claro que a “Igreja de Satã” do Sr. LaVey não pode ser nada mais do que útil ao Cristismo a longo prazo. Deve ficar claro que os seus princípios são tão perniciosos à evolução da humanidade quanto o Papismo, uma vez eu a dicotomia não existe para as mentes saudáveis; porém as mentes saudáveis são poucas e distantes entre si. De fato, durante algum tempo algumas das pessoas do Sr. LaVey trabalharam para nós, mas foram embora de mau humor após lerem o comentário de O Manual do Poder feito em Casa no Equinócio, volume 2. O camarada foi inteligente o suficiente para perceber as insinuações, e sentiu-se ferido no âmago do seu ser.

Também está claro para um leitor atento que o Sr. LaVey estudou Crowley (de fato, ainda o faz), assim como Rhine, Kinsey, Jung e muitos outros; e passou a adaptar a sua compreensão de Thelema aos limites dos seus desejos. Isto, todos nós fazemos — porém muitos de nós ficamos irritados e decidem que Crowley contradisse a si mesmo, simplesmente porque a sua mente teve um alcance além da nossa. A assim-chamada “Igreja de Satã” está aparentemente muito interessada em Thelema. Recentemente nós recebemos uma carta de um daquelas pessoas ‘oh, tão malvadas’, nos repreendendo por sermos cruéis quanto aos ladrões e charlatães nas nossas críticas. Nós fomos informados que o mesmo estúpido, aparentemente um médico, fez um estudo “cuidadoso” do Liber AL, provando que ele é atribuído a Anton LaVey porque as iniciais de LaVey são A.L.! Trata-se do nível intelectual que se pode esperar dos demonólogos.

Mas o que dizer, realmente sobre o Sr. LaVey? Ele é obviamente bem sucedido; muito mais influente, rico e aclamado do que Crowley já foi; muito mais “na moda” junto às “belas pessoas”. Sucesso, naturalmente, é uma questão de definição. A Igreja Romana tem sido claramente bem sucedida. Quaisquer que sejam as verdadeiras crenças pessoais do Sr. LaVey (nós suspeitamos que ele foi criado como um Católico Romano, como a maioria dos filhos de imigrantes dos Balcãs), ele tem sido muito consistente nas suas ações manifestas. Seu conselho, de que se deve praticar a magia negra com seriedade, é um excelente conselho; deve-se considerar qualquer magia que se pratique com seriedade, sob pena de ficar dividido contra si mesmo em um ou outro plano. De fato, eu tenho ouvido comentários aos meus assim-chamados discípulos de que eu desejo que eles cuidem seus assuntos particulares da mesma forma que o Sr. LaVey obviamente fez com os seus.

Mas daqui até engolir a teologia do Sr. LaVey existe um abismo grande o suficiente para muitas proles. Nós não temos nenhum comentário em especial a fazer sobre a sua ética: ela é a ética do Cristismo, com o traseiro virado para o vento gélido da história a fim de uma mudança. O sucesso material do empreendimento do Sr. LaVey é devido ao fato de que este não ofende de modo algum a estrutura social existente. Ele não vai fazer oposição aos desejos básicos, às ambições triviais, ao egoísmo de mente estreita e à visão míope das futuras consequências que são tão características do assim-chamado capitalismo quanto aquelas da assim-chamada democracia, para não dizer nada da assim-chamada religião. A “Igreja de Satã” do Sr. LaVey pode ser uma espinha no nariz da América; mas o sebo rançoso já estava lá. Tudo o que ele fez foi juntá-lo.

E quanto à sua magia? Esta é também evidentemente bem sucedida – lá vai esta palavra inconveniente de novo. Os rituais do Sr. LaVey podem lhe trazer dinheiro, podem lhe conseguir uma transa, pode arruinar os seus inimigos. Por que não, já que todos eles se baseiam no Enoquiano? As suas “traduções” dos Chamados são naturalmente absurdas. Mas, como todo Adepto sabe, a magia real funciona sejam quais forem as suas intenções, simplesmente como uma arma dispara tenha sido ela manuseada por um criminoso ou por um agente do F.B.I. (não que haja muita diferença entre os dois). O uso por parte do Sr. LaVey dos Príncipes do Mal deste Mundo não podem ser culpado – como nós dissemos antes, ele é consistente. Naturalmente, eles o usam por sua vez, mas esta é outra estória.

Seria cômico, se não fosse trágico, que a “Igreja de Satã” do Sr. LaVey está, em geral, fazendo menos mal à humanidade do que o Cristismo fez. Ela é psicologicamente mais saudável. Se você é grosseiro, não tente fingir que você é sutil. Se você odeia os seus inimigos, não finja que os ama. Se você deseja riquezas, não fique envergonhado por isso. Seus desejos são menos prejudiciais do que moralismos padronizados. Você não deve tentar mudar a si mesmo a menos que esta seja a sua Vontade. Até então, você fará menos mal à humanidade seguindo Anton LaVey do que seguindo o “Reverendo” Jerry Falwell.

Ainda assim, há um aspecto desagradável quanto ao assim-chamado “Satanismo”. Nós recebemos cartas de pessoas que cometeram assassinato ritualístico, e como resultado estão na prisão. Todos estes correspondentes citam a “Bíblia Satânica” como uma das fontes de sua filosofia. Seria injusto jogar toda a responsabilidade pelos seus ultrajes na porta do Sr. LaVey; e ele poderia ser o primeiro a salientar que, se eles foram aprisionados, eles não eram realmente seus pupilos. Não obstante, não importa o quão desorganizado você seja, a sua filosofia não pode ser nada além de influência para os seus feitos. Sacrificar a outro alguém ao invés de sacrificar a si mesmo é o aspecto mais lamentável do Cristismo – todo o sistema sórdido foi baseado nisto. É extremamente significativo que o livro do Sr. LaVey deva encorajar tal conduta em pelo menos alguns dos seus leitores.

Retirado do site Espaço Novo Aeon

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